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Irrigação muda vida de "Brasileiro" no oeste da Bahia
No município de Riachão das Neves, no perímetro de Nupeba, localizado no Estado da Bahia, o irrigante Alberto Alves Brasileiro mudou sua história de vida.
Nascido no município baiano de Itiúba, aos 64 anos, casado e pai de 10 filhos, Brasileiro relata emocionado como conseguiu sobreviver na agricultura irrigada mesmo sem conhecimento da atividade. "Eu não tenho estudo nenhum. Vendia doce quebra-queixo e broá na rua. Depois comecei a trabalhar na agricultura a serviço de outras pessoas em Barreiras", conta o agricultor.
Ele relata que em 1994, quando estava no município de Barreiras, soube do projeto de irrigaçãoNupeba. "Eu tomei conhecimento do projeto por outras pessoas e decidi fazer a inscrição sem fé nenhuma. Não achava que receberia o lote. Mas fui contemplado com sete hectares e entrei em Nupeba no ano de 97, sem conhecimento do que iria plantar", relata Brasileiro.
O resultado para o início da produção não poderia ser diferente. Com a falta de experiência e prática, a colheita de Brasileiro fracassou várias vezes. "No início plantei feijão, arroz, limão e coco. Nada deu certo. Não tinha comprador e perdia tudo que plantava. Passei muita fome e não tinha dinheiro. Chegou ao ponto de o Distrito de Irrigação ter que cortar minha água, usada na produção, porque minha dívida era grande", afirma.
Mesmo com todas as dificuldades, o agricultor não desistiu. Ele decidiu contar sua inexperiência para o gerente do Distrito da época, Antônio Carvalho, que ficou comovido com a situação do irrigante e negociou sua dívida, evitando o corte no fornecimento de água para o seu lote. "Eu tinha que tentar produzir mais uma vez e precisava de água. Só era o que eu tinha para sobreviver com minha família: aquele pedaço de terra. Graças a Deus, o gerente do Distrito me ajudou", diz.
Brasileiro e outros pequenos irrigantes que não tinham perfil de empreendedor rural foram selecionados para os perímetros Nupeba e Riacho Grande, adquiriram financiamentos, implantaram suas culturas e se endividaram. Quando iniciaram suas colheitas, não havia condições no mercado local para absorver seus produtos. Pobres e endividados, esses agricultores passaram por dificuldades, alguns deles não tinham dinheiro para pagar a conta de água (k2) do seu lote.
Naquele momento, cortar o fornecimento de água significaria matar as culturas implantadas no lote, o que inviabilizaria a permanência do irrigante no Perímetro. "Fico feliz em saber que Brasileiro continua na irrigação, produzindo e criando sua família com dignidade", declara Antonio Carvalho, ex-gerente executivo do Distrito de Irrigação Nupeba e Riacho Grande.
Em 2004, Brasileiro mudou sua história. Recebeu ajuda de outro irrigante que entendia de agricultura e se especializou. "Conheci o César, que me ensinou a produzir banana. Hoje produzo só a fruta no meu lote. Vendo para outros Estados com uma produção muito boa e com isso tenho o sustento da minha família, minha casa própria e a certeza de que a plantação do meu lote está no caminho certo", comemora.
Para o secretário nacional de Irrigação, Miguel Ivan, a irrigação pode mudar a realidade de famílias e comunidades inteiras. "Temos um compromisso de reduzir, por meio da agricultura irrigada, uma dívida social histórica. E essa dívida pode ser paga se investirmos maciçamente na capacitação de pequenos agricultores. A irrigação, como técnica de produção, tem que ser acessível ao pequeno irrigante", destaca o secretário.