A primeira chamada pública do SinBiose ocorreu em agosto de 2019 e o resultado foi disponibilizado em novembro do mesmo ano. O propósito da chamada foi selecionar projetos de pesquisa voltados para a geração de informação qualificada para embasamento de políticas públicas. Foram recebidas 68 propostas de síntese, compreendendo cerca de mil pesquisadores, dos quais mais de 200 estrangeiros.
Veja abaixo os sete projetos selecionados:
ReefSyn
Os recifes ao longo da costa brasileira e ilhas oceânicas abrigam a maior diversidade de espécies do Atlântico Sul. Esta incrível biodiversidade se traduz em inúmeras funções e serviços ecossistêmicos oferecidos por ambientes recifais para populações humanas, como recursos pesqueiros e proteção da costa. Apesar de ameaçados pela sobrepesca, poluição e mudanças do clima, as respostas do ecossistema recifal à perda da biodiversidade ainda são pouco conhecidas. Apenas recentemente as comunidades biológicas de recifes brasileiros, como peixes e organismos bentônicos, foram amostradas de forma padronizada ao longo de sua distribuição. Através da síntese destas informações, o projeto ReefSyn (Brazilian Reefs Synthesis Group) pretende (i) investigar a distribuição dos componentes da biodiversidade e os serviços ecossistêmicos recifais ao longo da costa brasileira e suas ilhas oceânicas (ii) compreender os efeitos das mudanças climáticas sobre a diversidade e provisão de serviços à população humana, e (iii) contribuir para as estratégias de gestão atuais e futuras dos recifes brasileiros, com base nas respostas dos organismos às mudanças climáticas e na manutenção de funções recifais. O ReefSyn reúne uma equipe transdisciplinar de pesquisadores e stakeholders de nove instituições nacionais, distribuídas do norte ao sul do país, além de colaboradores internacionais (França e Austrália). Os resultados do projeto serão traduzidos em informação de imediata aplicação para a tomada de decisão pelo governo e organizações da sociedade no âmbito da gestão de áreas marinhas protegidas e do manejo e uso sustentável dos recursos alimentares e culturais providos pelos recifes no Brasil.
Regenera - Amazônia
As florestas em regeneração natural (FRN) se desenvolvem após desmatamento e abandono, normalmente após a área ser usada como pastagem ou plantação. Em situações de baixa intensidade e/ou frequência de distúrbio, as FRN apresentam alta resiliência e em poucas décadas atingem níveis de biomassa e diversidade de espécies semelhantes aos de florestas maduras. No entanto, após distúrbios de alta intensidade e em paisagens altamente modificadas, as florestas regeneram lentamente e mantêm baixos níveis de biodiversidade e biomassa por décadas. Na Amazônia brasileira, 21% das terras anteriormente desmatadas estão agora cobertas por FRN de integridade ecológica desconhecida. Através da síntese da literatura e análise de dados de campo e de sensoriamento remoto, este projeto tem como objetivos: (i) definir um conceito de integridade ecológica para florestas secundárias; (ii) identificar indicadores de integridade ecológica a partir de dados de campo e de sensoriamento remoto e classificar o nível de integridade das FRN da Amazônia; e (iii) produzir protocolos de avaliação da integridade de FRN, apoiando politicas públicas de conservação e restauração ecológica na Amazônia. O projeto conta com a participação de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento pertencentes a 11 instituições de pesquisa nacionais e estrangeiras. Serão produzidos dois artigos acadêmicos, um protocolo de campo para avaliação da integridade de FRN por proprietários rurais e técnicos de campo, e um documento técnico direcionado a políticas públicas. Os resultados deste projeto permitirão, pela primeira vez, classificar a integridade ecológica da vegetação secundária, apoiando o planejamento de estratégias de conservação e restauração na Amazônia.
Trajetórias
As doenças transmitidas por vetores são uma importante causa de morbidade, mortalidade e custo econômico no Brasil e em outros países tropicais. Sua dinâmica e persistência resultam de uma interação complexa entre parasitas e múltiplos hospedeiros, incluindo artrópodes, humanos e outras espécies de vertebrados. Há um grande acervo de conhecimentos e dados sobre ecologia, biogeografia e epidemiologia de doenças transmitidas por vetores, como malária, Chagas, dengue, febre amarela, entre outras. Além disso, existe uma teoria ecológica madura ligando a dinâmica das doenças à biodiversidade e à paisagem. O objetivo do projeto Trajetórias é desenvolver métodos para vincular desfechos de saúde aos serviços ecossistêmicos prestados pelo bioma Amazônia. Este bioma encontra-se ameaçado pelas trajetórias concorrentes de uso da terra. Nossa equipe é composta por cientistas naturais, da saúde e sociais da Fiocruz, INPE, UFAC, SFB / MAPA, UFPA, UNIFESSPA, FGV, UFMG, e das universidades de Chicago, Princeton e Arizona. Estamos trabalhando na identificação dos dados disponíveis, como uso / cobertura da terra, incidência de doenças, ecologia de artrópodos vetores, dados socioeconômicos, arranjos econômicos locais, entre outros, para desenvolver um protocolo que irá medir os serviços ecossistêmicos especificamente associados com doenças transmitidas por vetores. Como resultado, planejamos entregar uma metodologia para avaliação de saúde como serviço ecossistêmico, que possa ser integrada com outras visões para melhor compreender os impactos na saúde e no ecossistema de diferentes estratégias de desenvolvimento capturadas por trajetórias concorrentes de uso da terra para a Amazônia e contribuir para um processo de tomada de decisão com base na melhor ciência e evidências empíricas.
Redes Socioecológicas
Atualmente há uma crescente percepção de sinergias entre saúde pública e biodiversidade, que nos incita a sintetizar dados biológicos e socioeconômicos em modelos de previsão que mesclam ciência, governança e práticas sociais para fortalecer os serviços ecossistêmicos e as políticas de saúde. No entanto, ainda faltam bancos de dados abrangentes que integrem dados de biodiversidade e saúde pública em escalas comensuráveis e sistemas modelo. Além de melhorar a disponibilidade de informações sobre a biodiversidade de patógenos e hospedeiros e os determinantes socioeconômicos da saúde no Brasil, nosso projeto visa promover o desenvolvimento de estruturas preditivas de apoio à formulação de políticas para doenças tropicais negligenciadas. Nossa proposta reúne pesquisadores de diversas áreas do conhecimento e instituições, e se baseia na abordagem de redes adaptativas para investigar a interface entre biodiversidade e saúde pública no Brasil. Modelos de redes adaptativas são o núcleo de uma estrutura integrativa que visa fomentar a pesquisa cooperativa envolvendo ciência teórica e aplicada para a compreensão, previsão e gestão de serviços ecossistêmicos. Pretendemos estender essa abordagem para investigar a dinâmica complexa de redes ecológicas, que retratam o ecossistema, e redes sociais, que retratam a estrutura das instalações públicas e outros determinantes da saúde. Assim, esperamos avançar a teoria transdisciplinar com base na interface entre a biodiversidade e a saúde pública, disponibilizando publicamente grandes bases de dados biológicos e socioeconômicos associados a uma estrutura preditiva transdisciplinar que combina ciência, governança e práticas sociais para fortalecer os serviços ecossistêmicos e as políticas de saúde.
Synergize
A Amazônia é uma das regiões mais importantes da Terra: apresenta c. 50% das florestas tropicais remanescentes do planeta e abriga enorme proporção da biodiversidade global. Suas florestas contribuem para processos ecológicos essenciais, local e globalmente, como a geração de chuvas, armazenamento de carbono e mitigação das mudanças climáticas. A importância da região Amazônica, no entanto, é prejudicada por distúrbios climáticos e atividades antrópicas que causam a degradação dos seus ecossistemas terrestres e aquáticos. O Synergize é um projeto multi-institucional e multidisciplinar que busca compreender como a biodiversidade e integridade dos ecossistemas florestais, rios e igarapés amazônicos estão sendo ameaçados por diferentes agentes de degradação ambiental. Através da colaboração com centenas de pesquisadores de diferentes regiões do Brasil e do mundo, o Synergize estabeleceu uma das mais extensas redes de pesquisa e está criando uma das maiores bases de informações sobre a biodiversidade e serviços ecossistêmicos da Amazônia.
GrassSyn
Na opinião pública, a biodiversidade do Brasil e os problemas ambientais estão principalmente associados aos ambientes florestais, ignorando que aproximadamente um terço da superfície do País é coberta por ecossistemas não-florestais. Com o GrassSyn, desenvolvido em uma rede de pesquisadores brasileiros e internacionais, propomos oferecer uma síntese sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos dos campos e savanas brasileiros, com intuito de também desenvolver bases para a conservação e restauração desses ambientes. Especificamente propomos: (i) sintetizar o conhecimento acerca da composição de comunidades de plantas nos campos e savanas brasileiros e dos seus serviços ecossistêmicos; (ii) avaliar o atual estado de conservação desses sistemas e desenvolver estratégias de conservação; (iii) desenvolver estratégias para o planejamento da restauração de campos e savanas do Brasil, considerando também o contexto socioeconômico. Incluímos campos e savanas nos biomas Cerrado, Pampa e Pantanal, bem como na Amazônia e Mata Atlântica. O grupo modelo para as análises de biodiversidade é a comunidade de plantas herbáceas. O GrassSyn permitirá, pela primeira vez, compreender padrões e determinantes de biodiversidade dos campos e savanas brasileiras, bem como avaliar o atual estado de conservação destes sistemas, incluindo serviços ecossistêmicos e estratégias de restauração. Os resultados serão publicados em artigos científicos e publicações voltadas para tomadores de decisão, as quais serão também divulgadas para o público em geral, agências de conservação e usuários da terra. Outros resultados incluirão um banco de dados sobre composição e abundância de espécies de plantas e mapas de oportunidades para restauração de campos e savanas degradados.
SPIN
Polinização é um processo essencial para a reprodução das plantas e a maioria dos cultivos agrícolas dependem em diferentes níveis de polinizadores, cuja contribuição à agricultura nacional é estimada em mais de R$ 40 bilhões/ano. Assim, se trata de importante serviço ecossistêmico, ou seja, serviço fornecido pela natureza às pessoas, indispensável à nossa sobrevivência e bem estar. O serviço ecossistêmico da polinização promove a integração entre conservação da natureza, restauração dos ecossistemas e produção agrícola. Neste contexto, a intensificação ecológica pode garantir populações de polinizadores em ambientes naturais e agrícolas. O principal objetivo do SPIN é identificar áreas prioritárias para a manutenção e restauração de interações planta-polinizador, visando maximizar a produtividade agrícola e a conservação da biodiversidade em escala nacional. Nossa equipe é composta por cientistas de várias especialidades e representantes do setor agrícola e de conservação da natureza de diversos estados e do exterior, integrando diferentes perspectivas para geração de produtos úteis e usáveis pela sociedade. Compilaremos informações para produção de métricas e mapas relativos à distribuição da produção agrícola, déficits de vegetação nativa e de polinização e indicadores socioeconômicos dos municípios do país. Identificaremos plantas nativas que sustentam os polinizadores associados aos cultivos, para suportar recomendações de espécies e práticas de manejo adequadas à restauração, com foco na intensificação da polinização na agricultura. Para isso, utilizaremos métodos para pesquisas transdisciplinares na construção colaborativa de conhecimento, visando apoiar políticas públicas e ações sociais dirigidas à conservação da biodiversidade e a uma agricultura mais sustentável no país.