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Águas do Velho Chico possibilitam criação de camarão no interior da Paraíba
Além do abastecimento para um milhão de pessoas, Eixo Leste do Projeto São Francisco está garantindo nova atividade econômica no município de Monteiro
Uma iniciativa pioneira de cultivo de camarão marinho está surpreendendo técnicos e produtores no estado da Paraíba. Localizada no Cariri paraibano, na cidade de Monteiro, os proprietários da Fazenda Terra do Sol iniciaram a nova criação em outubro do último ano - nove meses após a chegada das águas do Projeto de Integração do Rio São Francisco à região. A expectativa é realizar a primeira pesca do marisco em dezembro deste ano.
A espécie escolhida é a Litopenaeus vannamei, - conhecida como camarão cinza e, também, a mais procurada para fins comerciais. No último mês de agosto, as primeiras larvas da fazenda foram colocadas nos berçários (raceways) para posterior engorda nos viveiros. "Temos a expectativa de produzir, em média, 2.000 a 2.500 quilos de camarão em um sistema de quatro ciclos por ano", comemora o zootecnista responsável pela gerência do projeto, Jairton Sena.
Ao todo, nove profissionais - familiares, inclusive - trabalham na iniciativa. Os técnicos da fazenda captam a água do Projeto São Francisco no Rio Paraíba até os tanques de criação, onde realizam tratamento do pH e controle de salinidade. O objetivo é adequar o recurso, o máximo possível, às condições marinhas.
Além disso, para driblar as bruscas variações de temperatura diurnas e noturnas no local, um sistema de estufas também está em implementação afim de garantir a estabilidade térmica da água. Esse é a última fase do processo. As estruturas ainda afastam a 'doença da mancha branca' - considerada o terror dos produtores de camarão, justamente em razão da elevada taxa de mortalidade da espécie.
Até o ano passado, a atividade econômica seria impensável na localidade devido à irregularidade das chuvas. A chegada das águas do 'Velho Chico' foi o diferencial nesse procedimento, de acordo com Jairton Sena. "Inicialmente, o projeto de criação de camarão seria a partir de poços, mas é necessária uma vazão muito grande. O Projeto São Francisco melhorou bastante o volume de água. Agora, a produção será melhor assistida e a captação eficaz", disse.
Reuso de água
O projeto também foi pensado para atender a critérios ambientais ao seguir a tendência mundial de reuso da água, que ocorrerá após a captação do recurso no Rio Paraíba e as fases de engorda e pesca do camarão. "Quando eu fizer a despesca, a água utilizada vai toda para a bacia de recirculação. Depois bombeio de volta. Com isso, a minha captação vai ser apenas uma vez", explica o zootecnista.
Desenvolvimento
É apostando em inovação e formação para os criadores que a Paraíba vem se destacando no cenário nacional de criação de camarões. Segundo levantamento da Associação dos Carcinicultores do estado, o Vale do Paraíba apresenta, em função das condições físico-químicas da água, a maior média nacional em relação à produtividade.
O estado tem 16 toneladas por hectare/ano, quando a média nacional, em sistemas similares, não passa de seis toneladas. "Hoje vemos com alegria o aumento exponencial da produção de camarão na bacia do Paraíba", comemora André Jansen, presidente da Associação dos Carcinicultores do estado e consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em Monteiro.
Uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), realizada em 2003, já demonstrava o alto índice de geração de emprego propiciado pela carcinicultura. Naquela ocasião, a diferença estava de 3,75 postos de trabalho, enquanto a fruticultura irrigada registrou uma média de 1,3 empregos.
"Hoje estamos focados na capacitação e defesa dos produtores. A água do São Francisco nos trouxe garantia hídrica. Agora é trabalhar para aumentarmos a produção dessa proteína, que é um produto nobre e de grande aceitação no mercado", finaliza André Jansen ao fazer planos para o futuro econômico do estado.