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Projeto São Francisco: falcoaria ajuda a reintegrar aves à vida selvagem
Centro da Universidade Federal do Vale do São Francisco reabilita animais machucados ou que se desenvolveram em cativeiros
Falcoaria é a arte de criar, cuidar e treinar falcões e outras aves para a caça. O procedimento, de tradição milenar, é adotado pelo Centro de Conservação e Manejo da Fauna da Caatinga (Cemafauna Caatinga) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), como parte do trabalho de reintegração de animais à vida selvagem na região do Projeto de Integração do Rio São Francisco.
Por meio da falcoaria, o Cemafauna reabilita aves que chegam machucadas ao centro ou com musculatura atrofiada por terem se desenvolvido em cativeiros, o que prejudica a caça e consequentemente dificulta a própria sobrevivência. O trabalho é realizado pelo estagiário Lucas Cabral (foto), de 21 anos, estudante de Medicina Veterinária da Univasf que pratica falcoaria há cerca de uma década.
"Além do cunho educativo, por promover a conscientização ambiental, a falcoaria no Cemafauna tem o intuito de fazer com que as aves retomem seu papel na natureza", explica Cabral, que cuida de aproximadamente 30 aves. Carcará, gavião carijó, gavião carrapateiro, gavião asa-de-telha, falcão peregrino, águia chilena, coruja-de-igrejas são algumas das espécies sob os cuidados do profissional.
Para adquirir mais experiência no ramo, Cabral leu muitos livros e mantém contato com outros falcoeiros. A iniciação na arte ocorreu quando o estagiário tinha 11 anos de idade. "Eu já era acostumado com animais silvestres por causa de um tio que tinha um serpentário. E me apaixonei pelas aves de rapina quando ganhei um gavião, que estava machucado. Foi quando comecei a estudar", conta o profissional, que no início do mês conquistou o 1º lugar em um encontro regional de falcoari, em Conde (PB).
Além do propósito do Cemafauna, a falcoaria ajuda no controle de fauna nociva - animais que interagem de forma negativa com a população humana - em áreas aeroportuárias e agrícolas, evitando acidentes e a caça ilegal de outros animais. Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), cerca de 10% dos acidentes aéreos ocorridos no Brasil resultam da colisão entre aeronaves, obstáculos e pássaros.
Eficiência
Desde 2008 até julho de 2015, aproximadamente 102 mil animais foram resgatados e, desse total, mais de 80 mil retornaram à vida selvagem. Os bichos foram tratados, alimentados e preparados para a reintrodução à natureza.
O trabalho foi reconhecido pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA). O livro "Velho Chico - A experiência da Fiscalização Preventiva Integrada na Bahia", organizado pelo órgão e lançado em fevereiro, cita o Centro como parceiro no acolhimento de bichos resgatados do tráfico e de cativeiros.
O Cemafauna foi construído com recursos do Projeto de Integração do Rio São Francisco, executado pelo Ministério da Integração Nacional (MI).