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Projeto São Francisco: Cemafauna protege animais ameaçados de extinção
Espécies sob risco resgatadas pelo centro recebem tratamento para reintegração à vida selvagem
O resgate e a reintegração de animais à vida selvagem é uma das atividades de destaque do Centro de Conservação e Manejo da Fauna da Caatinga (Cemafauna), que pertence à Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). E, das espécies avaliadas e tratadas no centro, cujas instalações foram construídas com recursos do Projeto de Integração do Rio São Francisco, algumas são ameaçadas de extinção - projeto é executado pelo Ministério da Integração Nacional (MI).
Um dos exemplos é o gato-mourisco (Puma yagouaroundi). O felino (foto) foi resgatado pela equipe do Cemafauna em abril, após ter sido atropelado no perímetro irrigado senador Nilo Coelho, em Petrolina (PE). Submetido a cirurgia em razão de fratura no fêmur, o animal está em recuperação.
Também encontrada em abril, um cobra mussurana branca (Pseudoboa nigra) habitou o centro antes de retornar à vida selvagem. A espécie é rara e impressionou até especialistas, uma vez que é conhecida pela coloração preta ou malhada.
"Aqui no Cemafauna, os animais são avaliados e, quando necessário, tratados. Quando ficam totalmente aptos, são reintroduzidos em parques ou em outra reserva florestal segura e fiscalizada", explica o veterinário Fabrício Silva, analista ambiental do Cemafauna. "Em alguns casos, chegamos a entrar em contato com fiscais e guardas florestais para saber como está a adaptação".
Uma espécie ameaçada de extinção encontrada com frequência no Cemafauna é o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), mascote da Copa do Mundo de 2014. O último a habitar o centro foi resgatado de uma propriedade particular em Juazeiro (BA). Os tatus-bola figuram entre os alvos prediletos de caçadores.
Nem todos os animais são reintegrados diretamente à natureza. As espécies cujas habilidades de sobrevivência ficam comprometidas são encaminhadas para zoológicos ou criadores científicos credenciados junto a órgãos ambientais. "A estrutura do Cemafauna é um ambiente de passagem, para recuperação e reintrodução à natureza ou transferência para um local mais adequado", detalha o veterinário.
De acordo com o profissional, muitos animais que não podem retornar à natureza podem, por exemplo, procriar. De modo que seus filhotes sejam reintroduzidos à vida selvagem. Silva lembra o caso de uma guaxinim (Procyon cancrivorus) fêmea, resgatada pelo Cemafauna após sofrer um atropelamento. O animal estava em gestação, mas teve os membros paralisados em consequência de uma lesão na coluna.
"A guaxinim permaneceu sob tratamento intensivo, na UTI, e por isso conseguiu ter seu filhote. A mãe não resistiu aos ferimentos, mas a cria seguiu para a vida selvagem", conta o veterinário.
Resgates
Desde 2008 até maio de 2015, aproximadamente 98 mil animais foram resgatados e, desse total, 83,7 mil (85%) retornaram à vida selvagem, calcula o coordenador do Cemafauna, Luiz Cezar Pereira. Os animais foram tratados, alimentados e preparados para a reintrodução à natureza. A estrutura que habilita as espécies para a soltura é composta por instalações com viveiros, jaulas, salas, laboratórios e clínicas veterinárias dotadas de equipamento de ultrassom e UTI.
Nesse período, o centro abrigou mamíferos, anfíbios, répteis e aves resgatados ao longo das obras do Projeto São Francisco. Também é para lá que são encaminhados os bichos vítimas de acidentes rodoviários ou resgatados do tráfico de animais - crime recorrente no sertão brasileiro.