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CNPq apresenta ações de fomento a pesquisas oceânicas no evento Diálogos da Cultura Oceânica, que acontece em Santos (SP)
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) participa do “Diálogos da Cultura Oceânica", em Santos (SP), que teve início nesta segunda-feira e vai até dia 14 de outubro.
Um evento do Programa Ocean Literacy With All, endossado pela Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável e realizado pelo Programa Maré de Ciência, com apoio de diversas instituições, entre elas o CNPq, a iniciativa engloba uma série de sessões destinadas a integrar o conhecimento científico acadêmico por temas e com colaboração de públicos específicos: comunicadores, educadores do ensino formal e ensino não formal, setor portuário, comunidades tradicionais, gestores públicos, empresas e sociedade em geral.
Nesta segunda-feira, o CNPq apresentou resultados dos projetos apoiados pela Chamada Pública MCTIC/CNPq - Nº 21/2017 – Pesquisa e Desenvolvimento em Ações Integradas e Sustentáveis nas Baías do Brasil, uma ação de parceria entre o MCTI e o CNPq para a pesquisa, desenvolvimento e inovação em ações integradas e sustentáveis visando à elucidação de aspectos científicos, sociais e econômicos das Baías do Brasil para sua gestão sustentável.
Foram selecionados nove projetos para as duas linhas de pesquisa, sendo quatro na Linha 01 – Principais Baías do Brasil (Baía de Todos os Santos (BA), Baía da Guanabara (RJ) e Baía de São Marcos (MA) e cinco na Linha 02 – Outras Baías do Brasil.
Os resultados apresentados evidenciam os grandes avanços científicos já alcançados para a Baía de Todos os Santos, Guanabara, Babitonga, Marajó e Paranaguá desde a contratação destes projetos em 2017. Foi possível observar a aderência e o atendimento explícito aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda da Organização das Nações Unidas. Tal ação foi possível após a realização de oficinas de capacitação em divulgação científica ofertadas pelo CNPq/MCTI em reuniões anteriores, juntamente com um acompanhamento, orientação e divulgação das ações resultantes dos projetos. Além disso, alguns projetos solicitaram prorrogação/extensão de prazo para finalizarem as suas atividades/ações e foram atendidos.
Cinco projetos já encerraram os seus planos de trabalho e quatro finalizarão até dezembro/2022.
Os resultados dos projetos endossam os esforços para atingir as seguintes metas:
1. Um oceano limpo onde as fontes de poluição estejam identificadas e sejam reduzidas ou removidas.
2. Um oceano saudável e resiliente onde os ecossistemas marinhos sejam compreendidos, protegidos, recuperados e devidamente geridos.
3. Um oceano produtivo que suporte uma cadeia alimentar sustentável e uma economia oceânica sustentável.
4. Um oceano previsível o qual a sociedade compreenda para que possa responder às alterações das suas condições.
5. Um oceano seguro em que a vida e os meios de subsistência são protegidos contra os riscos relacionados com o oceano.
6. Um oceano acessível com acesso livre e equitativo aos dados, à informação, à tecnologia e à inovação.
7. Um oceano inspirador e envolvente que a sociedade possa compreender e valorizar na sua relação com o bem-estar humano e o desenvolvimento sustentável.
Sobre os projetos
Linha 1
PROPONENTE |
INSTITUIÇÃO |
NOME DO PROJETO |
Vanessa Hatje |
UFBA |
Serviços ecossistêmicos e impactos ambientais na Baía de Todos os Santos (SEImA-BTS) |
Maysa Beatriz Mandetta Clementino |
FIOCRUZ |
Influência de Poluentes Químicos e Biológicos no Comportamento da Diversidade Microbiana e na Estrutura do Resistoma em Ecossistemas Aquáticos |
Jean Louis Valentin |
UFRJ |
A Baía de Guanabara: retrato e perspectivas sócio-ecologicas de um ecossistema ameaçado |
Jorge Antonio Gonzaga Santos |
UFRB |
Desenvolvimento do Índice de Qualidade das Florestas de manguezais na Baia de Todos Santos (BTS), Bahia |
Linha 2
PROPONENTE |
INSTITUIÇÃO |
NOME DO PROJETO |
Rodolfo Jose Angulo |
UFPR |
Vulnerabilidades e respostas das populações locais às ameaças socioeconômicas e naturais na Baía de Paranaguá - PR |
Carlos Ernesto Goncalves Reynaud Schaefer |
UFV |
Paisagens Naturais e Antropogênicas da Baia de Marajó: Geoambientes, Biogeoquímica e Geoarqueologia |
Michel Michaelovitch de Mahiques |
USP |
Panorama histórico e perspectivas futuras frente a ocorrência de estressores químicos presentes no Complexo Estuarino de Paranaguá (EQCEP) |
Antonio Henrique da Fontoura Klein |
UFSC |
Subida do nível do mar e a Baía da Babitonga: uma abordagem eco-morfodinamica para prever e mitigar impactos |
Paulo da Cunha Lana |
UFPR |
Resiliência socioecológica e sustentabilidade do complexo estuarino de Paranaguá |
Sítios PELD monitoram conjuntamente área costeiro-marinha-oceânica no Brasil
Outra ação do CNPq no evento envolve a participação de pesquisadores e pesquisadoras de 10 projetos do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) no bioma Costeiro-marinho.
O programa tem hoje 11 projetos em andamento em áreas costeiras e marinhas brasileiras coordenados por pesquisadores reconhecidos internacionalmente. Tal qual sentinelas pela conservação e preservação, eles conduzem equipes que monitoram a biodiversidade marinha e de áreas de restinga e manguezais ao longo do tempo, estudam os efeitos dos desastres ambientais, como as manchas de óleo que atingiram o litoral em 2019 e 2020; atuam para a formação de unidades de conservação ambientais em suas áreas de estudo; incentivam o desenvolvimento econômico e social das populações locais; elaboram e aplicam atividades de educação ambiental e ciência cidadã; criam esforços para estabelecer a comunicação com a população e a opinião pública. E, crucial para se obter resultados factíveis em pesquisa ecológica, detém séries de dados, imagens, e diversas outras informações coletadas durante um longo período de tempo.
Os sítios do PELD Costeiro-marinho atuam em 10 estados, desde o Rio Grande do Sul, estuário da Lagoa dos Patos, até o Pará, na Foz do Rio Amazonas; alcançam os arquipélagos de Fernando de Noronha, São Paulo e São Pedro, Atol das Rocas, Trindade e Martim Vaz, além de áreas de preservação como Abrolhos (BA), a APA Costa dos Corais (AL, a maior área de proteção Ambiental Marinho-costeira do País) e regiões críticas e bastante urbanizadas como a Bacia de Campos e a Baía de Guanabara (RJ), estuários, a costa semiárida do Nordeste (CE) e a plataforma continental e talude, ao sul de Pernambuco.
Pesquisadores e pesquisadoras do bioma Costeiro-marinho brasileiro, integrantes do PELD/CNPq, são uníssonos ao destacar as três maiores ameaças atuais aos oceanos: a poluição, os impactos das mudanças climáticas e a invasão de espécies exóticas.
Os estudos em campo e em laboratório avaliam ameaças agudas e crônicas relacionadas à ocupação humana, tais como esgoto em lagoas, alteração de áreas de drenagem, operações de dragagem próximas a recifes coralíneos, contaminação por rejeitos de mineração, poluição, desmatamento, degradação do solo, ocupação desordenada da orla, sobrepesca, pesca fantasma; impactos de origem terrestre por aportes de efluentes não tratados e agricultura, poluição por plásticos; bem como ameaças mais recentes e agudas, como espécies invasoras, como o peixe-leão que recentemente foi encontrado no Ceará; mudanças climáticas e os eventos extremos associados, com anomalias térmicas que tem afetado os recifes de coral e fortes chuvas, além dos recentes incidentes de derramamento de óleo proveniente que tem assolado a costa nordeste do Brasil desde 2019.
Na academia as ameaças ao meio ambiente marinho passam a compor desafios de pesquisas. Pós-doutores, doutores, mestres e graduandos usam métodos científicos para conhecerem profundamente os problemas, não só ambientais como socioeconômicos e educacionais, pois a relação de bem-estar entre esses fatores para a conservação ambiental está comprovada. Os resultados são apresentados em artigos acadêmicos, frequentemente publicados em revistas científicas internacionais de alto padrão (Qualis A1); ou em teses, dissertações e livros.
Essa atividade contribui para a elevação de conceito na avaliação dos programas de pós-graduação das universidades brasileiras realizada pela Capes; na formação de recursos humanos especializados. Para citar um exemplo, o PELD-ELPA (RS), um dos mais antigos, tendo sido estabelecido desde 1998, produziu mais de 300 artigos científicos e formou mais de 200 estudantes e jovens pesquisadores de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. O programa PELD incentiva a pesquisa em rede, agregando cursos de pós-graduação de diferentes universidades, institutos de pesquisa, organizações não governamentais e compartilhando recursos laboratoriais, equipamentos e dados.
Não só as adversidades são investigadas como também busca-se as causas e soluções sustentáveis. Na natureza, o monitoramento e avaliações de longo prazo oferecem suporte para alternativas que visam a conservação da biodiversidade. Além disso, por meio dos projetos são transferidos conhecimento para as comunidades, para a população em geral; tomadores de decisões e gestores públicos têm acesso às informações para formulação de políticas públicas, melhoria da gestão governamental e comunitária para o uso sustentável dos recursos estuarinos e marinhos.
Pesquisas como o estudo realizado por pesquisadores do Peld Costa dos Corais Alagoas e Projeto Conservação Recifal (PCR) que buscou analisar o impacto de um dos maiores eventos de aquecimento oceânico já registrados na região da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais – a maior unidade de conservação federal marinha costeira do Brasil. O levantamento, publicado na Frontiers in Marine Science, traz dados alarmantes sobre os impactos da catástrofe climática em Alagoas, como uma alta mortalidade de corais que chega em até 50% no caso de algumas espécies.
No ano de 2020, um conjunto de recifes da APA Costa dos Corais, próxima ao município de Maragogi, no litoral norte do estado, registrou o maior acúmulo de estresse por calor da série histórica, que data de 1985, quando a metodologia de medição foi criada e os monitoramentos começaram. O DHW (degree heating week), unidade que mede esse estresse, atingiu 12 em maio de 2020 – quando valores acima de 4 costumam causar branqueamento de 30% a 40% dos corais afetados.
Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração, o PELD
Criado em 1997, sob a coordenação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI).
Anterior ao PELD, havia a expectativa de manter no Brasil pesquisas ecológicas com duração além do período de um doutorado ou pós-doutorado. As pesquisas eram realizadas, mas havia dificuldade em mantê-las porque os recursos terminavam quando o, ou a pesquisadora concluía a pós-graduação. E na área da ecologia a continuidade do registro de dados por décadas é definitivo para a comparação de resultados com as pesquisas atuais.
Com a criação do programa PELD, essa continuidade é assegurada a cada quatro anos por meio de Chamadas Públicas, financiadas pelo CNPq através do MCTI, pelas Fundações de Amparo à Pesquisa, a Capes e parcerias locais. Há projetos em andamento há mais de 25 anos.
Por meio da Chamada CNPq/MCTI/CONFAP-FAPs/PELD Nº 21/2020 estão sendo financiados 45 sítios de pesquisa nos biomas brasileiros no total, considerando os 40 originalmente aprovados com recursos federais (40) e os 5 financiados integralmente pelas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs); além disso nesse ciclo do PELD temos o do projeto de comunicação pública da ciência, o PELDCOM que se dedica a divulgação da ciência produzida nos sítios PELD e articula ações para que os mais variados públicos tenham acesso aos resultados e impactos das pesquisas realizadas pelos diversos sítios do Programa PELD. .
O PELD exerce ainda um papel expressivo na sociedade, gerando entendimento sobre os ecossistemas brasileiros e auxiliando o Brasil a atingir objetivos e metas relacionados à agenda de desenvolvimento global da ONU, a Agenda 2030, com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Mais informação sobre programa PELD/CNPq:
https://www.gov.br/cnpq/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/peld