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Projeto São Francisco estuda morcegos que habitam a Caatinga
Monitoramento desses animais contribui para conhecimento sobre o bioma do empreendimento hídrico
Os morcegos representam 27 das 51 espécies de mamíferos registradas na área de influência das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco. A busca, catalogação e estudo do comportamento desses animais contribuem para o conhecimento sobre a fauna da Caatinga. O trabalho é desenvolvido pelo Centro de Conservação e Manejo de Fauna (Cemafauna) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), localizada em Petrolina (PE).
Dos 48 analistas ambientais do Cemafauna que trabalham diretamente para o Projeto São Francisco, quatro são especializados no monitoramento dos morcegos. Eles integram subprograma Mastofauna (ramo da zoologia que estuda os mamíferos). "Os morcegos são animais com funções ecológicas relevantes dentro dos ecossistemas", explica a doutora em ciências ambientais da Univasf , Cibele Zanon.
Das 27 espécies de morcegos registradas, pertencentes a seis famílias, três são polinizadores, três são dispersores de sementes, 17 participam do controle insetos, duas são hematófogas, uma espécie se alimenta de peixes e uma é onívora (come insetos, frutos e pequenos vertebrados).
O método mais eficiente de catalogação dessas espécies na área do Projeto São Francisco é a busca em cavernas, rochas e abrigos em troncos de árvores e imóveis abandonados. O outro método é a captura com redes de neblina.
Algumas descobertas enriquecem o conhecimento acadêmico em nível internacional, como a colônia da espécie Saccopteryx bilineata, encontrada no reservatório de Atalho (PE) e comum nas Guianas, na Bolívia e nos estados do Acre, Amapá, Maranhão. "É a espécie de maior porte dentro do gênero, com antebraço medindo de 45 a 48 milímetros nos machos e 48 a 51 milímetros nas fêmeas", conta Cibele Zanon.
Preservação
As informações sobre os morcegos da Caatinga contribuem também para a preservação dessas espécies, pois permitem o acompanhamento, por exemplo, do impacto que a instalação de torres com aerogeradores pode causar nas colônias presentes na região. O monitoramento ajuda a reduzir problemas como colisões dos animais com esses geradores - que convertem energia eólica em energia elétrica - e mortes por eletrocussão, em decorrência do choque com linhas transmissão.
"As causas efetivas dessas colisões ainda são desconhecidas, havendo apenas hipóteses que tentam explicá-las. Uma delas é que os aerogeradores exercem atração acústica sobre os morcegos. Por isso, é imprescindível o monitoramento dos quirópteros antes e durante a operação de parques eólicos por um longo período de tempo, de forma a obter dados consistentes", afirma Cibele Zanon. A partir dos estudos, poderão ser adotadas medidas de manejo e de proteção à saúde do bioma.
Sobre o Cemafauna
Construído e equipado com orçamento do Projeto São Francisco, o Cemafauna monitora a entomafauna (insetos) terrestre e aquática, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos nas áreas de influência do Projeto de Integração do Rio São Francisco.
O centro possui ainda laboratórios sofisticados com aparelhos para fazer sequenciamento de DNA, clínica veterinária completa, ultrassom e UTI, corredor de vento para aves em recuperação, serpentário e espaço para outros répteis. O local possui um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), referência regional na recuperação de animais selvagens vítimas do tráfico e de acidentes nas estradas.
O Projeto São Francisco é a maior obra de segurança hídrica em construção no país e vai atender 390 municípios beneficiando 12 milhões de brasileiros. Além das ações de apoio à fauna, possui programas para a flora, pesquisa arqueológica, em prol da educação ambiental, saúde pública, apoio aos municípios da região e cidadania.