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A cidade precisa do trem (ARTIGO)
Leia artigo do superintendente da Sudeco, Marcelo Dourado, publicado no Correio Brasiliense
As avenidas largas imaginadas por Lucio Costa ao criar Brasília, estão cada vez menores para suportar o trânsito da Capital. Já temos 1,3 milhão de veículos circulando no DF.
Pode parecer paradoxal, contudo, com tantos carros nas ruas e com o modelo atual de transporte baseado no modal rodoviário, a cidade está parando, paralisada e engessada nos engarrafamentos cada vez maiores, que já fazem parte do dia a dia do brasiliense. Se gasta, no mínimo, o dobro do tempo para vencer distâncias, antes percorridas em 15 minutos.
O mar da Capital da Esperança, céu azul da cidade cantado em verso e prosa pelo poeta, já não está tão puro, em função do dióxido de carbono despejado na atmosfera pelos veículos automotores na queima de combustível fóssil - um dos grandes vilões do aquecimento global. Diante de um quadro como esse, é preciso agir rápido e apresentar soluções alternativas para o processo de asfixia que começa a tomar conta da cidade que tanto amamos.
Estudos mostram que, nos países desenvolvidos, lentamente as pessoas estão migrando do transporte rodoviário e poluente para o coletivo e limpo na forma do trem e, também, da bicicleta. De modo geral, os países que têm sucesso no transporte público usam como principal referência o modal de transporte ferroviário de passageiros. Podemos citar o caso das grandes cidades na Europa, Estados Unidos e Ásia, com destaque para China, com seus 1,2 bilhão de habitantes. Para organizar o transporte de enormes contingentes populacionais nas metrópolis, é necessário usar de forma efetiva a ferrovia, sejam os trens de superfície ou subterrâneos (metrô).
Desde abril deste ano, por delegação do Governo Federal, a SUDECO coordena, o G10, grupo intergovernamental, formado pelos secretários do DF/Goiás, representantes da ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres e representante dos municípios do Entorno, criado com o objetivo de elaborar um diagnóstico e apontar soluções para a problemática do transporte semi-urbano na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (RIDE).
Em maio, organizamos, em conjunto com a Universidade de Brasília e GDF, o seminário "Transporte nos Trilhos: Distrito Federal e Região rumo à mobilidade verde, sustentável", que contou com a participação de técnicos do Poder Público, academia e sociedade civil organizada. A conclusão unânime de especialistas e cidadãos - o trem é vacina eficaz para a doença crônica da perda gradativa de locomoção na região metropolitana da Brasília.
No mês passado tive a oportunidade de percorrer a ferrovia que liga Brasília à Luziânia, hoje utilizada somente para transporte de cargas. Durante a viagem, técnicos da ANTT relataram que o custo de adaptação para transformá-la em ferrovia para uso de passageiros é relativamente pequeno, comparado aos benefícios que ela traria para uma população de 430 mil pessoas espalhadas em várias cidades cortadas pelos trilhos, tais como: Guará, Núcleo Bandeirante, SIA, Valparaíso, Cidade Ocidental, dentre outras. Por ironia do destino, fiz a viagem de volta à Brasília de carro, pegando um engarrafamento de quase uma hora na EPIA para chegar ao Plano Piloto.
No Plano de Desenvolvimento dos Transportes Urbanos do Distrito Federal (PDTU/GDF) está previsto a integração com outros modais de transporte a partir do ponto final do trem localizado na Rodoferroviária. Vale registrar que a linha cruza com o metrô no Guará. Há uma previsão inicial para que a licitação do trecho Brasília-Luziânia seja feita em até 120 dias pela ANTT, órgão responsável pela concessão da linha, e, se tudo correr bem, até o final de 2012 o trajeto já poderá ser oferecido à população com a utilização de um trem leve, ou seja, um veículo leve sobre trilhos - VLT, que poderia desenvolver até 80 Km/h.