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Pesquisas do Projeto São Francisco revelam que seca existe há 10 mil anos
Ministro da Integração Nacional visitou o Museu do Homem Americano, no Piauí. Parte do acervo é fruto de estudos feitos nos locais das obras do Projeto
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e o governador do Piauí, Wilson Martins, visitaram, nesta sexta-feira (30), o Museu do Homem Americano, localizado no Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI). O acervo apresenta a história do homem de 100 mil anos atrás até a chegada do colonizador branco. O Museu é considerado o mais completo e moderno da América do Sul e possui laboratórios de arqueologia, paleontologia, registros rupestres e vestígios orgânicos e cerâmicos.
"Essa parceria do Projeto do Rio São Francisco e a Fundação do Homem Americano é no sentido de identificar as raízes de nossa história. Estamos impressionados com os achados arqueológicos, que contam um pouco sobre como o homem primitivo vivia no semiárido brasileiro", disse Bezerra Coelho durante visita ao museu.
Parte da exposição é formada por descobertas feitas durante pesquisas arqueológicas nas obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco, que cruza quatro estados brasileiros: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Dois importantes achados ocorreram desde o início dos estudos, em 2009: que a seca existe há 10 mil anos e a confirmação da convivência entre o homem e a megafauna, composta por animais da era do gelo.
"Todas essas descobertas são tão significativas que levam o Ministério da Integração a propor a criação de um novo museu, em Salgueiro, perto da Lagoa do Ouri, onde foram identificados achados arqueológicos impressionantes. Assim, aquele município também se tornará um destino turístico para dodos que se interessam em conhecer as origens do homem do sertão", afirmou o ministro.
Estudos arqueológicos - A pesquisa arqueológica integra as 38 condicionantes ambientais para a construção da obra. O órgão responsável pela atividade é o Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente do Semiárido (Inapas), que tem à frente dos estudos a professora e coordenadora do Departamento de Arqueologia e Pós-Graduação em Arqueologia da UFPE, Anne-Marie Pessis. As novas descobertas já possibilitaram vínculos e cruzamentos importantes com as pesquisas da Fundação do Museu do Homem Americano (Fumdham), lideradas pela professora Niède Guidon.
Anne-Marie destaca que os levantamentos propiciados pelo empreendimento aproximaram pesquisadores de diferentes formações, que unem esforços pela investigação científica. Agora, profissionais como físicos, arquitetos e até especialistas em parasitologia estão mais próximos em campo.
Na opinião da arqueóloga do Museu do Homem Americano, Elisabeth Medeiros, é importante que o acompanhamento dos estudos de grandes obras seja realizado por uma instituição científica. "A troca de informações entre as áreas dá uma nova dimensão à arqueologia, antes setorial e, agora, regional". A pesquisadora salienta ainda que a área das obras do São Francisco é rica em sítios arqueológicos. "Na região de Salgueiro, por exemplo, há vários sítios que podem ser compartilhados e expostos", conta Elisabeth.
Descobertas - Foi nesta região, mais precisamente na Lagoa Uri de Cima, que os pesquisadores encontraram o esqueleto de uma preguiça gigante, com aproximadamente seis metros de altura. Os ossos, hoje expostos no Museu do Homem, indicam que o animal viveu ali há cerca de 12 mil anos. Até o momento, já foram resgatados mais de 90 sítios arqueológicos ao longo do projeto. A partir dos vestígios encontrados, é possível entender como grupos humanos que habitaram o Brasil integravam-se ao meio ambiente, o que produziam e como se alimentavam.
As descobertas indicam que, há 30 mil anos, a região que hoje sofre com a seca já foi úmida e teve uma vegetação rica, capaz de oferecer alimentos aos animais do período quaternário da megafauna, como preguiças-gigantes, tigre-dentes-de-sabre e tatu-pampaterium. Outra evidência é que, embora a região fosse úmida, há indícios que outros períodos de seca ocorreram no sertão nordestino.