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Projeto de inserção de meninas na ciência é finalista de prêmio nacional
O projeto "Reflorestamento usando minifoguetes", realizado por adolescentes do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Agrícola Estadual Adroaldo Augusto Colombo, da cidade de Palotina, oeste do Paraná, é um dos dez finalistas do Prêmio Respostas para o Amanhã, instituído pela Samsung. O anúncio dos projetos finalistas foi feito na semana passada, 7 de outubro, e o resultado final será anunciado em novembro. O projeto foi desenvolvido no âmbito do Rocket Girls: Meninas na Astronomia e na Astronáutica , proposta financiada pela Chamada CNPq/MCTI nº 31/2018 - Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação, sob a coordenação da professora Mara Fernanda Parisoto, do Departamento de Engenharia e Exatas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A idéia do minifoguete para auxiliar o reflorestamento da região foi posta em prática por três alunas do Colégio Agrícola Estadual Adroaldo Augusto Colombo, de Palotina, com orientação do professor Emmanuel Zullo Godinho e o acompanhamento da professora Mara Fernanda. As estudantes do 1º ano do Ensino Médio, de 14 e 15 anos, fizeram um protótipo com cano de PVC, ao custo de R$ 50. A intenção do grupo era produzir algo barato e efetivo. Assim, o trabalho poderia ser disseminado para ajudar o meio ambiente em outras cidades e países. O minifoguete utiliza combustível sólido, como pilhas, e sobe até 300 metros. A peça com as sementes se desencaixa no ar e desce até o solo, lançando as sementes e contribuindo, assim, para reflorestar áreas de difícil acesso.
Minifoguete leva sementes a áreas de difícil acesso - Foto: arquivo pessoal/UFPR
As estudantes pensaram no projeto depois que um incêndio atingiu o Parque Nacional da Ilha Grande, noroeste do Paraná, em 2019. O fogo destruiu mais de 60% de área de preservação ambiental. Uma das estudantes responsáveis pelo desenvolvimento do projeto, Estephany Cristine da Silva Alves, de 15 anos, conta que ficou agoniada de ver a reserva queimar. "Agora, saber que há esperança, que podemos melhorar e a floresta pode ter um novo começo foram os motivos que me atraíram para esse projeto", afirma ela. A equipe pesquisou quais eram as plantas nativas da região do Parque Nacional da Ilha Grande, onde o protótipo será lançado, e definiu que o minifoguete soltará sementes de pitanga e de ipê branco. A pitanga tem potencial para atrair animais. O ipê, por sua vez, é árvore de fácil germinação e pode criar um microclima para o desenvolvimento de outras plantas. O estudo parte do princípio de germinação como ocorre nas situações em que passarinhos soltam sementes enquanto voam. Além de Estephany, participaram da experiência Marina Grokorriski e Kawany Caroline Duarte da Rocha.
Estephany, Marina e Kawany participam do projeto Meninas nas Ciências - Foto: CAEAAC/UFPR
Para o professor Emmanuel Godinho, o estímulo à pesquisa ajudou a expandir os horizontes das alunas. "Sou professor, da área da pesquisa, e essa pandemia está provando para todos que a pesquisa é fundamental. Além disso, quando vejo essas crianças pegando gosto nisso, descobrindo, fico pensando o quanto isso é importante para elas pensarem fora da caixinha", diz ele. Para a aluna Estephany, participar do projeto foi uma oportunidade para ela considerar outros caminhos para a carreira profissional. "É uma grande conquista ter um projeto desse com estudantes mulheres. Vemos que estamos ganhando espaço em um lugar que é predominantemente de homens, isso é muito bom", completa ela.
Para a professora Mara Parisoto, coordenadora do Rocket Girls, a seleção do projeto do minifoguete em um prêmio como o promovido pela Samsung é importante porque ressalta o papel das meninas nas ciências e incentiva o ingresso de número crescente de mulheres nas carreiras científicas. A professora salienta também o papel social do desenvolvimento do projeto, que aproximou muito a universidade da escola e também permitiu que mais meninas se identificassem com aquelas envolvidas no projeto premiado. "Sem o investimento do CNPq nada disso seria possível. Com os recursos, a gente fez o foguete, a gente fez os propelentes. Sem o auxilio do CNPq a gente não teria conseguido esses resultados tão bons", completa a professora.
O projeto do minifoguete foi o único do Paraná a ser escolhido entre 1,7 mil trabalhos concorrentes ao prêmio Respostas para o Amanhã, da Samsung. O prêmio se encontra em sua 7ª edição, tem abrangência nacional e tem como propósito o estímulo e a divulgação de projetos de pesquisa científica tecnológica desenvolvido por estudantes do Ensino Médio de escolas públicas. O objetivo é o de contribuir para a formação desses alunos, de modo que eles considerem carreiras científicas como possíveis projetos de vida. Cada estudante das 10 equipes finalistas será contemplado com um Notebook Samsung. O professor orientador ganhará um Smartwatch Samsung.
O projeto
Contemplado pela iniciativa do CNPq de estimular meninas para o interesse em áreas de exatas, computação e engenharias, o Rocket Girls foi criado com o objetivo, ainda, de inserção social de meninas em situação de vulnerabilidade psicossocial e imigrantes em atividades que envolvam o uso, a produção e a difusão da Ciência e Tecnologia, além da a orientação dessas meninas nas atividades de pesquisa na área de Astronomia e Astronáutica, com projetos voltados para a construção de minifoguetes. O projeto também visa à aproximação das famílias com a escola, por meio da inserção de mulheres da comunidade escolar nas equipes de construção dos minifoguetes.
A iniciativa é voltada para estudantes de escolas públicas com maiores índices de evasão na cidade de Palotina e tem a intenção de voltar o interesse das alunas para as carreiras científicas.
Duas das metas iniciais da proposta do Rocket Girls eram a de se atingir pelo menos 50% de aprovação das meninas participantes do projeto em vestibulares nas áreas de Ciência e Tecnologia e a de reduzir, de forma significativa, a reprovação e a evasão das estudantes envolvidas no projeto.
A proposta recebeu do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) auxílio financeiro global no valor de R$ 25 mil e bolsas nas modalidades Iniciação Científica (IC) e Iniciação Científica Júnior (ICJ).