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Pioneira na produção de radiofármacos no Brasil, Constância Pagano ganha homenagem no IPEN/CNEN
Ousadia e determinação. Palavras que marcaram a trajetória profissional da pesquisadora Constância Pagano Gonçalves da Silva, pioneira no desenvolvimento de radiofármacos no IPEN/CNEN com importante contribuição para a medicina nuclear no Brasil. Foi ela quem, na década de 60, atuou de forma decisiva na produção de Iodo-131. Na quarta-feira, 15, às 11h30, a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da CNEN prestou-lhe homenagem, descerrando placa com seu nome no Centro de Radiofarmácia (CECRF) do Instituto.
A cerimônia contou com a presença da homenageada, do titular da DPD, Madison Almeida, da diretora substituta do IPEN/CNEN, Isolda Costa, do filho de Constância, Sergio Pagano Gonçalves da Silva, do gerente do CECRF, Emerson Soares Bernardes, e da pesquisadora Maria Elisa Rostelato, além de outros pesquisadores e técnicos do Instituto que tiveram a oportunidade de trabalhar com a homenageada. Profissionalismo, rigor, ética foram alguns dos adjetivos apontados pelos presentes, em seus depoimentos.
Almeida começou apresentando Constância e falando da satisfação em recebê-la no IPEN/CNEN. "Para nós, realmente é um momento muito rico. Vamos inaugurar esta placa onde está registrada a importância da Dra. Constância. Ela representa, para o IPEN/CNEN, mais de 60 anos de produção de radiofármacos, ela a pioneira no País. Acadêmica na década de 1950, nos anos 60 começou a fazer todas as entregas científicas que resultaram no protagonismo do IPEN/CNEN. Por conta disso, tem o Brasil hoje uma medicina nuclear tão extensa”, afirmou.
Pesquisadora emérita do IPEN/CNEN, Constância foi fundamental no desenvolvimento da radiofarmácia nacional e soma contribuições a partir de seus conhecimentos e experiências obtidas ainda na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). "Comecei no centro de medicina nuclear da Faculdade de medicina, onde importavam radioisótopos. Chegou o momento em que falei: – temos um reator nuclear em São Paulo, então, por que não vamos fazer os radioisótopos lá?”, costumava declarar Constância.
A pesquisadora seguiu questionando o porquê de se importar radioisótopos se o IPEN já tinha um reator nuclear de pesquisas capaz de produzir radiofármacos. Obstinada, foi para a França, onde fez estágio a fim de aprender os caminhos para concretizar seu objetivo. Na sua volta, produziu o Iodo-131 no Reator Nuclear de Pesquisa IEA-R1. De acordo com Sérgio Pagano, Constância sempre foi muito exigente. "Disso eu sei, porque sou o filho único dela”, brincou, acrescentando que frequentou o Instituto desde quando tinha apenas um ano de idade.
Para ele, a mãe é um "padrão de referência”. "Ela trabalhou no IPEN de 1958 até 1995 e depois ainda voltou em 1997, 1998, ficando até 2012. Até esse ano lembro dela vindo aqui todos os dias. E é engraçado que quando a gente fala do IPEN ela muda. É muito bom ver a forma como até hoje as pessoas lembram dela. Não só na placa, mas a presença vai estar sempre aqui. Então, eu gostaria de agradecer por tudo o que vocês fizeram e estão fazendo por ela. Muito obrigado”.
Isolda Costa destacou o papel feminino de liderança exercido por Constância, em uma época de predominância masculina. "Pesquisadora, mulher, pioneira, incentivadora, que soube honrar a confiança que o ex-superintendente, na época, o Dr. [Romulo Ribeiro] Pieroni, e o IPEN depositaram nela – incentivando-a a estagiar na França –, ao voltar e criar e estruturar toda a área da Radiofarmácia no Instituto”, afirmou a diretora substituta.
A pesquisadora Maria Elisa Rostelato, do Centro de Tecnologia das Radiações (CETER), falou de sua relação acadêmica com Constância Pagano e destacou seu papel como orientadora. Ela fez seu mestrado e doutorado estudando fontes radioativas para braquiterapia voltadas ao tratamento de diferentes tipos de câncer e comentou sobre a influência de Constância na formação de novos pesquisadores. "As pessoas ressaltam muito a pesquisadora e a gestora que a Dra. Constância foi, mas é importante também falar de seu papel na orientação de mestrandos e doutorandos”.
De acordo com Rostelato, Constância era "fantástica”, "rigorosa”. "E era também incentivadora, isso que deu certo. Com ela aprendi a levar muito a sério a responsabilidade da saúde das pessoas”.
Emerson Bernardes comentou que Constância "foi uma pessoa que estabeleceu um padrão de exigência que continua até hoje, no Centro de Radiofarmácia”. "Foi justamente o profissionalismo e a excelência estabelecidos o que mais me marcou. Não cheguei a trabalhar com ela, mas isso é o que posso dizer, diante de tudo o que ouvi”, acrescentou.
Na sequência, todos os presentes se dirigiram ao local do descerramento da placa, com Almeida, Isolda, Constância e seu filho removendo a capa. "Doutora Constância, aqui ficará seu nome gravado para sempre”, concluiu o titular da DPD/CNEN.
Sobre a homenageada
Constância Pagano Gonçalves da Silva bacharelou-se em química, em 1951, e licenciou-se na área em 1965. Pela Escola Politécnica da USP, concluiu seu mestrado em Tecnologia Nuclear (1970) e, no instituto de Química (IQ-USP), defendeu seu doutorado em química inorgânica (1974). Iniciou sua carreira na Divisão de Radioquímica do então Instituto de Energia Nuclear - IEA/USP, atual IPEN, no prédio do Reator IEA-R1. Logo em seus trabalhos iniciais, obteve destaque com a produção de Iodo-131, a partir da técnica de destilação úmida, utilizando-se o Reator Nuclear de Pesquisa IEA-R1 – operante no Instituto desde 1957. O radioisótopo Iodo-131 era usado para estudos da tireoide. Nos anos seguintes, Constância geriu a condução das pesquisas e a construção de um complexo de prédios, inaugurado em 1974, para produzir radiofármacos rotineiramente. Nascia a primeira radiofarmácia pública do Brasil.