Notícias
Tecnologia desenvolvida na Unicamp permite substituir a sílica ativa na construção civil
Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp desenvolveram um processo capaz de obter partículas semi-amorfas de sílica, que pode substituir a sílica ativa na produção de concreto para a construção civil. A tecnologia foi recentemente licenciada e surge como uma opção que pode trazer ganhos econômicos para o setor, uma vez que se observa um crescimento no valor da sílica ativa, além de possibilitar maior controle das propriedades, em comparação com a sílica ativa.
"A aplicação destas partículas semi-amorfas de sílica é inédita na substituição da sílica ativa como aditivo de concreto de alto desempenho para construção civil", revela o professor e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, Carlos Kenichi Suzuki, da FEM, que é o responsável pelo desenvolvimento da tecnologia. O docente conta ainda que, ao possibilitar a substituição da sílica ativa por sílica semi-amorfas, a tecnologia apresenta uma série de outros benefícios, nos quais se destacam a maior segurança, durabilidade, maior trabalhabilidade, menor calor de hidratação, menor permeabilidade e a economia no custo do cimento.
"A sílica ativa sofre com aglomeração, e uma vez que esta acontece, sua reatividade é significativamente reduzida. A presente tecnologia de produção de partículas semi-amorfas apresenta um efeito com muito menor propensão a se aglomerar. O segundo ponto positivo é que a solubilidade é aumentada em comparação com partículas de sílica cristalina maior, reagindo com outros componentes em meio aquoso, aumentando a resistência mecânica do concreto e diminuindo o tempo de cura", aponta Suzuki.
"Conseguimos, por exemplo, ter uma reprodutibilidade muito boa na produção delas, controlando o tamanho, grau de amorfização e propriedades químicas, que vão, em última instância, garantir uma estabilidade maior na aplicação", completa Murilo Ferreira Marques dos Santos, que participou do desenvolvimento do processo durante sua dissertação de mestrado em Engenharia de Materiais, na Unicamp, e atua também na empresa BMRC, que licenciou a tecnologia. Atualmente Murilo é bolsista de Doutorado do CNPq. Também participaram do desenvolvimento da tecnologia Eric Fujiwara, docente da FEM e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, e Egont Schenkel, aluno desta mesma Faculdade e bolsista de doutorado do CNPq.
Santos conta que a principal motivação para o licenciamento do processo surgiu a partir de demandas de clientes, que já vinham utilizando a sílica - mais precisamente, o quartzo - embora sem muitos resultados promissores. "A empresa já trabalhava com moagem de minerais (especialmente areia de quartzo) para a indústria cerâmica. Pensamos em quais outros mercados poderíamos atacar, de forma inovadora. Vimos que alguns clientes usavam o pó de quartzo para aplicações em concreteira, embora de maneira insipiente (as partículas eram muito maiores, o que prejudica os benefícios na aplicação) e pensamos que essa seria uma oportunidade", lembra.
A tecnologia ainda está sendo testada pela empresa. Um dos motivos para a tecnologia ainda não ter sido inserida no mercado se deve ao fato do setor de construção civil, que sofre com escândalos de corrupção e com a crise econômica, estar em um período de declínio no país. 'Estamos ainda finalizando os testes de aplicação e prova de conceito. Esses testes são importantes para entendermos como agem as partículas. Sem este entendimento, não podemos ajudar nossos clientes a utilizá-las e isso é muito problemático. A segunda razão é que o mercado de construção (especialmente grandes obras), deu uma sensível desaquecida no último ano. Isso fez com que o preço dos insumos caísse, derrubando também o interesse dos clientes para buscar novas alternativas", aponta.
Sobre a atuação da Agência de Inovação Inova Unicamp, Santos teve a possibilidade de avaliá-la tanto do ponto de vista do inventor, como do da empresa. "O apoio da Inova foi excelente em todas as etapas. Os profissionais da Agência elaboraram a redação final da patente, o que ajudou bastante. Além disso, estão sempre dispostos a ter uma certa flexibilidade nos termos do licenciamento, o que é excelente para qualquer empresa", defende. O professor Suzuki também endossa essa fala, frisando a excelência da Agência em todos os processos que envolvem a proteção e a transferência de tecnologias. "O trabalho da Inova na colaboração e no acompanhamento contínuo de todo o processo de submissão ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e licenciamento tem sido magnífico", diz.
"A área de Parcerias da Inova mantém profissionais aptos a negociar e entender o processo de inovação na empresa. Dessa forma, nosso trabalho é entender todas as etapas de desenvolvimento da tecnologia e outras atividades desenvolvidas pela empresa até que uma tecnologia se torne inovação", completa Iara Ferreira, diretoria de Parcerias da Agência, sobre os esforços empreendidos para estreitar o relacionamento entre empresa e universidade.
Sobre a BMRC
A empresa foi fundada em 1999, com o propósito de atender a demanda de reciclagem de fibra de vidro de uma empresa multinacional de Rio Claro. Aos poucos, a empresa entrou no segmento de beneficiamento de matérias primas para a indústria cerâmica do polo de Santa Gertrudes - SP. Também atua no desenvolvimento e processamento de outros materiais para atender os mais variados mercados, estudando e formando parcerias com fornecedores do setor mineral e no desenvolvimento de serviços na área de moagem, britagem e reciclagem.
Atualmente, a BMRC é responsável por aproximadamente 15% do volume de quartzo beneficiado no Brasil para a indústria cerâmica de revestimentos, fornecendo para este mercado outros materiais não metálicos, como o diopsídio. Além do mercado cerâmico, a BMRC está presente em outros mercados, como fornecimento de quartzo para tintas e abrasivos, em vários estados da região sul e sudeste (atualmente fornecendo para todo o estado de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina).
Patente BR 10 2015 031934 7
Fonte: UNICAMP