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Educação, lazer e inclusão social
Segundo Tempo e Forças no Esporte ganham novas dimensões sociais durante a pandemia
Responsável por propiciar atividade física no contraturno escolar a quatro milhões de crianças e adolescentes entre seis e 18 anos desde a sua criação, o Programa Segundo Tempo (PST) e a sua modalidade Forças no Esporte (Profesp) ganharam nova função social durante a pandemia da Covid-19. Com as aulas presenciais suspensas por todo o país, os beneficiários, oriundos principalmente de famílias em situação de vulnerabilidade, também ficaram sem o acesso às duas refeições disponibilizadas pela iniciativa.
A manutenção da alimentação que tempos atrás fornecíamos às crianças, transformada em kits, funcionou como um instrumento para manter o vínculo com essas crianças e, principalmente, para minimizar a dor, a situação que a Covid-19 causou à população brasileira em relação à sua subsistência”
Coronel De Moraes, coordenador nacional do Forças no Esporte
Para amenizar os impactos da pandemia na rotina dessas pessoas, os Ministérios da Cidadania e o da Defesa passaram a distribuir ao longo de 2020 kits de alimentação para os integrantes do Forças no Esporte. Apenas entre abril e junho foram 30 mil cestas básicas doadas e houve ações especiais com doações de brinquedos no Natal. Segundo o coronel De Moraes, coordenador nacional do Profesp, um Termo de Execução Descentralizada (TED) foi assinado no valor de R$ 12 milhões para manter as ações ativas em 2021. Os recursos foram distribuídos entre as três Forças Armadas.
“A manutenção da alimentação que tempos atrás fornecíamos às crianças, transformada em kits, funcionou como um instrumento para manter o vínculo com essas crianças e, principalmente, para minimizar a dor, a situação que a Covid-19 causou à população brasileira em relação à sua subsistência”, diz De Moraes.
Aluna do núcleo sediado no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília (GptFNB), Ana Clara dos Santos Vaz, 12 anos, recebeu o kit alimentação em uma entrega feita no início de fevereiro. “Na minha casa tem seis pessoas, então os alimentos ajudam muito. Sinto muita falta das aulas do Profesp e também da alimentação que é saudável e gostosa”, afirma a jovem, que faz parte da banda de música do programa.
Para a secretária nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (Snelis), Fabíola Molina, o programa fortalece a missão da pasta de promover o esporte educacional e social no país. “A atual gestão da Secretaria Especial do Esporte se preocupa muito com a dimensão educacional e social do esporte. Ao propiciarmos atividades no contraturno escolar, geramos qualidade de vida, o gosto pela prática de atividades físicas, oportunidades de formação de uma nova geração de atletas e, sobretudo, promovemos o crescimento de nossas crianças e adolescentes como cidadãos”, diz Fabiola. "As adaptações nesse período foram essenciais para não deixarmos o público que atendemos desassistido", completa.
O Forças no Esporte (Profesp) atende a 29,9 mil pessoas de 139 cidades de todos os estados do país, incluindo áreas de fronteira, 17 comunidades indígenas e o território da Amazônia Legal. São 313 núcleos sediados em 202 Organizações Militares, locais onde as atividades são oferecidas.
“Nós temos indicadores de que não só a alimentação, mas o currículo e a prática desportiva promovem o desenvolvimento tanto no desempenho escolar quanto físico”, afirma De Moraes. “É notória a transformação que o Forças no Esporte causa na nossa juventude, principalmente aquela em estado de vulnerabilidade social, internalizando valores, minimizando a fome e abrindo novas perspectivas de futuro para essa geração”.
Ajuda aos universitários
O Programa Segundo Tempo (PST) beneficia atualmente 20,47 mil crianças e jovens, com um investimento, apenas em 2020, de R$ 20,58 milhões. A iniciativa conta com 85 parcerias para manter 176 núcleos ativos em todos os estados do país. As universidades públicas aparecem como uma das instituições mais importantes para o desenvolvimento das ações. Uma vertente do PST, inclusive, é voltada para estudantes do terceiro grau, com núcleos que atendem até 300 pessoas.
A criança aprende a conviver em grupo, aprende as modalidades, têm melhoria comportamental. Há estudos que mostram que as crianças mais ativas têm melhor rendimento escolar. A prática da atividade física é fundamental não somente para a saúde, mas para a melhoria da qualidade de vida, de conhecimento, raciocínio, tomada de decisão, destreza”
Guilherme Pussieldi, professor de educação física da Universidade Federal de Viçosa
Professora de educação física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar/SP), Ana Cláudia Duarte destaca que antigamente a disciplina Prática Desportiva era obrigatória para diversos cursos e hoje os estudantes têm no Segundo Tempo a oportunidade de realizar atividades físicas com outro foco. “A primeira coisa que nos motivou a implantar o programa foi propiciar essa vertente do esporte educacional aos universitários. A educação física era obrigatória no terceiro grau. Para além do ensino na graduação do próprio curso, a gente tinha que dar aula para todos os outros cursos”.
A docente espera utilizar o projeto também como fonte para pesquisas. “Queremos mostrar para a universidade que o investimento vale a pena. Estamos indo atrás de indicadores. Uma aluna de doutorado vai ver os efeitos do esporte educacional sobre as variáveis fisiológicas de saúde, redução de doenças crônicas não transmissíveis e qualidade de saúde mental dos estudantes universitários do programa”, explica Ana Cláudia.
O Segundo Tempo ainda tem outro aspecto que casa com o tripé das universidades públicas, que além do ensino e da pesquisa, se pautam pela extensão. Professor de educação física e secretário de Esportes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Juliano Fernandes ressalta que o programa gera aproximação com a comunidade fora da Academia. “A nossa universidade tem vocação forte na extensão e a gente vê o Segundo Tempo como um caminho para fortalecer a relação com a comunidade vizinha. Muitas crianças não reconhecem a universidade como local de prática esportiva, mesmo havendo uma comunidade carente aqui perto”, aponta.
A extensão integra o currículo de educação física na UFSC. Dessa forma, o professor Juliano Fernandes acredita que os estudantes ficarão mais estimulados a integrarem o projeto. “É uma experiência prática com a coordenação dos professores. Teremos reuniões pedagógicas em que vão ser discutidas as atividades semanais, definido o que vai ser trabalhado e cada um traz uma proposta. Isso desperta o estudante para ser um organizador de atividades e não só mero receptor, o faz entender a questão social e o desenvolvimento da criança e do adolescente”.
Na outra ponta, as atividades são uma oportunidade de desenvolvimento para os beneficiados, tanto em relação às habilidades motoras como na socialização. É o que explica o professor de educação física da Universidade Federal de Viçosa (UFV/ MG), Guilherme Pussieldi. “A criança aprende a conviver em grupo, aprende as modalidades esportivas, têm melhoria comportamental. Há estudos que mostram que as crianças mais ativas têm melhor rendimento escolar. Isso é fundamental. Se a criança está fazendo esporte, não vai estar na rua. A prática da atividade física é fundamental não somente para a saúde, mas para a melhoria da qualidade de vida, de conhecimento, raciocínio, tomada de decisão, destreza, enfim, para as habilidades cognitivas”, enumera.
As três instituições contarão com dois núcleos padrão, para até 100 alunos da rede pública de ensino, e um núcleo universitário cada. No modelo padrão, cada beneficiado pode praticar até duas modalidades coletivas e uma individual no contraturno escolar, num total de até seis horas por semana. O núcleo pode ser estabelecido em escolas ou em espaços comunitários (públicos ou privados).
Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania