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Irradiação de sangue na prática clínica é tema de webconferência no IEN
Para o meio médico, é desnecessário dizer que não há produção industrial de sangue. Assim, há a necessidade de se transfundir sangue caso um paciente precise recebê-lo. Leonardo Campos, médico hemoterapeuta e gestor médico da empresa Hematologistas Associados realizou, no dia 22 de agosto, a webconferência mensal do programa que o Instituto de Engenharia Nuclear e a Fundação Oswaldo Cruz (Grupo IEN/FIOCRUZ) promovem para profissionais que trabalham com aplicações da radiação ionizante na saúde pública. Este mês o tema abordado foi “Irradiação de Sangue na Prática Clínica”.
Campos iniciou a palestra expondo todas as atividades que compõem a hemoterapia, incluindo os testes utilizados para transfusões seguras de sangue e a irradiação de sangue. Para demonstrar a evolução dos órgãos de saúde pública no cuidado com as transfusões de sangue, visando aumentar sua segurança, Campos mencionou que, hoje, a probabilidade de se contrair HIV em uma transfusão é da mesma ordem de grandeza de se morrer por desastre de avião.
O médico explicou que, do sangue doado, após processos físicos, como a centrifugação, são obtidos os hemocomponentes: concentrado de hemácias, o plasma, o concentrado de plaquetas e o crioprecipitado. Também do sangue doado, mas após processos industriais, são obtidos os hemoderivados: albumina, globulina e concentrado de fatores de coagulação.
Por que irradiar?
O objetivo da irradiação de sangue é a prevenção da doença do enxerto contra hospedeiro pós-transfusional (DECH-AT). Em linguagem não médica, o “enxerto” refere-se ao sangue transfusionado e o “hospedeiro” é o paciente que recebeu a transfusão. Na transfusão de sangue não irradiado, os linfócitos T, presentes tanto no concentrado de hemácias como no de plaquetas, passam a se proliferar. Assim, as próprias células T ou mecanismos secundários atacam as células do receptor, determinando o surgimento da DECH-AT. Não há cura para essa doença. No entanto é possível preveni-la, eliminando as células T dos componentes do sangue através da irradiação, antes de ocorrer a transfusão.
A irradiação ocorre em equipamento projetado para não permitir exposição, nem do ambiente nem para o operador que o abastece com hemocomponentes. A dose de radiação necessária varia entre 15 e 25 grays. Podem ser usadas diferentes fontes, entre elas o Césio-137. O irradiador, um equipamento muito caro, e o processo de irradiação devem cumprir normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária/ANVISA, da American Association of Blood Bank/AABB e da Comissão Nacional de Energia Nuclear/CNEN, necessitando inclusive de validação e controle diários, além do treinamento de profissionais envolvidos. Há também limitação do número de dias que cada tipo de sangue irradiado pode ser estocado, o que demanda operações logísticas especiais.
Inicialmente, pensava-se que esta doença incidia somente nos pacientes com imunodeficiências congênitas. No entanto, com o tempo, se descobriu que ela incidia também em outras situações (pacientes com câncer, que receberam quimioterapia, pacientes que receberam concentrado de hemácias ou plaquetas de doadores parentes de primeiro grau). A ANVISA faz recomendações sobre os grupos de risco que devem ser priorizados para o recebimento de sangue irradiado. Apesar de existirem outros procedimentos especiais, como o uso de filtros de leucócitos (deleucotização) e desplamatização, nenhum método atualmente substitui o papel da irradiação na prevenção da DECH-AT.
A partir deste ponto, Campos busca mostrar os sintomas desta doença, que a caracterizam. Ela é difícil de ser diagnosticada e, mesmo que fosse fácil, pouco poderia ser feito para salvar o paciente. Resumindo, é uma doença rara, fatal em 90% dos casos, da qual se conhecem bem os grupos de risco.
As webconferências são administradas pela Rede Universitária de Telemedicina/Rede RUTE, uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações coordenada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa/RNP (http://webconf2.rnp.br/rutefiocruz).
Fonte: ASCOM IEN