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Seminário salienta a importância do CNPq para o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia
O seminário 70 anos de CNPq (1951-2021) - passado, presente e futuro pensando e transformando o Brasil, cuja abertura aconteceu no dia 26 de Abril , terminou na quarta-feira, 27, exaltando o papel do CNPq como elemento primordial na constituição de um sistema nacional de ciência e tecnologia. Os diversos debates que aconteceram ao longo do evento frisaram também a necessidade de investimentos na área e a recuperação orçamentária do CNPq, que afeta bolsas de estudo e o fomento à pesquisa. Nos dois dias do encontro, especialistas de diversas áreas discutiram, além do futuro do CNPq e de seu papel no fomento à pesquisa e no sistema de Ciência e Tecnologia, atuações deste Conselho em projetos e ações mobilizadoras, como os dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), além de parcerias internacionais firmadas ao longo de sua existência.
Foram realizadas seis mesas redondas, que apresentaram discussões sobre " O papel do CNPq no Sistema de CT&I”; " A visão das entidades de CT&I sobre o papel do CNPq no fomento à pesquisa”; “Projetos e Ações Mobilizadoras do CNPq"; Referências e Parcerias Internacionais; “O Sistema Nacional de CT&I” e “O Futuro do CNPq”.
Luiz Davidovich (ABC), Evaldo Vilela (CNPq) e Odir Dallagostin (Confap), participantes da mesa que discutiu o papel do CNPq no Sistema Nacional de CT&I. Foto: Marcelo Gondim/CNPq
Em mesa sobre o papel do CNPq no fomento à pesquisa, o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Marcus V. David , comentou a concepção política de o que é sistema nacional de ciência e tecnologia para um país como o Brasil, ressaltando a área como fator estruturante para o desenvolvimento. "Se o Estado abre mão do seu papel fundamental de financiador da ciência e tecnologia, nós estamos comprometendo toda essa política de ciência e tecnologia. Hoje, lamentavelmente, é o que vem ocorrendo", disse ele, para quem estamos prescindindo de investimentos perenes na área. “A ciência e tecnologia é um investimento absolutamente fundamental para um projeto de nação que todos nós desejamos”, afirmou Marcus David. “Esse projeto precisa de financiamento urgente”, completou ele.
Diretor do CNPq, Prof. Og de Souza (segundo da direita para a esquerda) moderou a mesa sobre a visão das entidades de CT&I sobre o papel do CNPq no fomento à pesquisa. Foto: Marcelo Gondim/CNPq
A vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, concordou com David. Ao discutir o futuro do CNPq, Nader ressaltou a importância de se lembrar o papel desempenhado por este Conselho até a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia. Naquela época, o CNPq era o foco de toda a discussão da ciência brasileira. Hoje, segundo ela, o desafio do CNPq é o de convencer o Congresso Nacional e o próprio Executivo da relevância da ciência, em um momento em que o orçamento para a área de ciência e tecnologia diminuiu de forma significativa e se encontra muito dependente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). “Enquanto o Brasil não aceitar que a ciência é o motor da economia, enquanto não passar a considerar a educação e a ciência como chaves para o desenvolvimento e ter um financiamento contínuo e adequado, nós vamos continuar tendo as crises que temos tido nos últimos anos”, sublinhou Helena Nader.
Para a professora Helena Nader, uma das questões principais envolvendo a comunidade científica no futuro do CNPq é a discussão acerca de qual modelo os pesquisadores ajudarão a criar para o CNPq do século XXI. Ao lembrar que a fundação do CNPq foi uma reação rápida do Brasil ao novo cenário internacional, delineado no pós-Segunda Guerra Mundial e em que a ciência e tecnologia tornaram-se evidentes como fatores de poder de um Estado, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich , afirmou que planos para o futuro do CNPq devem ser pensados para período extenso. “Essa questão de política de Estado é importante porque as pessoas às vezes se esquecem de que ciência, tecnologia e inovação tem que ser projeto de longo prazo”, ressaltou Davidovich. Segundo o professor, um dos pontos oferecidos pelo CNPq e que mais se pode aproveitar é a experiência acumulada de avaliação de projetos científicos. Davidovich, porém, lembrou que, como essas propostas recebem recursos públicos, o CNPq deve buscar formas de melhorar essa análise, examinando o mérito da pesquisa proposta e não só considerando índices como, por exemplo, o fator H, referente ao número de trabalhos publicados por um pesquisador e as respectivas citações.
O Futuro do CNPq foi o tema da última mesa redonda do evento, moderada pelo diretor do CNPq, Carlos Alberto Pereira dos Santos (segundo da esquerda para a direita), o presidente do CNPq, Evaldo Vilela e Roberto Muniz, presidente da Associação dos Servidores do CNPq. Foto: Marcelo Gondim/CNPq
A opinião do professor Davidovich, de que um projeto financiado pelo CNPq deve ser escolhido em avaliação que investigue qual será seu impacto científico e como a pesquisa proposta beneficiará a sociedade, foi compartilhada pelo Presidente do CNPq, professor Evaldo Ferreira Vilela . Em debate acerca do papel do CNPq no sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação, o professor Vilela reforçou a necessidade de se analisar as propostas submetidas ao CNPq mediante o seu mérito, ou seja, sua contribuição para o avanço do conhecimento ou para o benefício à sociedade. “Se o projeto não é bom, se o projeto não tem essa condição de oferecer uma contribuição de um impacto ou de um aumento do conhecimento, ele não serve”, salientou ele, observando que o CNPq já tem trabalhado nesse sentido.
Os valores de bolsas de estudo financiadas pelo CNPq foram outros pontos discutidos no Seminário e enfatizados por vários especialistas. Enquanto o professor Davidovich rememorou que um dos desafios deste Conselho para os próximos anos seria o de incentivar e o de amparar estudantes, que hoje recebem bolsas de estudo em valores que atingem apenas cerca de 60% dos valores das bolsas de 2014, Flávia Calé da Silva , presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) , disse que o aumento das bolsas precisa ser uma política de Estado. Para o professor Marcus David, a queda no valor real das bolsas compromete a capacidade de atração de pesquisadores. “Sem capacidade de recuperação de orçamento que garanta recomposição das bolsas, se a capacidade de fontes de financiamento para fomento e para infraestrutura, nós vamos comprometer a ciência e tecnologia”, notou David.
Ao atentar que a pandemia impôs às nações a necessidade de buscarem autossuficiência por meio de seus recursos, Flávia Calé foi além e disse considerar que a valorização de jovens talentos constitui desafio estratégico para o Brasil. Ela enfatizou a necessidade de adoção de política emergencial, que reverta a evasão de recém-doutores da carreira científica e a fuga de cérebros do Brasil. Na opinião dela, o papel do CNPq deve ser entendido como indutor do sistema de Ciência e Tecnologia. Assim, ele deve criar pontes entre o setor acadêmico e o produtivo, que sirvam à sociedade. “O CNPq precisa recuperar sua capacidade de fomentar e dar suporte infraestrutural para a ciência nacional”, afirmou ela.
Fechando os debates ocorridos no seminário, o presidente da Associação dos Servidores do CNPq (ASCON), Roberto Muniz, fez coro aos vários comentários dos acadêmicos participantes do seminário, ao defender o futuro do CNPq. Muniz pontuou o momento crítico do CNPq quanto ao orçamento e o quadro de servidores. “O CNPq do futuro precisa reconstruir a espinha dorsal desta instituição”, salientou Roberto Muniz, para quem há necessidade imediata de se realizar a recomposição da força de trabalho da instituição e também de se pensar na questão da autonomia da instituição. Segundo ele, ciência e tecnologia não se faz em curto prazo, por isso há de se ter uma política que tem de ser de Estado e não trocada a cada governo.
O evento possibilitou, também, a apresentação de referências de fomento à pesquisa em países como o Reino Unido e na União Europeia com a presença da Ministra Ana Beatriz Martins, Chefe de Delegação Adjunta da União Europeia no Brasil; além dos representantes da Embaixada do Reino Unidoo, a Diretora de Ciência e Inovação para a América Latina, Cindy Parker, e o Gerente Sênior de Ciências, Diego Arruda.
Ações do CNPq
O Seminário também proporcionou a oportunidade de apresentar projetos mobilizadores que o CNPq coordena. Os programas Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), o Centro de Sínteses m Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) e as ações de estímulo às ciências humanas e sociais foram destacados pelos palestrantes da mesa redonda moderada pelo professor Adalberto Val, coordenador do INCT Adaptações da Biota Aquática da Amazônia.
Veja todas as fotos:
Assista às mesas redondas:
Tarde do dia 26 de Abril de 2022
Mesa 1 – O papel do CNPq no Sistema de CT&I, Mesa 2 – A visão das entidades de CT&I sobre o papel do CNPq no fomento à pesquisa e Mesa 3 – Projetos e Ações Mobilizadoras do CNPq
Manhã do dia 27 de Abril de 2022
Mesa 4 – Referências e Parcerias Internacionais
Tarde do dia 27 de Abril de 2022
Mesa 5 – O Sistema Nacional de CT&I e Mesa 6 – O Futuro do CNPq .