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INCT-MicroAgro lança tecnologia de uso de bioinsumo que reduz em 25% a adubação nitrogenada de cobertura do milho
Pesquisas realizadas no âmbito do MicroAgro (INCT-Microrganismos Promotores do Crescimento de Plantas Visando à Sustentabilidade Agrícola e à Responsabilidade Ambiental) e lideradas pela Embrapa Soja desenvolveram tecnologia para uma adubação nitrogenada mais econômica e ecológica. O estudo indicou que a inoculação de sementes de milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 da bactéria Azospirillum brasilense permite a redução de 25% da adubação nitrogenada de cobertura com menos emissão de gases de efeito estufa, colaborando com as estratégias de agricultura de baixo carbono.
Os estudos incluíram trinta ensaios a campo em todas as regiões produtoras do Brasil. Para o lançamento da tecnologia, que é aplicável em amplas condições de clima e de solos brasileiros, os pesquisadores consideraram o resultado de altos rendimentos de grãos das plantas inoculadas e supridas com 75% da adubação nitrogenada em cobertura. Os resultados não diferiram estatisticamente das plantas não inoculadas - que receberam 100% da adubação nitrogenada - e indicaram a redução em 25% dessa adubação sem perda de produtividade.
A adubação com aplicação de Nitrogênio é uma prática eficiente para melhorar a produtividade e a qualidade da plantação, mas a redução do uso indicada pela pesquisa proporciona ganhos econômicos e ambientais, como aponta o bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antônio Nogueira . “Só o fato de reduzirmos um quarto dessa adubação nitrogenada representa um ganho econômico muito importante para o produtor, especialmente em uma época como esta” afirma Nogueira, lembrando dos preços elevados dos fertilizantes nitrogenados.
O pesquisador menciona, ainda, as vantagens na redução de uso de fertilizantes nitrogenados para o meio-ambiente. “Para cada quilo de fertilizante nitrogenado que a gente deixa de usar, nós estamos deixando de emitir para a atmosfera um pouco mais de 10 quilos por hectare de CO2 equivalente”, diz ele, ressaltando que as boas práticas agrícolas também ajudam a diminuir a emissão de gases de efeito estufa. Considerando-se a área de cultivo de milho no Brasil, o preço do fertilizante nitrogenado no mercado e a emissão de gases de efeito estufa, calcula-se que o potencial dessa tecnologia de inoculação de sementes com estirpes da bactéria Azospirillum brasilense acarrete uma economia anual de R$ 5,8 bilhões.
Para a bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, pesquisadora da Embrapa Soja e coordenadora do INCT MicroAgro, Mariângela Hungria , o produto da pesquisa desenvolvida pelo INCT e encabeçada pela Embrapa Soja é capaz de ajudar o Brasil a diminuir sua dependência na área agrícola. “O uso de microrganismos promotores do crescimento de plantas - capazes de substituir, parcial ou totalmente, os fertilizantes químicos - representa uma estratégia chave para o Brasil, que hoje importa cerca de 85% dos fertilizantes utilizados na agricultura”, afirma a pesquisadora. Além da redução na adubação nitrogenada de cobertura, a tecnologia da inoculação do milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de Azospirillum brasilense permite um incremento médio de 3,1% na produtividade de grãos. Todos os experimentos realizados pelos pesquisadores confirmaram esses benefícios, em diferentes níveis de rendimento, condições tropicais e subtropicais, solos argilosos e arenosos, com baixo e alto teor de matéria orgânica e diferentes níveis de adubação nitrogenada.
Profª Mariângela Hungria da Cunha, coordenadora do INCT MicroAgro, Pesquisadora Embrapa Soja-PR e bolsista PQ do CNPq
A inoculação com Azospirillum na cultura do milho já é conhecida pelo produtor desde os anos de 2009-2010, quando a tecnologia foi lançada pela Embrapa. Desde então, os pesquisadores trabalharam para refinar essa tecnologia e chegar aos resultados atuais. O desenvolvimento do bioinsumo, no caso um inoculante, começou com um estudo em um banco da Embrapa com quase cinco mil microorganismos com potencial para a agropecuária. O interesse dos pesquisadores era o de encontrar bactérias promotoras do crescimento de plantas para o milho. “Nós fomos, fizemos bioprospecção, verificamos todas as propriedades de bactérias que nós acreditávamos que seriam importantes para essas culturas e identificamos as duas melhores, que eram da espécie Azospirillum brasiliense ”, afirma a pesquisadora Mariângela Hungria. Ela explica que a estirpe Ab-V5 dessa bactéria contribui para a fixação de nitrogênio, conseguindo suplementar as necessidades da planta de 15 % a 25%. A estirpe Ab-V6, por sua vez, é uma alta produtora de fitormônios, principalmente o ácido indol acético, responsável pelo crescimento das raízes do milho. “Mais raiz significa mais área de absorção de água e nutrientes”, esclarece a pesquisadora.
Dessa forma, o inoculante aumenta a eficiência de uso do fertilizante nitrogenado que, nas condições brasileiras, raramente é superior a 50 por cento. Boa parte desse tipo de fertilizante é perdida por lixiviação, contaminando águas de rios, lençóis freáticos e também gerando a emissão de gases de efeito estufa. As pesquisas com bioinsumo são apenas uma das tecnologias lançadas pelo MicroAgro, que já conta com onze bioinsumos no mercado, desenvolvidos em parcerias público-privadas, e que têm milhões de doses comercializadas ao ano.
O INCT
O INCT-MicroAgro integra o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia coordenado pelo CNPq e recebeu financiamento de R$ 8 milhões do CNPq e da Fundação Araucária-PR e hoje conta com 270 membros em todo o território nacional.
O Programa INCT foi criado em 2008 para apoiar grandes projetos de pesquisa de longo prazo, das mais diversas áreas do conhecimento, em redes nacionais e ou internacionais de cooperação científica envolvendo pesquisadores e bolsistas das mais diversas áreas, para o desenvolvimento de projetos de alto impacto científico e de formação de recursos humanos.
Já foram lançadas quatro chamadas, sendo a mais recente em 2022, cujo resultado final foi divulgado em dezembro , com 58 novos institutos aprovados, que se somarão aos 102 existentes.