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Convênio cria o Centro Nacional de Vacinas
Centro de pesquisa e produção de vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) será transformado em Centro Nacional de Vacinas. O Centro é sede do INCT Vacinas, um dos projetos do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, gerenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e é coordenado pelo bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, Ricardo Gazzinelli.
Serão destinados R$ 50 milhões do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI) para o estabelecimento desse pólo nacional, que ampliará a capacidade do país na área de desenvolvimento de vacinas. O Centro também terá investimento de R$ 30 milhões do governo de Minas Gerais, estado onde estará localizado. O convênio para a criação do Centro Nacional foi assinado na quarta-feira, 8, durante a 18ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que acontece em Brasília.
A instituição de um Centro Nacional de Vacinas no Brasil contribuirá para modificar o atual quadro brasileiro. Segundo o Secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales, até setembro de 2021 o país não produzia qualquer insumo farmacêutico ativo para vacinas. “O que Brasil faz bem é importar o insumo farmacêutico ativo e temos uma rede de envasamento e distribuição que é extremamente importante”, afirma ele. O plano do MCTI foi o de elaborar uma estratégia de produção de vacinas de segunda e de terceira geração, de DNA, de RNA e de proteínas recombinantes, com infra-estrutura de produção com alta tecnologia. Além da vacina para a COVID-19, o Centro poderá fabricar também vacinas para zika vírus, dengue e chikungunya.
Para o Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, a independência brasileira na produção de vacinas feitas com tecnologia e insumo nacionais é fundamental. Em discurso durante a cerimônia de assinatura do convênio, o Ministro lembrou as dificuldades do país em conseguir respiradores durante a pandemia do novo coronavírus e disse que o Brasil não pode ser completamente dependente de outros países. “Lógico que existe o mercado internacional, nós participamos de tudo isso, mas certas coisas, quando a gente fala da vida das pessoas, a gente não pode brincar e colocar na mão do mercado internacional. Isso tem de ser dominado aqui”, completou o Ministro. As negociações para viabilizar o estabelecimento do Centro Nacional de Vacinas tiveram início em julho de 2021. O Centro será uma expansão e uma qualificação do CT-Vacinas, centro de pesquisas em biotecnologia, que conta também com financiamento do CNPq, com equipe formada por pesquisadores ligados à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e à Fiocruz-MG. O CT-Vacinas é voltado para o desenvolvimento de novas tecnologias ligadas à produção de kits de diagnóstico e vacinas contra doenças humanas e veterinárias.
O Centro Nacional de Vacinas desenvolverá projetos de inovação nas áreas de vacinas, de kits diagnósticos e de fármacos, com foco na transferência tecnológica para empresas e instituições que atuam no mercado. A intenção é a de que o centro domine todas as etapas do desenvolvimento desses produtos, incluindo as pesquisas, testes com pacientes até a criação de protótipos. O centro também deve atuar como uma plataforma para o surgimento de spin-offs que desejem comercializar os produtos que desenvolverá. Além disso, apoiará grupos de pesquisa, instituições e empresas, por meio da capacitação de profissionais e de prestação de serviços. A estratégia é que o Centro possa se sustentar a longo prazo, por meio de parcerias com a iniciativa privada e com o ecossistema existente no parque tecnológico.
Segundo Ricardo Gazzinelli, que também é pesquisador da Fiocruz-MG, só a parceria e a atuação conjunta das instituições com os pesquisadores vai permitir o avanço na área de diagnóstico e vacinas. “Durante a pandemia percebemos essa dependência tecnológica que o Brasil tinha na parte de insumos, de produtos para saúde e a ideia então do Centro Nacional de Vacinas é de fazer essa ponte, de onde nós podemos então atuar de forma mais rápida, não só para eventuais epidemias ou pandemias como esta que estamos vivendo, mas também para outras doenças negligenciadas, desenvolvendo vacinas que não existem para doenças que são tão importantes”, ressalta o pesquisador. O professor Gazzinelli lembrou ainda que o Centro é o resultado de um trabalho de mais de duas décadas, que começou com a rede mineira de biomoléculas, passou pelo instituto do milênio, até chegar ao programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. “Esses anos de financiamento perene realmente permitiram a consolidação desse grupo, que pode atuar rapidamente neste momento de dificuldade”, salienta o professor Gazzinelli.
No momento, o grupo do CN Vacinas trabalha em duas vacinas de COVID-19, uma delas em análise na ANVISA. Denominada Spintec, a vacina foi cem por cento desenvolvida no Brasil, desde a composição do insumo biologicamente ativo, e já foi testada em animais. A depender da decisão da ANVISA, os ensaios clínicos em humanos podem começar em março de 2022. O grupo de pesquisa também se encontra desenvolvendo uma segunda vacina para a COVID-19, com ácido nucléico.