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Nota do Presidente do CNPq sobre o Movimento Parent in Science
Em nota publicada na Folha de São Paulo, o Movimento Parent in Science critica o Presidente do CNPq por, participando em uma mesa redonda no evento GBMeeting, na UNICAMP, no dia 30 de janeiro, ele ter dito que o movimento “atrapalha muito”. É necessário pontuar que essas são duas palavras pinçadas dentro de uma explanação muito mais ampla sobre a questão de desigualdades, não só de gênero como também de raça, regionalismo e profissão, feita pelo Presidente em resposta a uma pergunta interposta pelo organizador da mesa, Prof. Dr. Daniel Martins de Souza. Obviamente, uma conclusão sobre seu posicionamento com relação a essa questão só pode extraída escutando toda sua alocução.
Na nota, o Movimento Parent in Science, afirma que nunca sugeriu “que as bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq sejam avaliadas de maneira separada para homens e mulheres”. Acontece que, já durante o trabalho da Equipe de Transição”, o Movimento enviou proposta de aprimoramento da política de redução de desigualdade de gênero e, apontando que a baixa presença de mulheres entre bolsistas de produtividade de pesquisa do CNPq “não reflete o cenário de docentes no sistema de pós-graduação brasileiro”, fez a seguinte proposta
“Precisamos de ações que estimulem a participação das mulheres nos editais e, principalmente, que os critérios de avaliação sejam justos. Por isso, trazemos este estudo de caso ao GT de Transição, para solicitar que o plano de ação que vem sendo elaborado considere em todos os seus níveis a necessidade de um recorte de gênero, parentalidade e raça.”
É natural entender aqui, e fica o questionamento ao Movimento, que um “recorte de gênero” seja equivalente a “avaliação separada para homens e mulheres”. Se não for, o Presidente do CNPq apresenta suas escusas pela equivocada interpretação da proposta.
No entanto, como está na própria nota publicada na Folha de São Paulo, a proposta do Movimento é de “editais específicos para cientistas mulheres”. Em sua interlocução, o Presidente quis deixar claro que, reconhecendo a necessidade plenamente justificável de ações afirmativas na análise da produtividade científica e promoção profissional das pesquisadoras, pessoalmente (e não em nome da Diretoria Executiva do CNPq) é contrário a editais específicos para mulheres, principalmente por respeito à sua capacidade intelectual.
O CNPq tem mantido um diálogo construtivo com o Movimento Parent in Science, por exemplo atendendo sua proposta, feita em 2021, de inserção de um campo para licença maternidade no Currículo Lattes e a consideração do período de licença na análise de produtividade das pesquisadoras. Mas, democraticamente, temos que aceitar algumas divergências de opinião sobre as medidas mais apropriadas para solucionar os graves problemas de desigualdade existentes na sociedade brasileira.
Recentemente, em troca de mensagens com a Professora Fernanda Stanisçuaski, relacionadas ao triste episódio envolvendo a avaliação da Professora Maria Carlotto, o Presidente do CNPq explanou sua posição sobre as propostas do Movimento para sanar a desigualdade de gênero nas bolsas de produtividade de pesquisa, nomeadamente,
“A maior parte das propostas apresentadas (pelo Movimento Parent in Science) mira no topo da pirâmide; querem aumentar a igualdade de gênero sem considerar a questão das demandas, que está em sua base, e com pouco controle das agências de fomento, em particular da CAPES e do CNPq. Em física, por exemplo (minha área) a demanda por pesquisadoras não passa de 30%; em engenharia elétrica de 10%. Portanto, não adianta aumentar o número de bolsas para mulheres nessas áreas, se o teto de vidro sobre elas está em suas instituições e comunidades de trabalho, e não nas agências de fomento!”
Certamente esse é um ponto de divergência entre a posição do Presidente do CNPq e a proposta do Movimento Parent in Science. Mas essa divergência deve ser discutida aberta e construtivamente. Por isso, o Presidente reconhece que o termo “atrapalha” foi inapropriado e deselegantemente empregado em sua interlocução e se põe à disposição para continuar o diálogo franco e construtivo com o Movimento.
Ricardo Galvão
1 de fevereiro de 2024