Elza Furtado Gomide nasceu em São Paulo em 20 de agosto de 1925, filha de Cândido Gonçalves Gomide, professor de matemática, e Sofia Furtado Gomide. Cursou o ginásio no então Ginásio da Capital do Estado de São Paulo (hoje é a Escola Estadual São Paulo, no Parque Dom Pedro II), único ginásio estadual da época, localizado na Rua do Carmo. Concluiu o curso secundário em 1941. Seu pai era um homem de espírito aberto, que considerava natural que as mulheres estudassem e tivessem uma carreira. Elza foi sua aluna no Ginásio do Estado, o que a fez estudar muita matemática e ter uma excelente formação naquela disciplina. Mas Elza interessou-se pela Física, influenciada pelo sucesso e a pela popularidade daquela ciência; na época, a participação do brasileiro César Lattes na descoberta do méson π tinha tido muita divulgação no Brasil, o que o tornou muito famoso e a Física muito popular no país. Seguindo o exemplo de Sonja Ashauer, outra pioneira, que dois anos antes havia descoberto que a USP aceitava estudantes com somente o ginásio completo, sem terem cursado os dois anos de preparatório, prestou vestibular e ingressou naquela universidade. Bacharelou-se em física em 1944. Já na metade do curso havia percebido que gostava muito mais de matemática e, ao bacharelar-se, foi convidada a ser assistente do prof. Omar Catunda, do Departamento de Matemática. Fez, então, mais um ano de matemática e iniciou sua carreira de professora e pesquisadora. Na pesquisa, trabalhou em Análise Matemática e publicou muitos artigos. Paralelamente, exercia suas atividades de professora, pelas quais teve sempre muito gosto e dedicação. Elza Gomide foi a primeira brasileira a doutorar-se em matemática numa instituição brasileira. Sua tese, “Sobre o teorema de Artin-Weil”, orientada por Jean Delsart, sobre um tema dado por André Weil – a conjetura de Weil – foi defendida em 27 de novembro de 1950. Jean Delsart fez parte do grupo de matemáticos europeus que trabalhou na USP a partir de 1945, como, por exemplo, o próprio André Weil e Jean Dieudonné e que estabeleceram as bases da pesquisa em matemática naquela universidade. Delsart havia sido um dos criadores do grupo Bourbaki, ao qual pertenceram matemáticos importantes como Henri e Elie Cartan, entre outros. Esse grupo, a partir de 1939, escreveu 35 volumes de álgebra, análise, geometria e topologia, segundo métodos altamente axiomáticos. Ao longo de sua carreira, a profa. Elza orientou muitas teses de mestrado e doutorado. Sempre se dedicou com entusiasmo às atividades de ensino, que considera as mais importantes. Elza Gomide continuou trabalhando em pesquisa até a década de 60. A partir de sua eleição para a chefia do departamento de matemática em 1968, em pleno regime militar, passou a atuar mais nas questões ligadas ao ensino. Havia começado a interessar-se pela questão quando se deu conta de que a matemática moderna, em suas próprias palavras, “estava fazendo muito estrago”. Envolveu-se muito quando o MEC resolveu impor a Licenciatura em Ciência, coisa que achava que seria extremamente prejudicial, principalmente à matemática. Esse envolvimento, acrescido dos problemas causados pela situação política, com ameaças do regime militar de um lado e a pressão da efervescência estudantil de outro, fez com que não tivesse mais disponibilidade para as atividades de pesquisa. Segundo ela, na época já era muito difícil “ficar com o nariz acima da água”. A separação dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Matemática foi finalmente efetivada no final da década de 60. Elza considera que sua maior contribuição para a matemática brasileira foi, por um lado, o estímulo que deu a vários estudantes e, por outro, sua participação no Fórum das Licenciaturas, organizado pela USP em 1990. Esse Fórum promoveu amplo debate sobre a profissão de professor e o papel da universidade na formação de profissionais qualificados. Juntamente com Iole de Freitas Druck, Elza apresentou uma proposta de estrutura curricular para o curso de Licenciatura em Matemática que, aprovada pelo Fórum com a participação de muitos professores, permanece praticamente a mesma desde sua implementação em 1994. Elza Gomide teve durante toda sua carreira um enorme amor pelo ensino, o que resultou em total dedicação às atividades didáticas, dentro e fora da sala de aula, e a levou a envolver-se de corpo e alma nas lutas para melhorar o ensino da matemática. Trabalhou na USP de 1945 até sua aposentadoria compulsória em 1995. Mas, mesmo depois, manteve suas atividades de professora por muitos anos, enquanto teve condições de saúde para tal. Atualmente, ainda participa de bancas de tese e continua ligada nos problemas do ensino da matemática no Brasil. Fontes: A Matemática no Brasil. História de seu Desenvolvimento, de Clóvis Pereira da Silva, Editora Edgard Blücher, São Paulo, 2003; entrevista concedida por Elza Furtado Gomide a Ligia MCS Rodrigues, em 19/01/2006. Elaborado por Ligia M.C.S.Rodrigues e Hildete Pereira de Melo.
EULÁLIA MARIA LAHMEYER LOBO (1924 - 2011)
Historiadora
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Eulália Maria Lahmeyer nasceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de julho de 1924, filha de Antônio Dias Leite e Georgette Furquim Lahmeyer Leite. Pelo lado materno descende de família tradicional cafeeira, os Teixeira Leite de Vassouras, e pelo paterno de imigrantes portugueses. Foi alfabetizada e iniciada nos estudos em casa, pela inteligente professora Nair Lopes. Fez o curso ginasial no Colégio Jacobina de onde, terminado o quinto ano, ingressou direto no curso de História e Geografia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Era 1941, e pouco antes, em 1939, a Universidade do Distrito Federal havia sido incorporada à Universidade do Brasil e criada a Faculdade Nacional de Filosofia. Nessa fase de transição os candidatos foram liberados de realizar os dois anos de curso complementar após o ginásio e puderam fazer exame direto para Universidade. Casou-se com Bruno Lobo, com quem teve dois filhos. Bacharel e licenciada em História, Eulália completou sua formação nos Estados Unidos nas Universidades de Columbia e North Carolina. Era aluna brilhante e ao voltar foi na Universidade do Brasil que iniciou sua carreira do magistério, paralelamente à de professora de História do Colégio Pedro II. Mediante defesa da tese de doutoramento "Administração colonial luso-espanhola nas Américas", orientada pelo professor Silvio Júlio, obteve o grau de doutor. Esta foi a primeira tese de doutorado em História defendida por uma mulher no Brasil. No concurso de títulos e provas com a tese "Caminho de Chiquitos às Missões Guaranis", obteve a docência livre. Após alguns anos como auxiliar de ensino, professora regente e professora catedrática interina, conquistou, em concurso público, o cargo de Professora Titular de História das Américas, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, em 1967, com a importante tese "Aspectos da atuação dos consulados de Sevilha, Cádiz e da América Hispânica na evolução econômica do século XVIII ". A carreira de Eulália como professora e pesquisadora é de grande sucesso. Foi professora visitante em universidades estrangeiras, nos Estados Unidos e na França. Em 1968 foi atingida pelo AI-5 e aposentada compulsoriamente da universidade e em 1969 foi presa por uma semana, durante a visita de Rockefeller ao Brasil, numa "operação gaiola" para evitar manifestações. "A narrativa de Eulália sobre sua prisão é deliciosa. Chegaram à sua casa, de madrugada, três pessoas armadas. Vinham prendê-la, mas não sabiam quem era ela. E ela lhes disse: "Não digo quem sou enquanto vocês não me disserem quem são! Vocês estão uniformizados mas podem ter assaltado um quartel e roubado as fardas... Quero saber quem são vocês!". Eulália ligou para seu cunhado, que era almirante, na época cogitado para ministro, e os homens acabaram se identificando: eram da 8ª Artilharia da Costa no Leblon. Eulália os acompanhou. Foi levada ao gabinete do comandante, que se mostrava muito constrangido. Eulália lhe disse: "O Exército que combateu a caça aos escravos, que proclamou a República, vem agora prender os cidadãos que não estão armados... não estão alterando a ordem pública. O Exército, que tem tantas tradições gloriosas, está reduzido a isso?".O comandante, desesperado, dizia: "Não somos policiais". E a ordem se inverteu: comandante se defendendo e Eulália atacando. Mesmo assim, ficou presa, apesar de não haver acusação formal. Diariamente ela perguntava ao comandante: "Qual é a acusação contra mim?". Ele não tinha o que responder e dizia: "Você teve muita sorte, porque se morasse mais perto do Humaitá teria tido um destino terrível, pois teria ido para uma unidade muito pior". Foi na prisão que, vencendo seus medos, Eulália começou a escrever sua história sobre a América Latina. Depois de solta, permaneceu por doze anos indo aos Estados Unidos para lecionar. Ia e voltava, continuando suas pesquisas no Brasil. Mais uma vez foi pioneira! Conseguiu um auxílio da Ford Foudation, que até então só concedia verba de pesquisas com filiação institucional." (relato de Ismênia Lima Martins em homenagem à Professora Eulália). Depois que foi expulsa do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, Eulália conseguiu uma bolsa da Ford Foundation e do Social Science Research Council para fazer uma pesquisa sobre o Rio de Janeiro e foi trabalhar com a pesquisadora Maria Bárbara Levy no IBMEC. No final da década de 1970, Eulália ingressou na UFF, para lecionar na Pós-Graduação em História. Não tinha sido ainda anistiada. Reintegrada à UFRJ, após a Anistia, permaneceu na UFF, onde coordenou, o primeiro Projeto Finep na área de História. Entre as características de Eulália estão uma enorme paciência com os estudantes e jovens professores e uma grande alegria de viver. São famosas suas esticadas depois dos congressos, e sua competência para degustar os bons vinhos, sua agilidade para dançar os ritmos nordestinos no Forró Forrado, o que deixou maravilhado Eric Hobsbawm que, naquela oportunidade, a fotografou inúmeras vezes... E a sua alegria cantando a Internacional em um restaurante em Laranjeiras (Lima, 2004). Professora Emérita da UFRJ e da UFF, sua trajetória é emblemática para a comunidade brasileira de historiadores. Resultantes de suas pesquisas publicou, mais de cem títulos sob a forma de livros, artigos e monografias em revistas especializadas no Brasil e na Argentina, Peru, Costa Rica, Estados Unidos, Portugal, França e Alemanha. Faleceu no Rio de Janeiro, em 01 de junho de 2011. Teses e Livros: Administração colonial luso-espanhola nas Américas", Tese de Doutoramento; Caminho de Chiquitos às Missões Guaranis, Tese de Livre Docência; Aspectos da atuação dos consulados de Sevilha, Cádiz e da América Hispânica na evolução econômica do século XVIII, Tese para o Concurso de Cátedra na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais; História do Rio de Janeiro (do capital comercial ao capital industrial e financeiro), Rio de Janeiro, IBMEC, 1978; América Latina Contemporânea; A Imigração Portuguesa; Cartas de Antônio Dias Leite (1870-1952) ¿um olhar sobre uma época de transformações, Rio de Janeiro, Editora Lidador, 2005. Fontes: Entrevista com Eulália Maria Lahmeyer Lobo, em Estudos Históricos, ¿ América, Rio de Janeiro, Associação de Pesquisa e Documentação Histórica (APDOC), vol.5, nº 9, 1992. Lima, Ismênia Martins de, Conferência em Homenagem a Eulália Lobo pronunciada no dia 15 de abril de 2004 no campus da UERJ no lançamento do número 10 da Revista do Rio de Janeiro, site www.ipp-uerj.net/forumrio/conferencia em homenagem a Eulália Lobo, acessado em 13 de janeiro de 2006. Revista de História (Fundação Biblioteca Nacional), site www.revistahistória.com.br, em 02 de março de 2013. Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
GRAZIELA MACIEL BARROSO (1912-2003)
Botânica
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Nasceu em 11 de abril de 1912, em Corumbá (Mato Grosso do Sul). Como a maior parte das moças de sua época, Graziela Maciel Barroso foi educada para ser dona de casa. Casou-se aos 16 anos com o agrônomo Liberato Joaquim Barroso, e morou em vários lugares do país por causa de seu trabalho. Aos 30 anos, no entanto, com os filhos já crescidos, Liberato perguntou à esposa se ela gostaria de voltar a estudar, e passou a lhe ensinar botânica. "Meu marido foi meu grande mestre", diz. Graziela foi então trabalhar como estagiária no Jardim Botânico no Rio de Janeiro. Foi a primeira mulher a fazer o concurso para ser naturalista do Jardim Botânico, tirou o segundo lugar e a partir de 1946 trabalhou com seu marido em sistemática botânica. Durante muitos anos, Graziela trabalhou sem ter curso superior. Apesar disso, orientava os novos estagiários e mesmo mestrandos e doutorandos. Aos 47 anos, decidiu estudar e ingressou no curso de biologia da Universidade do Estado da Guanabara. Finalmente, em 1973, aos 60 anos defendeu sua tese de doutorado ¿Compositae - subtribo Baccharidinae Hoffmann - estudo das espécies ocorrentes no Brasil¿. Dona Graziela é conhecida como a ¿primeira grande dama¿ da botânica brasileira, tendo sido professora de quase todos os botânicos brasileiros, nos seus mais de 50 anos de atividade didática. Sua obra mais conhecida é provavelmente ¿Sistemática de Angiospermas do Brasil,¿ em 3 volumes, dos quais dois foram publicados depois de sua aposentadoria compulsória em 1982. Seu quarto livro, ¿Frutos e Sementes,¿ foi publicado em 1999. Em sua homenagem, mais de 25 espécies vegetais identificadas nos últimos anos foram batizadas com seu nome, como Dorstenia grazielae (caiapiá-da-graziela) da família das moraceas (a da figueira), Diatenopteryx grazielae (maria-preta). Viúva em 1949, continuou o trabalho, orientando e ensinando. Tornou-se a maior catalogadora de plantas do Brasil. Seu livro ¿Sistemática de angiospermas do Brasil¿ é uma referência internacional sobre o assunto, sendo adotado em todas as universidades brasileiras. Eleita para a Academia Brasileira de Ciência, sua posse estava marcada para o dia 4 de junho de 2003, mas faleceu no dia 5 de maio daquele ano. Fonte: Cientistas do Brasil - depoimentos, Sociedade Brasileira para o Progresso Brasileiro, 1998. Site C&TJovem.mct.gov.br acessado no dia 24 de setembro de 2005; sites http://ctjovem.mct.gov.br/index.php?action=/content/view&cod_objeto=12887 e http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/1238. Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
JOHANNA DÖBEREINER (1924 - 2000)
Agrônoma
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Nasceu em 28 de novembro de 1924 em Aussig (nos Sudetos) na então Tchecoslováquia, onde a maioria da população era de origem alemã, filha primogênita de Paul e Margarethe Kubelka. Seu pai era químico e foi livre docente da Universidade de Praga. Johanna fez a escola secundária numa escola alemã de Praga e viveu nessa cidade até o final da segunda guerra mundial. Seu pai foi preso durante a guerra (1939/45), porque ajudava os judeus a fugirem da perseguição nazista. Terminada a guerra em 1945, a família Kubelka viveu tempos difíceis devido a sua origem alemã. Quando em 1939 Hitler invadiu a Tchecoslováquia, concedeu a cidadania alemã à população dos Sudetos e isso desencadeou depois da libertação uma perseguição por parte dos tchecos àquela população. O pai de Johanna conseguir deixar Praga indo para a Alemanha, mas sua mãe foi presa em 1945 e faleceu nesse mesmo ano num campo de concentração tcheco. Johanna e seus avós paternos foram expulsos pelos tchecos para a Alemanha, chegando nesse país em julho de 1945. Seus avós faleceram nesse mesmo ano e Johannna viveu algum tempo como trabalhadora rural, até que seu pai a encontrasse. Foi então seu primeiro contato com a agronomia, pois seu pai conseguiu para ele um trabalho numa fazenda próximo de Munique, onde ela selecionava trigo para melhorar a produção. Em 1946, seu pai e o irmão Werner emigraram da Alemanha para o Brasil. O Dr. Kubelka foi trabalhar no Departamento Nacional de Produção Mineral e foi um dos primeiros bolsistas do recém criado Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Ele desenvolveu pesquisas em tecnologias de enxofre para o carvão brasileiro e em potássio das salinas de Cabo Frio (RJ), tendo falecido em 1954. Johanna havia permanecido na Alemanha porque, por influência do pai, em 1946 havia ingressado no curso de Agronomia na Universidade de Munique, onde se graduou em 1950. No mesmo ano casou-se com seu colega Jurgen Döbereiner e veio em seguida para o Brasil. Em 1956, se naturalizou brasileira. Teve três filhos, Maria Luisa (Marlis), Christian e Lorenz, e dez netos. Em março de 1951, Johanna foi contratada para assistente de pesquisa do Dr. Álvaro Barcellos Fagundes, diretor do Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas do Ministério da Agricultura (SNPA), e passou a trabalhar no Laboratório de Microbiologia de Solos. O SNPA posteriormente se transformaria na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), onde ela trabalhou até o final de sua vida. Nos anos 1970, Johanna realizou seu trabalho mais importante ao descobrir a ocorrência de uma associação entre bactérias do gênero Spirillum e as gramíneas. Essa descoberta, feita a partir da observação de que no Brasil, ao contrário do que acontecia nos países europeus de clima frio, um determinando tipo de grama crescia sem a necessidade de adubos químicos, teve um enorme impacto no meio científico e tecnológico; pela aplicação em solos tropicais, pois a presença de uma bactéria na grama fixava o nitrogênio na planta, substituindo o uso de fertilizantes químicos. Em 1964, chamada a participar da Comissão Nacional da Soja, cujo cultivo estava iniciando-se no Brasil, a Doutora Döbereiner convenceu a Comissão das vantagens da aplicação de bactérias nas raízes da planta e a escolha desse método nas plantações de soja foi decisiva para a fabulosa expansão da mesma em nosso país. Esse método reduziu os custos da soja brasileira, representando uma economia anual de 1 bilhão de dólares em fertilizantes hidrogenados para o país, aumentando o potencial agrícola do país. Da mesma maneira, Johanna aplicou esse método no cultivo da cana de açúcar e os bons resultados obtidos permitiram a implementação do programa PROALCOOL. Além disso, esse trabalho de Johanna levou o Brasil a melhorar a produção de diversas leguminosas, a um custo mais baixo e com menos poluição do meio ambiente, e valeu a ela a indicação ao prêmio Nobel da Paz em 1997. Também tornou-se a uma das cientistas brasileiras mais citada pela comunidade científica mundial e a mais citada entre as mulheres. Ao longo de sua carreira, Johanna publicou quase 500 trabalhos e orientou dezenas de teses de mestrado e doutorado. Em 1977, Johanna foi eleita membro efetivo da Academia Brasileira de Ciências (ABC), tendo sido eleita vice-presidente dessa instituição em 1995. Foi a primeira mulher a integrar os quadros de direção da ABC. Johanna recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, como reconhecimento ao seu trabalho científico e seguramente teria recebido o Prêmio Nobel, para o qual foi indicada pela ABC, caso a sua pesquisa tivesse sido feita para as plantações norte-americanas. Trabalhando até os últimos dias de sua vida, faleceu em 5 de outubro de 2000. Em 12 de novembro de 2002 seus colaboradores e familiares criaram a Sociedade de Pesquisa Johanna Döbereiner para dar continuidade a suas pesquisas. Alguns Prêmios e Distinções: Doutor Honoris Causa da Universidade da Flórida (1975); Prêmio Frederico Menezes Veiga da EMBRAPA (1976); Grau de Oficial da Ordem de Rio Branco, Ministério das Relações Exteriores do Brasil (1976); Grau de Comendador da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (1985); Grau de Grande Oficial da Ordem do Rio Branco Ministério das Relações Exteriores (1990); Membro da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano pelo Papa Paulo VI (1978); Membro Fundador do Third World Academy of Sciences (1981); Doutor Honoris Causa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1982); Prêmio Ciência da UNESCO (1989); Ordem do Mérito de Primeira Classe da República Federal da Alemanha (1989); Prêmio México de Ciência e Tecnologia (1992). Fontes: CD-ROM ¿Johanna Döbereiner: 50 anos dedicados à Pesquisa em Microbiologia do Solo¿ Embrapa Agrobiologia, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, FAPERJ, 2003; sites http://premioclaudia.abril.com.br/1996/dobereiner.html e http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/1670. Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
MARIA JOSEPHINA MATILDE DUROCHER (1809-1893)
Obstetra
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Nasceu no dia 6 de janeiro de 1809 em Paris, França, filha de Anne Nicolli Colette Durocher, costureira e florista. Com sete anos veio com sua mãe, que abriu uma pequena loja de moda na rua do Ouvidor, para o Rio de Janeiro. O negócio prosperou e Maria Josephina quando cresceu ajudava a mãe na administração e confecção de roupas. Recebeu educação elementar como era usual para o sexo feminino na época. Em 1829 sua mãe faleceu, a loja da rua do Ouvidor entrou em decadência e Maria Josephina enfrentou uma reviravolta em sua vida. Perdeu a loja e seu companheiro, o comerciante francês, Pedro David, com quem vivia maritalmente e tinha dois filhos, foi assassinado em 1832. Com 23 anos e dois filhos para criar Maria Josephina decidiu dedicar-se a prestar assistência às parturientes, como fazia uma amiga de sua mãe. Em 1833 foi estudar com o médico negro Joaquim Cândido Soares e em 1834 ingressou no curso de obstetrícia prática da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Nesse tempo as faculdades não permitiam estudantes femininas no curso de Medicina. Foi a primeira aluna da turma. Nessa mesma época naturalizou-se brasileira e iniciou uma bem-sucedida carreira de parteira na capital do Império. Madame Durocher, como ficou conhecida, foi parteira da Corte e acompanhou o nascimento dos netos do imperador D.Pedro II. Reconhecida no meio médico, foi nomeada, em 1871, por D.Pedro II como membro titular da Academia Nacional de Medicina e durante cinco décadas foi a única mulher admitida como membro nessa instituição. A parteira Madame Durocher clinicou durante 60 anos e teve a mais importante clínica obstétrica da corte do Rio de Janeiro no século XIX. Foi a primeira mulher no Brasil a assinar textos científicos na área da Medicina. Faleceu em 1893. Fonte: Melo, Hildete P.de, Pereira, M.C.C., “A Ciência no Feminino: uma análise da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciência”, em Revista do Rio de Janeiro, FIOCRUZ/UERJ, n.11, set-dez 2003. Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
MARIA DA CONCEIÇÃO DE ALMEIDA TAVARES (1930 - )
Economista
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Nasceu em Anadia, Portugal no dia 24 de abril de 1930. Casada duas vezes, é mãe de dois filhos e tem dois netos. Diplomou-se em matemática na Universidade de Lisboa em 1953. Sentindo-se sufocada pelo regime fascista português, veio para o Brasil em fevereiro de 1954. Conceição chegou em plena folia de carnaval e apaixonou-se pela música e alegria do povo brasileiro. Nas suas palavras: “Quando saí de Portugal, os problemas lá eram democracia, humanismo, terror. Já no Brasil, eram injustiça social, o atraso e a presença do imperialismo”. Vivendo a euforia dos anos dourados do Governo Juscelino Kubitschek, decidiu nacionalizar-se brasileira. Também mudou de profissão, pois se matriculou no curso de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se graduou com suma cum lauda (Prêmio Visconde de Cairu) em 1960. É amplamente considerada como a mais brilhante economista brasileira. Ainda estudante de economia trabalhou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), fazendo um estudo matemático sobre a distribuição de renda no Brasil. Sobre esta experiência relatou anos mais tarde: deparei-me com as estatísticas. Este país é uma desigualdade só... Compreendi então [em 1958]as dificuldades das tentativas de construção de uma “democracia nos trópicos”. Não dá para pensar o país com as categorias européias. O Brasil não suporta teses progressistas definitivas, é sempre recorrente: quando se pensa que uma coisa acabou, ela volta. É cientista rigorosa, de sólida formação intelectual, e foi professora de várias gerações de economistas, no atual Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e no Instituto de Economia da Universidade de Campinas (UNICAMP) no Estado de São Paulo. Fato que é motivo de grande orgulho por parte da mestra, que quando presa em 1975, no Aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro, afirmava nos porões do regime “Eu sou uma professora, eu sou uma professora”. Foi criadora, junto com Mário Henrique Simonsen, Delfim Netto e João Paulo dos Reis Velloso da pós-graduação em economia no Brasil. Fora do meio acadêmico tornou-se conhecida como militante da causa democrática e crítica feroz da política econômica do regime militar. Seus livros e artigos escritos ao longo de mais de 40 anos de atividade intelectual, demonstram sua preocupação permanente em pensar o Brasil. Um dos seus ensaios mais brilhantes, “Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações”, publicado em 1972, é um marco no estudo do processo de industrialização do Brasil e tornou-se um clássico na literatura econômica da América Latina. Nesse trabalho concluía que todas as formas de acumulação capitalista inventadas no Brasil eram desequalizadoras. O problema era o modelo de inserção do país no capitalismo, dinâmico mas, excludente. Avançando na interpretação da realidade brasileira, a professora Maria da Conceição faz uma ruptura fundamental com a visão clássica da industrialização; essas novas hipóteses foram escritas em suas teses de livre docente e professor titular: Acumulação de Capital e industrialização do Brasil (1975) e Ciclo e Crise: o movimento recente da economia brasileira (1978). Esses textos são praticamente obrigatórios no ensino de economia no país, o que demonstra a importância da autora no meio acadêmico nacional e latino-americano. Essas obras e as dezenas de artigos que tem publicado sobre a economia brasileira a credenciam como a principal estudiosa do desenvolvimento nacional, e são leituras obrigatórias para os pesquisadores da economia brasileira contemporânea. É conhecida nacionalmente pela forma apaixonada e veemente com que defende suas idéias e ataca a pobreza e a exclusão. Seus artigos e livros foram traduzidos por toda América Latina. Conceição foi ainda pesquisadora da CEPAL/ONU e pesquisadora visitante de inúmeras universidades estrangeiras e órgãos internacionais. Em grande medida, o seu prestígio acadêmico contribuiu para a sua eleição para a Câmara Federal, pela legenda do PT/RJ, em 1994, com uma expressiva votação. No parlamento, durante a legislatura de 1995 a 1999, destacou-se como uma crítica feroz da política econômica implantada pelo governo, chamando atenção dos colegas parlamentares para os riscos da política cambial e para a destruição do patrimônio público nacional. Foi membro da Comissão de Finanças da Câmara Federal onde participou de debates memoráveis com o ministro da Fazenda. Destacou-se como uma deputada que fez de sua representação um mandato coletivo; trabalhando com projetos partidários e não defendendo projetos individuais, afirma sempre que se todos os deputados fizessem apenas um projeto anual teríamos ao cabo do mandato cerca de 2000 projetos com os teores mais variados e provavelmente sem serventia para a sociedade. Terminado o mandato em 1998 não quis voltar ao Parlamento Brasileiro. É comentarista econômica do jornal A Folha de São Paulo desde 1993, com a coluna “Lições Contemporâneas”. Prêmios, Distinções e Títulos: Prêmio Visconde de Cairú, UFRJ, 1960. Medalha de Honra da Inconfidência, Governo de Minas Gerais, abril/1986. Grau de Oficial da Ordem de Rio Branco, Ministério das Relações Exteriores, maio/1986. Grau de Comendador do Governo de Portugal, 1987. Ordem ao Mérito do Trabalho, Ministério do Trabalho, 1987. Professora Emérita, UFRJ, 1993. Medalha Bernardo O’Higgins da República do Chile, 1998. Prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia, 2012. Obras: Publicou os seguintes livros: Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro. Zahar, Rio de Janeiro, 1972 (12 edições, duas estrangeiras); Acumulação de Capital e Industrialização no Brasil. 1975 e 1986; Ciclo e Crise: O movimento recente da economia brasileira. UFRJ, 1979; A economia política da crise. 1982 (5 edições); O grande salto para o caos. Em colaboração com José Carlos de Assis, Rio de Janeiro, 1985 (2 edições); Aquarela Collorida - A Política Econômica do Governo Collor. 1991; Japão: Um caso exemplar de capitalismo organizado. Colab. Ernani Torres Filho e Leonardo Burlamaqui, 1991; (Des)ajuste global e modernização conservadora. Com José Luís Fiori, 1993; Lições contemporâneas de uma economista popular. 1994; Poder e Dinheiro, com José Luis Fiori. 1997; Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações com José Luis Fiori (organizadores), Celso Furtado e o Brasil, (Organizadora), 2000; Publicou dezenas de capítulos de livros e artigos em revistas nacionais e internacionais. Por ocasião de seus 80 anos foram lançados pela comunidade acadêmica dois ensaios em sua homenagem: “Desenvolvimento e Igualdade: homenagem aos 80 anos de Maria da Conceição Tavares”, João Sicsu e Douglas Portari (orgs), Brasília, IPEA, 2010. Desenvolvimento Econômico e Crise: ensaios em comemoração aos 80 anos de Maria da Conceição Tavares”, Luiz Carlos Delorme Prado (org), Rio de Janeiro Editora Contraponto, 2012. Fontes: Cientistas do Brasil - depoimentos. Sociedade Brasileira para o Progresso Brasileiro; Entrevista: Maria da Conceição Tavares, em Revista Praga, São Paulo, Boitempo Editorial, nº 2, junho de 1997 e Dicionário Mulheres do Brasil, Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2000. Elaborado por Hildete Pereira de Melo.
MARIA JOSÉ von PAUMGARTTEN DEANE (1917 - 1995)
Parasitologista
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Nasceu no Pará em 24 de julho de 1916, filha de pai austríaco e mãe francesa. Graduou-se pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará em 1937. Parasitologista de fama internacional, percorreu o país de ponta a ponta, junto com seu marido, o cientista Leonidas de Melo Deane. Ambos se tornaram brilhantes cientistas, profundos conhecedores das doenças endêmicas de origem parasitária, dedicando-se tanto às pesquisas de campo quanto às de laboratório. Maria José participou da fundação de vários institutos: Instituto de Patologia Experimental do Norte, Instituto Evandro Chagas, Serviço de Malária do Nordeste, Serviço Especial e Saúde Pública. Em 1953, transferiu-se, junto com seu marido, para a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em 1973, exilou-se em Portugal e posteriormente na Venezuela, onde reestruturou o departamento de parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde daquele país. Em 1980 veio trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz (atual FIOCRUZ), onde exerceu a chefia do departamento de Protozoologia; em 1986 foi nomeada vice-diretora daquele Instituto. Maria José publicou mais de cem artigos científicos. Sua maior contribuição foi que seu trabalho ajudou a melhorar a saúde pública brasileira, através da erradicação das epidemias. Faleceu em 1995. Em homenagem a ela e ao marido, a FIOCRUZ intitulou seu centro de pesquisas na Amazônia de Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane – FIOCRUZ/AMAZÔNIA. Fontes: Maria von Paumgartten Deane. Cientistas do Brasil - depoimentos. Sociedade Brasileira para o Progresso Brasileiro. Site C&TJovem.mct.gov.br acessado no dia 24 de setembro de 2005.Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
MARÍLIA CHAVES PEIXOTO (1921 - 1961)
Matemática
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Nascida Marilia Magalhães Chaves em 24 de fevereiro de 1921, em Santana do Livramento no Rio Grande do Sul. Tendo se distinguido nos estudos, veio em 1943 para o Rio de Janeiro cursar a Escola Politécnica da Universidade do Brasil. Nessa escola foi colega de turma de Maurício Peixoto, um dos mais importantes matemáticos brasileiros, com quem casou em 1946, depois da colação de grau como engenheira. Teve dois filhos: Marta e Ricardo. Sua dedicação aos estudos a tinha distinguido durante o curso na Faculdade e, assim, ingressou como docente na Escola Politécnica; juntamente com seu marido Mauricio, ambos brilhantes pesquisadores, trabalharam e dirigiram o Gabinete de Mecânica daquela instituição. Seus trabalhos em conjunto sobre funções convexas tiveram repercussão internacional e, em 1951, a professora Marília foi eleita para a Academia Brasileira de Ciências, sendo efetivamente a primeira mulher a ingressar nos quadros daquela instituição. Em 1959 publicou nos Anais da Academia Brasileira de Ciência, em conjunto com Maurício, o trabalho “Structuralstability in the plane with enlarged boundary conditions”. O teorema Peixoto, como ficou conhecido, trata da caracterização dos sistemas estruturalmente estáveis em variedades bidimensionais. Faleceu prematuramente no dia 5 de janeiro de 1961. Fontes: Entrevista com Maurício Peixoto concedida a Hildete Pereira de Melo nos dias 23 e 28 de setembro de 2005. Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
MARTA VANNUCCI (1921 - )
Bióloga
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Nasceu em Florença, Itália, em 1921. Emigrou para o Brasil em 1930, fugindo do fascismo. Seu pai era médico-cirurgião, livre-docente das universidades de Padova e de Florença e antifascista militante. No Brasil, Marta cursou história natural na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e, aos 25 anos, defendeu a sua tese de doutorado, sob a orientação do professor Ernest Marcus, zoólogo de renome internacional. Após a defesa da tese, foi trabalhar como assistente do prof. Marcus na cadeira de zoologia da mesma escola. Quando o Instituto Paulista de Oceanografia estava em formação, sob a direção do professor Besnard, Marta foi convidada para fazer parte da equipe de pesquisadores do instituto, que foi integrado à USP com o nome de Instituto Oceanográfico. Como a instituição não dispunha de um barco grande para pesquisas em alto mar, o professor Besnard concentrou as pesquisas nos mangues da região lagunar de Cananéia, no estado de São Paulo, o que ofereceu a Marta a oportunidade para se especializar no eco-sistema dos mangues. Esteve na direção do Instituto Oceanográfico da USP nos anos 60, negociou e acompanhou a construção do navio de pesquisas Professor Wladimir Besnard, que ainda hoje faz expedições aos mares antárticos. Durante o tempo em que esteve nesse instituto dedicou-se ao estudo do plâncton; posteriormente, em 1969, foi trabalhar pela Unesco, em Cochin, no Instituto Oceanográfico da Índia, onde permaneceu até 1971, sempre estudando plâncton. De 1972 a 1974 dirigiu um laboratório no México, retornando para a Índia para dirigir um projeto de estudo de manguezais. Tornou-se, assim, uma dos mais renomados pesquisadores de ecossistemas de manguezais do mundo. Marta publicou mais de cem trabalhos científicos. É aposentada como professora da USP e como Sênior Expert in Marines Science da UNESCO. É Honorary Advisor do ISME (International Society of Mangrove Ecosystems) de Okinava no Japão. Casou-se duas vezes e teve dois filhos. Em entrevista recente, Marta afirmou que foi difícil para ela conciliar a vida de esposa e mãe com a de cientista, e que não teria conseguido fazê-lo sem a permanente compreensão e ajuda de seus sogros do segundo matrimônio. Patrocina desde 1988, em parceria Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), um prêmio como tributo a memória do seu filho Érico Vannucci Mendes. Este prêmio tem como objetivo distinguir estudos e pesquisas sobre a cultura brasileira e a preservação da memória nacional, especialmente as tradições populares e os traços culturais das minorias étnicas e sociais. Fonte: Marta Vanucci. Depoimento.(concedido a Luiz Drude de Lacerda e Cilene Vieira – Ciência Hoje – , publicada em agosto de 1993). Pesquisa no site google em 24 de janeiro de 2006. Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
NISE DA SILVEIRA (1905-1999)
Médica Psiquiatra
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Nasceu em 15 de fevereiro de 1905 em Maceió (AL), filha do professor de matemática Faustino Magalhães e da pianista Maria Lídia da Silveira. Estudiosa, aos 16 anos Nise foi admitida na Faculdade de Medicina da Bahia e aos 21 anos concluiu o curso com uma monografia sobre a criminalidade feminina. Casou-se com o médico sanitarista Mário Magalhães. Começou a trabalhar com psiquiatria, interessada em novos métodos para tratar a esquizofrenia. Veio para o Rio de Janeiro e foi médica interna do Hospital da Praia Vermelha. Na agitação política dos anos 1930, foi denunciada e presa como comunista por 16 meses na Casa de Detenção da rua Frei Caneca. Nise foi reintegrada ao serviço público com a anistia e, em 1946, propôs ao diretor do Centro Psiquiátrico Pedro II, no bairro de Engenho de Dentro na cidade do Rio de Janeiro a criação de uma seção de terapia ocupacional naquele hospital Seu trabalho pioneiro de pesquisa sobre o tratamento da doença mental através da arte-terapia foi reconhecido internacionalmente. A produção artística dos internos foi reunida no Museu de Imagens do Inconsciente, fundado por ela em 1952. Alguns dos artistas revelados pelo trabalho da Dra. Nise alcançaram renome internacional, o mais famoso deles sendo Arthur Bispo do Rosário. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 30 de outubro de 1999. Fontes: Melo, Hildete Pereira de, Marques, Teresa Cristina de Novaes, Dicionário das Mulheres do Brasil, Editora Jorge Zahar, 2000.Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.
RUTH SONNTAG NUSSENZWEIG (1928 - )
Bióloga
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Ruth Sonntag Nussenzweig nasceu em 20 de Junho de 1928, em Viena, Áustria, filha de Eugenia e Baruch Sonntag, e emigrou para o Brasil ainda menina. Entrou na Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em 1948, onde conheceu Vitor Nussenzweig, com quem se casou e graduou-se em 1953. Ruth e Victor tiveram três filhos (Michel, André e Sonia). Sua formação científica iniciou-se durante o estudo universitário, no Departamento de Parasitologia da USP, então chefiado pelo Dr. Samuel Pessoa. Trabalhou vários anos no problema da transmissão da doença de Chagas pela transfusão sanguínea e sua prevenção. Demonstrou que a Doença de Chagas pode ser adquirida por transfusão sangüínea e que a adição de violeta de genciana ao sangue infectado previne a transmissão da doença. Em 1958, mudou-se para a França para realizar seu pós-doutoramento, em bioquímica, no Collège de France. Em 1960 retornou ao Brasil onde ficaria por pouco tempo. Com o objetivo de aprender e avançar ainda mais se mudou para os Estados Unidos para trabalhar com o Dr. Zoltan Ovary na New York University (NYU) enquanto Vitor, seu marido, foi trabalhar com o Dr. Baruj Benaceraf (que ganharia o Prêmio Nobel em Medicina em 1980). Em 1964, decidira voltar ao Brasil, então sob o regime militar. Como o clima político não era favorável à pesquisa, retornou à New York University logo após a conclusão de seu doutorado pela USP. O brilhante desempenho de Ruth lhe conseguiu a vaga de imunologista para a cadeira de parasitologia. Na época, a biologia da malária estava sendo estudada por outros professores do Departamento e Ruth iniciaria então estudos a respeito da resposta imune contra a doença. Foi inicialmente indicada como Professora Assistente (1965), mas rapidamente virou Professora Associada (1968) e Professora Plena (1972). Durante este período, Ruth fez uma grande descoberta, demonstrando em animais de laboratório que era possível obter proteção contra o parasita causador da malária por meio da irradiação do micróbio. Esta descoberta foi publicada em 1967, na revista ¿Nature¿, o mesmo periódico onde anos antes havia sido publicada a estrutura do DNA. Esta descoberta gerou imenso entusiasmo e serviu de base para as pesquisas que visavam desenvolver uma vacina contra a malária. Em 1976 foi indicada Professora Titular e Chefe da Divisão de Parasitologia do Departamento de Microbiologia e, em 1984, tornou-se Professora Titular do Departamento de Parasitologia Médica e Molecular da NYU. Até hoje, em nenhuma outra faculdade de medicina dos Estados Unidos há a cadeira de Doenças Parasitárias. As pesquisas desenvolvidas por Ruth no campo da Parasitologia e de Doenças Tropicais, com ênfase em malária, lhe trouxeram reconhecimento internacional. Durante sua carreira, integrou diversos grupos de trabalho e missões e prestou consultoria à Organização Mundial de Saúde, entre outras, em atividades voltadas para o controle e a erradicação de doenças tropicais, como a Doença de Chagas e a malária. Ruth tem mais de 200 trabalhos publicados nas revistas mais conceituadas nacionais e internacionais e foi honrada com inúmeros prêmios e condecorações, nacionais e internacionais. Em 1998, foi condecorada pelo Presidente da República com a Ordem Nacional do Mérito Científico classe Grã-Cruz. Recentemente, Ruth estabeleceu uma colaboração com uma equipe da Fiocruz, no Brasil, para testar uma vacina contra a malária utilizando o vírus da febre amarela como vetor. Os resultados têm se mostrado bastante promissores. Ruth e seu marido Vitor Nussenzweig, são sem dúvida os dois mais importantes pesquisadores brasileiros sobre malária, e estão entre os principais do mundo. Residem na cidade de Nova York (EUA). Fontes: Sites pesquisados: www.abc.org acessado em 26.01.06; www.revistapesquisa.fapesp.br acessado em 26.01.06; www.jornaldaciencia.org.br acessado em 30.01.06; Ordem Nacional do Mérito Científico, Anuário 2000/2001, Volume II, p. 853. Elaborado por Camila Indiani de Oliveira (CPqGM ¿ FIOCRUZ).
SONJA ASHAUER (1923 - 1948)
Física
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Nasceu em São Paulo (SP) no dia 9 de abril de 1923, filha do engenheiro de origem alemã Walter Ashauer e de Herta Graffenbenger, também alemã. Fez os estudos primários na Escola Vila Mariana e os estudos secundários no Ginásio da Capital do Estado de São Paulo (atualmente Escola Estadual São Paulo, localizada dentro do Parque Dom Pedro II), de 1935 a 1939. Foi colega de turma de um físico importante, Roberto Salmeron, e de Helio Bicudo, que foi o vice de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo. Desde menina Sonja demonstrava ser uma inteligência excepcional. Filha de um homem de espírito aberto, apaixonado por ciências, Sonja foi muito incentivada por seu pai, que, na época de seus estudos secundários montou em casa um pequeno laboratório onde realizavam experiências de física, química, biologia. Sonja havia descoberto que a USP aceitava estudantes com somente o ginásio completo, sem terem cursado os dois anos de curso preparatório, e prestou vestibular para o curso de Física da USP assim que concluiu o curso secundário. Ingressou então em 1940 e graduou-se bacharel em física em 1942, tendo sido juntamente com Elisa Frota-Pessoa, que se graduou em física no mesmo ano na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, a segunda mulher a se graduar em Física no Brasil (a primeira foi Yolande Monteux, na USP, em 1938). Sonja foi também a primeira brasileira a concluir o Doutorado em Física, em fevereiro de 1948, na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, sob a orientação de Paul Adrien Maurice Dirac, um dos maiores físicos da história mundial. Também foi a primeira mulher brasileira a ser eleita membro da Cambridge Philosophical Society. Todos os físicos que a conheceram (José Leite Lopes, Jayme Tiomno, Marcelo Damy, Oscar Sala) afirmam afirmam que Sonja Ashauer era uma profissional brilhante. Defendeu sua tese de doutoramento em janeiro de 1948 e voltou para a Universidade de São Paulo (USP), onde foi contratada em 31 de março daquele ano, como assistente do prof. Gleb Wataghin. Durante seus anos na Inglaterra, a correspondência trocada entre ela e o prof. Wataghin revela um talento extraordinário para a física teórica, sobretudo num mundo ainda extremamente hostil ao desempenho profissional feminino. Na Europa, ela conviveu com os maiores físicos da época, tendo participado de Encontros de Física onde estavam grandes nomes como Born, Schrödinger, Wheeler, Hackett. Sonja defendeu uma tese de doutorado de Eletrodinâmica Quântica, assunto de ponta na época, com o título “Problems in electrons and electromagnetic radiation”. A vida profissional de Sonja foi abruptamente interrompida depois de sua volta do exterior e a comunidade científica foi surpreendida com a notícia de sua morte no dia 21 de agosto de 1948,. De acordo com o atestado de óbito a causa mortis foi “bronco pneumonia, miocardite e colapso cardíaco”. Sonja havia apanhado chuva num dia frio, resfriou-se e não deu atenção. Quando a família deu-se conta, ela já estava gravemente enferma e foi imediatamente internada no Hospital Alemão (atualmente, Hospital Alemão Oswaldo Cruz) em São Paulo. Mas, infelizmente, era tarde demais, e ela faleceu seis dias depois. Foi não somente uma trágica perda humana, mas também uma grande perda para a física brasileira, pois Sonja certamente teria feito uma carreira tão ou mais brilhante que seus colegas de sexo masculino. Fontes: Acervo do Instituto de Física da USP; conversas informais de Ligia MCS Rodrigues com Jayme Tiomno e Amos Troper. Entrevistas de Ligia MCS Rodrigues e Hildete Pereira de Melo com Marcelo Damy e Oscar Sala em 11 e 12 de novembro de 2005, respectivamente, com Nils Ashauer no dia 18 de janeiro de 2006 e com Elza Gomide em 19 de janeiro de 2006. Elaborado por Ligia M.C.S.Rodrigues e Hildete Pereira de Melo.
VICTÓRIA ROSSETTI (1917- 2010)
Engenheira-Agrônoma
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Veridiana Victória Rossetti nasceu em 14 de outubro de 1917 em Santa Cruz das Palmeiras no estado de São Paulo. Filha de emigrantes italianos. Seu pai era agrônomo e seu avô tinha sido professor dessa disciplina, antes de emigrarem para o Brasil. No rastro da tradição familiar Victória ingressou na Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz, em Piracicaba (SP), renomada escola naquela área e foi à primeira mulher a concluir um curso de agronomia no estado de São Paulo e a segunda no Brasil no ano de 1939. Graduada Victória foi atraída pela carreira científica e aceitou um estágio no Instituto Biológico do estado de São Paulo, com o pesquisador Agesilau Bittencourt, um dos mais renomados fitopatologistas do país. Nesta instituição desenvolveu toda sua carreira profissional, dedicando-se a pesquisa das doenças dos citros. Na sua fase de estagiária seu trabalho tinha sido estudar o isolamento de fungos do gênero Phytophtora da gomose dos citros. Agesilau Bittencourt reconheceu seu talento e Victoria permaneceu trabalhando na instituição. O surgimento da doença tristeza dos citros, em 1947, incentivou a pesquisa sobre a adoção de um porta-enxerto tolerante ou resistente às duas doenças. Victória trabalhou com sucesso nessa pesquisa e foi aperfeiçoar-se nos Estados Unidos, ainda em 1947, lá fez o curso de Estatística Experimental, na Universidade da Carolina do Norte; no período de 1951 a 1952, com bolsa da Fundação Guggenheim, realizou estudos sobre fisiologia de ficomicetos, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e ainda especialização em fungos do gênero Phytophthora, com o professor J. Zentmyer, em Riverside. A relevância de seus trabalhos foi reconhecida e foi convidada a integrar a Comissão Internacional de Phytophthora e sobre ela publica trabalhos no Brasil e no exterior. Em 1958 iniciou os trabalhos sobre a leprose dos citros, experimentos para seu controle. Obteve um resultado relevante com a comprovação do ácaro Brevipalpus phoenicis como vetor da leprose. Em 1960, com apoio da Fundação Rockefeller, visitou as estações de pesquisas em citros na Flórida e na Califórnia. Desenvolveu um programa de colaboração científica com o governo francês e o Institut National de la Recherche Agronomique (INRA). Trabalhou em 1961, com o dr. Joseph M. Bové, em estudos sobre viróides dos citros. Capacitou-se nas técnicas de diagnóstico de vírus transmissores por enxertia e de estudos sobre o cancro cítrico e sobre a clorose variegada dos citros - nome sugerido pela pesquisadora em substituição ao chamado "amarelinho" (CVC) - causada pela bactéria Xylella fastidiosa. Estas pesquisas possibilitaram a publicação de vários trabalhos, com colegas do Instituto Biológico, de outros institutos brasileiros, norte-americanos, franceses e italianos. No Instituto Biológico, assumiu a Chefia da Seção de Fitopatologia Geral em 1957, tornando-se diretora da Divisão de Patologia Vegetal em 1968, cargo no qual se aposentou em 1987, aos 70 anos de idade. Mas, continuou trabalhando até 2003, quando foi diagnosticada com Alzheimer. Victória nunca casou, dedicou sua vida à profissão. Faleceu, em São Paulo no dia 26 de dezembro de 2010. O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP), Celso Lafer assim a definiu: “é com grande pesar que lamentamos o falecimento da doutora Victória, pioneira no estudo das doenças que acometem as plantas cítricas, cientista de carreira belíssima e de grande importância, responsável por formar e apoiar gerações de pesquisadores brasileiros e que esteve ligada à FAPESP desde a sua fundação” (Agência FAPESP). Publicou mais de 400 trabalhos científicos, recebeu 55 prêmios nacionais e 12 internacionais é pesquisadora emérita do Estado de São Paulo e foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República do Brasil (junho de 2004).