Pioneiras da Ciência do Brasil - 4ª Edição
Em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), o CNPq lança hoje a quarta edição das Pioneiras da Ciência no Brasil. O Programa Mulher e Ciência já lançou três séries de verbetes sobre as pioneiras das ciências no Brasil, com a divulgação do trabalho de várias cientistas e pesquisadoras brasileiras que participaram e contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento cientifico e a formação de recursos humanos para a ciência e tecnologia no Brasil.
O Programa Mulher e Ciência agradece mais uma vez a contribuição de vários/as pesquisadores/as, professores/as, analistas em ciência e tecnologia do CNPq e instituições que sugeriram nomes e colaboraram na produção dos verbetes aqui publicados. Ressalte-se que um dos objetivos principais do Programa Mulher e Ciência é contribuir para a criação de espaços de visibilidade para as mulheres cientistas e as suas contribuições nas diferentes áreas do conhecimento.
Com a continuidade da divulgação da história e memória das pesquisadoras e cientistas brasileiras, solicitamos a sua colaboração no mapeamento de outras cientistas que tenham trabalho relevante e ainda pouco divulgado ou, então, em relação a outras ações que possam contribuir para o incentivo e divulgação das mulheres nas ciências. Escreva para a equipe do Programa Mulher e Ciência pelo endereço:
programamulhereciencia@cnpq.br
Annita de Castilho e Marcondes Cabral (1911 - 1991)
Psicóloga
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Nasceu em 11 de julho de 1911 na cidade de Novo Horizonte, interior de São Paulo. Aos seis anos de idade, aproximadamente, foi morar na capital onde iniciou os seus estudos. Em meados da década de 1920, fez o curso normal no Instituto de Educação Caetano de Campos, onde foi aluna de Manuel B. Lourenço Filho. Já professora normalista, trabalhou com Noemy Silveira Rudolfer no Instituto de Psicologia Aplicada. Entre 1931 a 1932, realizou o Curso de Aperfeiçoamento Pedagógico, dirigido por Lourenço Filho, onde teve aulas com Jean Maugué e Noemy Silveira Rudolfer. Em 1932, foi nomeada professora da escola mista do bairro de Santo Antonio em São Roque, cargo que ocupou apenas nominalmente, haja vista a sua nomeação para o Serviço de Psicologia Aplicada, posteriormente, transformado em Laboratório de Psicologia Educacional do Instituto de Educação da USP. Sabe-se que a ocupação de cargo de professor secundarista era uma estratégia usada por aqueles que desejavam ingressar na carreira universitária, como vemos na trajetória de outros professores, como Arrigo Angelini e Gioconda Mussolini. Annita permaneceu neste cargo, na Seção de Medidas Mentais, até 1935; coordenou atividades de estágio ligadas à aplicação de técnicas de exames psicológicos, além de participar de pesquisas e ministrar curso de Psicologia Educacional. Em 1938, formou-se com distinção na primeira turma da Secção de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL/USP). No ano seguinte, exerceu o cargo de Primeira Assistente das duas cadeiras de Sociologia da FFCL/USP que eram dirigidas, respectivamente, por Roger Bastide e Paul Arbousse-Bastide. No final da década de 1930 e início de 1940 foi Assistente da Cadeira de Psicologia, no Curso de Filosofia, então sob a direção de Jean Maugüé. Em 1941 recebeu bolsa de estudos da Latin American Fellowschip do Smith College, Northampton, Mass., nos Estados Unidos. Lá estudou Psicologia Experimental com J.J. Gibson e Psicologia da Gestalt com Kurt Koffka e Fritz Heider. Nos dois anos seguintes, sob orientação de Max Wertheimer, na Graduate Faculty, New School for Social Research, Annita Cabral desenvolveu e defendeu sua dissertação de mestrado intitulada "Memória das Formas". Posteriormente, ampliou este trabalho, transformando-o em sua tese de doutorado intitulada "O conflito dos resultados dos experimentos sobre a memória das formas", defendida em 1945 na FFCL/USP sob orientação de Roger Bastide e publicada no Boletim da Faculdade de Filosofia. Nesse mesmo ano, Annita Cabral foi nomeada Primeira Assistente de Otto Klineberg (1899-1992), que dirigiu a Cadeira de Psicologia até 1947, quando retornou para a Columbia University, nos Estados Unidos. Com a partida de Klineberg, Annita foi contratada para assumir a Cadeia III de Psicologia na qual permaneceu até 1968. Ramozzi-Chiarottino (2001) destaca que, com a vinda de Klineberg, a Psicologia começou a se impor como ciência no ambiente paulista. Foi nesse clima e com a ajuda de Klineberg que Annita tomou a iniciativa de fundar a Sociedade de Psicologia de São Paulo, atual Associação de Psicologia de São Paulo (ASPSP), da qual foi presidente entre os anos de 1948 a 1949. Annita Cabral foi também idealizadora e fundadora do Curso de Psicologia na USP, bem como responsável pela formação de seus alunos como pesquisadores, pois procurou enviá-los ao exterior com a finalidade de completarem sua formação. Entre seus assistentes e auxiliares, destacam-se personagens relevantes e de diferentes orientações teórico-metodológicas na psicologia, como Dante Moreira Leite, Carolina Martuscelli Bori, Walter Hugo de Andrade Cunha, Cesar Ades, Isaias Pessotti e Eclea Bosi. O Curso de Psicologia na FFCL começou a ser desenhado com a criação de linhas de pesquisa na Cadeira de Psicologia da Secção de Filosofia. Ainda de acordo com Ramozzi-Chiarottino (2001), isto ocorreu num ambiente hostil, haja visto o fato de ser uma mulher chefiando um grupo de pesquisa e sua Cadeira (de Psicologia) pertencer ao Curso de Filosofia cujas disciplinas não possuíam um perfil nos moldes da ciência de então, mas sim de reflexão e crítica acerca da Ciência e de seu método de estudo. Em 1953, Annita Cabral propôs a criação do Curso de Psicologia na Universidade de São Paulo à Congregação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. O Colegiado Técnico de Avaliação (CTA) analisou a proposta e emitiu parecer favorável, homologado em 16 de dezembro do mesmo ano. No entanto, a aprovação final do parecer não foi tranquila. A professora Noemy Silveira Rudolfer (1938-1954), catedrática de Psicologia Educacional do Curso de Pedagogia da FFCL, criado em 1938 (oriundo do Curso de Professores no Instituto de Educação), emitiu parecer desfavorável. O Curso de Psicologia foi criado somente em 1957, pela Lei nº 3.862, de 28 de maio daquele ano, sendo o seu funcionamento iniciado no ano seguinte. O curso era constituído pelas cadeiras de Psicologia Educacional (Curso de pedagogia) e de Psicologia (Curso de Filosofia), sendo que esta se desdobrou em Psicologia Clínica e Psicologia Experimental e Social. Durante os anos de 1950, além de seu empenho na criação do Curso de Psicologia, Annita Cabral realizou outras atividades como a organização do I Congresso Brasileiro de Psicologia, ocorrido em 1953. Participou também de associações como a American Sociological Association (1950) e a Sociedade Interamericana de Psicologia (1954). Ainda em 1954, foi responsável pela criação da revista Boletim de Psicologia da ASPSP e, com o auxílio de Durval Marcondes, Aníbal Silveira e Cícero Cristhiano de Souza, criou a Especialização em Psicologia Clínica. Foi conselheira da Secretaria de Educação entre os anos de 1955 a 1956 e presidente da Associação Brasileira de Psicólogos no período de 1957 a 1958. A partir de sua atuação no I Congresso de Psicologia, realizou consultas aos professores universitários para a realização de reunião acerca do anteprojeto de criação dos Cursos de Psicologia e da Regulamentação da Profissão de Psicólogos. Tal proposta fora inicialmente elaborada pela Associação Brasileira de Psicotécnica com a participação dos técnicos do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) e encaminhada ao Ministério da Educação (MEC) em novembro de 1953, tendo sido alterada em 1957 e enviada ao Legislativo em 1958. Em 1961, a partir das relações da Associação Brasileira de Psicotécnica com a Sociedade de Psicologia de São Paulo e a Associação Brasileira de Psicólogos, foi apresentado um substitutivo ao Anteprojeto de Lei 3.825/1958 do MEC possibilitando a criação dos cursos de Psicologia e a regulamentação da profissão de psicólogo com a Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962. Nos anos de 1960, Annita Cabral dedicou-se à melhoria do Curso de Psicologia, como a criação de uma oficina para construção de aparelhos científicos a serem utilizados nos laboratórios da Cadeira de Psicologia, contratação do analista experimental do comportamento Fred S. Keller (1899 ¿ 1996) para ministrar a matéria Psicologia Experimental, instalação de laboratórios, criação do Serviço de Psicologia Clínica e do Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho e do biotério. Além disso, fundou a revista Jornal Brasileiro de Psicologia. Em 1968, a maioria dos assistentes de Annita Cabral, bem como muitos estudantes, envolvidos nos movimentos estudantis da época, pressionaram Annita para renunciar à Cadeira de Psicologia, que ela ocupava informalmente, visto não ter feito concurso para livre docente. Questionavam sua atuação como docente e administradora, acusando-a de despotismo, e solicitaram sua demissão pela USP. Annita Cabral renunciou à Cátedra, que foi transformada no Departamento de Psicologia Social e Experimental, mas continuou durante quase dois anos no Instituto de Psicologia como professora assistente do Departamento de Psicologia Educacional, a convite de Arrigo Angelini. Com a reforma universitária de 1968, deixaram de existir as cátedras. Em 1970, afastou-se da USP. Annita de Castilho e Marcondes Cabral faleceu em São Paulo no ano de 1991. Fontes: Castro, A. C. & Alcântara, E. S. (2011). Associação Brasileira de Psicologia Aplicada (ABRAPA) ¿ 1993-. In A. M. Jacó-Vilela (Org.), Dicionário histórico de instituições de Psicologia no Brasil (pp. 45-47). Rio de Janeiro: Conselho Federal de Psicologia. Ghiringbello, L. (2001). CABRAL, Annita de Castilho e Marcondes (1911 ¿ 1991). In R. H. F. Campos (Org.), Dicionário biográfico da Psicologia no Brasil: Pioneiros (pp. 106 - 108). Rio de Janeiro: Imago. Ramozzi-Chiarottino, Z. (2001). Annita de Castilho e Marcondes Cabral e a aurora da psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago; Brasília, DF: CFP. Autoria do verbete: Lidiane de Oliveira Góesé doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da UERJ. Ana Maria Jacó-Vilelaé Doutora em Psicologia, Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia - Clio-Psyché da UERJ.
Dionísia Gonçalves Pinto (Nísia Floresta) (1810 - 1885)
Educadora
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Com o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta, foi educadora, “viajante ilustrada”, “nacionalista”, “pré-feminista”, escritora, abolicionista, ativista dos direitos humanos, indianista e republicana. Mostrou uma preocupação filosófica com o cotidiano brasileiro da época em que viveu e se dedicou a propor uma reforma na educação das meninas no Brasil. Preocupou-se, principalmente, com a educação e o papel das mulheres em nossa sociedade, acreditando que o progresso de uma sociedade dependia da educação que era oferecida às meninas. Para Nisia Floresta,as meninas deveriam estudar porque a mulher exerce uma influência real sobre o destino de seu marido e sobre os destinos das nações e as meninas deveriam ser educadas para terem o reconhecimento da sociedade. Floresta escreveu sobre os direitos das mulheres e viabilizou o acesso à educação de algumas meninas, lutando para que elas valorizassem os estudos. Foi uma educadora que encarou a educação das meninas como uma missão, além de ter discutido a questão indígena de forma singular, valorizando o papel das mulheres, e de ter provocado as autoridades da época ao questionar sobre o poder e a supremacia dos homens brancos. Suas críticas atingiam também mulheres que deixavam os seus filhos e filhas nos braços das amas de leite. Ensinava os valores necessários a uma educadora e afirmava que as mulheres poderiam ocupar os cargos públicos. Defendia a ideia de uma nação civilizada que só chegaria a esse patamar se as mulheres fossem educadas e participassem do contexto social. Floresta desafiou uma cultura onde as mulheres não eram valorizadas. Superou diversos opositores, fundou colégios para meninas - como o Colégio Augusto - cobrando, assim, o acesso das mulheres ao campo do saber. Foi cuidadosa e metódica, conseguindo levar a sua mensagem à sociedade da época em jornais lidos pela elite e pelas autoridades. Seu colégio teve existência curta e gerou polêmicas que a impediram de tornar possível muito daquilo que escrevia. O que encontramos em suas obras é um material riquíssimo para os estudos de gênero, pois denunciam o preconceito dos homens em relação às mulheres tal como ocorria no século XIX. Floresta, apesar das condições desfavoráveis à mulher, escreveu cerca de quinze títulos ao longo dos seus 74 anos, dentre poemas, romances, novelas e ensaios, sendo alguns reeditados mais de uma vez. Suas obras foram publicadas em diferentes idiomas e muitas dessas foram publicados pela imprensa. Nos lugares por onde andou (Recife, Olinda, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Lisboa, Coimbra, Londres, Roma, Florença, Nápoles, Paris, Cannes, Alemanha, Bélgica, Suíça, Sicília, Inglaterra, Grécia, Rouen, entre outros), Floresta escreveu sobre a condição e a vida das mulheres, sobre a educação para meninas e sobre o que via nessespaíses, denunciando uma sociedade que legitima as desigualdades, lutandopor essa causa em uma época em que as mulheres não eram reconhecidas. Floresta desejou que todas as mulheres fossem cidadãs. Para isso, elas deveriam estudar e a sociedade teria que ser trabalhada para respeitá-la e inseri-la em todos os setores sociais, sem deixar de lado o seu papel de filha, irmã e mãe. Sofreu influência do positivismo: o pensamento de queeducar a mulher é contribuir para a dignidade da família e do mundo traz impregnado o ideário positivista. Impregnada das contradições de seu tempo, educar a mulher significavacontribuir para a dignificação da família, da nação e do mundo. A mulher, para Floresta, servia como “o modelo da família” e deveria conservar a dignidade, através da “educação religiosamente cristã” que ela defendeu. A educação “religiosamente moral” iria ajudar as meninas a não se “desviarem”. Fazia apelos aos pais, buscando uma melhor educação para as mulheres. Escreveu também sobre o Colégio Augusto, sobre o entendimento que tinha a respeito do que deveria ser a mulher esobre o que o governo estava fazendo em favor do ensino primário das meninas (capítulo XXXVI do Opúsculo Humanitário). Analisou, ainda, o quadro demonstrativo do Estado da Instrução Primária e Secundária das Províncias do Império e Município da Corte, no ano de 1852. Baseando-se nele, afirmou que o número de alunos que frequentavam as aulas era reduzido para a população da época e apontou o seu olhar para o número de meninas: “a estatística dos alunos que frequentaram todas as aulas públicas monta a 55.5000, número tão limitado para a nossa população, e que neste número apenas 8.443 alunas se compreendem” (FLORESTA, 1989, p. 81). Denunciouo atraso que se encontravaa instrução feminina e nem mesmo as falas presidenciais escaparam ao seu senso crítico. Para ela, as causas que atrapalhavam os progressos na educação eram a falta de interesse e a negligência, por parte do governo da época, o descaso das autoridades que não pensavam nos métodos, não elaboravam as leis e tampouco criavam mais escolas para meninas, ou seja, não se preocupavam com a educação delas. Além disso, “os encarregados do ensino” eram inaptos e os pais, em muitos casos, não falavam sobre tais problemas. Floresta pesquisousobre a educação da mulher brasileira. Desejava que a educação da mulher fosse preocupação das autoridades (governo) e do povo brasileiro. Denunciou as casas de instruções que eram dirigidas por pessoas que chegavam de outros países com interesses comerciais, transformando-as em negócio, com raras exceções. Além disso, fez a crítica ao comércio de escolas, feita por estrangeiros. Criticou os impressos de propagandas da época, que mostravam novidades e ostentação nos colégios que “faziam pretensiosas promessas, contando com a credulidade do público, que era solícito em acolher sem verificar antes” (FLORESTA, 1989, p. 78). Muitos desses eram comerciantes e artesãos e, para ela, não deveriam ser preceptores da mocidade brasileira. Mesmo apreciandoos talentos dos estrangeiros, no que diz respeito à educação, percebia que eram poucos aqueles que poderiam instruir o povo brasileiro e utilizar o próprio conhecimento, ou seja, oferecer instrução e trabalho. Algumas obras de Nísia Floresta: FLORESTA, Nísia. Aqui sob esta abóbada. In: WANDERLEY, Ezequiel Lins. Poetas do Rio Grande do Norte. Recife: Imprensa Industrial, 1922. p. 05. ______ A lágrima de um Caeté. Introdução e Notas de Constância L. Duarte. Natal: Fundação José Augusto, 1997. ______.Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta. In: DUARTE, Constância Lima (Org.). Inéditos e dispersos de Nísia Floresta. Natal: EDUFRN, 2009a. p. 105-107. ______.Fany ou o Modelo das Donzelas. In: DUARTE, Constância (Org.). Inéditos e dispersos de Nísia Floresta. Natal: EDUFRN, 2009b. p. 95-102. ______.O pranto filial. In: DUARTE, Constância (Org.). Inéditos e dispersos de Nísia Floresta. Natal: EDUFRN, 2009c. p. 85-92. ______.Fragmentos de uma obra inédita: notas biográficas. Tradução de Nathalie B. da Câmara. Brasília: Editora UnB, 2001. ______. Cintilações de uma alma brasileira. Florianópolis: Editora Mulheres, 1997a. ______.A mulher. In: FLORESTA, Nísia. Cintilações de uma alma brasileira. Florianópolis: Editora Mulheres, 1997b. p. 82-159. ______.Um passeio no Jardim de Luxemburgo. In: FLORESTA, Nísia. Cintilações de uma alma brasileira. Florianópolis: Editora Mulheres, 1997c. p. 183-203. ______.O abismo sob as flores da civilização. In: FLORESTA, Nísia. Cintilações de uma alma brasileira. Florianópolis: Editora Mulheres, 1997e. p. 65-81. ______.Viagem magnética. In: FLORESTA, Nísia. Cintilações de uma alma brasileira. Florianópolis: Editora Mulheres, 1997f. p. 160-181. ______.O Brasil. In: FLORESTA, Nísia. Cintilações de uma alma brasileira. Florianópolis: Editora Mulheres, 1997d. p. 07- 63. ______. Opúsculo humanitário. Introdução e Notas de Peggy-Sharpe. São Paulo: Cortez, 1989. ______. Direitos das mulheres e injustiça dos homens.Introdução e Notas de Constância Lima Duarte. São Paulo: Cortez, 1989b. ______. Três anos na Itália seguidos de uma viagem â Grécia. Tradução de Francisco das Chagas Pereira. Natal: Editora da EDUFRN, 1998. ______. Itinerário de uma Viagem à Alemanha. Santa Cruz do Sul; Florianópolis: EDUNISC; Editora Mulheres, 1998a. ______.Passeio ao arqueduto da carioca. In: DUARTE, Constância (Org.). Inéditos e dispersos de Nísia Floresta. Natal: EDUFRN, 2009d. p. 33-44. Autoria do verbete: Graziela Rinaldi da Rosa éDoutora em Educação pela Unisinos, professora da Universidade do Rio Grande-FURG/RS, atua na formação de professores/as e tem estudos na área de Gênero e Filosofia; Estudos Feministas e Filosofia da Educação Latino-Americana.
Emília Viotti da Costa (1928 - )
Historiadora
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Emília Viotti da Costa, historiadora, nasceu em São Paulo em 28/08/1928. Graduou-se em História na USP em 1954, com especialização em História na França, onde estudou na Ecole Pratique des Hautes Études, Quinta Secção da Sorbonne, estudando com Emile Labrousse, Charles Morazé e George Gurvitch. Obteve o Doutorado na USP, em 1964, com tese de livre-docência. Foi professora da USP entre 1964 a 1969, quando foi aposentada compulsoriamente pela ditadura militar por meio do AI-5. Em 1969, na aula inaugural da Faculdade de Filosofia, o tema escolhido pela profª Emília Viotti foi "A crise da Universidade". Segundo depoimento da própria professora, o texto proferido na aula foi amplamente divulgado em documentos estudantis e em conferências para as quais era convidada. "Atribuo minha aposentadoria a esse fato, pois eu era vista como alguém que estava contra a Reforma Universitária proposta pelo Governo". Entre 1973 e 1999, exerceu sua atividade acadêmica e científica nos Estados Unidos, como professora de História da América Latina na Universidade de Yale, onde ingressou em 1973 e trabalhou por cerca de 20 anos. Na Universidade de Yale, foi diretora do Programa de Estudosda Mulher e do Conselho de Estudos Latino-Americanos. Também atuou nas Universidades de Tulane (New Orleans), a convite do prof. Michael Hall, e Illinois (Urbana-Champaign). A sua produção científica é referência obrigatória para muitas gerações de historiadores e tem obras centrais na historiografia brasileira, principalmente com a temática da escravidão. São exemplos de sua profícua produção científica: "Da Senzala à Colônia", onde analisa a transição do trabalho escravo para o livre na região cafeeira de São Paulo, publicado pela Unesp, e "Da Monarquia à República, momentos decisivos", "Coroas de Glória, Lágrimas de Sangue, Rebelião de escravos em Demerara em 1823", "A Abolição", "As Revoluções Africanas", "O Supremo Tribunal Federal e a constituição da cidadania", "Brazilian Empire- Myths and Histories", além de outras. Recebeu o título de professora emérita pela Universidade de Yale (EUA) e pela Universidade de São Paulo, em 1999. Em entrevista à Folha de São Paulo, por ocasião das comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses à América, Emília Viotti assim coloca sua visão sobre a História : "os agentes históricos não são apenas produtos de uma história que já está predeterminada, mas são agentes de uma história que, ao mesmo tempo, os produz e é produzida por eles. Se não fosse assim, como seria possível explicar a existência até hoje de uma Cuba socialista? Como explicar revoluções que abalaram a América Central nos anos 1970/80 na Nicarágua, El Salvador e Guatemala, depois da onda de repressão que desabou sobre a América do Sul nos anos 1960/70? Uma abordagem economicista e mecanicista leva a políticas equivocadas. Quando se imagina que a história já está predeterminada, perdem-se de vista os caminhos possíveis. Isso leva a um conformismo e a uma passividade perigosa. Tão perigosa quanto a visão voluntarista oposta, que privilegia os agentes históricos e ignora as forças que impõem limitações a sua vontade de ação". Fontes: http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/entre_10.htm Consultado em 05/06/2014 http://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlia_Viotti_da_Costa Consultado em 05/06/2014 http://sejarealistapecaoimpossivel.blogspot.com.br/2008/04/depoimento-de-emlia-viotti-da-costa.html Consultado em 05/06/2014 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000300044&script=sci_arttext Consultado em 06/06/2014 http://pesquisa.livrariacultura.com.br/busca.php?q=emilia+viotti+da+costa&p=em%C3%ADlia+viotti&typeclick=1&ranking=1&request=31444837&ac_pos=header Consultado em 06/06/2014 http://world.yale.edu/brazil Consultado em 10/06/2014 Autoria do verbete: Luiz Ricardo Costa Ribeiro é bacharel e licenciado em História e Analista em Ciência e Tecnologia do CNPq.
Leyla Beatriz Perrone-Moisés (1934 - )
Crítica literária
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Leyla Beatriz Perrone-Moisés nasceu em 22 de novembro de 1934, na cidade de São Paulo, filha de Humberto Perrone e Maria Luiza Leite Perrone. Seu interesse pela leitura começou muito cedo, motivado, em especial, pelos livros infantis de Monteiro Lobato. Essa paixão a encaminhou para a Crítica Literária, surgida em decorrência do gosto pela Literatura e do desejo de partilhar esse gosto com outros leitores. Cursou sua graduação em Letras Neolatinas, na USP, onde também concluiu o seu Doutorado e aLivre-Docência. Segundo a pesquisadora, o seu primeiro interesse profissional não foi a literatura e, sim, a pintura. Fez vários cursos de artes plásticas e expôs seus trabalhos em duas bienais. Fez o curso de Letras porque seus pais, naquela época, achavam que a arte plástica não era profissão. Após concluir sua graduação em Letras, em 1957, imediatamente publicou resenhas de literatura francesa no Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo. O livro O Novo Romance Francês, publicado em 1966, reuniu artigos produzidos nessa época. Em 1971, concluiu doutorado sobre o poeta uruguaio Lautréamont, que resultou no livro A Falência da Crítica (1973). Dois anos depois, defendeu tese de livre-docência, transformada na obra Texto, Crítica e Escritura. Entre 1972 e 1975, viveu em Paris, onde teve a oportunidade de aprofundar os estudos sobre os críticos-escritores e de conviver com intelectuais como Roland Barthes, Tzvetan Todorov, Philippe Sollers e Julia Kristeva. Quanto mais ela escrevia, mais se interessava por literatura. A crítica, então, tornou-se seu maior interesse, não só a prática da crítica, mas pensar a crítica literária. Conforme comenta Leyla Perrone-Moisés, a crítica literária é uma atividade secundária e não muito simpática à primeira vista. Ela é secundária porque depende das obras e pode ser, talvez nem sempre, uma atividade muito generosa. Um bom crítico nada mais é do que alguém que leu muito, continua sendo um grande leitor e tem uma paixão pela literatura. Paixão tão grande quanto a dos criadores literários. O trabalho dos críticos não apenas prolonga o efeito da obra literária, como partilha com outros leitores o seu gosto pela literatura. Para Leyla Perrone-Moisés, alguns podem perguntar: "Literatura, poesia, pra que servem?". Ela responde que "servem para dar qualidade na vida, para autoconhecimento, para conhecimento do outro, reconhecimento do outro, imaginar outras vidas e tem até uma função utópica e política que, na medida em que você é capaz de imaginar outras vidas, você pode imaginar outro futuro para a humanidade. Você acha que há um determinismo da história, que é assim mesmo e não tem jeito e acabou. É esse o caminho e não há outro. A literatura oferece a possibilidade de ver que há mil vidas possíveis, até umas que parecem totalmente fantásticas". No Brasil, a professora Leyla Perrone-Moisés lecionou em várias universidades paulistas. Desde 1988, coordena o Núcleo de Pesquisa Brasil-França, do Instituto de Estudos Avançados da USP. É, desde 1996, Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas dessa universidade. No Exterior, deu aulas na Universidade de Montreal, na Yale University, na Sorbonne e na École Pratique des Hautes Études. Tem atuado na área de Letras, principalmente nos temas: poesia, literatura, crítica e modernidade. Apesar de ter se aposentado em 10 de dezembro de 1987, continua atuando no ensino e na pesquisa. Nos últimos anos, publicou obras importantes, como o livro Cinco séculos de presença francesa no Brasil, de 2013. Desde 1994, é bolsista de Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ¿ CNPq. Atualmente, como bolsista PQ nível 1-A, desenvolve sua pesquisa nas áreas de modernidade e pós-modernidade. A professora e crítica literária Leyla Perrone-Moisés escreveu 87 artigos, 29 livros, 65 capítulos de livros e centenas de textos para jornais e revistas. Foi merecedora de diversos prêmios, entre os quais o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, o Alejandro José Cabassa, da União Brasileira de Escritores, e o Officier de L'Ordre des Palmes Académiques, do Ministério da Educação do Governo Francês. Em 2013, foi a contemplada na categoria "Vida e Obra" com Prêmio Fundação Bunge, por sua trajetória de pesquisa em literatura brasileira, francesa e portuguesa. Fontes: Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4727141J8 Leyla Perrone-Moisés. In: Prêmio Fundação Bunge 2013. Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/projetos/premio-fundacao-bunge/premio-2013/contemplado/leyla-perrone-moises.php. Acesso em 28/03/2014. Leyla Perrone-Moisés . In: Departamento de letras Modernas. Disponível em: http://dlm.fflch.usp.br/node/228. Acesso em: 28/03/2014. Prêmio Fundação Bunge 2013 - Leyla Perrone-Moisés. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=J8s0rZ7iK4Q. Acesso em 28/02/2014. Autoria do verbete: Kellen Millene Camargos é Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e Analista em Ciência e Tecnologia do CNPq.
Lieselotte Hoeschel Ornellas (1917 - )
Nutricionista
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Lieselotte Hoeschl Ornelhas nasceu em Florianópolis, (SC), no dia 23/09/1917, mas residiu na maior parte de sua infância em Lages. Filha de Walter Hoeschl e Maria Hoeschl que eram imigrantes alemães. Sua criação teve a marca do rigor das famílias européias.Estudou no Grupo Escolar Vidal Ramos (1924 1927), na Escola Complementar, de 1928 a 1930; no Instituto Cristão de Castro, de 1931 a 1932, e no Instituto José Manuel da Conceição, de 1934 a 1935. O interesse pela profissão iniciou ao ler a biografia de Florence Nightingale no colégio evangélico onde estudava, quando pensou que a melhor maneira de servir ao próximo seria fazer o curso de enfermagem. Em 1º de março de 1936, com 18 anos, ingressou na Escola Anna Nery (EAN). Nessa época, a escola era dirigida pela norte-americana Bertha Lucile Pullen. Graduou-se em 22 de março de 1939. Lieselotte Ornellas foi presidente do Conselho das Alunas (CA) com o beneplácito da diretora da EAN, pois esse órgão deliberativo possuía autonomia relativa em relação à diretora. Após a diplomação da turma pioneira da EAN, em 1925, criou-se a Associação de Ex-alunas; entretanto, pelo fato de esta afetar diretamente as enfermeiras brasileiras diplomadas no exterior (Edith de Magalhães Fraenkel e Raquel Hadock Lobo), a idéia evoluiu para a criação de uma Associação de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras (ABED/ANED). Após concluir o curso de enfermagem, retornou à sua cidade com a ideia de ir trabalhar entre os índios em Goiás; entretanto, um surto de febre tifóide em Santa Catarina a fez voltar para o Rio de Janeiro, onde estudou administração de enfermagem, pretendendo voltar para sua cidade e trabalhar em Saúde Pública. Ao contrário, tendo apenas 21 anos de idade, aceitou uma bolsa de estudos para fazer o curso de Nutrição no Instituto Nacional de Nutrição Professor Escudero, na Argentina, período em que começava a se delinear a profissão de nutricionista no Brasil. Permaneceu na Argentina de 1940 a 1943, momento em que se desenrolava a Segunda Guerra Mundial. Quando retornou ao Brasil, integrou o grupo de professoras da Escola de Enfermagem Anna Nery na qualidade de Instrutora de Nutrição. Na audiência concedida pelo presidente da República, Getúlio Vargas, à diretora da EAN, D. Laís Netto dos Reys, durante a 5ª Semana de Enfermagem, em maio de 1945, Lieselotte Ornellas foi encarregada de proferir a saudação oficial. Tais confiança e admiração lhe eram dadas pela diretora, à época, D. Laís Netto dos Reys. Foi oradora da turma de 1945 e madrinha de touca do grupo do segundo semestre de 1948. Fez parte do corpo docente do curso para nutricionistas, criado no Instituto de Nutrição da UFRJ. Em 1947, realizou o seu primeiro Curso de Pós-Graduação, College of Nursing, em Londres - Inglaterra, com bolsa do Conselho Britânico, objetivando ampliar seus conhecimentos numa área não abordada na Argentina, que era justamente a questão do racionamento alimentar em consequência da Guerra. Fez curso de especialização também nos EUA durante um ano; neste, buscou conhecimento técnico da nutrição. Em 1950, tornou-se chefe do serviço de dietética do Hospital dos Servidores do Estado. Neste mesmo ano, compôs a equipe de socorro com mais quatro médicos e sete enfermeiras para prestar assistência aos flagelados da inundação em Trinidad, Bolívia. Lieselotte Ornellas ficara incumbida da preparação e diluição de leite e fórmulas infantis coordenando uma equipe de enfermeiras deixada pela enfermeira-chefe D. Isaura Barbosa Lima, antes de regressar para Santa Cruz. Mais de uma semana de trabalho foi recompensada com um convite para conhecer a capital La Paz. Lá, a equipe foi alvo de muitas atenções: recepção do diretor geral de Saúde Pública e do embaixador do Brasil na Bolívia. O auge das homenagens foi a condecoração conferida a cada membro da missão, no Palácio do Governo. Em ato solene, o presidente da República, em pessoa, na presença de todos os ministros de Estado entregou a cada um o diploma que dava direito à condecoração "El Condor de los Andes". Lieselotte aproveitou a visita à capital para recolher muitas informações sobre alimentos locais que incorporou em seus registros. Lieselotte casou-se aos 34 anos, em 16 de abril de 1953, com Alfredo Carvalho Ornellas, nascido no Estado da Bahia aos 14 de fevereiro de 1915, médico da Legião Brasileira de Assistência (LBA), do Banco do Brasil, e professor de Puericultura e Pediatria da EAN, passando ela a assinar-se Lieselotte Hoeschl Ornellas. Foi integrante do corpo docente do primeiro curso de nutrição do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), atual Escola de Nutrição da Unirio, na qual foi titular da disciplina de Técnica Dietética desde 1943. Após anos de docência reuniu material de suas aulas e apostilas com extensa bibliografia, inclusive fontes estrangeiras dos cursos de nutrição que realizou na Inglaterra e Argentina, e editou o livro intitulado Técnica Dietética – Ciência e Arte na Cozinha de 1963 até 1979. Em 1975, na 4º edição do livro, este foi revisado e recebeu o titulo de Técnica dietética, seleção e preparo dos alimentos. Posteriormente, novas edições foram elaboradas com acréscimos, modificações com contribuições de outros autores. Atualmente, o livro já se encontra na 8º Edição e, sem dúvida, foi uma grande contribuição para a literatura da área de nutrição no Brasil. Lieselotte Ornellas também colaborou com Cecília Pecego Coelho e Anna Jaguaribe Nava na elaboração do livro EAN: sua história, nossas memórias, publicado em 1997. Lieselotte Ornellas é autoridade na área de nutrição. Tem outras obras publicadas, entre elas A Alimentação Através dos Tempos. Visitou, em diversas oportunidades, a quase totalidade dos países abordados na referida obra. Ela igualmente é membro do conselho técnico-científico da Associação de Nutrição do Estado do Rio de Janeiro e membro vitalício da British Dietetic Association. A professora aposentada de Nutrição e Dietética da UFRJ participou e participa de inúmeros eventos e congressos nacionais e internacionais. Atualmente, Lieselotte Ornellas tem 96 anos, é viúva e reside no Rio de Janeiro no bairro de Ipanema num pequeno aposento decorado com diversas lembranças de viagens e condecorações recebidas ao longo de sua vida profissional. Tem como hobby admirável a pintura a óleo sobre tela, desenvolvida de forma autodidata. A participação de Lieselotte Hoeschl Ornellas, tanto como docente quanto como profissional, durante 66 anos, contribuiu de forma singular para o desenvolvimento da Enfermagem e da Nutrição, sendo excelente nutricionista e exemplar enfermeira. Por sua contribuição prestada a ambas as profissões, Ornellas ganhou o reconhecimento profissional nessas duas áreas do campo da saúde. Seu espírito de conciliação, sua versatilidade, iniciativa, determinação, obstinação, otimismo e amor àquilo que faz sempre foram destaque em sua personalidade. Por suas qualidades profissionais e pessoais, a personagem Lieselotte Hoeschl Ornellas foi incluída no banco de dados denominado Quem é Quem na História da Enfermagem Brasileira, do Nuphebras/EEAN, assim como para a Nutrição não há como falar sobre a história da ASBRAN – Associação Brasileira de Nutrição sem falar sobre Lieselotte Ornellas. Ela é a personagem e memória viva da história destas duas importantes áreas da saúde, em especial no que se trata do pioneirismo da nutrição no Brasil. Fonte: Pacita Geovana G. de S. Aperibense/ ASBRAN / Prefácio à 8º Edição de Técnica Dietética Seleção e Preparo dos alimentos. Autoria do verbete: Cíntia Milene Comelli é nutricionista.
Maria Beltrão (1934 - )
Arqueóloga
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Maria da Conceição de Moraes Coutinho Beltrão nasceu em 1934 em Macaé, Rio de Janeiro. Filha de João Duarte Coutinho e Antonieta de Moraes Coutinho, Maria Beltrão lembra que muito cedo se interessou pela leitura e, aos nove anos, o pai indicou um livro que tratava das ciências naturais, considerado mais apropriado para idade da filha. Segundo as observações do pai, Maria Beltrão gostava muito da natureza, de observar tudo e cavucar a terra. Em entrevista ao Jornal Ciência Hoje, a arqueóloga destaca que "sempre fui muito curiosa e, desde pequena, queria saber como eram as coisas e as pessoas que viveram neste mundo antes de nós. Por isso, resolvi estudar arqueologia." Bacharel e licenciada em geografia e história (1951-1956) pela Universidade Federal Fluminense, Beltrão em 1960 iniciou uma especialização em arqueologia na Sorbonne, concluída no ano seguinte. Assistente do professor Antônio Teixeira Guerra, especialista em geomorfologia, Maria Beltrão também se interessou pela antropologia e arqueologia e durante um período fez estágio no Museu Nacional com o professor Luiz de Castro Faria. O prof. Castro Faria chamou a atenção da jovem estudante e pesquisadora para as dificuldades de articular a vida pessoal e profissional, que exigia muito trabalho de campo, com longos períodos fora de casa. Essas dificuldades também apareceram na própria família da pesquisadora, conforme relato feito ao sítio História e-História - Grupo de Pesquisa sobre Arqueologia Histórica da Unicamp: "Quando comecei a dedicar-me à Arqueologia, senti muita resistência, em especial entre meus próprios familiares, com relação às pesquisas de campo. Não de meu pai, que era homem de mente bastante arejada, mas de algumas pessoas da família, que diziam que eu jamais me casaria, porque eu andava sempre em grupos de homens e mulheres pelos matos." Em 1968, ingressou no doutorado em arqueologia na Universidade Federal do Rio Janeiro e, sob a orientação da professora Annette Laming-Emperaire, defendeu a tese "Pré-História do Estado do Rio de Janeiro". Já nos anos 1990, fez outro doutorado em geologia também na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o qual tem como tema "Ensaio de Arqueogeologia: uma abordagem transdisciplinar". A tese foi defendida em 1998, sob a orientação do professor Elmo da Silva Amador. Professora associada do Museu Nacional e professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ingressou na instituição em 1969. Foi coordenadora, pelo Brasil, da Missão Franco-Brasileira que pesquisou, em Lagoa Santa, de 1970 até 1977. Membro do Conselho Permanente da Union Internationale des Sciences Préhistoriques et Protohistoriques (UNESCO) desde 1966, é sócia Fundadora da Sociedade de Arqueologia Brasileira - SAB (1979). Regular Member da Society for American Archaeology desde 1980, coordena o Projeto Central - Pesquisas Arqueológicas no interior do Estado da Bahia desde 1982. Em relação à produção científica, Maria Beltrão publicou e organizou quinze livros, com destaque para os seguintes: Le peuplement de l'Amérique du Sud. Essai d archéogéologie. Une approche interdisciplinaire. Paris: Riveneuve éditions, 2008; Ensaio de Arqueogeologia: uma abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Zit Gráfica e Editora, 2000; e Pré-História do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Forense, 1978. Também publicou mais de cem artigos, dez capítulos de livro, além do livro infantil O homem pré-histórico e o céu. Maria Beltrão já orientou 10 dissertações de mestrado, quatro teses de doutorado e mais de quarenta trabalhos de iniciação científica. Pesquisadora de produtividade em Pesquisa Sênior do CNPq, Maria Beltrão destaca em seu depoimento ao grupo da Unicamp que "embora convidada para trabalhar em Harvard e no Musée de L'Homme, preferi trabalhar em terras brasileiras, porque sempre acreditei que o Brasil é um grande Museu a Céu Aberto. Julgava que aqui era um campo ainda inexplorado. Desde muito cedo, eu já tinha idéias a esse respeito e nunca me arrependi de ter acreditado no meu país!" Entre os inúmeros Prêmios e Homenagens já recebidos, destacam-se os seguintes: Posse como Acadêmica, Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro (2012); Prêmio Conde d'Arcos concedido pelo livro O Alto Sertão, Academia Portuguesa da História (2011); Homenagem como Personalidade dedicada ao avanço da pesquisa e do ensino da Ciência Arqueológica Brasileira, Centro Brasileiro de Arqueologia (2006); Prêmio Claudia 2005, Editora Abril (2005); Grau de Cavaleiro na Ordem das Artes e Letras, Governo Francês (2004); Homenageada com a descoberta de uma nova espécie (Oltacloea beltraoae) de aranha da caatinga na área de Central, Estado da Bahia, Brasil., Antonio D. Brescovit e Elaine Folly Ramos (2003); Escolhida International Woman of the Year 1991/1992, The International Biographical Center of Cambridge (1992); Integrante do International Who´s Who of Professional and Business Women, International Significat Rference Book, International Biographical Centre, Cambridge, England (1991); Mulher Cientista do Ano, Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro (1980); e Mulher do Ano na Área de Ciências, Conselho Nacional de Mulheres do Brasil (1980). Fontes: Jornal Ciência Hoje, consultado em 16/05/2014 http://chc.cienciahoje.uol.com.br/arqueologa-desde-menina/ Currículo Lattes consultado em 16/05/2014 http://lattes.cnpq.br/4942024092993571 Sítio História e-História - Grupo de Pesquisa sobre Arqueologia Histórica da Unicamp, consultado em 16/05/2014 http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=18 Autoria do verbete: Maria Lúcia de Santana Braga é Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e Analista em Ciência e Tecnologia do CNPq.
MARIA HELENA NOVAES MIRA (1926 - 2012)
Psicóloga
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Nascida na cidade do Rio de Janeiro, em 1926, Maria Helena Novaes Mira, uma das Pioneiras das Ciências no Brasil, torna-se referência em diversas áreas, atuando por 40 anos no Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde, em 2000 foi homenageada com o título de Professora Emérita. Ao longo de sua carreira, marcada por uma genuína paixão pelo magistério,foi professora de institutos e departamentos de Psicologia, de inúmeras universidades da cidade do Rio de Janeiro, como os Institutos de Psicologia da UFRJ, UERJ, Faculdade Gama Filho, entre outras; em todosintroduziu a cadeira de Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem. Na PUC-Rio, foi coordenadora do programa de pós-graduação e, desde 1996, manteve-se líder atuante e totalmente dedicada a um programa desenvolvido para a Terceira Idade, que nos últimos cinco anos ficou conhecido como Programa de Ativação Cerebral Criativo para Terceira Idade/PACC (2007 – 2012). Ainda muito jovem, Maria Helena Novaes ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Santa Úrsula e aos 19, é diplomada em Letras Neolatinas (1946). Interessa-se pela Arte, Arqueologia, História e Cultura, o que a levou a concluir também o Curso de Museus Histórico e Artístico, e, ao cursar a disciplina “didática”, despertou para o tema da Psicologia. Para aprofundar seus conhecimentos viaja à Europa por 6 (seis) meses, visitando diversos centros de arte e museus em Portugal, Espanha, França, Itália e Suíça. No retorno ao Brasil, dá continuidade à sua formação num curso que acabara de ser criado “Terapia Ocupacional”, na Associação Brasileira de Educação. Neste curso adquire não somente a prática no campo da reabilitação, como amplia seus conhecimentos em Psicologia, Biologia e Anatomia. Em seu caminho de formação profissional, sempre aliando teoria e prática, realiza estágios em hospitais do Rio de Janeiro e visitas a centros de reabilitação nos Estados Unidos e Canadá. Em 1957, especializa-se em Psicologia do Desenvolvimento pelo Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas (ISOP/FGV), o que a possibilitou aprofundar, sistematizar e contextualizar saberes teóricos de várias áreas da Psicologia Geral, Experimental, Diferencial, Psicoterapia, Técnica de Exames Psicológicos e Estatística. Naquele Instituto, pode desenvolver trabalhos específicos relacionados ao diagnóstico e aconselhamento psicológico, com pesquisas no Campo da Psicologia Aplicada. Em todas as entrevistas dadas, Maria Helena Novaes sempre deu destaque à direção do professor Emilio Mira y Lopez, reconhecendo sua importância como pesquisador em nível nacional e internacional. O que tornou possível ao ISOP/FGV atuações inovadoras nas áreas de ergonomia, orientação e seleção profissional. Maria Helena Novaes tornou-se um dos grandes nomes da Psicologia brasileira, cuja contribuição à Psicologia de um modo geral, e à Psicologia Escolar em particular, ostenta a marca da excelência e da inovação(Motta, 1999). No Brasil, ainda atua junto à equipe de profissionais fundadores da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Com bolsa de estudos do British Council, vai à Inglaterra, numabusca incessante do saber e por pioneirismo em diferentes áreas, aperfeiçoar-se em Reabilitação Profissional para jovens e adultos. De volta ao Brasil cria o Serviço de Psicologia, na ABBR, onde, por 20 anos, dá aulas de Psicologia na Escola de Formação de Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais. Na mesma época, de 1955 a 1966, integra a equipe pioneira do Gabinete de Psicologia da Escola Guatemala. Nesta escola experimental, idealizada por Anísio Teixeira, no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), cria o Serviço de Orientação Psicopedagogica. Ponto de referência e campo de estágio para universitários de diversas áreas, a escola buscava valorizar as capacidades e talentos dos estudantes em projetos pedagógicos, interdisciplinares, que articulavam teoria e prática em atividades intra e extraclasse. A escola valorizava o conhecimento escolar, as artes, a cultura e o esporte, em atividades de horário integral. Retorna à Europa no final dos anos cinquenta, para uma especialização em Psicologia Infantil, na Universidade de Genebra (Instituto Jean-Jacques Rousseau), trabalhando com psicólogos do Desenvolvimento como Barbel Inhelder, R. Dottrens, André Rey e o próprio Jean Piaget. Em Paris, completou seus estudos com René Zazzo, Soubiran, Borel-Maisonny, Gratiot-Alphandéry, Miallaret. Ao regressar foi convidada pelo Pe. Antonius Benkë, Diretor do Instituto de Psicologia Aplicada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, para atuar como professora e pesquisadora no curso de Formação de Psicólogos. Na PUC, torna-se doutora em Psicologia Clínica, em 1968. E, em 1978, volta à Paris para um pós-doutoramento na Universidade Paris-Descartes. Maria Helena Novaes, mesmo optando pela formação em Psicologia, jamais relegou seu papel de educadora. Dedicou 66 anos de uma longa e produtiva carreira profissional à busca de alternativas que conciliassem a pesquisa com uma prática pedagógica coerente com sua produção científica. Maria Helena Novaes tornou-se assim, um expoente sem igual sensibilizando pesquisadores, estudantes, docentes e profissionais de Psicologia do Desenvolvimento e áreas afins. O termo solidariedade não é sentido somente em seus estudos e conhecimentos puramente teóricos, antes de tudo incorpora-se no caminho único de fazer o que ela melhor sabia: Crescer e Promover o Desenvolvimento Humano. Só ajuda alguém a crescer aquele que está aberto para aprender; só educa verdadeiramente quem vê diante de si uma trajetória de realizações criativas, buscando sempre se renovar, demonstrando o seu profundo respeito pelo outro e pela própria vida (Novaes, 1976). Como exprimir o que foi a professora Maria Helena Novaes Mira? Para os que tiveram o prazer de conviver com ela e ser seu aluno(a) e/ou orientando(a), de partilhar o seu saber e deliciar-se com a sua jovialidade e alegria fica o compromisso de sempre produzir ideias e pensamentos inovadores e próprios.Mais difícil é transmitir às novas gerações de psicólogos a riqueza de seu pensamento e criação. Ao longo da vida desta pesquisadora atuante, sua obra passa por vários interesses: Psicologia Escolar, do Ensino-Aprendizagem, dos Superdotados, Pedagógica, da Criatividade e da Inovação Criadora, das Relações Intergeracionais. Áreas semeadas por ela e devidamente registradas em pelo menos vinte cinco livros. Escrevia, descrevia, analisava e publicava os resultados e conclusões de suas pesquisas em ritmo inigualável de produtividade. Maria Helena Novaes deixou lições de ontem, hoje e sempre: o respeito ao ser humano em suas diferenças, necessidades e direitos; liberdade e amplitude de pensamento; abertura para reconhecer a força interna de cada um. Enquanto psicóloga, traçou uma rede a serviço das potencialidades do “ser criativo” em toda dimensão humana.Em entrevista à Revista Psicologia Escolar e Educacional (2008) ela diz: Esta é uma oportunidade de refletir sobre minha trajetória profissional na Psicologia Escolar, esperando que minha experiência possa servir de reflexão e crítica dos futuros e atuais colegas nesse campo, para juntos construirmos uma sociedade mais justa, solidária e humana. É preciso decifrar esta obra sem esquematizá-la, sem banalizá-la – sem correr o risco de simplificá-la com frases demasiado enxutas e uma lógica acadêmica rigorosa demais. Maria Helena Novaes foi uma acadêmica de mãos cheia, bem clássica e altiva, ao mesmo tempo um ser humano incomum, em sua singela doçura. Com maestria, ela representou sempre um enorme esforço de evitar as palavras corriqueiras e os pensamentos vazios, construindo como ninguém pensamentos complexos com a simplicidade de quem não tem preguiça de elaborar ideias compreensíveis para todos. Para aqueles que tiveram o prazer de a conhecer bem, em qualquer fase de sua vida, o nosso texto será uma simples alusão. Para os que não tiveram o prazer de sua convivência, esperamos que seja um convite a introduzirem-se na descoberta de uma obra singular, uma incitação a conhecerem Maria Helena Novaes Mira. LIVROS PUBLICADOS 1. MIRA, M. H. N. Psicologia Escolar. Petrópolis: Editora Vozes, 1970. 357p. 2. MIRA, M. H. N. Psicologia Aplicada A Reabilitação. Editora Imago, 1976. Rio de Janeiro, 1976. 195p. 3. MIRA, M. H. N. Adaptação Escolar. Petrópolis: Editora Vozes, 1976. 111p 4. MIRA, M. H. N. Psicologia do Ensino-Aprendizagem. Petrópolis: Editora Vozes, 1977. 198p. 5. MIRA, M. H. N. Desenvolvimento Psicológico do Superdotado. São Paulo: Editora Atlas, 1979. 176p. 6. MIRA, M. H. N. Psicologia Pedagógica. Rio de Janeiro: Editora Achiamé, 1982. 195p. 7. MIRA, M. H. N. Psicologia da Criatividade, São Paulo. Rio de Janeiro: Atlas, 1986. 166p. 8. MIRA, M. H. N. Programa Educativo de Estimulação Integral para o Desenvolvimento de Crianças Bem-dotadas na Rocinha. ABSD, 1991. 9. MIRA, M. H. N. Psicologia para Criança Entender. ABSD, 1991. 10. MIRA, M. H. N. Psicologia da Educação e Prática Profissional. Petrópolis, Ed. Vozes, 1992. 120p. 11. MIRA, M. H. N. Psicologia da Terceira Idade: Conquistas Possíveis e Rupturas Necessárias: Psicologia da Terceira Idade. Rio de Janeiro: NAU, 1995. 176 p. 12. MIRA, M. H. N.; PFROMM NETO, S.; SOUZA, S. J. E. ; GUZZO, R. S. L.; WECHESLER, S.; PETTE, Z. A. P.; WITTER, G. P. AS CONTRIBUIÇÕES DA UNIVERSIDADE E OS NOVOS PARADIGMAS DA CIÊNCIA, CULTURA. SUBJETIVIDADE, VI Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico - ANPEPP, Teresópolis - RJ, BRASIL, v. 001, n., pp. 74-74, Publicado (autores: NOVAES, M.H.M.; ), 1996. 13. MIRA, M. H. N. Psicologia de La Aptitud Creadora. Buenos Aires: Editora Kapelusz, 1996 14. MIRA, M. H. N. Superdotados, Desafio Constante da Sociedade. Rio de Janeiro: NAU, 1997. 176p 15. MIRA, M. H. N. Talento e superdotação, Departamento de Psicologia, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, 1997, Publicado. Rio de Janeiro: 1997. 65p. 16. MIRA, M. H. N. A redescoberta do eu na perda, C3Studio, Rio de Janeiro, Brasil, 1998, Publicado. 001. Ed. Rio de Janeiro: C3Studio, 1998. v. 001. 130p 17. MIRA, M. H. N. (Org.) Educação, cultura e potencial humano, Rio de Janeiro: Papel&Virtual, 1999. 88p 18. MIRA, M. H. N. Compromisso ou alienação frente ao próximo século. Rio de Janeiro: NAU Editora, 1999. 189 p 19. MIRA, M. H. N. Programa de Ativação Cerebral Criativa. Departamento de Psicologia. PUC-Rio: Rio de Janeiro, Brasil, 2002 20. MIRA, M. H. N. (Org.) Criatividade na construção da ética solidária. Rio de Janeiro: Neam - Puc-Rio, 2003 21. MIRA, M. H. N. (Org.) Trocas Intergeracionais e Criatividade. Rio de Janeiro: Pós Graduação de Psicologia PUC-Rio, 2003 22. MIRA, M. H. N. (Org.) As gerações e lições de vida: aprender em tempo de viver. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. 144p 23. MIRA, M. H. N. Paradoxos Contemporâneos. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 154p 24. MIRA, M. H. N. Manual do Cuidador - Programa de Ativação Cerebral Criativa. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Rio de Janeiro, Brasil, 2009 25. MIRA, M. H. N. (Org.) Programa Sistêmico Integrado Global de Ativação Cerebral Criativa. Rio de Janeiro: E-papers, 2010. 86p Autoria do verbete: Vera Maria Ramos de Vasconcellos éDoutora em Social Developmental Psychology pela University of Sussex, Inglaterra, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ e coordenadora do Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa e Extensão da UERJ.
ODETE FÁTIMA MACHADO DA SILVEIRA (1953 - 2013)
Geóloga
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Odete Fátima Machado da Silveira nasceu em 28 de jullho de 1953, em Caxias do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul sendo descendente de família italiana. Odete Silveira estudou e ingressou na Universidade do Rio dos Sinos (Unisinos). Sempre politizada lutou por melhoria no curso. Foi transferida, em 1982, para o curso de Geologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde continuou sua batalha por melhorias das condições dadas aos estudantes do curso. Seu destino estava irremediavelmente traçado nas plagas amazônicas. A gaúcha adotou a Amazônia e vice-versa. Na UFPA, conheceu seu colega José Francisco Berredo Reis e Silva, com quem prometeu casar-se desde o primeiro instante, fato consumado em 1985. No mesmo ano, Odete Silveira finalizou seu Bacharelado em Geologia e partiu para fazer especialização em Geologia e Geofísica Marinha, em Niterói, na Universidade Federal Fluminense, no Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha-LAGEMAR. No ano seguinte, iniciou mestrado em Geologia na UFPA, finalizado em 1989. Nesse período, junto com os professores Jurgen Bischoff, Paulo Sucasas e Luis Ercílio Faria Jr, idealizam e implantam a linha de pesquisa em Geologia e Geofísica Marinha na UFPA, com a implementação do Programa de Pesquisa e Ensino em Ciências do Mar-PROMAR. Programa responsável pela formação de muitos mestres e doutores que deram origem aos estudos na zona costeira amazônica. Em 1992, Odete Silveira parte para seu doutorado, vinculado a UFPA, em colaboração com o Marine Science Research Center at Stony Brook, MSRC, onde permaneceu de 1994 a 1996.Coube a ela a primazia de desenvolver a primeira tese de doutorado na zona costeira do Amapá. Em 1998, ao finalizar sua tese e ao esvair-se a esperança de consolidar a linha de pesquisa de geologia e geofísica marinha na UFPA, Odete parte para a Universidade Federal do Amapá-UNIFAP, onde como professora visitante foi convidada a implantar junto com colegas doutores e mestres os estudos costeiros naquela Universidade. Fatores alheios a sua vontade não permitiram o alcance dessa meta. Assim, Odete Silveira é convidada em 1998 a atuar no Programa de Gerenciamento Costeiro do Estado do Amapá-GERCO, onde permaneceu como coordenadora até 2002, revitalizando o programa. Odete Silveira impulsionou as pesquisas geológicas e geofísicas na zona costeira amapaense, no Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá-IEPA, desde sua atuação no GERCO até a consolidação dos estudos costeiros e marinhos no Amapá com a implantação do Centro de Pesquisas Aquáticas-CPAq em 2002. Na qualidade de coordenadora do CPAq e já como pesquisadora concursada no IEPA desde 2000, a pesquisadora auxiliou na implementação de novas linhas de pesquisas no IEPA. Seus esforços resultaram na implantação do atual Núcleo de Pesquisas Arqueológicas-NuPArq e a implementação da Rede Clima e Tempo, que resultou na implantação do Núcleo de Hidrometeorologia e Energia Renováveis-NHMET. Em 2005, auxiliou na implantação dos primeiros cursos de pós-graduação na UNIFAP, atuando como professora permanente do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Sustentavel-MDR e professora colaboradora do Curso de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical-PPGBio. O quadro de tensão política no Estado do Amapá e a necessidade de ficar próximo a família, levaram Odete a prestar concurso para a UFPA, onde tornou-se professora adjunta na Faculdade de Oceanografia. Nesta nova condição, Odete Silveira promoveu amplas melhorias e reformas no curso, atuando como Diretora da Faculdade de Oceanografia. Implantou a linha de oceanografia geológica, e iniciou a implantação da linha de geofísica marinha, com a implementação do Laboratório de Oceanografia Geológica e Geofísica-LIOG. Em 2012, iniciou suas atividades como professora do Curso de Pós-Graduação em Geofísica e sua colaboração mais recente foi o auxílio a implantação do laboratório de radiocarbono - RADIOLAB que em homenagem póstuma levará o seu nome: Profa. Odete Silveira. Odete orientou mais de 50 alunos de graduação entre iniciação científica, estágios e trabalhos de conclusão de cursos. Orientou também quatro dissertações de mestrado e no momento de sua partida estava orientando 2 TCC´s e 6 mestrandos. A maioria dos trabalhos foram desenvolvidos no Estado do Amapá. Por possuir sempre uma habilidade especial para lidar com alunos e abnegar-se pela causas científicas, Odete Silveira foi capaz de realizar expedições nos mais longínquos cantos da costa do Amapá. Sua habilidade de interligar ciencia e sociedade se materializou na execução de inumeros projetos na costa amazônica, envolvendo a pesquisa e a gestão costeira. Entre os projetos idealizados e coordenados pela pesquisadora, destaca-se o Projeto Jovens Pesquisadores, que abrangeu mais de 100 alunos de escolas primárias localizadas na foz do rio Amazonas, envolvendo inúmeros pesquisadores que atuaram no ensino e capacitação dos estudantes, sensibilizando-os para atuar nos diferentes campos das ciências, no extremo norte do país. A pesquisadora agregou estudantes, professores, pesquisadores de várias instituições do Norte, Nordeste, Sudeste e do exterior, no desenvolvimento de projetos de pesquisas científicas e na formação de recursos humanos. O declínio de sua saúde iniciou em 2007, quando teve que trocar três válvulas do coração, saúde esta que continuou a declinar até o seu falecimento em 01 de julho de 2013. Sua vida profissional, sem dúvida, foi doada às ciências, com profundo apreço pela costa amapaense, mantendo seu vínculo como pesquisadora no IEPA em vários projetos de pesquisa desenvolvidos até o momento de sua partida. Soube como ninguém lidar com todos os revezes que enfrentou para implementar as pesquisas na área costeira e marinha na região amazônica, tendo profunda influência na vida dos primeiros pesquisadores que atuaram e atuam no campo da geologia e geomorfologia costeira e da geofísica marinha na região amazônica. Seu apreço pela área costeira e em especial pela foz do Amazonas, lhe renderam os títulos honoríficos de “Amiga da Marinha” e “Cidadã de Macapá”. Como desbravadora que foi cabe a ela estar entre as primeiras mulheres a embarcar em um navio da marinha para cruzeiro oceanográfico, estar entre as primeiras especialistas em Geologia e Geofísica Marinha do Brasil, uma das primeiras mulheres a embarcar em um cruzeiro científico para o Alaska. Foi ainda pioneira nos estudos geológicos e geofísicos na costa do Amapá e um das primeiras mulheres pesquisadoras da região norte, a participar de comitês científicos no MCT e MMA. Auxiliou e promoveu a implantação de vários laboratórios de pesquisa na região Norte. Afetuosa, idealista, honesta, justa e verdadeira, em nome de seu senso de obrigação e de servir, muitas vezes Odete fez sacrifícios extremos e, para alguns, até desnecessários. Mas assim era Odete, felizmente. Sua forte espiritualidade, desejo e força de vontade lapidaram sua conduta de vida e seu potencial para chegar onde almejou. A pesquisadora deixou como legado nas ciências as sementes lançadas, onde os solos eram férteis essas sementes já frutificaram. Outras já lançadas estão a ponto de frutificar. As sementes que não vingaram não estavam preparadas para a missão. Em pouco tempo de vida, fez muito do pouco que achava que fazia. como ato final de sua passagem entre nós, foi cumprido o seu último desejo...suas cinzas foram lançadas na foz do rio Amazonas, maior rio do mundo extensão e volume d´água – com um sistema de dispersão que se projeta para centenas de kilômetros em direção ao mar aberto – tudo a ver a com a visão e anseios de vida de Odete Silveira. Autoria do verbete: Valdenira Ferreira dos Santos, geóloga, é Doutora em Geologia e Geofísica Marinha pela UFF/IGEO/LAGEMAR, é pesquisadora do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá – IEPA. Colabora como professora permanente do Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) e como orientadora nos cursos de Graduação em Ciências Ambientais e em Geografia da Universidade Federal do Amapá-UNIFAP. Orienta ainda estudantes do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade Estadual do Amapá-UEAP. E-mail: valdenira.santos@pg.cnpq.br. Amilcar Carvalho Mendes, geólogo, é Mestre em Geologia e Geoquímica pela UFPA, é pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi-MPEG. Professor do Centro Universitário do Estado do Pará -CESUPA. Colabora na orientação de estudantes no Curso de Oceanografia da Universidade Federal do Pará.
Reinalda Marisa Lanfredi (1947 - 2009)
Bióloga
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“REINALDA MARISA LANFREDI", filha de Hilda Irene Potthoff Lanfredi e Paulo Lanfredi, nasceu a 2 de janeiro de 1947 na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro. Completou o curso científico em 1967, no Colégio Estadual Freire Alemão, em Campo Grande, Rio de Janeiro. Ingressou no Curso de Biologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde obteve o grau de Bacharel em Biologia Marinha. Como estagiária, participou dos trabalhos de pesquisas do Laboratório de Microrganismos Marinhos do Departamento de Biologia Marinha do Instituto de Biologia da UFRJ, do Laboratório de Assessoria de Pesquisa e Extensão Pesqueira da Superintendência do desenvolvimento da Pesca, SUDEPE, e no Laboratório de Malacologia da Área de Parasitologia Veterinária, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Iniciou o curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária - Parasitologia Veterinária, em 1981, sendo bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).” O texto citado acima consta nos elementos pré-textuais da Dissertação de Mestrado da Reinalda Marisa Lanfredi, defendida em 21 de dezembro de 1983, onde apresentou um estudo sobre nematódeos ciatostomíneos parasitos de cavalos da cidade de Itaguaí – RJ. Foi com este trabalho que Reinalda Lanfredi descobriu um novo mundo que se dedicaria por toda a vida: a Parasitologia, especificamente a Helmintologia. Em 1986, ingressou como professora visitante no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde desempenhou atividades de docência e pesquisa. Em 1990, defendeu sua Tese de Doutorado utilizando a microscopia eletrônica de varredura para estudos morfológicos em nematódeos trichurídeos. Reinalda Lanfredi foi pioneira na utilização desta técnica como ferramenta na Taxonomia de parasitos. Os trabalhos publicados por ela e sua equipe serviram de base para uma geração de cientistas que passaram o levar em consideração detalhes morfológicos refinados que auxiliaram na identificação de espécies novas, principalmente de helmintos de importância médico/veterinária. Foram mais de 55 artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais com colaboração com diversas instituições de pesquisa e ensino. O entusiasmo com que Reinalda Lanfredi falava sobre a Helmintologia demonstrava a paixão que tinha pelas pesquisas que desenvolvia. E esta maneira de falar era entusiasmante, e facilmente estimulava novos alunos e pesquisadores a se dedicaram às pesquisas ao tema. Muitos dos seus alunos são hoje professores e/ou pesquisadores em importantes Universidades e Institutos de pesquisa no Brasil. Em 2009, o falecimento da Reinalda foi lembrado pela American Society of Parasitologists, onde recebeu uma homenagem post mortem, ressaltando sua dedicação ao Laboratório de Biologia de Helmintos Otto Wucherer do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu nome é homenageado na Universidade Federal do Pará, onde estimulou a formação da linha de pesquisa em Helmintologia no Instituto de Ciências Biológicas. O antigo Laboratório de Biologia Celular se chama hoje Laboratório de Biologia Celular e Helmintologia “Profa. Dra. Reinalda Marisa Lanfredi”. Autoria do verbete: Adriano Penha Furtado éProfessor Adjunto da Universidade Federal do Pará, coordenador do Programa de Pós Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas (UFPA). Foi aluno de Doutorado da profa. Reinalda Lanfredi. Foto: Adriano Penha Furtado
Rosa Ester Rossini (1941 -)
Geógrafa
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Rosa Ester Rossini nasceu no dia 09 de outubro de 1941, em Serra Azul, pequeno município do Estado de São Paulo situado na região de Ribeirão Preto. Ascendente de imigrantes italianos que vieram para trabalhar nas lavouras de café no final do século XIX, Rosa Ester Rossini, desde tenra idade, se apaixonou pela escola. E o desejo de vir a ser professora se ampliou quando seus pais se tornaram servidores públicos e começaram a trabalhar no Grupo Escolar de Serra Azul. O convívio com os professores e o apoio assertivo de Dona Antonietta de Matos Guaryannas Taveiros, então Diretora do Grupo escolar de Serra Azul, marcariam decisivamente a trajetória daquela brilhante estudante. Nos idos de 1948, o Ginásio era freqüentado apenas pelos filhos e filhas das classes mais abastadas. Dona Antonietta, porém, fizera um levantamento na pequena cidade a fim de identificar potenciais estudantes e buscou oferecer ajuda àqueles que não pudessem arcar com as despesas dos estudos para freqüentar o ginásio. Mirando-se no exemplo do irmão mais velho que ingressara no curso ginasial em São Simão, Rosa Ester, depois de concluir os estudos no Grupo Escolar de Serra Azul em 1952, sem pestanejar e antes de completar 11 anos de idade, determinada, resolveu permanecer em São Simão, nos meses de novembro e dezembro durante a semana, na casa de uma coleguinha do cursinho de admissão, a fim de se preparar para o ingresso no curso ginasial. Naquela época, apenas alguns professores que lecionavam no Ginásio de São Simão haviam freqüentado a universidade. Um deles, que cursara Geografia na Universidade de São Paulo (USP), o professor James Noronha de Souza, exerceu enorme influência sobre Rosa Ester Rossini que decidiu, não apenas, ser professora “normalista” como também resolvera estudar para se tornar professora de Geografia. Esta ousada aspiração, fez com que levasse inúmeros “beliscões” de sua mãe, pois ela achava que era muita ousadia de Rosa Ester Rossini, filha de serventes do Grupo Escolar de Serra Azul, querer estudar mais do que os filhos e filhas das próprias professoras e, mesmo, da cidade. Ao observar as paisagens e suas diferenciações no decorrer do trajeto que realizava, diariamente, entre Serra Azul e São Simão, Rosa Ester Rossini alimentou o desejo de compreender os processos que as constituíam. A Geografia era a ciência que respondia a muitas de suas inquietações. Assim, não hesitou em escolher cursar Geografia e passou a se preparar, com afinco, para o vestibular de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), a mais prestigiosa universidade brasileira. Enquanto estudante do Curso Normal “Otoniel Mota”, em Ribeirão Preto, Rosa Ester também se destacou como jogadora de basquete. A participação nos campeonatos estaduais garantiu-lhe uma renda mínima para se manter no decurso dos seus estudos secundários. Em 1961, mudou-se para a cidade de São Paulo e durante a realização do vestibular para USP conheceu o Professor José Ribeiro de Araújo Filho, que depois viria a ser seu orientador de Mestrado e Doutorado naquela instituição. Tornou-se discípula e importante colaborada deste professor. Em 1963, Rosa Ester Rossini tornou-se sócia da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e estava completamente envolvida com a ciência geográfica. No mesmo ano passou a estagiar junto aos professores Maria Alice dos Reis Araújo e José Bueno Conti, no Instituto Geográfico e Geológico, bem como com o doutor Nelson Rodrigues, no Instituto de Medicina Tropical. E a convite de dois grandes e importantes geógrafos, a saber, Aroldo de Azevedo e Pasquale Petrone, Rosa Ester Rossini iniciou sua atividade no recém criado Instituto de Geografia como auxiliar de pesquisa no trabalho que estudava "O Abastecimento da Cidade de São Paulo em Produtos Hortifrutigranjeiros". Durante o decurso da graduação, a mesma participou exaustivamente de todas as viagens de campo e tornou-se uma estudante assaz aplicada com um único objetivo: desenvolver-se profissional e intelectualmente. Após a conclusão do bacharelado e da licenciatura em geografia na USP (1964), Rosa Ester Rossini foi convidada pelas Cônegas de Santo Agostinho a lecionar geografia no “Sedes Sapientiae” da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Também, após receber o convite da professora Cacilda, passou a ensinar na Faculdade São Bento. E assumiu as aulas de geografia, a convite do professor Pasquale Petrone, no recém criado curso normal do Colégio “Dante Alighieri”. Entre 1970-71, foi Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais da PUC. Ainda fora aprovada em concurso público para professora no Ensino Oficial do Estado de São Paulo e classificada em primeiro lugar, em 1965. Já nos finais da década de 1960, passou a se aprofundar sobre o fenômeno das migrações e, em 1967, mesmo como docente do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, iniciou os seus estudos na Pós-Graduação em Geografia da Universidade de São Paulo sob a orientação do Professor José Ribeiro de Araújo Filho. Conviveu e aprendeu com os grandes nomes da geografia: Pierre Monbeig, Philippe Pinchemel, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, André Libault, Michel Rochefort, Aziz Ab’Saber, Pierre George, Milton Santos entre outros. Ingressou como Professora na Universidade de São Paulo em 1970 e concluiu em 1971 sua dissertação de mestrado intitulada “Serra Azul, o homem e a cidade”. Convém destacar que, mesmo em se tratando de um trabalho de caráter monográfico, é a primeira vez que o tema relativo aos trabalhadores volantes e migrantes fora abordado na Geografia da USP. Em 1971, Rosa Ester Rossini foi convidada por Terezinha Fram para coordenar, na Secretaria da Educação, o projeto "Caracterização Sócio-Econômica dos Municípios do Estado de São Paulo". Sob sua coordenação, o referido projeto contou com a colaboração, na ocasião, das (os) estudantes de geografia Ana Fani Alessandri, Amélia Luiza Damiani, Tânia Bondezan, Lúcia Araújo Marques, Adalberto Leister, Nelson Bacic Olic como, igualmente, teve o apoio precioso da professora Nice Lecocq Müller. Com base no material que fora organizado no decorrer daquele trabalho, Rosa Ester Rossini buscou construir o seu projeto de doutorado. E influenciada pelos estudos de Pierre George e Jacqueline Beajeu-Garnier, ambos da escola francesa de geografia, Elza Keller, expoente sobre os estudos de população no Brasil, e José Francisco de Camargo, Rosa Ester Rossini se tornou uma das primeiras geógrafas brasileiras a discutir os dilemas vinculados ao forte êxodo rural como, por exemplo, a concentração da população volante nas periferias urbanas. Em 1975, obteve o título de doutora pela Universidade de São Paulo tendo defendido a tese “Contribuição ao Estudo do Êxodo Rural no Estado de São Paulo” e sob a orientação do Professor José Ribeiro de Araújo Filho. Fizeram parte da banca os professores Pasquale Petrone, Wanda Silveira Navarra, José de Souza Martins e Fernando Salgado. Ainda no final daquele ano, foi escolhida para ser homenageada em sua cidade natal (Serra Azul) e representar, em sua pessoa, todas as mulheres da cidade em virtude do Ano Internacional da Mulher e porque também fora a primeira mulher daquele município a alçar a universidade. Nesta altura, Rosa Ester Rossini já caminhava para se consolidar como uma das principais referências na área de Geografia da População. E como foi pioneira naquele campo do conhecimento, logo passou a integrar o Centro de Estudos Rurais e Urbanos (CERU) juntamente com as pesquisadoras/professoras Eva Blay, Lia Fukui, Maria Isaura Pereira de Queirós, etc. Outra pesquisadora que a influenciou foi Maria Luiza Marcílio – pioneira nos estudos de demografia histórica no Brasil. Maria Luiza possibilitou inúmeros intercâmbios à Rosa Ester Rossini que, neste período, veio a participar, no México, da mesa redonda intitulada “Relações entre a Marcha da Ocupação do Estado de São Paulo e o Café” no prestigioso Congresso da União Internacional para o Estudo Científico da População (IUSSP). E com apoio daquela renomada pesquisadora supracitada, Rosa Ester Rossini participou, em 1979, da criação da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) sendo tesoureira durante o biênio 1980-82. Também, neste mesmo período, assumiu a direção da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), seção São Paulo bem como participou do Conselho Diretor da AGB Nacional. Acrescida àquelas atividades, Rosa Ester Rossini conquistou, como pesquisadora, o 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), desenvolvendo pesquisas relacionadas aos processos de modernização do campo e ao êxodo rural. Orienta estudantes de graduação e pós-graduação nesta temática desde 1977. Passa a participar, regularmente, de bancas examinadoras, contribuindo, sobremaneira, para formação de mestres e doutores que passaram a atuar em diferentes partes do território brasileiro e também no exterior. Por indicação da professora Elza Keller, tornou-se membro efetiva, entre 1984-1988, da Comissão de Geografia da População da União Geográfica Internacional (UGI), instituição esta de grande prestígio e relevância na área da Geografia. Em 1982, foi responsável por promover o Encontro Regional da UGI, em São Paulo, ocasião esta em que pesquisadores de diversas partes do mundo estiveram presentes no Departamento de Geografia da USP. Convém destacar que Rosa Ester Rossini também foi pioneira na criação do grupo de trabalho, na UGI, sobre a questão de gênero, categoria de análise que até então não fazia parte do métier da Ciência Geográfica. Através da categoria trabalho, Rosa Ester Rossini encontrou, finalmente, o caminho que tornou possível a integração dos estudos de gênero no âmbito da Geografia. Em 1988, defendeu sua tese de Livre-Docência intitulada “Geografia e Gênero: a mulher na lavoura canavieira paulista”. Os membros da banca examinadora foram o professor José Ribeiro de Araújo Filho (Presidente), Milton de Almeida Santos, Manuel Correia de Andrade, Antônio Olívio Ceron e Lêda Maria Pereira Rodrigues. Enquanto pesquisadora, Rosa Ester Rossini estabeleceu intercâmbio com inúmeros investigadores em âmbito internacional, sendo constante referência e pioneira nos estudos sobre população e gênero na geografia brasileira e internacional. Desde 1985, participou como uma das fundadoras do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero (NEMGE), liderado pela professora Eva Blay. De 1984 a 1990, foi Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da USP. Neste período e, sob sua coordenação, aquele Departamento se beneficiou com a vinda de professores de grande relevância não apenas para a Geografia como também para as Ciências Humanas em geral tais como Jean P. Damais, Daniel Noin, Alain Lipietz, da França, os professores Carlos Carreras e Eugênio Garcia Zarza, da Espanha, a professora Maria Nazaré Roca, da Iugoslávia. E mesmo após o período em que foi coordenadora, enriqueceu o Departamento de Geografia da USP ao possibilitar a vinda de professores como Maria Aparecida de Moraes (UNESP) e Ivone Gebara que ministraram curso sobre gênero; Manuel Araújo de Moçambique da Universidade Eduardo Mondlane que ensinou sobre a África Sul-saariana e Maria Beatriz Rocha-Trindade da Universidade Aberta de Lisboa que proferiu o curso sobre Migrações. Em 1988, Rosa Ester Rossini foi indicada pelo Conselho Deliberativo do CNPq para participar como Assessora de Geografia Humana e Regional e, desde 1989, participa como membro dos Comitês Assessores como representante da Área de Ciências Humanas e Sociais do Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Como tal, incansavelmente, tem percorrido todo o Brasil a fim de fortalecer o programa supracitado no âmbito das instituições de Ensino Superior do país como também tem colaborado com a descoberta de talentos para ciência como um todo. Cumpre informar que graças à criação do PIBIC e de outros programas correlatos, o número de mestres e doutores em todo o país vem se ampliando, uma vez que o “aprender” científico passou a ocorrer já no decurso da graduação (e, atualmente, no Ensino secundário em alguns contextos) e o número de desistências na pós-graduação reduziu enormemente. Em 1990, através de concurso público, Rosa Ester Rossini tornou-se professora Titular do Departamento de Geografia da USP, sendo aprovada com a nota máxima (10,0). Também neste período, foi coordenadora do Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental (LABOPLAN) no qual participou com os professores Milton Santos, Armem Mamigonian, Maria Adélia e Regina Sader em inúmeros estudos e pesquisas. Por todos os seus feitos e méritos acadêmico-científicos, já em 1984, Rosa Ester Rossini recebeu homenagem da Escola Estadual Francisco de Freitas (Serra Azul) que denominou a Biblioteca da escola de “Professora Rosa Ester Rossini. E, em 2005, foi condecorada, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia do Governo Federal, com a Ordem Nacional do Mérito Científico como Comendadora. Vale ressaltar que no Departamento de Geografia da USP, Rosa Ester Rossini é a única, até o presente momento, depois de Milton Santos, a receber tamanha honraria e foram pouquíssimos os geógrafos agraciados com tal distinção acadêmica. Em 2011 foi homenageada, durante o “I Seminário Latino-Americano de Geografia e Gênero: Espaço, Gênero e Poder. Conectando Fronteiras” (Pré-Encontro Regional da UGI), por ter sido pioneira nos estudos de gênero na Geografia brasileira. Igualmente, em 2012, foi agraciada, pelo Instituto Histórico e Geográfico (IHG), com a medalha da Imperatriz Leopoldina por seus inúmeros contributos para as discussões de gênero. E no mesmo ano recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Rondônia. Por fim, ainda nos dias atuais, Rosa Ester Rossini continua sendo Pesquisadora 1A do CNPq com o projeto “Geografia e Gênero: as novas e velhas dinâmicas no campo brasileiro com ênfase na expansão da cana-de-açúcar no século XXI”, é parecerista de inúmeras agências de fomento à pesquisa de todo o país, compõe o conselho editorial de dezenas de periódicos científicos e prossegue orientando estudantes de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e supervisionando pesquisadores de pós-doutorado na Universidade de São Paulo. É autora de dezenas de artigos científicos publicados em periódicos de grande impacto científico (nacional e internacional) bem como de capítulos de livros. Freqüentemente concede entrevistas para os principais meios de comunicação do país buscando elucidar os fenômenos contemporâneos relativos à população, questões de gênero, dentre outras temáticas. Está recuperando o cerrado em sua chácara objetivando transformá-la em laboratório de pesquisa para as crianças das escolas de Serra Azul e entorno, iniciativa que já tornou pública com a doação da mesma à Escola, talvez única no mundo, que recebeu o nome de um servente, seu pai, Ramiro Rossini. Fontes Bibliográficas: ROSSINI, Rosa Ester. Memorial. São Paulo, 1991. 289p. Concurso para Professor Titular – Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. ___________________. Do passado ao presente: O papel da mulher na construção de uma Geografia brasileira. OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.4, n.11, p. 149-160, out. 2012. Disponível em: www.observatorium.ig.ufu.br/pdfs/4edicao/n11/10.pdf. Acesso em: 20 de setembro 2013. Currículo Lattes – CNPq Autoria do verbete: Elisa Pinheiro de Freitas é Bacharel, Licenciada, Mestre e Doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Pós-Doutoranda no Departamento de Geografia da USP, sob a supervisão de Rosa Ester Rossini. Colaboradores: José Fonseca da Rocha Filho é Doutorando em Geografia Humana na Universidade de São Paulo. Ana Elisa Rodrigues Pereira éTécnica do Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental (LABPOLAN).
Susana Lehrer de Souza Barros (1929 - 2011)
Física e Ensino de Física
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Susana Lehrer de Souza Barros, filha de Tuly Lehrer e de Lola Rosenfeld, nasceu em 2 de fevereiro de 1929, na cidade de Santa Fé na Argentina, a aproximadamente 450 km de distância de Buenos Aires, cidade para onde se mudou e cresceu até se formar em Física pela Universidade de Buenos Aires em 1952. Em 1953, aos 24 anos, recebeu um convite para estagiar na Universidade de São Paulo (USP), onde iniciou seus estudos sobre radiação cósmica com o físico austríaco Kurt Sitte. Permaneceu trabalhando com o grupo de pesquisa por dois anos, quando, para realizar observações de raios cósmicos, viajou ao Laboratório de Chacaltaya, situado a 5.000 metros de altitude, nas proximidades da cidade de La Paz na Bolívia. Foi nesse período que conheceu seu marido, Fernando de Souza Barros, com quem viajou mais tarde para a Inglaterra para a realização de pós-graduação, dando continuidade ao estudo experimental de partículas elementares no acelerador de Liverpool, onde concluiu sua tese sobre o decaimento radiaoativo do méson pi, pela Universidade de Manchester em 1960. Na Inglaterra, Susana teve seu filho Nicolas de Souza Barros, violonista e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), em 1956. Em 1964, o casal Souza Barros se mudou para a cidade de Pittsburgh nos Estados Unidos, onde Susana atuou como professora e pesquisadora, mudando seu campo de pesquisa para a área de magnetismo em baixas temperaturas. Em 1970, regressou ao Brasil, tendo sido professora na Universidade de Brasília (UnB), na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e, a partir de 1976, no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IF-UFRJ), onde se aposentou em 1998 e continuou trabalhando como professora especial até seu falecimento em 24 de outubro de 2011. Susana foi uma das pioneiras da pesquisa em Ensino de Física no Brasil, contribuindo de forma ímpar para sua consolidação no país desde a sua participação no III Simpósio Nacional de Ensino de Física (SNEF), promovido pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) em 1976. Seu interesse pela educação científica tem origem em sua atuação em projetos para alunos de minorias raciais nos Estados Unidos, ainda na década de 1960, onde atuou no Programa Upward Bound do Departamento de Educação americano, quando, a partir de então, cada vez mais se afastou da área de Física para se dedicar ao seu ensino. Ao longo de sua vida se dedicou à melhoria do ensino de física no país, sobretudo às problemáticas do ensino de física universitário e da formação do professor de física. Sob influência de referenciais piagetianos, conduziu estudos com crianças sobre concepções alternativas (ou espontâneas) de conceitos físicos. Atenta às inovações e pioneira na discussão sobre uso de tecnologias no ensino, nunca deixou de valorizar o papel do professor da escola básica, tendo realizado vários projetos voltados tanto para formação docente como para estratégias de ensino-aprendizagem, em especial o Projeto Fundão pela melhoria do ensino de física. Além disso, desde que se fixou no Rio de Janeiro, Susana se dedicou às artes plásticas, expondo suas obras na Galeria do Instituto Brasil Estados Unidos (IBEU) e no III Salão Carioca de Arte, ambos em 1979, e na Galeria de Arte Cultural Cândido Mendes em 1981. Seu trabalho artístico tem início, em 1974, em cursos de gravura em metal no Atelier de Gravura do Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro, e, com fortes marcas da arte popular e folclórica brasileira, também inclui aquarela, cerâmica, pintura, desenho, colagem e arte digital. Sempre atuante na SBF, foi Secretária para Assuntos de Ensino, integrou comissões, participou da elaboração de documentos e políticas, e colaborou na organização de eventos nacionais, como o VI SNEF realizado em Niterói (RJ) em 1985 e o XVI SNEF realizado no Rio de Janeiro em 2005 em comemoração ao Ano Mundial da Física (WYP 2005). Susana Barros participou da implantação do curso de Mestrado Profissional em Ensino de Física do IF-UFRJ, tendo dividido a primeira coordenação do curso com o Professor Carlos Eduardo Magalhães de Aguiar. Segundo a Professora da UFRJ, Isabel Martins, com quem dividiu a editoria da revista eletrônica Ciência em Tela desde a sua criação em 2008 até 2011, "Formou gerações de educadores e pesquisadores em ensino. Sempre crítica e construtiva em suas observações, nunca perdeu a curiosidade e o encanto com o conhecimento, nem a determinação e o empenho na luta por uma educação de qualidade. Susana Barros foi um exemplo de tenacidade, integridade e generosidade em sua vida pessoal e profissional, tendo criado oportunidades de crescimento intelectual aos seus inúmeros estudantes com quem manteve uma relação de carinho e amizade". Susana Barros publicou artigos e livros em âmbito nacional e internacional, coordenou diversos projetos de pesquisa e de extensão, orientou dezenas de alunos de graduação e de mestrado, muitos, hoje, pesquisadores em ensino no Brasil, tendo colaborado inclusive nas teses de doutorado de alguns destes. Por vezes foi reconhecida por seu trabalho e dedicação, sendo laureada com prêmios nacionais e internacionais, como, por exemplo: 2007- Empenho e trabalho para a melhoria do ensino no país, Sociedade Brasileira de Física. 2004- Medalha Destaque, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza/UFRJ. 2000- Primeiro Concurso de Roteiro Científico, FAPERJ. 1972- Medalha de Ouro, Harlem Preparatory School, New York, USA. 1970- Medalha de Ouro: UPWARD BOUND AWARD, Secretaria de Educação, Washington, USA. Fontes: BARROS, Fernando de Souza. As duas faces de Susana. – Rio de Janeiro, 2012. Currículo Lattes. Disponível em: . MARTINS, Isabel. ABRAPEC – Nota de falecimento. 2011 Sociedade Brasileira de Física. Disponível em: . Autoria do verbete: Marcus Vinicius da Silva Pereira é Doutor em Educação em Ciências e Saúde pela UFRJ e professor do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências do IFRJ.