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Cientistas e tomadores de decisão discutem lacunas e oportunidades para avançar com a ciência de síntese na Amazônia
Ouvir as demandas de tomadores de decisão acerca da ciência da biodiversidade na Amazônia e criar sinergia para atendê-las foi um dos objetivos do primeiro workshop de integração do projeto Synergize do SinBiose/CNPq. Nesta oportunidade o projeto também lançou a plataforma TAOCA que reúne os dados de biodiversidade animal do projeto. O evento ocorreu entre os dias 27 e 29 de outubro em Belém (PA) e reuniu aproximadamente 30 participantes entre membros do projeto, cientistas que atuam na Amazônia, gestores públicos e ONGs.
O projeto Synergize ( SYNthesising Ecological Responses to deGradation In amaZonian Environments ) tem como objetivo sintetizar o conhecimento sobre a biodiversidade em toda a Amazônia brasileira e compreender o grau de integridade e ameaça às florestas, rios e igarapés amazônicos. Junto com outros seis projetos, o Synergize integra a primeira geração de projetos do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, o SinBiose do CNPq.
O evento partiu do mapeamento das principais ações em curso na Amazônia na perspectiva da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMA-PA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da ONG Wildlife Conservation Society . O propósito foi entender desafios e lacunas de informação para então visualizar como a ciência de síntese poderia colaborar com a tomada de decisão.
Das iniciativas que preparam sínteses de conhecimento para a região amazônica, estiveram presentes: o Projeto Trajetórias e Projeto Regenera (ambos do SinBiose/CNPq), projetos que integram o Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração – PELD do CNPq que atuam na região, e o projeto SynTreeSys que é parte do centro de síntese francês CESAB ( Centre de synthèse et d'analyse sur la biodiversité ) e busca compreender os padrões de biodiversidade das árvores na região Neotropical.
“Um aspecto que nos chamou a atenção é que precisamos falar mais sobre o conceito de ciência de síntese que ainda não é amplamente conhecido”, comenta Filipe França, pesquisador da Universidade de Bristol (Reino Unido) e coordenador do projeto juntamente com Joice Nunes Ferreira, pesquisadora Embrapa Amazônia Oriental.
Pesquisadores e tomadores de decisão pontuaram a necessidade de se padronizar a coleta de dados, para por exemplo, favorecer a integração com programas de monitoramento, como o Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade - Programa Monitora do ICMBio do Ministério do Meio Ambiente. O programa tem entre seus objetivos gerar informação qualificada para a avaliação contínua da efetividade das unidades de conservação federais. Atualmente o Programa Monitora cobre 68 unidades de conservação na Amazônia, que correspondem a 54% das unidades da região.
A contribuição dos bancos de dados do Synergize e dos projetos congêneres possibilitará, por exemplo, identificar se as áreas com maior relevância ecológica estão cobertas pelas unidades de conservação do Programa. Caso não estejam, este pode ser um indicativo para inclusão no Programa. A ONG WCS também irá contribuir com as informações sobre recursos pesqueiros na região. “Em longo prazo, estes dados poderão apoiar a avaliação da efetividade das unidades de conservação, o uso sustentável de espécies, a identificação de áreas prioritárias para a conservação, ou ainda como as mudanças climáticas estão afetando a biodiversidade na Amazônia”, complementa França.
Para França, outro aspecto positivo decorrente da interação com tomadores de decisão foi a reestruturação do foco dos policy briefs que a equipe está preparando. “Vamos co-desenvolver nossos policy briefs com a perspectiva dos tomadores de decisão”, explica França ao relatar esta linha de trabalho do projeto será acompanhada pelos gestores que participaram do evento.
Além disso, os participantes dos três projetos SinBiose que atuam na Amazônia estão estudando a criação de índices com dados sociais, de regeneração, e de biodiversidade.
A plataforma TAOCA
Durante o evento ocorreu o lançamento da plataforma TAOCA . A TAOCA é uma base de dados georreferenciada que organiza, padroniza e armazena os dados de fauna do projeto Synergize. Até o momento, a plataforma contém mais de 650 mil registros distribuídos em 2446 espécies. Destas, 2/3 são de espécies de formigas e besouros e 1/3 de aves.
Estes dados são provenientes de coletas ecológicas padronizadas na Amazônia Brasileira. “Nós armazenamos dados de abundância das espécies dos vários taxa focais do projeto, em ambientes florestais (terra firme, várzea e igapó), não florestais (savana, campinarana) e modificados (pastagem, agricultura, etc)”, explica o website oficial da plataforma.
Com as informações da TAOCA, abre-se um horizonte de novas perguntas científicas que ajudarão a entender o funcionamento do bioma. “[Será possível] compreender os padrões espaço-temporais da biodiversidade Amazônica em grande escala, compreender os direcionadores dessa biodiversidade, contribuir para avaliações sobre o estado de conservação de taxa chaves, e fornecer evidências científicas para tomadores de decisão”, diz o website da TAOCA.
Ciência para a Amazônia
Os desafios de realizar pesquisas na Amazônia também percorreram as discussões. Quando se trata de Amazônia as escalas são outras, logo, o montante de recursos e o esforço de coleta necessários para sanar as atuais lacunas de conhecimento precisam ser compatíveis. "Proporcionalmente ainda precisamos conhecer mais sobre a biodiversidade da Amazônia em relação a outros biomas. Para isso, são necessárias novas políticas de ciência que levem isto em consideração” aponta Lis Stegmann, pesquisadora de pós-doutorado do Synergise.
Segundo a pesquisadora, a soma do recurso destinado para os sítios do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD) na Amazônia é semelhante aqueles destinados para outros biomas brasileiros, apesar da Amazônia representar cerca de 50% do território nacional e os custos envolvidos para sua amostragem serem superiores.
Para os pesquisadores, é preciso entender as peculiaridades da ciência feita na Amazônia, no que diz respeito tanto aos custos diferenciados em termos de logísticas e riscos de trabalho, quanto ao fortalecimento das instituições e de pesquisadores, sobretudo aqueles que estão fora das grandes capitais. “É preciso pensar em uma política de interiorização e mobilidade adequada às especificidades da região para descentralizar a geração do conhecimento e garantir uma transferência de conhecimento efetiva, pois só financiar pesquisadores isoladamente em instituições frágeis não tem funcionado”, finaliza a pesquisadora.