Notícias
INCTs mostram a importância da pesquisa em rede e de longa duração
Criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em 2008 e executado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) ocupa posição estratégica no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). Além das finalidades de pesquisa, de formação de recursos humanos e de transferência de conhecimentos, tecnologias e inovações para a sociedade e para os setores público e empresarial, os INCTs têm como objetivo a promoção de ações que fortalecem colaborações com grupos de excelência de países líderes na respectiva área de atuação, facilitando a inserção da ciência e tecnologia brasileira no cenário internacional.
O trabalho em rede, abrangendo regiões diferentes e pesquisadores de todo o país, os INCTs produzem pesquisa de alta qualidade com resultados relevantes para a sociedade brasileira. Esses resultados foram apresentados por dois Institutos do Paraná no estande CNPq durante a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada no final de julho, em Curitiba. O CNPq ainda contou com a participação do INCT de Controle e Automação, de Santa Catarina.
O primeiro grupo paranaense é vinculado ao INCT Microagro, que reúne dez núcleos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e sete grandes universidades, além de representantes da iniciativa privada. São mais de R$ 8,8 milhões de investimento com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de bioinsumos.
O Diretor Científico do CNPq, Prof. Olival Freire Jr (à esquerda) ao lado da Profª Mariangela Hungria, coordenadora do INCT MicroAgro e de pesquisadores da rede.
“Especialmente, atuamos em pesquisa aplicada na grande linha dos inoculantes; isto é, um produto composto por micro-organismos, que podem estar isolados ou combinados, e que trazem benefícios para as plantas: promovem o seu crescimento direto e auxiliam no fornecimento de nutrientes, principalmente o nitrogênio”, explicou a integrante ativa do MicroAgro, a professora Luciana Grange, professora da Universidade Federal do Paraná, setor Palotina, cidade localizada na fronteira oeste do Estado.
A pesquisadora da Embrapa Soja e coordenadora do MicroAgro, Mariângela Hungria, uma das fundadoras do INCT, apresentou o Instituto em uma palestra durante a SBPC. Ela lembrou que o grupo surgiu impulsionado por alguns fatores: 30% do PIB do Brasil gira em torno do agronegócio e, por isso, é necessário investir em tecnologias que possam baratear a produção, além de torná-la mais condizente com o momento social, em que é preciso produzir alimento para pessoas que passam fome, e cuidar do meio ambiente.
Além disso, “a nossa pesquisa tem todo o potencial de ser uma alternativa para a crise de fertilizantes que nosso País enfrenta; isto é, ser uma resposta ao debate ambiental, mas também econômico, porque esses insumos são muito caros para o produtor e a sua ação pode ser potencializada com os bioinsumos que desenvolvemos, diminuindo a quantidade de fertilizantes importados nas lavouras”, explicou Hungria.
Outro resultado importante destacado pela professora são os 250 pós-graduados, entre mestrandos e doutorandos formados pela Embrapa e a capacidade de fazer circular o conhecimento por meio de parcerias com 14 instituições internacionais em 12 países de cinco continentes. Sem citar que a ação do INCT empregou e criou mais de 220 empregos, permitiu a publicação de mais de 500 trabalhos científicos e atendeu a mais de 5 mil agricultores.
“Queremos agradecer ao CNPq, porque nós não tínhamos esse espaço definido na SBPC. O CNPq convocou os INCTs a estar hoje aqui para mostrar esse trabalho que é de parceria, uma parceria entre pesquisadores e o Conselho”, destacou a professora Luciana Grange.
Leite
O professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, Amaury Alfieri, é o coordenador do segundo INCT presente na SPBC 2023, a convite do CNPq. Ele está à frente do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Cadeia Produtiva do Leite, o INCT Leite, dividindo a gestão com o professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Geraldo Tadeu dos Santos.
O Instituto foi proposto no edital do CNPq de 2014, mas só se tornou realidade em 2016 e iniciou as atividades em 2017. O Conselho investiu cerca de R$ 4,7 milhões e, hoje, o INCT Leite “está presente com ações de pesquisa e de ensino em quatro regiões brasileiras, não só instituições públicas como da iniciativa privada. Mas também contamos com outros parceiros como cooperativas de produção e órgãos governamentais, como a Codapar [Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná], uma agência de defesa agropecuária, além de organizações de fora do Brasil: na Argentina, Colômbia, México, Canadá e Estados Unidos, Bélgica, Espanha e Austrália”, explicou o professor.
O grupo trabalha com sanidade animal com foco em pesquisa sobre doenças infecciosas, parasitárias, doenças bacterianas e virais. Também se destaca em trabalhos na área da produção animal: nutrição e manejo do rebanho leiteiro; e reprodução animal, aspecto importantíssimo em vacas leiteiras, segundo o professor Alfieri. Além disso, o grupo investe em pesquisas sobre bem-estar animal e de qualidade do leite.
Com as ações do INCT são beneficiados veterinários de campo, empresas agropecuárias, produtores, cooperativas, pecuaristas, empresas privadas. “Em dois projetos de extensão específicos, são oferecidos diagnósticos sorológicos e etiológicos de doenças infecto-parasitárias para empresas, pessoas físicas, órgãos públicos estaduais e federais, que atuam em programas de saúde animal, assim como damos assessoria específica de reprodução de bovinos ligados à cadeia leiteira”, explica o coordenador de Londrina.
Assim como a professora Hungria, o professor Alfieri conta que o INCT Leite tem o compromisso de formar pessoas em todos os níveis, desde a iniciação científica até o mestrado e o doutorado.
Parceria de Santa Catarina
O estande do CNPq também recebeu a visita do professor Marcus V. Americano da Costa Filho, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Controle e Automação de Processos de Energia (CAPE), coordenado pelos professores Julio E. Normey Rico e Rodolfo C. Costa Flesch. Este é o primeiro Instituto do Brasil nessa área de conhecimento, segundo o docente da Universidade Federal da Bahia que, hoje, atua na Federal de Santa Catarina.
De acordo com Marcus, a Engenharia de controle e automação é uma área relativamente nova. O objetivo do controle e automação está embutido no próprio nome, como destaca da Americano da Costa: desenvolver sistemas que podem controlar desde fenômenos naturais até processos industriais.
Apresentação do Prof. Marcus durante a SBPC.
O CNPq investiu R$ 6,8 milhões. A equipe do CAPE vai atuar no desenvolvimento de plantas de controle e automação de processos de todo tipo de energia, principalmente a renovável. “Hoje, há dois projetos que são os nossos principais focos: petróleo e gás, e, na perspectiva renovável, a área de hidrogênio verde”, anuncia o pesquisador.
O hidrogênio é considerado a energia do futuro em diversos países do mundo, sobretudo na Europa. Embora seja extremamente abundante, não é encontrado de forma natural no meio ambiente e é preciso produzi-lo. Mas essa produção é realizada por meio de fontes de energia poluentes.
“Contudo, temos o que se denomina hidrogênio verde, que é produzido utilizando fontes de energia renovável, que não poluem, são inesgotáveis e atendem a uma série de marcos importantes para a preservação da natureza”, explica o professor Marcus.
Prof Marcus com os diretores do CNPq, Débora Peres, Olival Freire Jr. e Dalila Oliveira.
Segundo ele, o CAPE conta com um laboratório que vem desenvolvendo um projeto de microrrede, composto por emuladores de painéis solares e turbina eólica, entre outros equipamentos. “Já é possível simular diversos cenários ambientais, condições de radiação solar, temperatura ambiente e velocidades do vento, com diferentes demandas de carga para o uso e produção de energia elétrica e hidrogênio, nas quais técnicas de controle e otimização são utilizadas para se obter os melhores rendimentos dos processos. A palavra que nos guia é otimização”, conclui o professor Marcus, que é vinculado ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Automação e Sistemas, da UFSC.
Um dos trabalhos mais recentes e reconhecidos pelo instituto foi coordenado pelo Prof. Marcus e realizado durante a pandemia da Covid-19. Os pesquisadores do grupo criaram um sistema para otimizar medidas de controle da pandemia. O sistema desenvolvido pelo grupo permite analisar, avaliar e fazer previsões ao longo do tempo dos indivíduos susceptíveis, expostos, infectados sintomáticos e assintomáticos, ocupação dos leitos clínicos e UTI, recuperados e dos casos letais. Além disso, foi incorporado ao modelo uma variável de comportamento social, desenvolvida a partir do mapeamento dos decretos municipais e estaduais e da mobilidade da população. Saiba mais: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisadores-criam-sistema-para-otimizar-medidas-de-controle-da-pandemia