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Tênis de mesa
Bolsista e top ten mundial, Calderano retorna às competições com a semifinal da Bundesliga, na Alemanha
Ginásio sem torcida, atletas com máscaras quando estão fora da área de jogo, todos os sets no mesmo lado da mesa. Sexto colocado no ranking mundial e integrante da categoria pódio do Bolsa Atleta do Ministério da Cidadania, Hugo Calderano retoma nesta quinta-feira (11.06) sua rotina de torneios profissionais na Alemanha diante de uma realidade e de um cronograma bem distintos daquele que conhecia em março. Quando foi eliminado nas oitavas de final do Aberto do Catar, há três meses, Calderano não fazia ideia de que aquela seria a última competição do circuito internacional de tênis de mesa antes da paralisação do calendário esportivo diante da pandemia do novo coronavírus.
Nesta quinta, a equipe de Hugo, o Liebherr Ochsenhausen, enfrenta o Borussia Düsseldorf pelas semifinais da Bundesliga, a liga alemã da modalidade, a partir das 8h (de Brasília). O time do brasileiro é o atual campeão. Venceu em 2019 quebrando uma sequência de cinco títulos do próprio Düsseldorf. Nesta temporada, o Ochsenhausen teve a terceira melhor campanha da fase de classificação. Originalmente, as semifinais seriam em melhor de três confrontos, mas o regulamento foi ajustado em duelo único para cumprir precauções sanitárias.
Diante de uma realidade em que clubes, equipes e atletas passam por dificuldades econômicas, com alguns casos de contratos e patrocínios revogados, Calderano se considera um privilegiado por ter mantido intactas a estrutura de treinamentos e de manutenção.
“Eu tive a sorte de continuar contando com meus patrocinadores mesmo durante esse período, e o apoio que recebo do Bolsa Atleta há 10 anos foi e ainda é muito importante para me ajudar a cumprir o planejamento e continuar sempre evoluindo”, comentou o brasileiro.
Eu tive a sorte de continuar contando com meus patrocinadores mesmo durante esse período, e o apoio que recebo do Bolsa Atleta há dez anos foi e ainda é muito importante para me ajudar a cumprir o planejamento e continuar sempre evoluindo”
Hugo Calderano
“A Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania manteve o pagamento dos benefícios a todos os nossos atletas. Competições de modalidades olímpicas e paralímpicas foram canceladas nos circuitos internacionais e muitos dos atletas ficaram impedidos de treinar, de se preparar adequadamente e de comprovar resultados. Para nós, o Bolsa Atleta é uma permanente ferramenta de formação e aprimoramento”, afirmou Marcelo Magalhães, secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
Jogos Olímpicos
O adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio para 2021, o congelamento do ranking internacional e a grande variabilidade de realidades entre os países diante da crise do coronavírus impuseram a Hugo e ao seu treinador um novo desafio.
“Nós vamos ter que refazer o planejamento para chegar a Tóquio em 2021 na melhor forma possível. É claro que fiquei frustrado com o adiamento, mas acho que posso tirar proveito da situação e chegar ainda mais forte em 2021, com mais um ano de treino”, ponderou o atleta.
“A verdade é que pouco se sabe sobre a volta dos torneios internacionais e sobre como o ranking vai ser afetado. Claro que em cada lugar as condições de treinamento estão sendo diferentes, mas acho que, antes das competições formais voltarem, a maioria dos atletas terá tempo suficiente de treino para voltar em boa forma”, completou.
Do improviso às adaptações
Durante o isolamento social, o brasileiro passou por uma fase de improviso: levou uma mesa para o apartamento em que vive na pequena cidade alemã para treinar com Vitor Ishiy, amigo e também integrante da Seleção Brasileira. O piso, a iluminação e o espaço eram bem distintos do ideal, mas permitiram aos atletas seguirem ativos. Depois, quando a retomada dos treinos foi permitida, ele se viu diante de uma série de adaptações, com menos atletas simultâneos no ginásio e variabilidade menor de parceiros.
“A diversidade dos colegas de treino realmente foi pequena, mas não acho que isso tenha sido um problema. Estou muito bem preparado. Tive bastante tempo de treino e estou bem física e tecnicamente”, afirmou Calderano. “Logo que fomos liberados para usar o ginásio, a qualidade e a intensidade da prática foram maiores. Como não havia competição próxima, pude me focar somente em evoluir o meu jogo com tranquilidade e sem estresse adicional”, completou Calderano, que também teve condições de se recuperar plenamente de uma contusão no quadril adquirida no início do ano.
“A diversidade dos colegas de treino realmente foi pequena, mas não acho que isso tenha sido um problema. Estou muito bem preparado. Tive bastante tempo de treino e estou bem física e tecnicamente”
Na opinião do técnico de Hugo, Jean-René Mounie, mesmo diante das condições especiais impostas pela quarentena, o intervalo teve pontos positivos. “Quando cheguei após o período de confinamento, avaliei que a qualidade dos treinos do Hugo foi ótima. Esse intervalo deu uma boa oportunidade para o corpo dele descansar. Ter quase uma competição por semana não é saudável e parar isso alguns meses pode ter sido favorável”, avaliou.
Tanto ele quanto Hugo reconhecem, entretanto, que a falta de ritmo é um fator que deixa uma dose de imprevisibilidade sobre as performances nesse retorno. “A minha sensação é de que ele achou o caminho certo, mas vamos ver o que vai acontecer. Não dá para prever nada porque não temos referências há meses, mas sei que ele pode estrear com a sensação de um trabalho bem feito”, disse Jean-René. “O maior desafio, certamente, vai ser lidar com essa falta de ritmo e jogos oficiais nos últimos três meses”, completou Hugo.
Na primeira das semifinais do torneio, disputada nesta quarta-feira (10.06), o Saarbrücken passou pelo Werder Bremen por 3 x 0, com vitórias de Shang Kun sobre Kirill Gerassimenko (3 x 1), de Patrick Franziska sobre o atual vice-campeão mundial, o sueco Mattias Falck (3 x 0), e de Darko Jorgic sobre o paraguaio Marcelo Aguirre (3 x 1). A final será no domingo, a partir das 9h (de Brasília).
Viés de alta
Antes da pandemia, Hugo vinha de grandes resultados. Em 2019, o brasileiro teve uma temporada marcada pela regularidade, o que lhe rendeu uma posição sólida entre os melhores do mundo. O brasileiro passou a maior parte da temporada em sexto lugar no ranking - ao todo, já são 20 meses seguidos no Top 10.
Com 78,7% de aproveitamento no ano, Hugo esteve recorrentemente nas fases finais do Circuito Mundial. Em oito etapas disputadas, incluindo o Grand Finals, o carioca chegou duas vezes às semifinais e quatro às quartas. Além disso, teve seu melhor desempenho em Mundiais, parando apenas diante do eventual campeão Ma Long, nas oitavas.
Seu resultado mais importante na temporada foram as duas medalhas de ouro - simples e duplas masculinas - conquistadas nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. O bicampeonato individual lhe assegurou vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Gustavo Cunha – rededoesporte.gov.br