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Pesquisadores brasileiros são premiados por sociedade internacional de pesquisa da esquizofrenia
O bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Daniel Martins-de-Souza e a professora do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Natália Bezerra Mota , receberam em maio, em Toronto, no Canadá, prêmios concedidos pela Schizophrenia International Research Society (SIRS) . Daniel Martins-de-Souza foi contemplado na categoria Basic Research Award 2023, enquanto Natália Mota recebeu o Global Schizophrenia Award 2023. Na categoria global também foi nomeado Lebogang Phahladira, psiquiatra, membro do Programa de Pesquisa em Psicoses, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul.
Professor do Instituto de Biologia, da Unicamp e membro do Comitê Assessor de Biofísica, Bioquímica, Farmacologia, Fisiologia e Neurociências do CNPq, Daniel Martins-de-Souza desenvolve estudos sobre as proteínas que podem afetar pessoas com esquizofrenia. “Aqui no laboratório nós estudamos as bases elementares, do ponto de vista molecular, da esquizofrenia. A gente estuda moléculas, mais especificamente, proteínas, que podem ter envolvimento com a esquizofrenia”, diz o professor. Ele explica que a investigação sobre quais proteínas se apresentam em quantidades alteradas no cérebro de pessoas afetadas pela doença envolve também a conversão de células tronco em células cerebrais, o que ajuda os cientistas a entenderem a esquizofrenia do ponto de vista molecular. “Essa melhor compreensão é essencial para que novos medicamentos sejam desenvolvidos. Porque é a partir do conhecimento da biologia da doença que a gente vai conseguir desenvolver medicamentos mais eficazes”, diz ele. Segundo o professor, os medicamentos atuais têm efeito, quando muito, em metade dos pacientes de esquizofrenia. Por isso é necessário que se desenvolvam novos medicamentos para a doença.
Daniel Martins-de-Souza também desenvolve estudo que analisa as proteínas presentes no sangue de pacientes. O objetivo é o de chegar a um teste clínico que possa predizer o sucesso à medicação e contribuir para que os medicamentos para esquizofrenia sejam mais efetivos. O professor acredita que a concessão do prêmio pela SIRS também levou em consideração o fato de que seu grupo de pesquisa foi um dos pioneiros na descrição do papel das células da glia na esquizofrenia. Essas células são um dos tipos de célula do cérebro, além dos neurônios. “Nosso grupo foi um dos pioneiros a mostrar, do ponto de vista molecular, do envolvimento das proteínas, que as células da glia têm um papel central no desenvolvimento da doença”, explica ele.
A professora Natália Mota, por sua vez, foi uma das pioneiras a criar algoritmos computacionais para fazer análise de sinais de sofrimento mental na fala, há cerca de uma década. O estudo evoluiu para uma ferramenta capaz de transformar a trajetória de uma narrativa em um gráfico, que auxilia no diagnóstico da esquizofrenia. A professora explica que a maneira como falamos mostra que recuperamos de forma espontânea as palavras, de modo que tendemos a contar uma história com começo, meio e fim. O discurso de uma pessoa que tem uma psicose de origem esquizofrênica, por sua vez, tende a ser mais fragmentado, a recorrência das palavras não ocorre da mesma maneira. Esses aspectos da trajetória da narrativa nas pessoas com esquizofrenia foram indicados desde as primeiras descrições da doença, mostrando-se importantes para se fechar o diagnóstico dessa patologia.
“O que eu fiz foi basicamente transformar isso com uma linguagem matemática de forma que a gente não precise apenas descrever esses fenômenos, mas que a gente possa medir”, explica a professora. Ela afirma que a ferramenta desenvolvida por ela ajuda a medir com precisão a caracterização de fenômenos psicopatológicos. Isso permite com que se observe associações com biomarcadores como, por exemplo, funcionamento cerebral de uma maneira mais precisa. “A gente tem uma grande dificuldade de encontrar os biomarcadores relacionados às patologias mentais muitas vezes porque a forma de a gente avaliar como a patologia mental está mais ou menos severa é a partir de uma avaliação subjetiva que um profissional da saúde mental faz. Por mais treinado que seja em escalas psicométricas, ainda tem muito da sua experiência e da sua avaliação ali pra pontuar nessas escalas. Esses métodos mais recentes, em que se incluem os gráficos de palavras, tem uma vantagem de você poder olhar a partir do discurso da própria pessoa”, afirma a professora. No momento, ela participa do comitê de uma rede chamada Discourse Psichosys, montada durante a pandemia. Os especialistas participantes dessa rede elaboraram um protocolo em comum, a ser aplicado por diferentes grupos em várias partes do mundo, para estudar, a partir das mesmas perguntas e das narrativas harmonizadas, como as características da linguagem associadas às psicoses se manifestam em diferentes línguas e em diferentes culturas. Especialistas de mais de vinte países se encontram coletando esses dados.