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Parceria pela humanização
Sem união, continuaremos a perder vidas nas ruas
Da Folha de São Paulo / Coluna Opinião
Por Alexandre Baldy
25 de setembro de 2018
Não há nada que afete tanto a nossa vida como o trânsito. No Brasil, os acidentes ceifam vidas, deixam sequelas, destroem lares, desconstroem sonhos. Matam perto de 45 mil pessoas ao ano --imaginem um avião de grande porte caindo todos os dias-- e também resultam em mais de 300 mil com lesões graves.
O trânsito que mata também tem um custo social sem precedentes: em rodovias, os acidentes custam à sociedade cerca de R$ 40 bilhões por ano; nas áreas urbanas, cerca de R$ 10 bilhões. Trata-se de uma estatística preocupante, embora estejamosfalando do quinto país do mundo em números absolutos, com uma das maiores frotas de veículos do planeta, estimada em quase 100 milhões de veículos. Temos, enfim, imensa parcela de responsabilidade nessa triste estatística cotidiana.
Os fatores que corroboram a direção perigosa são muitos: o excesso de velocidade nas vias, a mistura de álcool e direção, o não uso dos dispositivos de segurança, como o cinto de segurança, a cadeirinha para as crianças e o capacete e, principalmente, o uso do celular ao volante.
A chamada Lei Seca é um exemplo de instrumento legal que dá celeridade às ações de segurança no trânsito. Motoristas homens, jovens e sob influência de bebidas alcoólicas são mais propensos a estarem envolvidos em acidentes relacionados à velocidade, colocando em constante risco a própria vida e vidas alheias. Estudos mostram que mais de 90% dos acidentes se dão por
falha humana.
A legislação brasileira de trânsito é uma das mais avançadas. O recente lançamento da edição comemorativa dos 20 anos do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) nos coloca na vanguarda.
Precisamos, agora, focar não apenas nas infrações, mas, sobretudo, na educação e na conscientização para o trânsito, algo fundamental e que deve começar cedo, na grade curricular das escolas, na comunidade e na família, o esteio da formação cidadã.
É para isso que nós, no âmbito do Ministério das Cidades, por meio do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), em parceria com os diversos atores que compõem a nossa estrutura viária, estamos trabalhando duro. Para chegar à meta de zero morte no trânsito!
Vislumbrando inserir o Brasil num seleto rol de nações realmente
preocupadas com essa mazela social, nosso compromisso, juntamente com outros 152 países, é adotar e colocar em prática um conjunto de medidas que visam de fato à implementação das políticas públicas de prevenção de acidentes de trânsito.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o período de 2011 a 2020 como a "Década de Ações para Segurança no Trânsito". O documento recomenda aos países-membros a elaboração de um plano diretor para guiar as ações nessa área, tendo como meta diminuir pela metade os acidentes com vítimas fatais e lesionados em todo o mundo. Para isso, criamos o Plano
Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) que atenderá a essas exigências.
O que se pretende é fazer com que cada cidadão se sinta parte do trânsito, seja um multiplicador, compromissado com as boas práticas.
Acreditamos que seja somente por meio de um amplo esforço que vamos promover um trânsito seguro, onde motoristas, passageiros, ciclistas e pedestres, enfim, todos sejam protagonistas de ações propositivas, salvando vidas, permitindo diariamente que mais e mais brasileiros e brasileiras cheguem as suas casas, ao fim do dia, com segurança. Ou nos unimos em torno da preservação de vidas agora ou continuaremos a lamentar perdas e mortes.
Originalmente publicado na Folha de São Paulo – Versão Online e Impressa.
Online: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/09/parceria-pela-humanizacao.shtml
Impressa: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/09/25/