Notícias
Simulado de Fortaleza treina comunidade com 220 famílias
Fortaleza - Moradores da comunidade fortalezense de Boa Vista, às margens do rio Cocó, se sentem mais seguros depois de participar do Simulado de Preparação para Desastre realizado no sábado (05/05). Localizada no bairro do Castelão, a 10 km do centro da capital cearense, a área começou a ser ocupada há pelo menos 50 anos, de forma irregular, e está entre as mais expostas a alagamentos e inundações da cidade.
"A gente sofre com as enchentes todo ano. A água entra pela casa e chega a cobrir os móveis. O jeito é sair correndo e largar tudo.". O relato é de dona Maria Valdegláucia, 62 anos, uma das 150 pessoas que participaram do treinamento promovido pela Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), do Ministério da Integração Nacional. Moradora da comunidade há quase 30 anos ela diz que já enfrentou o perigo muitas vezes, fugindo pelos becos alagados. No simulado ela foi alertada para uma suposta subida das águas, guiada em segurança pela rota de fuga, e transportada em uma Kombi até o abrigo, montado no Centro de Referência de Assistência Social do Castelão (Cras), mesmo destino dos demais moradores cadastrados para o exercício.
Outra que viu no simulado uma importante iniciativa em prol dos moradores do lugar foi Telma Maria da Silva, de 34 anos e nascida na comunidade. Mãe de dois filhos ela diz que as chuvas sempre são motivo de medo. "Sair no meio da noite com os meninos, sem ter pra onde ir, é muito perigoso. Agora com esse apoio que nós estamos recebendo, essa ajuda de todo o pessoal da Defesa Civil de Fortaleza, dos Bombeiros, vai ter menos risco pra todos nós aqui". Telma participou ativamente da organização do exercício e foi quem deu o alarme, via telefone, acionando o sistema de proteção civil e desencadeando todas as etapas do treinamento.
Dinâmica- O telefonema da moradora para o 190 da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança do Ceará (Ciops), avisando da ameaça iminente de transbordamento do rio Cocó, deu a partida para o simulado, às 9h. Acionada de imediato a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Fortaleza (Comdec) envia agentes para a comunidade. Batendo de porta em porta eles vão informando do perigo de inundação e convidando os moradores a deixarem suas casas.
A ação, cuidadosamente planejada, foi toda ela sendo narrada ao microfone pelo agente da Comdec, Roger Barreto, de forma a orientar todos os moradores e não apenas os participantes diretos do evento. A sequência incluiu a organização da população em pequenos grupos; deslocamento pela rota de fuga nos estreitos becos e travessas (não entra carro); chegada ao ponto de apoio próximo a área alagada; embarque nos veículos (Kombi); transporte até o abrigo (Cras); atendimento de emergência e todo tipo de assistência necessária (medicamentos, agasalhos, alimentos e recreação para as crianças).
Em um cenário real de desastre os moradores só serão liberados para retornar às suas casas após cessar a chuva e a água voltar ao leito do rio.
Desabamento- Para dar mais realismo ao exercício os organizadores simularam até um desabamento de parede com uma criança ficando soterrada sob os escombros. O intuito foi mostrar a agilidade dos bombeiros e socorristas chamados para o "salvamento". O garoto foi resgatado, observando todos os cuidados próprios desse tipo de operação, e removido de maca para uma ambulância.
O Simulado de Preparação para Desastres de Fortaleza foi encerrado às 11h, em uma cerimônia com palavras de agradecimento dos coordenadores aos participantes do evento. Luana Gonçalves de Souza, da Secretaria Nacional de Defesa Civil, destacou o caráter educativo do simulado. "As orientações transmitidas aqui serão de grande utilidade em um cenário real de desastre, contribuindo para poupar vidas e reduzindo o sofrimento das pessoas afetadas", afirmou.
Para o coordenador da Defesa Civil de Fortaleza, Alísio Santiago, todos os que participaram do treinamento, incluindo guarda municipal, bombeiros, Defesa Civil do estado (Cedec) e moradores da comunidade, desempenharam exemplarmente o seu papel e estarão muito mais capacitados para agir nos recorrentes casos de enchentes e alagamentos.
Raimundo Veras dos Santos, há 22 anos na comunidade e um dos integrantes do Núcleo de Defesa Civil (Nudec), criado há três anos na Boa Vista, atestou a eficácia do simulado: "Pela minha experiência, eu achei muito positivo. Quando tiver uma chuva forte agora vai ficar bem mais fácil tirar os companheiros e levar todo mundo pra um lugar seguro".