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Olimpíadas Científicas e suas contribuições para o ensino e a alfabetização científica
Um dos modos mais eficientes para o aprimoramento da qualidade da educação científica, da popularização da ciência e da divulgação científica entre estudantes de ensino fundamental, médio ou mesmo universitário, as olimpíadas científicas, além de democratizar o conhecimento e de elevar a qualidade da educação nas escolas, estimulam o surgimento de novos talentos nas diversas áreas do conhecimento. Os participantes dessas competições podem se tornar agentes capazes de promover a atualização dos métodos e de técnicas das áreas nas próprias escolas e muitos deles podem ser orientados para carreiras técnico-científicas. As olimpíadas também aproximam escolas e instituições de ensino e pesquisa da comunidade, valorizando o reconhecimento da dimensão institucional da pesquisa e o papel das instituições que promovem a ciência e das que a financiam, como o CNPq.
Para falar sobre essas iniciativas, o histórico das olimpíadas científicas no Brasil e o impacto que elas exercem na vida dos estudantes e no ensino, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) promoverá nesta quinta-feira, 30 de junho, a live “”Olimpíada Científicas: histórico e histórias”, que contará com a participação de dois professores pioneiros na organização dessas olimpíadas no país: Djairo Guedes de Figueiredo, da Unicamp, e João Bosco Pitombeira de Carvalho, da PUC-Rio. No evento, também será apresentado o apoio do CNPq às olimpíadas científicas, financiando, desde 2002, projetos selecionados por meio de chamadas públicas.
A live será transmitida pelo canal oficial deste Conselho no YouTube a partir das 15h. Assista à transmissão ao vivo em https://youtu.be/xlKYrwuopmE
As olimpíadas científicas
Realizadas pela primeira vez na Hungria, em 1894, as primeiras olimpíadas científicas se expandiram de forma rápida pelo Leste Europeu, com foco específico em Matemática. No Brasil, as primeiras olimpíadas organizadas datam de 1979, quando ocorreu a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), organizada pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Desde então, outras áreas do conhecimento promoveram as próprias olimpíadas científicas, chamando o interesse de escolas e de estudantes e aumentando, assim, o número de participantes dessas disputas. Apenas para se ter uma ideia, da primeira olimpíada de Astronomia participaram apenas 21 escolas, de 8 cidades brasileiras. Hoje, essa olimpíada já se tornou tradicional, reunindo número significativo de concorrentes. A 25ª edição da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, realizada em 2022, teve a participação de mais de 1,1 milhão de alunos, distribuídos por 12.369 escolas de todos os estados do Brasil, e envolveu um total de 59.649 professores.
Nos últimos anos, as olimpíadas científicas, têm constituído um meio cada vez mais utilizado para a promoção de ações afirmativas, entre elas iniciativas que ressaltam a equidade entre meninos e meninas nas competições, por meio do incentivo ao incremento da participação de meninas nas equipes e premiações específicas, entre outros. Em geral, a maioria das olimpíadas científicas dispõe de site próprio, com informações detalhadas sobre a disputa e onde os interessados podem encontrar material disponível para se preparar para a competição, como provas anteriores e os respectivos gabaritos.
De acordo com o professor Francisco Bruno Holanda, um dos coordenadores da OBM, por meio das olimpíadas os alunos do ensino médio e fundamental têm o primeiro contato com a matéria de uma forma mais próxima à que os matemáticos fazem na profissão. “Isso é muito próximo de o que é feito profissionalmente pelos cientistas não só de Matemática, mas também de outras áreas da ciência”, salienta o professor. Problemas que exigem pensamento profundo e horas para resolvê-los acabam estimulando o autodidatismo e também fazendo com que o aluno que estuda para a Olimpíada de Matemática adquira nível acadêmico forte e acabe ajudando outros colegas com dificuldades na escola. O professor Holanda ressalta que os professores que trabalham por meio do projeto da olimpíada têm sido bem sucedidos na melhora do desempenho de seus alunos nessas disputas e também em todas as provas de avaliação do ensino público. O treinamento de alto desempenho para a competição levou a equipe brasileira a conquistar o 10º lugar na Olimpíada Internacional de Matemática de 2020, à frente de países como o Japão e a Alemanha.
O coordenador da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), professor João Batista Canalle, reforça que, além de dar oportunidade para os alunos descobrirem seus talentos, as olimpíadas são um fator motivador para estudantes e professores. Os alunos agraciados com medalhas nessas competições ganham motivação para estudar mais e, em geral, participam de mais de uma olimpíada. A preparação para as competições acaba tendo reflexos na sala de aula. “Astronomia e Astronáutica não são disciplinas escolares, mas professores de outras áreas do conhecimento procuram aprender mais sobre estes conteúdos para melhor preparem os seus alunos. Com isso, mesmo os alunos que não participam de olimpíadas acabam tendo aulas melhores, pois o professor se preparou melhor para ensinar àqueles que querem participar das Olimpíadas. Ou seja, é um círculo virtuoso que promove a melhoria do ensino e aprendizagem”, afirma o professor Canalle. “Mas não só alunos, escolas e professores são estimulados, pois também os amigos destes alunos ficam estimulados, assim como os pais destes alunos percebem que a escola é o único caminho para o sucesso profissional e pessoal dos filhos”, completa ele.
O professor Canalle atenta para o fato de que cada vez mais escolas privadas têm a percepção de que o sucesso de seus alunos em olimpíadas científicas reflete o bom conceito delas junto a pais. Por isso, oferecem mais aulas de Astronomia. As escolas públicas de período integral também estão oferecendo disciplinas optativas em astronomia.
Para a professora Sônia de Andrade Chudzinski, coordenadora da Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB), organizada pelo Instituto Butantan desde 2018, a busca das olimpíadas por oferecer cada vez mais inovações tecnológicas, educacionais e de formação de recursos humanos contribui para ampliar o acesso dos estudantes à experiência olímpica e às universidades públicas, em especial, no caso da OBB, às áreas de biociência e de saúde dessas instituições. “As olimpíadas de biologia contribuem para a alfabetização científica, formando cidadãos com pensamento crítico, o que é fundamental para a sociedade democrática, sobretudo em tempos de pandemia em que a ciência foi tão requerida", afirma a professora. Segundo ela, embora a pandemia de COVID-19 tenha inviabilizado a etapa da capacitação prática presencial da OBB, que ocorre no Instituto Butantan, os responsáveis pela olimpíada desenvolveram uma capacitação online, oferecendo uma alternativa de inovação tecnológica educacional de construção de conhecimento à distância.