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Energia nuclear no beneficiamento agrícola
Representantes da indústria do café visitam IPEN/CNEN e estudam o uso da radiação para potencializar exportação
A irradiação de alimentos é uma importante ferramenta para dinamizar o agronegócio brasileiro, e os produtores de café estão considerando estudar a viabilidade dessa tecnologia para melhorar a qualidade do grão e potencializar ainda mais a sua exportação. Foi com esse objetivo que o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Café de São Paulo (Sindicafé-SP), Nathan Herszkowicz, visitou o IPEN/CNEN no dia 4/12, em reunião articulada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR).
Herszkowicz foi recebido pelo superintendente do Instituto, Wilson Calvo, e pelo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Madison Coelho de Almeida. Além de conhecer um pouco as pesquisas sobre o potencial do uso da radiação em alimentos, inclusive café, o dirigente do Sindicafé-SP visitou duas instalações do Centro de Tecnologia das Radiações (Ceter/IPEN): os Aceleradores Industriais de Elétrons e o Irradiador Multipropósito de Cobalto-60.
"Nós ficamos bastante entusiasmados com a possibilidade de conhecer essa tecnologia. O café do Brasil passa por uma mudança muito rápida na evolução dos tipos de produto, das tecnologias, da segmentação de públicos consumidores, e a irradiação pode ser mais uma alternativa de negócio nesse novo momento, no qual experimentamos cada vez mais diferenças como elementos importantes para o sucesso do nosso produto”, disse Herszkowicz. Após sua manifestação, foi apresentado o vídeo inédito "Café Especiais de São Paulo".
Em seguida, Almeida fez uma breve apresentação do setor nuclear brasileiro, com ênfase no papel da CNEN e de suas unidades técnico-científicas na condução da política nuclear em todo o país. Pesquisa, desenvolvimento e inovação, produção de radiofármacos, proteção radiológica, rejeitos e emergências, formação de recursos humanos, aplicações nucleares, ciclo do combustível nuclear, equipamentos pesados e atividade regulatória estão entre as principais funções atribuídas ao setor, além da geração de energia e da propulsão nuclear.
Benefícios e vantagens
Na sequência, Tiago Rusin, da Coordenação-Geral de Desenvolvimento Nuclear do GSI, apresentou o Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB) e seu papel na irradiação de alimentos, destacando os benefícios, as vantagens dessa tecnologia e potenciais aplicações. Também comentou sobre o projeto-piloto de irradiação de mangas, em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), e finalizou com um panorama do arcabouço legal no Brasil.
Conservação e aumento da vida útil dos alimentos, controle de pragas e doenças, segurança sanitária e fitossanitária, ganhos para a saúde pública e abertura de mercados externos foram alguns dos benefícios da irradiação de alimentos mencionados por Rusin. Entre as vantagens, estão a redução de perdas pós-colheita, desinfestação de grãos e vegetais frescos, aumento do prazo de validade dos produtos, redução de micro-organismos deteriorantes, eliminação de micro-organismos patogênicos e esterilização de pallets e embalagens finais.
Pujança
Jorge Caetano Júnior, coordenador-geral de Sanidade Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), destacou o fato de a irradiação de alimentos no Brasil estar bem regulamentada e apontou para a necessidade de irradiar não apenas o que sai do país, mas também os insumos de interesse do país. Cenários e características da agropecuária brasileira, usos potenciais da irradiação em produtos agropecuários e principais desafios e encaminhamentos em curso foram os tópicos abordados.
"A irradiação de alimentos é uma tecnologia que possibilita a pujança da agropecuária brasileira”, afirmou Caetano Júnior. Por fim, comentou sobre ações desenvolvidas no âmbito do Grupo Técnico 7 (GT-7) do CDPNB e suas recomendações. O GSI criou 12 grupos de trabalho, coordenados por diferentes órgãos do Governo Federal, para subsidiar o Programa Nuclear Brasileiro em todas as suas vertentes. O GT-7 teve como objetivo dinamizar a aplicação da tecnologia nuclear na agropecuária.
O superintendente do IPEN/CNEN, Wilson Calvo, mencionou os diversos irradiadores na América Latina e no Caribe, e também os tipos de radiação ionizante (raios gama, feixe de elétrons e raios-x) que estão sendo estudados e utilizados em alimentos. Destacou as instalações do Instituto, entre elas o Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, "tecnologia 100% nacional, fruto da dedicação e da competência dos pesquisadores, engenheiros e técnicos do Instituto”, onde são irradiados produtos diversos, inclusive objetos de acervos culturais do país.
A pesquisadora Anna Lucia Villavicencio, coordenadora do Grupo de Pesquisas "Aplicação da Radiação Ionizante em Alimentos, Ingredientes e Produtos Agrícolas” no Ceter/IPEN, encerrou as apresentações falando sobre "Benefícios da Irradiação de Alimentos para o Mercado de Cafés Brasileiros”, foco principal da reunião. Explicou as características do processo e as principais vantagens da tecnologia. "Basicamente, é uma técnica para preservação e desinfestação de alimentos”, disse.
Instalações à disposição
Encerradas as apresentações, a comitiva visitou o Irradiador Multipropósito de Cobalto-60 e os Aceleradores Industriais de Elétrons, onde foi recebida pelos pesquisadores Pablo Vásquez e Samir Somessari, respectivamente gerentes adjuntos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação e de Produtos e Serviços do Ceter/IPEN. Dentre os convidados, estavam Fernando Giachini Lopes, do Instituto Totum, CC Rogério Diniz, do GSI/PR, além de dirigentes do IPEN/CNEN."Nossas instalações estão à disposição das empresas que queiram realizar estudos e testes com seus produtos”, disse Calvo. Para Almeida, as perspectivas representam "um novo paradigma” para a indústria nacional do café: "Uma importante pauta de exportação brasileira passa a fazer parte da irradiação de alimentos. Estudos serão iniciados em 2021, visando à mitigação de fungos e até melhoria de aroma e sabor do café; seja in natura, seja já processado”, afirmou o titular da DPD/CNEN.
Sobre o CDPNB – Criado pelo Decreto de 2 de julho de 2008 e alterado pelo Decreto de 22 de junho de 2017, o CDPNB é coordenado pelo GSI/PR e tem como princípios o uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos, o respeito a convenções, acordos e tratados, a segurança nuclear, a radioproteção e a proteção física, o domínio da tecnologia do ciclo do combustível e o emprego da tecnologia nuclear para o desenvolvimento nacional e o bem estar da sociedade.