Notícias
Combate ao câncer de mama
IPEN/CNEN adere à campanha 'Outubro Rosa' e adota blindagens cor-de-rosa para alguns de seus radiofármacos
Arte sobre foto de Rafael HL Garcia
IPEN/CNEN
Principal produtor de radiofármacos no Brasil, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN) se junta ao movimento "Outubro Rosa” e, pela primeira vez, adota blindagem cor-de-rosa permanente para alguns dos seus produtos, em referência à campanha cujo objetivo é compartilhar informações e promover a conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, além de proporcionar maior acesso público aos serviços de diagnóstico e de tratamento.
Segundo Efrain Perini, chefe do Centro de Radiofarmácia do IPEN/CNEN, a ideia de inserir uma cor se originou da necessidade de uma nova identificação dentre as blindagens comerciais já existentes (azul e branca) no Instituto. "Nós revisamos os projetos das blindagens e embalagens dos radiofármacos com o objetivo de otimizar o transporte aéreo e terrestre dos materiais radioativos do IPEN. A cor rosa foi escolhida para que essa nova blindagem seja mais facilmente identificada durante a produção”, explica.
Além da motivação técnica, a opção pela cor rosa foi estrategicamente pensada para representar as ações do IPEN/CNEN quanto aos cuidados com a saúde das mulheres, em especial no combate ao câncer de mama, neoplasia maligna mais incidente (excetuando-se o câncer de pele não melanoma) – no mundo, em torno de 1,7 milhão de mulheres são diagnosticadas com câncer de mama, a cada ano. "O IPEN se engaja nessa campanha de conscientização sobre a prevenção do câncer de mama dada a sua importância como maior Centro de Radiofarmácia do país e as pesquisas que realiza para a saúde da mulher, visando dois novos radiofármacos”, diz Perini.
"Especificamente, estamos falando do flúor[18F]-estradiol (FES-18F) e o HER2-18, para diagnóstico de câncer de mama e de colón de útero, sendo FES-18 já em fase de escalonamento para testes clínicos”, adianta Perini. Ele lembra que, atualmente, o exame mais comum para detectar neoplasia de mama é a mamografia e que, apesar de não fazer uso de radiofármacos, também utiliza técnicas nucleares, "área de expertise do IPEN, cuja missão é promover qualidade de vida à população brasileira e, neste caso, qualidade de vida e saúde às mulheres brasileiras”.
Pesquisa e inovação
O FES-18F possui características semelhantes ao estradiol e se liga aos receptores de estrogênio (RE), que se encontram "super expressos” em 75% dos casos de câncer de mama. De acordo com a pesquisadora Elaine Bortoleti, essa afinidade faz com que seja um radiofármaco promissor para utilização, pelo método não-invasivo de tomografia de emissão de pósitrons (PET), no diagnóstico de câncer de mama ER+, avaliando o tamanho do tumor, sítios da doença, e auxiliando no prognóstico do tratamento individualizado da paciente.
"Também pode ser utilizado para verificar o câncer de mama recidivo e monitoramento da doença com o tratamento hormonal”, acrescenta. Bortoleti orientou o mestrado da aluna Luiza Mascarenhas Balieiro, no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear IPEN/USP, que realizou o ciclo do desenvolvimento do radiofármaco FES-18F, promovendo a adequação do processo de produção e do controle de qualidade, e também realizando os estudos pré-clínicos em animais sadios e com desenvolvimento de modelo tumoral.
A próxima etapa será a realização de estudos clínicos, a partir de lotes piloto de produção, para demonstrar a eficácia e segurança desse radiofármaco e promover seu registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), adiantou Bortoleti. Na opinião de Perini, o FES-18F representará uma nova ferramenta da medicina nuclear, especialidade médica que vem crescendo exponencialmente no Brasil.
Diagnóstico preciso
Um quarto do número de casos de câncer de mama diagnosticados no mundo a cada ano – cerca de 1,7 milhão – expressa uma proteína chamada HER2, que confere aos tumores um alto potencial de metástase. A pesquisadora Sofia Santos, doutora em Oncologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), está desenvolvendo um radiofármaco específico para o diagnóstico por imagem molecular (SPECT/PET/CT) de tumores/metástases positivos para HER2.
Santos afirma que, apesar de haver tratamentos específicos para cânceres HER2 positivos – o anticorpo Trastuzumab é um deles, cada vez mais se tornam necessários métodos de diagnóstico capazes de identificar a presença da HER2 em tumores, para auxiliar na prescrição da melhor terapia para pacientes com câncer de mama. "Esperamos que esse radiofármaco que estamos desenvolvendo permita não só prever o nível de progressão da doença mas também ajudar no planejamento do tratamento e monitoramento da resposta à terapia”.
A pesquisadora integra a Radiotarget, que realiza suas pesquisas em conjunto com o Centro de Radiofarmácia do IPEN/CNEN foco na medicina nuclear, especificamente no desenvolvimento de novos radiofármacos de caráter diagnóstico e terapêutico. Por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (PIPE/FAPESP), a Radiotarget é umastartupincubada no IPEN, gerida pelo Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC), que desenvolve suas pesquisas no Centro de Radiofarmácia do Instituto.
Democratização da medicina nuclear
O IPEN é uma unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e tem o maior Centro de Radiofarmácia do Brasil, responsável por cerca de 90% dos radiofármacos distribuídos em hospitais e clínicas de todo o país. Nos últimos anos, vem modernizando suas instalações e, em parceria com a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), possui um programa firmado junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) para implantação plena das Boas Práticas de Fabricação.
Atualmente, o Centro de Radiofarmácia produz 25 radiofármacos usados em diferentes aplicações para diagnóstico e tratamento de câncer e outras disfunções do organismo. "Temos uma equipe comprometida com a produção segura e contínua de radiofármacos, serviço essencial e ininterrupto mesmo durante o período da pandemia da Covid-19, quando pudemos atender 100% pedidos mesmo durante os períodos mais críticos quando a malha aérea internacional estava frágil e dificultada”, salienta Perini.
Segundo ele, a campanha Outubro Rosa no IPEN/CNEN também é uma oportunidade de discutir a Proposta de Emenda à Constituição PEC 570, que trata da flexibilização na comercialização dos radiofármacos de meia-vida longa. "É importante uma ampla discussão dessa PEC para que a população se conscientize quanto aos desafios no acesso e democratização no uso dos radiofármacos no Brasil. O IPEN é comprometido com essa pauta, e é fundamental que o processo seja conduzido de forma transparente para a sociedade”, afirma.
Na visão de Perini, uma mudança na constituição poderá afetar diretamente o acesso público, preço, disponibilização e desenvolvimento de novos radiofármacos pelas instituições públicas como o IPEN/CNEN. "Infelizmente, hoje, menos de 30% dos procedimentos em medicina nuclear são pagos pelo SUS [Sistema Único de Saúde], e políticas públicas são necessárias para que os benefícios das aplicações dos radiofármacos cheguem a todos e a todas. Trata-se de uma questão de democratização da saúde e qualidade de vida”, diz Perini.
"O mais importante, nesta ação, é mostrar o compromisso do IPEN com a saúde pública, visto que somos uma instituição pública. Além da produção dos atuais 25 radiofármacos, também fazemos pesquisas e buscamos desenvolver novos radiofármacos e técnicas inovadoras para tratar essa e outras doenças, em estágios iniciais e mais avançados, em conjunto com relevantes instituições nacionais e internacionais, como a Agência Internacional de Energia Atômica”, concluiu Isolda Costa, diretora de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino do Instituto.
Outras ações
O IPEN/CNEN está trabalhando no desenvolvimento de uma técnica inovadora para cirurgia do câncer de mama, muito menos invasiva, que promete reduzir a morbidade e os custos para os sistemas de saúde do País, incluindo pacientes e hospitais. Essa é a meta do projeto "Técnica de marcação com sementes de Iodo-125 como localizador alvo para tratamento cirúrgico em câncer de mama” , coordenado pela pesquisadora Maria Elisa Chuery Martins Rostelato, do Centro de Tecnologia das Radiações (CTR) do IPEN.
De acordo com a pesquisadora, será confeccionado um protocolo para o procedimento, visto que ainda não existe no país. "Nós vamos realizar a dosimetria do processo para calcular a dose no paciente, uma vez que não se encontrou literatura a respeito. A marcação correta minimiza a quantidade de tecido sadio que é retirado durante os procedimentos de tratamento de câncer. Esta diminuição gerará um menor tempo do paciente em sala durante o procedimento cirúrgico e disponibilidade de equipe”, afirma Rostelato.
Sobre o movimento– O Outubro Rosa teve início em 1990, em um evento chamado "Corrida pela cura" que aconteceu em Nova York, para arrecadar fundos para a pesquisa realizada pela Susan G. Komen Breast Cancer Foundation. A mobilização ganhou adesão de instituições públicas e privadas, e outubro foi instituído como o mês de conscientização nacional nos Estados Unidos, até se espalhar para o resto do mundo. A primeira iniciativa no Brasil só aconteceu em 2002, no parque Ibirapuera, em São Paulo, com a iluminação cor-de-rosa do Obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista.