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Pesquisadores monitoram população de aves pelo canto
Pesquisadores do Laboratório de Ecologia das Aves, do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) promovem um trabalho diferenciado para medir a população de pássaros nas flores do Estado: as espécies são identificadas pelo canto. A solução foi encontrada uma vez que é impossível a observação visual em áreas de floresta. Para entender a dimensão e complexidade do trabalho, o estudo considera 350 espécies existentes nos fragmentos em análise, das 700 aves cadastradas no Paraná. O Brasil tem hoje aproximadamente 1.700 espécies.
O laboratório, que promove a observação das aves há 26 anos, aponta que os parques e reservas observadas têm melhorado a biodiversidade. No entanto, em fragmentos de mata a tendência é de redução destas populações. A partir de dados populacionais das aves os pesquisadores desenvolvem um programa de monitoramento que possibilita medir a degradação da área.
Espécies consideradas frágeis, chamadas de indicadores biológicos, são as primeiras que desaparecem no caso de devastação. A pesquisa integra o projeto Diversidade e Conservação de Aves na Porção Sul da Mata Atlântica, coordenado pelo professor Luiz dos Anjos, e que tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 1995.
MONITORAMENTO - O estudo é feito em locais bem conhecidos como Parque Nacional do Iguaçu, Parque Estadual Mata dos Godoy e Parque Estadual de Vila Velha, mas abrange também áreas menos conhecidas como a Reserva Biológica das Perobas, em Cianorte; Floresta Nacional do Irati, Parque Estadual de Ibiporã e Parque Estadual do Rio Guarani, localizado no município de Três Barras. Ao todo são monitorados 60 fragmentos florestais do Norte do Paraná, 10 áreas de restauração, além das grandes reservas.
De acordo com o professor Luiz dos Anjos, o levantamento é realizado em um tempo padrão para identificação das espécies presentes. O local precisa ser sempre o mesmo, devidamente localizado por GPS.
FUNCIONAMENTO - No Parque Iguaçu, a observação ocorre sempre entre os meses de outubro e novembro, em uma trilha de cinco quilômetros, no horário entre 4h30 e 9h30. "Estas são as horas de mais atividade das aves", afirma o professor. O canto é captado, gravado e arquivado como material de coleta. De acordo com Luiz dos Anjos, desde o início da coleta de dados no Parque Iguaçu a população de aves se mantém estável, o que demonstra que a área cumpre sua função de conservação. Os dados apurados no Parque apontam que existem aproximadamente 80 espécies distintas de aves por quilômetro. Segundo o professor, nos 187 mil hectares de área compreendidos pelo Parque devem existir 230 espécies distintas.
Ainda de acordo com o professor, as aves vocalizam mais pela manhã, alterando seus hábitos ao longo do dia, de acordo com a disponibilidade de alimento e necessidade de proteção contra predadores. É preciso ainda compreender particularidades do mundo das aves. Existem espécies que costumam ter maior atividade a partir do nascer do sol, conforme aumenta a temperatura, uma vez que quanto mais calor, maior a movimentação de insetos, o que implica em abundância de alimento. Aves que se alimentam de espécies de pássaros de menor porte tem maior atividade em dias nublados e escuros.
INDICADORES - O ramo da zoologia que estuda as aves (Ornitologia) permite saber quais são as espécies consideradas como indicadores biológicos, ou seja, aves mais sensíveis a perturbações do ambiente. Se houver um incêndio que destrua uma parte do ambiente, por exemplo, estas são as primeiras a desaparecer. Integram esta lista espécies como Macuco, Borralhara, Jandaia e a Gralha Azul, ave símbolo do Paraná.
Nestes mais de 20 anos de estudo, os pesquisadores puderam acompanhar a recuperação ocorrida na Reserva das Perobas, localizada em Cianorte, que tem mais de 9 mil hectares de área e sofreu com a extração de madeira e fogo até 2010, quando foi transformada em reserva. "Creio que, em 20 anos, poderemos ter uma área tão preservada como o Parque Iguaçu", comenta o professor.
Outra aplicação da ornitologia está relacionada à medição da melhoria das áreas de restauração. Dentro desta especialidade, o Laboratório de Ornitologia e Bioacústica integra o projeto Mata Atlântica do Norte do Paraná (MANP), juntamente como o Laboratório de Biodiversidade e Restauração Ecossistema (LABRE), também do CCB da UEL, que avalia a recuperação de áreas de florestas. As pesquisas fazem parte do Programa de Estudos de Longa Duração (PELD), patrocinado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O Paraná possuí apenas quatro projetos do gênero, entre eles o da UEL, que foca a restauração de áreas de reserva na Mata Atlântica.
FUNÇÕES - Doutoranda do Laboratório do Programa de Ciências Biológicas da UEL, Larissa Corsini Calsavara, estuda as funções biológicas das aves na floresta de araucária existente nos municípios de Irati, Telêmaco Borba e Turvo. Pela presença das aves ela consegue avaliar o nível de preservação da área. Segundo ela, o padrão é a Floresta de Irati, considerada preservada.
Os estudos da aluna consideram as funções ecológicas das aves na floresta, fundamentais para a dispersão de sementes e reciclagem de carcaças de animais mortos, por exemplo. "Os pássaros têm uma função definida na natureza, portanto buscamos avaliar até que ponto estas atividades se mantém ou não", esclarece. A partir desta observação, ela pretende indicar locais com potencial para se tornarem unidades de conservação. "Se tivermos elementos que nos aproximam do padrão, determinada área apresenta este potencial", explica. A pesquisa é patrocinada pela Fundação Grupo Boticário.
Com informações da Agência de Notícias do Governo do Paraná
Foto: Divulgação/UEL