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CDTN estuda aplicação da tecnologia de irradiação gama na esterilização de máscaras do tipo N95 durante a pandemia
Modelo de máscara estudado | Fotos: cedidas pelo Laboratório de Irradiação Gama do CDTN
Um estudo conduzido pelo Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN), órgão integrante da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), uma autarquia federal vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, conclui que o reaproveitamento de máscaras, tratadas por tecnologia de irradiação gama, pode ser uma alternativa para a escassez de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Em busca de soluções de tratamento ou reprocessamento de máscaras de proteção respiratória, como a N95 ou PFF2, recomendadas para profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à COVID-19, o CDTN conduziu um estudo para avaliar a possibilidade de reutilização das máscaras após processo de esterilização por radiação gama.
A tecnologia de irradiação gama é capaz de eliminar bactérias, fungos, vírus e esporos e, por essa razão, é amplamente utilizada para a esterilização de produtos médicos no mundo todo. Ela oferece vantagens em relação a outros métodos de esterilização por permitir o tratamento de grandes volumes, sem que seja necessária a manipulação dos materiais.
O estudo foi realizado com máscaras PFF2 modelo 3M 8516B. As máscaras de proteção respiratória são as mais indicadas para o uso de profissionais da saúde, ao invés de máscaras cirúrgicas ou máscaras de pano, por possuírem eficiência de filtração de partículas maior ou igual a 99%, como é o caso da PFF3. Quanto maior o nível desse tipo de máscara (PFF1, PFF2 ou PFF3), maior a eficiência de filtração, ou seja, menor o nível de penetração.
Foram utilizadas diferentes doses de irradiação gama para avaliar os efeitos nas máscaras faciais: alterações visuais, penetração através do filtro, vazamento da válvula de exalação e resistência à respiração com fluxo contínuo. Esses critérios foram avaliados por laboratório acreditado pelo INMETRO para avaliação da norma ABNT NBR-13698:2011, que versa sobre Equipamentos de proteção respiratória, especificamente, peça semifacial filtrante para partículas.
O estudo concluiu que o reaproveitamento de máscaras PFF2 tratadas por radiação gama e reclassificadas como máscaras PFF1 poderá permitir a adoção de medidas alternativas para garantir a segurança em situações de risco de contaminação pelo vírus da COVID-19. A irradiação das máscaras não causou alterações visuais ou na resistência à respiração, no entanto, houve redução na eficiência de filtração pelo efeito da radiação nas máscaras. Com isso, as máscaras deixaram de cumprir o critério de eficiência da PFF2 (≤ 6% de penetração através do filtro) e cumpriram os da classe PFF1 (≤ 20%) em todas as doses de radiação aplicadas.
Como forma de incentivar a discussão do uso de máscaras PFF1 como alternativa de enfrentamento à pandemia, a direção do CDTN irá encaminhar a íntegra dos estudos para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para apreciação. Vale ressaltar que a ANVISA é a autoridade nacional para, atendida a normalização do INMETRO, aprovar ou recomendar a reutilização desses itens. Tal ação será intermediada pela CNEN, do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O diretor do CDTN, Luiz Ladeira, declarou que em um contexto de crise, como o de pandemia, órgãos públicos colocam-se à disposição, e o CDTN não é diferente. “Nosso Laboratório de Irradiação Gama já oferece trabalhos de esterilização em itens de saúde e temos um irradiador que consegue processar 16 caixas por dia com volume de 64 litros cada”, informou Ladeira.
Estudo dialoga com iniciativas internacionais
Estudos semelhantes vêm sendo realizados em outros países quanto ao impacto da irradiação gama no desempenho de filtração das máscaras. Entretanto, o tipo de máscara e a dose aplicada exercem influência nos resultados. Em comparação com publicações internacionais que tiveram perdas de eficiência significativamente maiores, os resultados obtidos no CDTN são positivos.
Em discussão sobre a esterilização de equipamentos de proteção individual por radiação, promovida pela Agência Internacional de Energia Atômica, o consenso até agora é de que a dose efetiva para inativação do agente SARS-Cov é de 12 kGy. Desta forma, para a máscara estudada no CDTN, modelo 3M 8516B, poderão ser realizados até 3 ciclos de irradiação para desinfecção, garantindo o comportamento das mesmas como máscaras PFF1.
Confira no vídeo do Youtube a visita ao Laboratório de Irradiação Gama do CDTN no link: https://youtu.be/1hTYeKLm5do
Por Deize Paiva, da Assessoria de Comunicação
assessoria@cdtn.br