Com 89 votos favoráveis, nenhum contrário e apenas duas abstenções, Conselho Universitário da USP ratificou a decisão de instâncias anteriores. Reconhecida excelência de ambas as instituições e sólida parceria foi fundamental para esse resultado.
Com a expertise de seus profissionais e a disponibilização de seus laboratórios e instalações nucleares, o IPEN/CNEN-SP será fundamental na implementação e consolidação do curso de Engenharia Nuclear que a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) passa a oferecer já a partir de 2021, como habilitação do agora Departamento de Engenharia de Materiais, Metalúrgica e Nuclear. O projeto foi aprovado em reunião do Conselho Universitário da USP (Co-USP) no último dia 23.
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuclares (IPEN) é uma das unidades técnico-científicas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
IPEN e Poli-USP são reconhecidos pela excelência na formação de capital humano. A tradição e a sólida parceria entre ambas as instituições se refletiram nos 89 votos favoráveis, nenhum contrário e apenas duas abstenções no Co-USP. "Grande vitória!”, afirmou
a diretora da Poli-USP, Liedi Bariani Bernucci. Segundo ela, a ideia do curso começou a ser desenhada muito tempo atrás, ganhou corpo há seis anos, mas acabou não indo adiante. "Tendo em vista a o
portunidade apontada novamente pela CNEN de interesse deste curso, a Politécnica e o IPEN se reuniram para reavivar
a
ideia e colocá-la no papel novamente, com o aperfeiçoamento do momento”
, explicou Bernucci.
Madison Coelho de Almeida, titular da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da CNEN, à qual o IPEN está ligado, ressaltou a recente retomada dos esforços da Comissão para aprovação do novo curso. Ele atribui esta importante conquista a um empenho conjunto de instituições e pessoas preocupadas com a formação de mão de obra para o setor nuclear brasileiro. “Trata-se de belíssimo projeto, multidisciplinar, que demonstra a sinergia histórica entre a CNEN e a USP, materializadas pelo IPEN/CNEN e pela Escola Politécnica da USP (EPUSP). O Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/ESALQ/USP), o Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo (CCEMSP) e outros órgãos também participam da iniciativa. Já estivemos com o Professor Dr. Antonio Carlos Hernandes, vice-reitor da USP e, juntamente com o corpo de professores do IPEN/CNEN, queremos registrar o apoio e empenho da Profa. Dra. Liedi Bernucci, diretora da EPUSP, do Prof. Dr. Claudio Schon, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, do Prof. Dr. José Carlos Mierzwa, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental, ambos da EPUSP, dentre outros. A criação deste novo curso é resultado da retomada de ações que foram descontinuadas em 2013, por motivos de força maior”, declarou Almeida.
Grandes projetos
– A retomada do Programa Nuclear Brasileiro foi um dos fatores que influenciaram na aprovação do curso. Também foram "pontos favoráveis”, segundo Bernucci, a falta de engenheiros nucleares no país e o interesse da Marinha do Brasil, com a qual a Poli-USP mantém convênio de "enorme sucesso” há 64 anos e disponibilidade de todos seus recursos laboratoriais, além da "sólida parceria com o IPEN e profissionais altamente qualificados e experientes”.
De fato, o Instituto é uma importante referência na formação de recursos humanos na área. Seu Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear com a USP acaba de chegar à marca de 3 mil mestres e doutores formados, tem aproximadamente 600 alunos matriculados e é considerado de excelência (conceito 6) pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
"São indicadores que demonstram o quanto estamos comprometidos com a qualidade da formação oferecida pelo nosso Programa”, comentou Wilson Calvo, superintendente do IPEN. "Somando-se esse histórico do Instituto à tradição de ensino da Escola Politécnica, vamos formar profissionais altamente capacitados para a consolidação de Projetos de Arraste no país, como o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), Angra 3, o Laboratório de Geração de Energia (LABGENE) e Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB)”.
Estrutura do curso
– A habilitação em Engenharia Nuclear será oferecida já no vestibular de 2021, com dez vagas, sendo 50% para ampla concorrência e 50% de cotas para egressos da rede pública de ensino. Não haverá aumento no número de ingressantes na Poli-USP, de 870 alunos/ano. De acordo com Bernucci, houve um remanejamento interno de cinco vagas que eram da Metalurgia e cinco da Engenharia de Petróleo.
"No entanto, há certa flexibilidade em número de vagas ao final do terceiro ano, onde podemos ter uma pequena margem de variação para comportar os interessados”, acrescentou. A diretora explica ainda que, nos três primeiros anos, os alunos cursam disciplinas em comum entre Materiais, Metalurgia e Nuclear. As específicas são no quarto e quinto anos. "Importante realçar que a partir do segundo semestre do primeiro ano, os alunos devem cursar disciplinas optativas e podem já iniciar algumas nas área de interesse”.
Outra particularidade importante dos cursos da Poli-USP, segundo Bernucci, é que no quinto ano o aluno faz módulos de especialização e pode ser em qualquer especialidade. "Ou seja, no módulo de especialização em Engenharia Nuclear, pode-se receber alunos de outros cursos, como Eletrônica, Engenharia de Computação, Naval, Mecatrônica, Produção etc. Há muitas possibilidades para os alunos”, ressalta a diretora.
Longo processo
– Bernucci explica que até a aprovação no Co-USP, a proposta do curso passou por diferentes etapas: começou com reuniões do Grupo de Trabalho instituído para reativar a ideia, reunindo competências da Poli-USP, do IPEN e da Marinha do Brasil, quando foram feitos todos os detalhamentos de disciplinas, encadeamento do curso e respostas à obrigatoriedade para cumprir exigências dos órgãos competentes e dos órgãos profissionais.
Após estes estudos, foi decidido que, pela vocação, a habilitação de Engenharia Nuclear ficaria no Departamento de Engenharia de Metalurgia e Materiais, como uma de suas três habilitações: Nuclear, Materiais e Metalurgia. Todos os detalhes acadêmicos foram verificados, bem como a operacionalização de sua implementação (dimensionamento dos espaços físicos para receber as turmas, laboratórios etc.), e o projeto foi aprovado no Conselho desse Departamento.
Como a habilitação prevê disciplinas de vários outros departamentos, do IPEN e de outras Unidades da USP, a Comissão de Graduação da POLI analisou o pedido em detalhe e aprovou por maioria. O projeto passou ainda pelo Conselho Técnico Administrativo da Poli-USP, onde se reúnem a Diretoria e os 15 chefes de Departamentos, pela Congregação da Poli-USP, com cerca de 150 membros, e já na Reitoria, pelo Conselho de Graduação e finalmente o Co-USP.
"O processo é longooooo!!!!”, enfatiza Bernucci, mas o resultado valeu a pena. "Será um importante avanço, tenho certeza”, acrescenta a diretora. Wilson Calvo endossa: "Assim como fazemos com o nosso tradicional Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear, estamos buscando fazer com o novo Mestrado Profissional em Tecnologia das Radiações na Saúde, cuja segunda turma começa em 2021, vamos nos empenhar para honrar essa parceria com a Poli. Agora é trabalhar, trabalhar, trabalhar, para garantir a excelência do curso”, concluiu.