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Sertanejas apostam na criação de tilápia em tanques-rede para gerar renda
Brasília - Vinte mulheres sertanejas do povoado Porto da Barra, no município alagoano de Delmiro Gouveia, encontraram uma alternativa para complementação da renda familiar com a criação de tilápias em tanques-rede no lago Moxotó, na Barragem Apolônio Sales.
Enquanto a maioria dos homens das famílias passa a semana fora de casa trabalhando em ocupações como construção civil, as mulheres dividem-se entre as atividades domésticas e o manejo no cultivo de tilápias. O projeto de criação de tilápias em tanques-rede foi iniciado há quase um mês no povoado de Porto da Barra, a partir de uma parceria da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), vinculada ao Ministério da Integração Nacional, com a Associação de Agricultores do povoado, formada por pouco mais de 140 pessoas descendentes de pescadores. Essa é a primeira unidade de produção do projeto de Porto da Barra.
Segundo o zootecnista Elias Kleiton, analista em desenvolvimento regional da Codevasf em Alagoas, e responsável pela assistência e implantação do projeto, foram cedidos pela Companhia três unidades de produção. "Cada unidade possui sete tanques-rede de 4,8 m³ (metros cúbicos), totalizando 21, sendo o cultivo dividido em três fases: cria, recria e engorda. Inicialmente, na fase chamada de cria, em cada unidade de produção são estocados quatro mil alevinos em um tanque-rede berçário. Após 60 dias é realizada a primeira repicagem, que é a divisão dos peixes juvenis em outros dois tanques-rede, fase chamada de recria. Após mais 60 dias da primeira repicagem é realizada a segunda, dividindo novamente os peixes em quatro tanques-rede, fase chamada de engorda, que se desenvolve até a despesca dos peixes, quando os animais já estão com peso entre 600 e 700 gramas", explicou. Ele acrescentou ainda que o ciclo de cultivo tem duração de 6 meses.
O povoamento de cada unidade de produção é realizado com intervalo de 20 dias, objetivando que a cada mês sejam despescados quatro tanques-rede, com produção entre 1.500 a 2.000 kg de peixes. Além do apoio com todos os insumos necessários para a primeira produção de peixes da associação, a Codevasf disponibiliza assistência técnica visando à transferência de tecnologia para o desenvolvimento sustentável do projeto.
Trabalho alternativo e rentável - Cícero Pereira, presidente da Associação dos Agricultores de Porto da Barra, é um dos três únicos homens, no universo de 23 associados que participam do projeto de criação de tilápia. "Aqui as mulheres mandam. A maioria dos homens viaja para trabalhar e elas ficam aqui, tendo que se virar para ter uma renda. Dai surgiu a ideia de criação das tilápias e estamos apostando nisso", explicou o líder dos associados.
Dona Maria de Lourdes, 55 anos, filha de pescadores de Porto da Barra, cresceu vendo a pesca no Rio São Francisco. Segundo ela, antes do represamento do rio para formação do Lago Moxotó e construção da Hidrelétrica Apolônio Sales, a comunidade vivia da pesca. "Quando a água corria dava mais peixe aqui. Pescava-se de rede, de tarrafa, de batida", afirmou. Mas, de acordo com ela, a criação dos peixes em tanques-rede trouxe ânimo para a comunidade, que passou a sobreviver de agricultura de subsistência e criação de pequenos animais, como galinhas. "Ainda pegamos peixes, mas a criação deve trazer uma rendinha para todos nós", comemorou.
Para a implantação deste projeto, a Codevasf conta com a parceria do SEBRAE/AL, Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Agrário de Alagoas (Seagri) e Prefeitura Municipal de Delmiro Gouveia. Além da Associação de Agricultores do Povoado Porto da Barra, a Codevasf desenvolve projetos de criação de tilápia em tanques-rede com outras oito associações, uma cooperativa e com a Prefeitura Municipal de Pão de Açúcar, a partir do Programa de Arranjos Produtivos Locais (APLs), com ações nos municípios de Penedo, Porto Real do Colégio, Arapiraca, Traipu, Olho D'água do Casado, Delmiro Gouveia, Santana do Ipanema e Pão de Açúcar. Para isso, foram investidos, desde de 2007, cerca de R$ 600 mil somente na aquisição de equipamentos, como tanques-rede e barcos.