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MCTI faz palestra sobre modelo de agricultura familiar e tecnologia nuclear como caminhos para segurança alimentar e desenvolvimento sustentável
VIENA, Áustria – As políticas públicas têm sido cruciais no combate à fome, no Brasil, assim como o papel da ciência e da tecnologia nesse desafio global. Essa foi a tônica da palestra "Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social: A agricultura familiar como um modelo sustentável para a segurança alimentar e a economia solidária, e suas conexões com as aplicações da tecnologia nuclear", proferida por Sônia da Costa, diretora de Tecnologia Social, Economia Solidária e Tecnologia Assistiva do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Participando do Fórum Científico “Átomos para Alimentos”, nesta terça-feira, 17, durante a 68ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena, Áustria, Sônia enfatizou o papel transformador da ciência e da tecnologia, especialmente no apoio à agricultura familiar, como soluções estratégicas para enfrentar desafios globais relacionados à segurança alimentar e à inclusão socioeconômica.
Citando o investimento em programas como “Mais Alimentos”, “Brasil sem Fome” e o “Plano Nacional para a Agricultura Orgânica”, que visam fortalecer a agricultura familiar, Sônia afirmou que o Brasil se posiciona como um dos principais protagonistas no combate à fome mundial. “Esse modelo produtivo da agricultura familiar é responsável por cerca de 70% dos alimentos consumidos no país, e a sua consolidação é vista como fundamental para garantir a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável”, disse.
Sônia ressaltou que o governo brasileiro anunciou um investimento de 250 milhões de dólares no biênio 2023-2024, por meio do “Programa Estratégico de Ciência, Tecnologia e Inovação para Segurança Alimentar”, que busca integrar inovações tecnológicas com a inclusão socioprodutiva. Entre os principais objetivos está a redução do uso de agrotóxicos, a transição agroecológica e o desenvolvimento de bioinsumos, alinhando-se às demandas globais por uma produção mais sustentável e socialmente inclusiva.
A contribuição da tecnologia nuclear
Durante a palestra, Sonia destacou o papel estratégico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia vinculada ao MCTI, e seus institutos, no desenvolvimento de soluções tecnológicas que contribuem diretamente para a segurança alimentar. Um exemplo relevante – destacou – é o uso da irradiação de alimentos, uma tecnologia que utiliza radiação ionizante para aumentar a durabilidade dos alimentos e reduzir perdas ao longo da cadeia produtiva.
Em 2023, mais de 41 mil toneladas de alimentos foram desperdiçadas no Brasil, um número que pode ser significativamente reduzido com o uso dessa tecnologia. Sônia destacou o Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, localizado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN), em São Paulo, como um exemplo de como a tecnologia nuclear pode impactar positivamente a agricultura.
A instalação, projeto 100% nacional, é usada para irradiar frutas, proteínas e especiarias, ampliando a vida útil dos produtos e reduzindo o desperdício. Além da irradiação, outros projetos inovadores da CNEN incluem o desenvolvimento de linhagens de arroz resistentes a herbicidas por mutação induzida com raios gama e o uso da “Técnica do Inseto Estéril (TIE) aplicada no combate a pragas agrícolas e vetores de doenças como o Aedes aegypti.
Água e sustentabilidade
Outro ponto crucial abordado na palestra foi a relação entre a tecnologia nuclear e a segurança hídrica. Projetos como a aplicação de isótopos naturais para monitoramento de recursos hídricos no semiárido brasileiro e o tratamento de efluentes industriais usando processos de aceleração de elétrons mostram como a ciência nuclear pode apoiar a sustentabilidade ambiental e a conservação dos recursos naturais.
O papel do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB)
Em uma iniciativa estratégica, o governo brasileiro incluiu a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Localizado em Iperó, São Paulo, o RMB será um centro de pesquisa vital para o desenvolvimento de novas aplicações da tecnologia nuclear, beneficiando setores como a saúde, a agricultura e o meio ambiente.
Próximos passos
Com uma visão de futuro, o MCTI e a CNEN pretendem expandir o uso da tecnologia nuclear em toda a cadeia produtiva da agricultura familiar. Entre as próximas ações estão a capacitação de pesquisadores, o desenvolvimento de novos equipamentos para a indústria nuclear e a transferência de tecnologia para pequenos produtores. Esses esforços visam popularizar o uso da tecnologia nuclear e promover uma agricultura sustentável e socialmente justa.
Sônia concluiu dizendo que o Brasil, ao assumir a presidência do G20, tem como prioridade mobilizar recursos e compartilhar conhecimentos no combate à fome e à pobreza. A “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, proposta pelo país, busca unir nações na construção de políticas públicas que integrem tecnologia, sustentabilidade e inclusão social, reforçando a agricultura familiar como um modelo viável para garantir a segurança alimentar mundial.
A 68ª Conferência Geral, que está acontecendo no Vienna International Center, na sede da AIEA, vinculada à ONU, termina nesta sexta-feira, 20.