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Ministério da Integração Nacional forma 1ª turma de agentes comunitários de defesa civil
O objetivo do curso é capacitar 2.500 pessoas até fim do ano
O agente sanitário de saúde André Luiz Faria Vieira, de 36 anos, ajudou a tirar dos escombros 18 corpos de moradores de Nova Friburgo em 2011. Neste grupo de vítimas dos deslizamentos causados pelas chuvas de verão, havia uma família inteira, amigos que ele conhecia de uma vida toda. À época, André ajudou no feeling, sem qualquer conhecimento técnico - chegou até a deslocar o ombro por mover um vergalhão de forma inapropriada.
Para que seus esforços se tornassem mais efetivos, ele se formou ontem na primeira turma de agentes comunitários de defesa civil, parceria da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de universidades federais do Rio. O objetivo é que os 60 profissionais capacitados no projeto-piloto melhorem a percepção de risco dos moradores, orientem as famílias quanto às rotas de fuga pré-estabelecidas, ajudem no processo de evacuação na iminência de desastre natural e formem multiplicadores nas comunidades.
"Estou muito motivado com tudo que aprendi no curso e disposto a pôr os conhecimentos adquiridos em prática. Uma de minhas metas de curto prazo é transformar a igreja da comunidade São Geraldo em abrigo em caso de desastre", conta André Luiz, depois de receber seu certificado no Palácio Itaboraí, em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. "Não quero que Ana Luíza, minha filha de sete anos, sofra o que sofri. Precisamos começar a mudança hoje".
A meta do secretário Nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, é atingir zero óbito por desastres naturais no país. "Os desastres vão acontecer, mas, se prepararmos a população de forma adequada, reduziremos as mortes e nos aproximaremos do zero. Para isso, temos de criar uma cultura de prevenção. Não se faz prevenção sem pessoas. É fundamental formar agentes comunitários de defesa civil em todo o Brasil", diz Humberto Viana.
O coordenador do curso de Agentes Locais de Vigilância em Saúde em Defesa Civil, Carlos Machado, da Fiocruz, reforça o papel dos agentes como peças-chave na prevenção e na minimização dos impactos dos desastres naturais. "Eles são o elo entre o poder público e a comunidade, pois vivenciam a realidade dos moradores, desenvolvem um relacionamento de confiança com eles e conhecem as áreas de risco muito bem", fundamenta Carlos.
Agentes de saúde, de vigilância em saúde e ambiental, de endemia e de proteção dos municípios de Friburgo, de Petrópolis, de Teresópolis e do Rio de Janeiro participaram do projeto-piloto. Foram 90 horas (50 presenciais e 40 online) divididas em atividades como estudos dirigidos e trabalhos de campo orientados. A ideia é que o aprendizado se torne totalmente à distância quando replicado para todo o país, com material didático adaptado a cada realidade geográfica. Espera-se realizar 2.500 capacitações online até o fim deste ano.
Multiplicadores
Os 60 agentes capacitados nesta primeira turma atuarão como multiplicadores em seus respectivos municípios, sob a supervisão técnica da Fiocruz, para formar cerca de 420 profissionais no estado do Rio de Janeiro. É o caso da agente de saúde Rosângela Gomes, de 55 anos, que atua desde 2008 na comunidade do Andaraí, Zona Norte da capital carioca.
"A riqueza de detalhes acumulada por um agente comunitário em sua convivência com os moradores faz toda a diferença em um momento de desastre. O profissional sabe que em uma casa há um bebê, que em outra há um idoso, que em outra há um cadeirante; esse tipo de informação tornará o socorro a este tipo de pessoa mais ágil, mais efetivo", afirma.