Notícias
Pesquisas apoiadas pelo CNPq estudam a saúde física e mental dos idosos em tempos de pandemia
Duas pesquisas apoiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) investigaram o impacto da pandemia de COVID-19 sobre a saúde física e a mental dos idosos, principal grupo afetado pelo novo coronavírus, junto com pessoas que possuem doenças crônicas pré-existentes. A primeira delas, Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros COVID –19, ou ELSI COVID-19, foi realizada em âmbito nacional, desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz – Minas Gerais (FIOCRUZ-MG) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenada por Maria Fernanda Lima-Costa , bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, pesquisadora titular da FIOCRUZ-MG, professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFMG e também coordenadora nacional do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) , investigação de base domiciliar sobre o processo de envelhecimento da população, integrada por adultos de mais idade. Alguns dos resultados do estudo se encontram acessíveis na base de dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que reúne informações sobre o conhecimento e as pesquisas científicas acerca do novo coronavírus a nível global.
A segunda pesquisa envolvendo idosos no contexto da COVID-19 verificou a repercussão da pandemia sobre essa parcela da população, residente no município de São Paulo. Encabeçado por Yeda Aparecida de Oliveira Duarte , bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, professora do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Estudo SABE Saúde, Bem - Estar e Envelhecimento, o estudo utilizou como amostra idosos participantes do Estudo SABE, investigação sobre as condições de vida e de saúde dos idosos iniciada no ano 2000, como pesquisa multicêntrica em sete centros urbanos da América Latina e Caribe, sob a coordenação da Organização Panamericana de Saúde (OPAS). No Brasil, por iniciativa da OPAS, o Estudo SABE se transformou em pesquisa longitudinal, método de análise das variações nas características dos mesmos elementos amostrais realizado por longo período de tempo, com freqüência, por anos. Esse método foi aplicado sobre a população idosa de São Paulo nos anos 2000, 2006, 2010 e 2015. A amostra do Estudo SABE foi construída para representar os atuais 1,8 milhões de idosos residentes no município de São Paulo, com idades a partir de 60 anos de idade.
As duas pesquisas apontaram que, mesmo isolados dentro de casa, os idosos possuem risco considerável de ser contaminados por seus cuidadores com o vírus Sars-CoV-2, causador da COVID. Embora seja alta a porcentagem de idosos que afirmaram adesão a medidas protetivas como máscaras e higienização das mãos, os dois estudos mostram que ainda é baixa a adesão ao distanciamento social, por diversas razões. Um dos motivos, apontados na pesquisa com os idosos residentes no município de São Paulo, é a baixa utilização da tecnologia para resolver problemas corriqueiros, como transações bancárias e compras de mercado. Os idosos costumam sair de casa para desempenhar atividades que poderiam ser realizadas pela internet. Outra razão é a falta de uso de medidas protetivas por cuidadores ou quem entra em contato com os idosos. Um dado que surpreende é que, embora ambos os estudos hajam identificado situações de solidão durante a pandemia, essas condições algumas vezes mostraram percentual até menor do que em momentos de pré-pandemia. Enquanto os pesquisadores do ELSI COVID-19 concluíram que encontros virtuais contribuem para amenizar a solitude, o estudo com idosos residentes em São Paulo detectou que alguns deles se sentiam até mais felizes do que antes do contexto de pandemia.
Ao todo, o CNPq financiou 149 propostas envolvendo pesquisas sobre COVID-19 ou relacionadas ao assunto, já concluídas ou em desenvolvimento. Nesse total estão incluídas as encomendas e os projetos contemplados nas Chamadas MCTIC/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit Nº07/2020, para pesquisas de enfrentamento da COVID-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves, e CNPq/MCTIC/BRICS-STI Nº 19/2020, de apoio a projetos conjuntos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, com temática exclusiva de combate ao novo coronavírus. Apenas essas duas Chamadas agraciaram 128 projetos, a um custo global de pouco mais de R$ 72,6 milhões.
Leia, ao final, o destaque que mostra a porcentagem de idosos contaminados dentro de casa apenas no município de São Paulo, nos últimos meses de 2020.
O ELSI COVID-19 - Os resultados de um estudo nacional sobre a população idosa durante a pandemia
O Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros COVID –19, ou ELSI COVID-19, foi realizado em âmbito nacional de maio de 2020 a março de 2021, para produzir informações sobre a pandemia de COVID-19 com uma amostra de 9.177 participantes maiores de 50 anos de idade, representantes da população brasileira, distribuídos por 70 municípios, localizados nas cinco grandes regiões do Brasil. O resultado mais surpreendente do estudo indicou que, em poucos meses, ocorreu um aumento relevante na proporção de idosos que desejavam ser vacinados. Essa porcentagem passou de 68% dos entrevistados, em novembro de 2020, para 90%, em março de 2021. Segundo a coordenadora da pesquisa, professora Maria Fernanda Lima-Costa, essa última taxa de adesão à vacinação contra a COVID-19 foi uma das mais altas já descritas na literatura especializada nacional e estrangeira. "A adesão à vacina foi mais alta entre os que se informavam sobre a epidemia na mídia tradicional e/ou por meio do Ministério da Saúde. Aqueles que se informavam com familiares ou amigos ou na mídia informal eram mais propensos a não se vacinarem", afirma a pesquisadora.
Outro ponto relevante da pesquisa foi a verificação de que, mesmo permanecendo em casa, os idosos possuem risco de ser contaminados pelo vírus Sars-CoV-2, transmitido pelas pessoas com quem eles têm contato, como cuidadores. Segundo a professora Maria Fernanda Lima-Costa, essa transmissão do vírus pode ser evitada por meio da vacinação dos cuidadores dos idosos e do uso de medidas não farmacológicas de prevenção, como o uso de máscaras e de higienização das mãos. A pesquisa também mostrou que as chances de os entrevistados saírem de casa eram inversamente proporcionais às respectivas faixas etárias. Quanto mais idoso o participante, menos chances ele tinha de se ausentar de casa. Essa probabilidade se mostrou menor no caso dos participantes do sexo feminino. As mulheres que trabalhavam por conta própria e aquelas com ofício informal durante a pré-pandemia foram as menos propensas a permanecer trabalhando fora de casa no contexto de pandemia, em comparação com quem já possuía trabalho formal no período anterior. Ademais, metade dos participantes da pesquisa que relataram ter tido febre, tosse seca ou dificuldade para respirar nos 30 dias anteriores à entrevista eram provenientes da região Norte do país. Desses, apenas 33,6% procuraram atendimento em saúde. A pesquisa apontou ainda que um em cada seis entrevistados foi obrigado a cancelar uma cirurgia já programada ou outros cuidados médicos, probabilidade aumentada no caso de mulheres, de indivíduos com maior nível educacional e de pacientes com múltiplas doenças crônicas.
As informações coletadas pelo estudo foram encaminhadas para a Coordenação de Saúde da Pessoa Idosa (COSAPI/DAPES/SAS) e para o Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT), ambos do Ministério da Saúde. Um dado interessante é que, do total de entrevistados, 23,9% afirmaram sentir solidão durante a pandemia. O número é menor do que o percentual de 32,8% registrado no período pré-pandêmico, de acordo com resultados da pesquisa publicados na base de dados da OMS . A conclusão dos pesquisadores foi a de que estímulos à conexão em conversas virtuais tem potencial para diminuir a solidão. De acordo com a professora Maria Fernanda Lima-Costa, a verificação de que não houve piora das condições de estado emocional dos idosos durante a pandemia reflete apenas um resultado preliminar. Os pesquisadores ainda se encontram analisando com maior profundidade questões sobre o tema.
O ELSI COVID-19 utilizou como amostra os participantes do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) , investigação de base domiciliar sobre o processo de envelhecimento da população, seus determinantes e consequências para o indivíduo e a sociedade. A pesquisa ELSI COVID-19 foi formada em caráter emergencial e respondeu à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, frente à velocidade de disseminação do vírus SARS-CoV-2, em meados de 2020 propôs a realização de inquéritos online para a produção de informações rápidas acerca da pandemia, seus determinantes e conseqüências. O estudo se baseou em entrevistas telefônicas, realizadas em cinco rodadas por entrevistadores previamente treinados, com os participantes da segunda onda do ELSI-Brasil, pesquisa que começou em agosto de 2019 e foi interrompida em 17 de março de 2020, em função da pandemia. No total, os pesquisadores realizaram 31.622 entrevistas telefônicas, planejadas para serem curtas, com duração de cerca de cinco minutos. Para aumentar a adesão ao estudo, as entrevistas foram precedidas pelo envio de carta ou de mensagens via SMS para os participantes elegíveis.
Para facilitar o trabalho de pesquisa, construíram-se sistemas para a formatação eletrônica dos questionários e transmissão em tempo real das informações obtidas nas entrevistas telefônicas. Quando necessário, foram aceitas entrevistas realizadas por respondentes substitutos, condição registrada no estudo. Os entrevistados responderam um questionário que incluía informações sobre cobertura vacinal contra o vírus da gripe, ou influenza, no ano de 2020, entre os participantes com 60 anos ou mais; presença de sintomas de gripe nos 30 dias anteriores à entrevista; procura por estabelecimentos de saúde, no caso de sintomas de gripe; freqüência e razões para sair de casa nos sete dias precedentes, além do uso de máscaras nessas saídas; questionamento se o participante higienizou as mãos ao sair de e voltar para casa. As perguntas também trataram do sentimento de solidão nos trinta dias precedentes ao inquérito; da qualidade do sono dos participantes e do uso de antidepressivos no mesmo período, além do cancelamento de cirurgias ou de consultas médicas já agendadas.
A primeira fase do inquérito por telefone, de 25 de maio a 8 de junho de 2020, indicou que com poucas exceções, comportamentos relacionados à saúde no período pré-epidêmico, como tabagismo e atividades físicas, foram associados à adesão futura a medidas preventivas para evitar o coronavírus. No período, somente 32,8% dos entrevistados não haviam saído de casa nos sete dias anteriores. Os idosos e demais entrevistados com multicomorbidade foram os mais propensos a sair de casa para buscar assistência médica na semana anterior à entrevista. Dos que saíram, 74,2% declararam ter se ausentado para comprar remédios ou alimentos; 25,1% foram trabalhar; 24,5% foram pagar contas; 10,5% precisaram de atendimento em saúde; 6,2% foram fazer exercícios e 8,8% encontraram amigos e familiares. Mais de 97% dos que saíram afirmaram ter utilizado máscaras faciais e higienizado as mãos.
Ao passo que 2,4% dos entrevistados relataram ter sido diagnosticados com COVID-19, apenas cerca de metade deles recebeu confirmação laboratorial da doença. Segundo os pesquisadores, fatores como idade, renda familiar mais baixa, obesidade ou outras condições crônicas e também as ligadas a região geográfica, como morar no Norte do país, foram associados ao diagnóstico de COVID-19.
Com o surgimento de vacinas efetivas contra a COVID-19, a partir de novembro de 2020 os formulários a que os participantes da pesquisa responderam também envolveram perguntas a respeito da vacinação, como a intenção de os participantes se vacinarem, as razões para não desejar ser vacinado e as principais fontes consultadas pelos entrevistados para obter informações sobre a pandemia. As questões foram dirigidas para o grupo prioritário para a vacinação, formado pelas pessoas com 60 anos ou mais. A eficácia das vacinas teve reflexo positivo na proporção de idosos que desejavam ser vacinados, aumentando esse número de pouco mais de 60% para 90% em apenas cinco meses.
O impacto da COVID-19 sobre a população de idosos residentes no município de São Paulo
A pesquisa coordenada pela professora Yeda Duarte com os idosos residentes no município de São Paulo, por sua vez, ressaltou, como um dos principais resultados, a importância da resiliência para os que se encontram na faixa etária acima dos 60 anos de idade neste contexto de crise sanitária, mesmo em face do reconhecimento de várias dificuldades. Apesar de os entrevistados confessarem que a dimensão do estado emocional foi a que mais os afetou, devido às restrições, ao temor constante divulgado pela imprensa e por mídias sociais sobre o adoecimento de pessoas e às crescentes taxas de mortalidade e de 28,3% dos idosos terem confessado ficar abalados de forma significativa, em especial pelo fato de as pessoas idosas terem sido as mais atingidas em termos de letalidade no mundo, quando questionados o quão felizes estavam no momento da entrevista, 88,75% dos idosos pesquisados se declarou mais satisfeito com a vida e 90% deles afirmaram estar mais felizes. A distribuição dessas declarações foi similar entre dois sexos, mas verificou-se que, quanto mais longevos, mais os idosos se referiam como mais felizes. Confrontados com o índice dos idosos que mostraram bem-estar com a vida e com a resiliência mostrada por esse grupo etário, em especial pelos mais velhos, os pesquisadores perceberam a importância do papel da resiliência para os idosos e interpretaram que a felicidade referida pelos entrevistados se encontrava ligada ao fato de eles estarem vivos, em momento de tantas incertezas e múltiplas notícias pessimistas.
Além de citarem como prejudiciais as medidas restritivas quanto a relacionamentos e a atividades sociais e também o comprometimento de sua independência, mais relacionada à autonomia e ao poder de decisão sobre a própria vida, uma parcela dos entrevistados se referiu também a problemas financeiros e a sentimentos de medo ou de preocupação excessiva. Os pesquisadores descobriram que as modificações na rotina dos idosos durante a pandemia incomodava 72,3% dos entrevistados e era manifestada de forma mais expressiva pelas mulheres. A solidão foi um dos pontos mais citados por elas. Os homens, por sua vez, se declararam irritados e estressados com as alterações no cotidiano. Ademais, ao passo que parcela de 21% dos entrevistados que consideraram as alterações positivas tenha listado entre os pontos favoráveis maior proximidade da família, aprendizado de algo novo, ganho de tempo para meditar ou orar, mais tempo para ficar em ou cuidar da casa e desenvolvimento de maior de compreensão, 47,3% citaram alguns desses mesmos pontos como tendo um efeito adverso sobre eles. A despeito das implicações desfavoráveis, contudo, a maioria dos entrevistados, 68,8%, afirma que procurou se adaptar às mudanças.
Segundo os pesquisadores, as informações sobre os sentimentos de solidão e de estresse, declarados pelos idosos entrevistados, tornou possível a compreensão dos motivos pelos quais inúmeras relações intrafamiliares se deterioraram na pandemia, chegando muitas vezes à violência doméstica. Mesmo que serviços de apoio psicológico virtuais hajam sido desenvolvidos e disponibilizados de forma gratuita para auxiliar pessoas nessas condições, a baixa adesão dos idosos às tecnologias digitais pode ter contribuído para o menor alcance desses serviços pelas pessoas das faixas etárias acima de 60 anos. O relatório final do projeto, enviado ao CNPq, aponta que o uso de dispositivos e de meios digitais dirigidos aos idosos já avançou, mas ainda se encontra longe de causar impacto significativo, o que deve ser um alerta para os serviços assistenciais e para se repensar políticas públicas nesse sentido. Apenas 32,2% dos entrevistados disseram utilizar tecnologias digitais como computadores, sendo a maioria formada por homens. Esse número se mostra insignificante entre os entrevistados com idade mais avançada. Um total de 25,2% dos homens também revelou utilizar telefones fixos ou celulares, para contato exterior. Entre as mulheres e os idosos longevos, 77,8%, responderam que não usavam telefones fixos ou celulares. A expressiva maioria confessou não fazer uso desses equipamentos por não possuí-los ou por não gostar de utilizar esses dispositivos.
Como na pesquisa nacional ELSI COVID-19, os idosos entrevistados para a pesquisa foram contatados por telefone e convidados a participar do estudo respondendo questionário aplicado por entrevistadores treinados. Para os que não puderam responder à entrevista por razões físicas ou cognitivas, um familiar ou cuidador respondeu as perguntas dos entrevistadores. Além de considerar o impacto das medidas de distanciamento social adotadas durante a pandemia, as dificuldades em aceitá-las e suas razões, quando existentes, e as estratégias usadas no período para enfrentar as adversidades, o estudo também levou em consideração a solidariedade obtida pelas redes sociais e o uso e acesso aos serviços de saúde para atendimentos que os idosos tenham necessitado, relacionados ou não à pandemia. Um ponto a ressaltar no estudo é a alta margem de idosos que afirmaram ter mantido sua independência durante a quarentena: 88,7%. Dos 11,3% de idosos que ressaltaram o comprometimento de sua independência, 9,9% afirmaram ter recebido a ajuda de que necessitavam. Apenas 1,4% dos idosos disseram não ter tido qualquer tipo de ajuda. Ainda que pequeno à primeira vista, esse número deve ser sinal de alerta para o reordenamento de políticas públicas no cuidado para idosos, como ressaltam os pesquisadores.
A pandemia alterou a rotina de 54,5% dos entrevistados, que antes da quarentena desenvolviam atividades de lazer, artesanato, exercício físico ou laborais e voluntariado de forma rotineira. Uma pequena parcela deles, 16%, afirma ter reorganizado sua agenda, incluindo novas atividades que pudessem ser desenvolvidas no contexto de pandemia, como artes. Alguns idosos, 10,7%, iniciaram cursos virtuais. A maioria dos entrevistados, 80,6%, disse residir acompanhada, a maior parte (45,9%) habitava residências com mais de uma pessoa e apenas 19,4% afirmou residir em domicílios unipessoais. Os pesquisadores também questionaram os idosos sobre os planos para quando a pandemia passar. Ao passo que 11,5% querem apenas voltar à rotina, 25% deles querem viajar e 14,3% desejam passear. Demonstrando as implicações do distanciamento social nas respectivas qualidade de vida e no bem-estar, 20,4% dos entrevistados disseram ter vontade de reencontrar familiares e amigos. De modo surpreendente, 27,8% dos idosos entrevistados confessou que a pandemia não os afetou em nada. Os pesquisadores sugeriram que a afirmação pode estar associada a um grupo mais conservador ou mais próximo das redes negacionistas, para quem as notícias são considerada fake news .
A baixa adesão dos idosos ao uso de tecnologias como auxiliar ao cumprimento de tarefas rotineiras também se refletiu no índice dos que confessaram haver saído de casa para cumprir atividades corriqueiras, como ir à farmácia ou ao supermercado. A despeito das várias recomendações dirigidas às pessoas idosas sobre a necessidade de elas cumprirem as medidas de distanciamento social ou quarentena, os pesquisadores descobriram que apenas 36,1% deles respeitaram a quarentena de forma correta e 97,7% dos que saíram afirmaram ter utilizado medidas protetivas quando houve necessidade de se ausentar de casa. Entre os que mais obedeceram o distanciamento social, as mulheres foram maioria. A obediência às orientações também foi maior entre os entrevistados de idade mais avançada.
Confrontados com a baixa utilização de dispositivos digitais para comunicação com o meio exterior, os pesquisadores investigaram com quem as pessoas idosas poderiam contar, em caso de necessidade. Grande parte dos entrevistados, 90,4%, afirmou contar com o auxílio de algum parente; 4,2% confessaram precisar de ajuda de pessoas como vizinhos ou cuidadores e 5,4% disseram não ter ninguém para chamar caso precisem. No tocante a atividades externas, como compras e atividades bancárias, 76,3% dos idosos revelaram receber ajuda, número identificado como maior entre mulheres e idosos mais longevos. Nesse caso, os pesquisadores notaram ser preocupante a porcentagem de 23,7% dos idosos que não possuem ajuda, mesmo necessitando. Nesse grupo, se destacam homens e os idosos mais jovens.
Embora o Estudo SABE tenha contado com a participação de 1224 idosos no biênio 2015-2017, na pesquisa coordenada pela professora Yeda Duarte participaram 664 idosos. Os outros pesquisados haviam ido a óbito (197), mudaram-se para outros municípios ou estados (56), se recusaram a participar (133) ou não foram localizados (171). Ainda ocorreram quatro institucionalizações de idosos pesquisados anteriormente. A maioria dos entrevistados era constituída por mulheres, totalizando 67,3%. Os homens formaram minoria, com 32,9%. Quanto à idade, 44,5% dos idosos tinham entre 60 e 69 anos, 33,8% possuíam de 70 a 79 anos e 21,7% formavam o grupo a partir de 80 anos. Na análise da distribuição entre o sexo e a faixa etária, os pesquisadores verificaram maior predominância feminina em ordem decrescente, iniciando entre os idosos mais longevos.