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Primeira Infância
Criança Feliz completa quatro anos e leva promoção da cidadania e atendimento à primeira infância a patamares inéditos no Brasil
Juliene da Silva Rodrigues participava de um curso de capacitação no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de sua cidade, o Novo Gama (GO), quando ouviu falar pela primeira vez do Criança Feliz. Ela é mãe de João Carlos, de quatro anos, e de Maria Clara, de três. Ambos passaram a ser acompanhados pelo programa do Governo Federal há dois anos. Brincadeiras, dicas de saúde e uma série de atividades para estreitar laços afetivos e desenvolver habilidades motoras e cognitivas passaram a fazer parte de sua rotina. “Eles eram mais quietos e brigavam muito. A Clara quase não falava, era tímida demais. Agora fala, sabe as cores e números. Meus filhos se desenvolveram muito”, avaliou Juliene.
A experiência pontual de Juliene no entorno do Distrito Federal é similar à de 871 mil famílias em todo o país. Considerado o maior programa de visitação domiciliar para a primeira infância do mundo, o Criança Feliz completa, em outubro de 2020, quatro anos de atuação com uma coleção de números, experiências superlativas e incentivo à construção da cidadania.
Juliene com os filhos João Carlos e Maria Clara: suporte constante do Criança Feliz. Foto: Arquivo pessoal |
Nesse período, os 26.048 profissionais cadastrados no programa superaram o patamar de um milhão de visitas. Isso significa dizer que mais de 888 mil crianças e de 200 mil gestantes foram acompanhadas, em 2.781 municípios, por uma rede de visitadores, supervisores e coordenadores. No Núcleo do Novo Gama, por exemplo, um supervisor e oito visitadoras atendem 200 famílias. Em média, cada visitadora cuida de 25 famílias.
Diante do aniversário do programa e dessa grande proporção de atendimentos que já conseguimos realizar, agora estamos diante do desafio de investir na qualificação do serviço e na ampliação da escala, para que outras famílias possam ter acesso. É um olhar de cuidado do Governo Federal com as crianças na primeira infância”
Luciana Siqueira, secretária nacional de Atenção à Primeira Infância do Ministério da Cidadania
Além da abrangência e do reconhecimento nacional, o programa também tem respaldo internacional. Em 2019, recebeu o prêmio Wise Awards na Cúpula Mundial de Inovação para a Educação, no Catar , como uma das seis iniciativas mais inovadoras do mundo no enfrentamento aos desafios globais de educação. O programa tem o reconhecimento de entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A aposta do Criança Feliz é múltipla e transversal. As visitas domiciliares semanais trabalham fortalecimento de laços parentais, cuidados e estimulação para que os pequenos desenvolvam todo o seu potencial intelectual, habilidade motora e social. Em outra frente, o atendimento conecta as famílias a políticas públicas voltadas para pessoas em situação de vulnerabilidade.
“ O Brasil é um país que acredita que investir nos primeiros anos de vida faz toda a diferença. O Criança Feliz traz uma proposta de estímulo relacionado ao desenvolvimento da criança, ao fortalecimento do vínculo familiar, sempre enfatizando a importância do brincar em família, da leitura ”, afirmou a secretária nacional de Atenção à Primeira Infância do Ministério da Cidadania, Luciana Siqueira.
“Diante do aniversário do programa e dessa grande proporção de atendimentos que já conseguimos realizar, agora estamos diante do desafio de investir na qualificação do serviço e na ampliação da escala, para que outras famílias possam ter acesso. É um olhar de cuidado do Governo Federal com as crianças na primeira infância”, completou Luciana.
A secretária Luciana Siqueira com a equipe do Criança Feliz em Luziânia (GO). Foto: Arquivo pessoal |
No toque e no olhar, a cumplicidade
Miriam Mendonça de Souza Fernandes é supervisora e foi precursora na implantação do Criança Feliz no município de Luziânia (GO), em 2019, depois de receber capacitação em Goiânia. “Quando decidi coordenar o programa, ouvi uma pessoa falar para mim que eu tinha pegado uma bomba. Até me deu um pouco de receio de encarar um programa novo, mas mesmo assim fui adiante. Muitas pessoas têm preguiça, porque não é fácil educar, e a educação começa na base, na primeira infância. Fiz a capacitação e voltei com muito conhecimento. Quando as visitadoras estavam capacitadas, começamos os atendimentos. O que o Criança Feliz nos trouxe foi extraordinário”.
Miriam conta que o programa fez diferença inclusive em sua vida pessoal, com a filha Larissa, hoje com três anos. “Aprendi o quanto é importante a fase de amamentação, a questão de olhar, de conversar. Passei a ter mais calma na hora de amamentar, coisa que não fiz com a minha mais velha, de 13 anos. Com a Larissa, coloquei em prática as diretrizes do Criança Feliz. Uma das coisas que mais me impactou foi a questão do ouvir, da atenção, do olhar, do vínculo, de sempre abraçar, dizer que ama, de se alegrar com as conquistas, de perguntar como a criança está, de compreender o que ela está querendo dizer com expressões corporais”, listou.
Pioneirismo e criação de vínculos
Mara Lúcia, supervisora e coordenadora em Porto Belo (SC): "A mãe espera muito a visitadora, porque muitas vezes aquela mãe é sozinha, às vezes está com depressão pós-parto, às vezes não se dá bem com a família, e a única pessoa com quem tem vínculo e que não julga e conversa é a visitadora”
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Mara Lúcia Machado é psicóloga de formação e atualmente atua no Criança Feliz como supervisora e coordenadora. Ela lida com quatro visitadoras e 100 indivíduos acompanhados no município de Porto Belo, em Santa Catarina. Há dois anos, o município de pouco mais de 21 mil habitantes foi o primeiro do estado a receber o programa.
Parte desse entendimento passa pela perspectiva de promover a união da família e por ter um olhar atento a quem cuida das crianças. “A mãe espera muito a visitadora, porque muitas vezes aquela mãe é sozinha, às vezes está com depressão pós-parto, às vezes não se dá bem com a família, e a única pessoa com quem tem vínculo e que não julga e conversa é a visitadora”, afirmou Mara Lúcia. “Nas oficinas eu me divirto muito mais do que a minha filha”, relatou Maria Fidelis, mãe de Larissa, de dois anos, do município de Cubati (PB).
Transformação em larga escala
O público-alvo do programa é composto por gestantes e crianças de zero a três anos de idade beneficiárias do Bolsa Família, e até os seis anos para crianças com algum tipo de deficiência e que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Também são acompanhadas as crianças de até seis anos que estão afastadas do convívio familiar em função de medidas protetivas. Além das crianças terem suas vidas transformadas, coordenadores, supervisores e visitadores também são impactados. Eles relatam a importância do programa na construção do afeto, de valores e dos direitos do ser humano.
Erondina Serpa é visitadora em Luziânia (GO) há um ano e oito meses, desde quando o programa teve início na região do Entorno do Distrito Federal. “Quando cheguei no programa eu atravessava uma situação difícil na vida, e o trabalho no Criança Feliz me fez superar isso. Temos uma equipe companheira e que, com o desempenhar dessa função, aflorou meu lado humano. Hoje me considero uma pessoa forte”, contou. “Ver mais o lado do próximo e conviver com situações extremas despertou em mim mais desejo de estar próxima dessas pessoas e estender a mão”, completou.
Janaína, terceira da esquerda para a direita, com sua equipe em Cubati (PB), numa imagem de antes da pandemia. Foto: Arquivo pessoal |
Uma costura de políticas
Muitas famílias carentes estavam um pouco soltas, sem um suporte coordenado. Isso acarretava situações de vulnerabilidade. Hoje a gente consegue inserir as crianças dentro do CRAS, dos grupos, elas têm melhor assistência, participamos de todas as políticas existentes no município"
Janaína das Mercês Silva, supervisora no município de Cubati (PB)
Muito além da atuação específica do programa, o Criança Feliz integra e abre portas para outras políticas públicas nas áreas da saúde, assistência social, educação, justiça e cultura. “A gente fica sabendo se tem médico na rua, se o leite chegou. Minha menina foi colocada no programa do leite e duas vezes por semana recebe. Isso me ajuda muito”, aponta a mãe Maria Fidelis.
“É um trabalho articulado. Quando os visitadores percebem alguma dificuldade ou questão urgente, trazem para mim e faço encaminhamentos para a rede socioassistencial, seja para áreas de saúde, educação ou para um CRAS, CRES, conselho tutelar”, afirmou a supervisora Mara Machado.
A realidade é similar à experimentada por Janaína das Mercês Silva, supervisora no município de Cubati, na Paraíba. “Muitas famílias carentes estavam um pouco soltas, sem um suporte coordenado. Isso acarretava situações de vulnerabilidade. Hoje a gente consegue inserir as crianças dentro do CRAS, dos grupos, elas têm melhor assistência, participamos de todas as políticas existentes no município, no social, saúde, educação. São benefícios que essas pessoas, até então, não tinham acesso, e, hoje, por meio do Criança Feliz, temos essas informações e elas sabem como se direcionar”, detalhou.
“O programa nos tornou mais que supervisores. Ele nos aproxima das pessoas e através da gente as pessoas estão tendo oportunidade de garantir seus direitos, de serem esclarecidas, de melhorar de vida. O programa é extremamente importante. Ele só tende a melhorar a vida das pessoas”, disse Janaína.
“Para que um ser humano venha a ser de sucesso, mais comprometido, ativo, temos que trabalhar a base, a primeira infância. Se a gente repassar esse conhecimento que a gente tem recebido, com todas as políticas públicas na saúde, educação, esporte, direitos humanos, se trabalharmos a primeira infância com esse foco, vamos ter uma grande vitória para a sociedade na construção de seres humanos melhores”, disse a supervisora Miriam Mendonça.
Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania