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Pesquisa indica a existência de um único e extenso recife na América do Sul
Os recifes são o ambiente marinho mais rico e produtivo do planeta, sendo frequentemente chamados de “florestas tropicais dos mares”. Pesquisa publicada na revista Scientific Reports (grupo Nature) indicou, pela primeira vez, que os recifes brasileiros são parte de um único e extenso sistema recifal na América do Sul que se estende desde a Guiana Francesa até o Sudeste do Brasil. A pesquisa contou com a participação de 23 cientistas do Brasil, Itália, Alemanha e Estados Unidos e foi liderada pelo Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar). A pesquisa foi apoiada pelo Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os pesquisadores tiveram dois principais achados a partir das evidências coletadas. O primeiro achado foi a existência de um recife tropical extenso na costa semiárida do Brasil (Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte) com cerca de 1.000 quilômetros de extensão. Para essa conclusão, os cientistas coletaram dados por filmagens submarinas e informações científicas já publicadas. Além disso, usaram mapeamento por satélite e mergulhos para análise de corais, algas, peixes e esponjas para ter mais evidências. “Essa região da costa semiárida nordestina era dita como pobre nesses ambientes, porém os dados que levantamos mostram o contrário, pois mapeamos cerca de 192 recifes, sendo esses comuns entre 20 e 50m de profundidade, e abundantes abaixo de 50m. O alinhamento e conexão desses ambientes é claro nos mapas e são parte de um único e imenso sistema recifal com área potencial de 34.000 km”, aborda o Dr. Pedro Carneiro, primeiro autor do artigo e pesquisador da UFDPar.
Ambientes recifais na plataforma continental do litoral semiárido brasileiro.
O segundo achado aconteceu ao comparar a ocorrência desse sistema recifal da costa semiárida com os outros dois sistemas recifais na América do Sul; os recifes amazônicos e os que existem na costa leste brasileira. Nos últimos 50 anos, pesquisas indicaram a presença de um sistema recifal na costa amazônica com cerca de 56,000 km² e que se estendem por cerca de 1,000 km entre a Guiana Francesa e o estado do Maranhão. “Não existe sentido algum do recife amazônico parar no Estado do Maranhão até porque não há nenhuma barreira natural lá. Quando se coloca no mapa os 3 componentes (recife amazônico, o da costa semiárida e o da costa leste brasileira - que vai do litoral do Rio Grande do Norte até o Sudeste com cerca de 2,000km) se vê claramente que temos um grupo único de recifes”, argumenta o Dr. Marcelo Soares, professor do LABOMAR-UFC, um dos coordenadores da pesquisa e também bolsista de Produtividade do CNPq.
Por fim, o artigo analisou dois bancos de dados disponíveis (um com 2.412 e outro com 8.375 espécies) que mostram que existe uma clara conexão da vida marinha entre esses 3 componentes do sistema recifal da América do Sul. Essa conectividade acontece pelas correntes marinhas, pela reprodução e pelo movimento dos animais nessa região tropical. “Portanto, estamos falando de um único e vasto sistema recifal com quase 4.000km com tamanho comparável a Grande Barreira de Corais da Austrália e a Barreira Mesoamericana no Mar do Caribe (América Central). A América do Sul não tem somente uma das maiores florestas tropicais (Amazônia) e planícies alagáveis (Pantanal) do mundo mas também um dos maiores recifes”, finaliza Marcelo Soares.
A pesquisa inédita que contou com o apoio do Programa PELD do CNPq pode ajudar a elaborar ações e políticas públicas para conservação de um dos maiores ecossistemas tropicais do planeta na atual Década do Oceano (2021-2030) das Nações Unidas. Os dados mostram que a visão de planejamento marinho deve ser ampla e considerar toda a área visando manter a conectividade e evitar que o recife da América do Sul não seja degradado por uma série de impactos humanos (como exploração de óleo e gás, pesca excessiva, poluição, dentre outras). O artigo pode ser acessado livremente no link abaixo