Notícias
Diretora do CNPq, Dalila Oliveira é a nova professora emérita da UFMG
“A notícia desse título me deixou radiante de alegria. Passou um filme na minha cabeça, desde que saí de São José dos Salgados [distrito de Carmo do Cajuru, no Centro-oeste de Minas], que nem é município, passando por São Paulo, até minha carreira como professora titular da Faculdade de Educação. A UFMG foi, por 32 anos, meu espaço de vida, militância e política. A mulher que sou deve muito a essa instituição.” Foi em tom emocionado que a professora Dalila Andrade Oliveira dirigiu-se a amigos, familiares e colegas na cerimônia em que lhe foi concedido o título de professora emérita da UFMG, realizada na noite desta segunda-feira, dia 2, na Faculdade de Educação.
Ao rememorar a própria trajetória, Dalila Andrade relacionou sua origem trabalhadora e de militante dos movimentos estudantil e sindical à conquista do ensino superior e ao amor aos estudos, herdado da mãe, dona Conceição. A professora, que ingressou na UFMG em 1983 para cursar Ciências Sociais na Fafich, residiu na antiga moradia Borges da Costa e filiou-se ao Partido dos Trabalhadores logo em seus primórdios, teve sua história marcada pela atuação política, sob inspiração da sociologia de Max Weber. A pedagogia freireana a levou ao mestrado na Faculdade de Educação. “Conduzida por esses interesses na FaE, que naquela época já era de excelência, fui despertada pela carreira acadêmica, especialmente por três professores: Ode José dos Santos, Carlos Roberto Jamil Cury e Miguel Arroyo. Com eles, desenhei meus primeiros traços desse quadro que hoje vejo pendurado na parede”, relatou.
“Foram 32 anos de experiência gratificante, com pessoas generosas e amigas, na FaE e no Gestrado [Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente]. Também participei da comissão de criação do doutorado latino-americano e na vice-presidência e presidência da Anped, que tornou possível atuar na política acadêmica e transitar no Brasil e no mundo", disse ela.
“Desde que me aposentei, em 2019, não parei de trabalhar, e continuo orientando meus alunos da pós-graduação, porque não sei o que é viver sem o trabalho. Muito emocionada, a professora agradeceu a todos que a apoiaram e homenageou, in memoriam, a professora da FaE Inês Teixeira – “Inezita, amiga de todas as horas, que sempre me estimulou com suas contribuições e críticas” – e sua irmã Juraci. "Com ela compartilhei alegrias e tristezas, o mais íntimo de minhas experiências; por isso, o que recebo aqui, hoje, também é dela.”
Na saudação a Dalila Oliveira, o professor Geraldo Leão, seu amigo e cunhado, enalteceu a trajetória da “jovem mulher trabalhadora que, ainda adolescente, experimentou os novos tempos trazidos pelos movimentos sociais e o valor que a educação teria como oportunidade para alguém das camadas populares”.
Segundo Leão, a graduação em Ciências Sociais e o mestrado em Educação na FaE marcaram a trajetória acadêmica de Dalila Andrade e seu interesse pelo trabalho docente. “Tantas pesquisas coordenadas por ela e outras desenvolvidas por suas orientandas buscaram compreender, a partir do chão da escola, a realidade de professoras da educação básica”, pontuou.
“Sua produção bibliográfica soma centenas de artigos e capítulos de livros e revela uma intelectual que dialoga com o contexto de suas pesquisas, atenta aos movimentos do real, às questões emergentes na sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, comprometida com a utopia de um projeto de sociedade anticapitalista alternativo à globalização neoliberal. Nessa extensa produção, direito à educação e justiça social são questões centrais”, destacou Geraldo Leão.
A criação do Gestrado, em 2002, do Doutorado Latino-americano, em 2009, e a atuação como vice-presidente e presidente da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped) são contribuições que se somam às pesquisas mais recentes, que, segundo o professor, “atestam sua capacidade de acompanhar com agudeza os momentos mais fortes para nossa sociedade: os efeitos da pandemia de covid-19 para o trabalho docente e as políticas de melhoria para o ensino médio”.
Dalila também participa do Comitê Consultivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Comitê Consultivo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes). Desde fevereiro, está à frente da Diretoria de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do CNPq. “O seu furor pedagógico sempre combinou generosidade e rigor, acolhimento e interpelação. Trata-se de um compromisso com o desenvolvimento de uma teoria crítica e engajada, sem proselitismo, mas com posicionamento político claro e inquestionável”, concluiu Leão.
O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, que também participou da cerimônia, afirmou ter ficado “impressionado com o currículo” da professora, ao relembrar quando recebeu a indicação de Dalila Andrade para compor a equipe gestora do órgão. “Gostei da frase usada por Geraldo Leão, de que ela não se enclausurou no dogmatismo da escola. E essa é Dalila, cônsul de suas convicções, com a percepção pragmática sobre o que precisa ser feito. Dalila é reconhecida pelos seus alunos e pelas pessoas que trabalham com ela, pois tem humildade para escutar, é carinhosa na maneira de falar, mas muito incisiva", testemunhou.
A diretora da FaE, professora Andrea Moreno, disse que são muitos os motivos para celebrar a outorga do título de emérita à colega e agradeceu a ela “por levar um pouquinho dessa instituição por onde passou, com atuação que ultrapassa os limites da FaE, se fazendo sentir também em diferentes âmbitos e níveis da vida universitária e científica do país”.
Ao enumerar as mais importantes atuações da professora, Andrea Moreno resumiu: “Na FaE, Dalila foi múltipla, e sua trajetória acadêmica, somada ao seu engajamento político e social, é farol: ensinamento para os que estão perto dela, inspiração para os que a leem”.
A professora emérita ministrou diferentes disciplinas para os cursos de graduação em Pedagogia e licenciaturas, para a pós-graduação, orientou estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado, supervisionou residentes de pós-doutorado e participou de inúmeras bancas, comissões e conselhos, além de ter chefiado o Departamento de Administração Escolar.
Para ilustrar seu discurso, Andrea Moreno colheu trechos de depoimentos de colegas: “Dalila, você foi longe! Desbravou caminhos, nada simples para as mulheres na educação, e atingiu o topo da carreira com brilhantismo. Parabéns! Assim você quis… assim você foi lá e fez!!!”
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida enumerou adjetivos compartilhados entre os colegas sobre a professora emérita. “Conheço a Dalila há anos, e ela é essa figura intensa, firme, forte, uma das mais queridas e renomadas docentes de nossa instituição. É pesquisadora e professora notável, incansável defensora da educação pública”, afirmou.
A reitora também destacou, entre as inúmeras contribuições de Dalila Andrade, “a gestão acadêmica, tão necessária, mas nem sempre reconhecida". E prosseguiu: "No mês em que comemoramos a Constituição cidadã de 1988, destaco seu compromisso com a democracia. Seu engajamento acadêmico e pessoal por justiça social, compromisso com o interesse público e os princípios democráticos a tornam uma das mais influentes pesquisadoras da educação no país. Sua atuação é exemplo de dedicação e afeto à UFMG.”
Sandra Goulart ainda recorreu à poeta mineira Adélia Prado: “Dalila é essa mulher desdobrada, soma de afetos, com capacidade de afetar e ser afetada.” Também lembrou que o seu modo peculiar de afetar a vida institucional deixou algumas mensagens, como a justeza da outorga do título pelo trabalho realizado e reconhecido no Brasil e internacionalmente, "o exemplo e a inspiração para as próximas gerações e uma trajetória de defesa da educação e da democracia, marcada por valores constitutivos da própria UFMG".
A cerimônia realizada no auditório da FaE reuniu outros professores eméritos da UFMG, como Carlos Roberto Jamil Cury, José Francisco Soares, Maria Alice Nogueira, Miguel Arroyo, Nilma Lino Gomes e Dirceu Greco, e ainda a deputada estadual Macaé Evaristo.
Por: UFMG