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Projeto de síntese do conhecimento sobre polinização e restauração florestal foca na coprodução como estratégia de divulgação
Como formatar o conjunto de resultados de uma pesquisa para que tenha significado e de fato alcance as pessoas que podem se beneficiar dessas informações no seu cotidiano? Esta foi uma das discussões que pautou o segundo evento presencial do Projeto SPIN (Síntese sobre Intensificação da Polinização: Biodiversidade e Agricultura Sustentável) do SinBiose/CNPq que aconteceu em Brasília, entre os dias 01 e 05 de agosto de 2022. O evento reuniu 19 membros do projeto vindos de diferentes regiões do país, incluindo uma pesquisadora do exterior, e membros do setor produtivo e do terceiro setor. O encontro também teve como objetivo avançar com as discussões sobre análises de resultados e produtos do projeto.
Membros do projeto SPIN e gestores do CNPq que participaram do evento reunidos em frente à sede do Conselho.
O projeto SPIN está elaborando sínteses do conhecimento no campo da restauração ecológica e de práticas agrícolas amigáveis a polinizadores. O SPIN integra, junto com outros seis projetos, a primeira geração de projetos do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, o SinBiose do CNPq.
A meta do SPIN é produzir até sua finalização, no primeiro semestre de 2023, outros quatro produtos centrais. Três de caráter acadêmico, que visam elucidar questões acerca da polinização, produção agrícola e bem-estar social em escalas nacional e regionais. O quarto produto tem como propósito oferecer conteúdo para tomadores de decisão, sobretudo os produtores agrícolas, tendo como base a abordagem de coprodução de conhecimento.
“Alcançar as pessoas que tomam a decisão no campo é uma das questões mais complexas e centrais do projeto", pontua Leandro Freitas, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e coordenador do SPIN. “Esta preocupação se reflete no próprio desenho do projeto que incluiu, além de pesquisadores, membros do setor produtivo e do terceiro setor de diferentes regiões do país para agregar diferentes visões”, complementa Marina Wolowski, professora da Universidade Federal de Alfenas que divide a coordenação do projeto com Freitas.
No que se refere às discussões sobre como alcançar da melhor forma os tomadores de decisão relacionados à conservação de polinizadores e produção de alimentos, o grupo decidiu focar sobretudo em técnicos de extensão agrícola, dado seu papel estratégico como agentes dinamizadores de conhecimento. A metodologia para analisar quais resultados do projeto teriam relevância para este público-alvo e como deveria ser disseminada tomou como base uma pesquisa de opinião realizada diretamente com técnicos e produtores agrícolas. “Como é tudo muito novo para nós neste campo da coprodução de conhecimento, alocamos uma pesquisadora de pós-doutorado para nos apoiar exclusivamente no desenvolvimento deste produto”, explica Wolowski. Entre os possíveis formatos de divulgação, a equipe do projeto considera a preparação de cursos e vídeos que possam ser trabalhados de forma modular por agentes dinamizadores adequando às demandas locais dos produtores agrícolas.
“Nossa ambição é que os resultados repercutam em escala nacional, como uma política pública para polinização, e, em escala regional, como uma linha de incentivo e de financiamento. Mas na ponta, são os produtores que queremos atingir, que também é um grupo muito heterogêneo, pois há por exemplo o pequeno e o grande produtor rural”, explica Freitas. Por isso, explica o coordenador, não existe uma solução única. “O caminho que estamos encontrando é desenvolver estas ferramentas para que as pessoas que estão na ponta possam ter mais elementos para tomar decisões que sejam úteis a elas”, complementa Freitas.
Sínteses sobre Polinização e Produção Agrícola
O Projeto SPIN se debruça sobre diferentes aspectos que relacionam indicadores socioeconômicos, sobretudo agrícolas, com o serviço ecossistêmico de polinização. Um dos primeiros resultados das análises foi publicado na revista Environmental Science & Technology e identificou a demanda de restauração de áreas naturais para garantir a presença de polinizadores nos cultivos agrícolas dependentes de polinização.
Atualmente, o grupo desenvolve três principais abordagens, que representam três manuscritos acadêmicos. O primeiro visa identificar os fatores que estão relacionados com a demanda por polinização nos municípios, adicionando uma nova camada de análise, a socioeconômica. Ou seja, olhar para as questões de emprego na agricultura, renda, concentração de terra, bem-estar social, cobertura florestal e dependência de polinização para todos os municípios do Brasil.
A segunda abordagem traz um olhar para a relação entre oferta e demanda do serviço de polinização para os municípios brasileiros. A ideia é avaliar o quanto um município depende de polinização e o quanto a disponibilidade de floresta atende esta demanda. Trata-se de gerar estimativas de provisão de serviços ecossistêmicos pautada pelo balanço entre oferta e demanda. “A abrangência do estudo é nacional, mas a partir da análise de dados numa escala local. Isto aumenta muito a capacidade de planejamento do município em termos de conservação da biodiversidade”, explica Freitas.
Por fim, a terceira abordagem diz respeito a cenários da provisão do serviço de polinização para agricultura em escala estadual, no caso, o ponto de partida é o Paraná. O grupo está construindo um modelo que inclui indicadores socioeconômicos relacionados a práticas de manejo agrícola, produtividade no campo e dependência da polinização para as culturas agrícolas da região. A simulação prevê os seguintes cenários de restauração florestal para levar a provisão do serviço de polinização: se a legislação for cumprida, se não for cumprida e se for cumprida com adicional de mais áreas de floresta. “Desta forma, os municípios com maiores demandas de polinização podem se planejar para que a oferta de polinização seja garantida”, explica Wolowski.
Imersão
Ao longo dos cinco dias, o evento de imersão do Projeto SPIN alternou momentos de discussões gerais e específicas, arranjadas de forma escalonada entre os quatro produtos em desenvolvimento. “Quando chegaram no final do evento todos os produtos foram discutidos com profundidade e tinham seus planos de ação até o fim do projeto”, relata Freitas.
Outra preocupação do evento foi o compartilhamento de conceitos e metodologias. A equipe do SPIN reúne especialistas de diferentes áreas como ecologia, economia, restauração, serviços ecossistêmicos, polinização, produção agrícola, engajamento público da ciência, entre outros. “Todos os dias, preparamos apresentações curtas para compartilhar metodologias e conceitos específicos de cada área para qualificar ainda mais as discussões dos produtos”, diz Leandro.
A programação do evento contou com momentos de integração que consistiram em almoços e jantares conjuntos e uma visita guiada ao Jardim Botânico de Brasília. “Estes momentos são importantes para o engajamento e entrosamento do grupo, que passou a maior parte do tempo do projeto trabalhando remotamente, muito em função dos rearranjos de trabalho decorrentes da pandemia” explicou Wolowski.