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Fazer ciência e ser mulher: um desafio ainda real
Debate promovido pelo CNPq reuniu coordenadoras apoiadas pelas chamadas publicas que estimula a inserção das mulheres nas carreiras cientificas e tecnológicas e discutiu a inserção na mulher na pesquisa.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) promoveu, nesta terça-feira, 7, o encontro com as coordenadoras de projetos apoiados por chamada pública lançada em 18/2013 para estimular o ingresso das mulheres nos cursos de ciências exatas, engenharia e computação.
A Chamada 18/2013 apoiou 325 projetos e faz parte do Programa Mulher e Ciência do CNPq, que conta com uma série de iniciativas com o objetivo para a equidade de gênero no universo da ciência, tecnologia e inovação.
Durante a abertura do evento, que contou com a presença do presidente do CNPq, Mario Neto Borges, a diretora de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais, Adriana Maria Tonini, ressaltou a importância de estimular meninas ainda na educação básica. Para ela, a responsabilidade da inserção de jovens meninas na carreira científica e tecnológica começa na escola, na família e com os professores. "Não adianta a gente pensar em empoderar a mulher somente no topo das universidades. Se você não estiver lá na escola, na família, se os professores não trabalharem essas habilidades com as meninas, vai ser difícil mudar esse quadro", finalizou.
A professora Lourdes Bandeira, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB), participou do encontro e falou sobre o papel da mulher na sociedade. Para ela, existe uma concepção popular de que cabem às mulheres profissões mais ligadas ao cuidado, "como se houvesse uma diferença biológica que justificasse essa escolha e como se o sexo feminino não fosse capaz de pensamentos mais abstratos". A socióloga observou que existe uma variedade bem maior de aptidões, independentemente do gênero, e falta de estímulo a meninas.
O evento contou com a presença, também, de quatro coordenadoras de projetos na UnB: Adriana Ibaldo, do Instituto de Física; Aleteia de Araújo, do Departamento de Ciência da Computação; e Dianne Viana e Josiane Aguiar, da Faculdade de Tecnologia e Maria Lucia de Santana Braga representante do CNPq.
Cenário
As últimas décadas representaram, para as mulheres, diversas conquistas tanto no campo pessoal quanto profissional. De leis que garantem proteção contra violência doméstica ao direito à inserção no mercado de trabalho, muitos foram os avanços que promoveram o aumento da presença feminina nas mais diversas esferas da sociedade. No entanto, ainda há barreiras que mantém algumas desigualdades nas oportunidades e na representatividade das mulheres.
Esse cenário também está presente na ciência e na tecnologia, ainda que o crescimento da participação feminina seja uma realidade. Considerando as bolsas concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), nos últimos 15 anos, há um leve aumento no percentual de mulheres em relação ao total, mantendo uma divisão quase igualitária entre homens e mulheres no total de bolsas. Em 2001, as mulheres representavam 47% do total. Em 2016, foram 49%.
Mas quando os números são detalhados por modalidades e grandes áreas, as desigualdades aparecem. Nota-se, por exemplo, a manutenção da predominância masculina nos grupos de alto nível da produção científica, bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq. De 2001 a 2016, houve um aumento de 4% das mulheres contempladas com essas bolsas, mas elas continuam na casa dos 30% to total de bolsas concedidas. Hoje, as bolsistas de PQ representam 35% do total.
Por outro lado, na modalidade de iniciação científica, esse cenário é invertido e conta com aumento de 5% da presença feminina dentre os bolsistas de IC nos últimos 15 anos. Atualmente, do total de bolsistas dessa modalidade, 59% são mulheres.
Em relação às grandes áreas, ainda vivemos um cenário em que as áreas tradicionalmente masculinas continuam com a presença maciça de homens, ainda que a perspectiva apresentada com os números dos últimos 15 anos seja de maior igualdade nessa relação. Tanto nas engenharias e computação quanto nas ciências exatas e da terra, o número de mulheres bolsistas aumentou 9% em relação ao total, de 2001 para 2016. Mas ainda é muito baixo em relação aos homens. São 36% de mulheres nas engenharias e 35% nas ciências exatas.
Essa é uma realidade permeada de estereótipos e discriminação, como relatou a professora Aleteia de Araújo, a partir da sua própria experiência. Ela lembra que, durante o doutorado na área da Ciência da Computação, sua competência foi questionada pelos colegas ao se negarem a incluí-la em um grupo de trabalho "por ser mulher¿. ¿Usei aquilo como desafio e virei a noite fazendo o trabalho, que acabou tendo um desempenho melhor que o dos meninos", contou.
Outro dado interessante é em relação aos grupos de pesquisa, que envolvem pesquisadores de todo o país, bolsistas ou não do CNPq. O último Censo, realizado no ano passado, apontou uma virada no percentual de mulheres em relação ao total de pesquisadores envolvidos nos grupos. Hoje, 50,4% são de mulheres, enquanto em 2000 esse número era de 43,6%. Considerando a liderança dos grupos, há, também, um crescimento importante. Em 2001, 39,4% dos líderes eram mulheres e, hoje, esse percentual representa 46,6%.
Betina Stefanello, analista de ciência e tecnologia do CNPq, da equipe do Programa Mulher e Ciência, avalia que a efetiva participação das mulheres nas ciências e tecnologia não é só uma questão de tempo e, tampouco, é uma questão somente local. ¿Considero que a equidade de gênero na C&T só poderá ser alcançada por meio de mudanças estruturais do sistema científico e da própria ciência. Estas mudanças contemplam desde a transformação de práticas institucionais, como a paridade nos comitês e posições de poder, quanto a incorporação da perspectiva de gênero na pesquisa, sempre que possível, em qualquer área do conhecimento.¿, explica.
Coordenação de Comunicação Social do CNPq
Foto: Marcelo Gondim/CNPq
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