A importância da participação social de mulheres trabalhadoras rurais na construção de Políticas Públicas no Brasil
Marie-Anne Stival Pereira e Leal Lozano[1]
Classe, raça, cor, etnia, religião, origem regional, orientação sexual são algumas das diferenças que afetam as formas como as mulheres vivenciam experiências e discriminações, frequentemente obscurecidas e marginalizadas pelas políticas públicas em todo o mundo (CREENSHAW, 2002). As políticas públicas voltadas para as mulheres brasileiras buscaram conceder benefícios sociais a determinados grupos de mulheres ao longo da construção do país, sendo notória a ausência de políticas voltadas para muitas que ainda não foram contempladas por essas ações, seja por não atenderem a critérios específicos determinados pelas próprias políticas, seja porque ainda incorporam alguns conflitos de interesses entre os diferentes grupos de mulheres no país.
Para garantir que todas as mulheres possam ser beneficiadas por políticas públicas de direitos, é necessário atentar para todas as diferenças que redundam em vulnerabilidades particulares. Grande parte das conquistas das políticas públicas brasileiras voltadas para as mulheres são resultantes de lutas dos movimentos de mulheres no país, contribuindo não apenas para a redução de desigualdades sociais, mas também das desigualdades de gênero. A conquista de uma autonomia econômica para as mulheres rurais é ainda uma das questões importantes que vem sendo colocada pelos movimentos de mulheres que integram atualmente as trabalhadoras rurais no país. Mas o que realmente sabemos sobre essas conquistas?
As desigualdades sociais, econômicas e políticas sempre estiveram presentes na vida das mulheres brasileiras, tanto na vida das mulheres urbanas como na vida das mulheres rurais; no entanto, as políticas públicas voltadas para as mulheres que exercem atividade agrícola no país são ainda recentes. Eloisa Hofling (2001) acredita que é papel fundamental das políticas públicas estabelecerem programas de ação universalizantes, que possibilitem a incorporação de conquistas sociais pelos grupos mais desfavorecidos, visando a reversão do desequilíbrio social. É papel das políticas governamentais atender às distintas demandas das diferentes mulheres que compõem o gigantesco universo que abrange o Brasil, urbano e rural, principalmente das mais desfavorecidas.
Importante mencionar que as primeiras organizações de mulheres rurais brasileiras surgiram no país já no início dos anos 1980, estimuladas sobretudo pela igreja católica, pelo movimento sindical e pelos partidos políticos, tomando maior força no Sul (principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina), e no Nordeste (principalmente em Pernambuco e Paraíba), tendo como questões principais a luta pelo reconhecimento da profissão de agricultora (e não como “do lar”), por direitos sociais (aposentadoria e salário maternidade), por direito à sindicalização, pelo acesso à saúde da mulher, pelo acesso à terra e pelo direito das mulheres solteiras ou chefes de família serem beneficiárias do PRONAF Mulher (HEREDIA e CINTRÃO, 2006).As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva da autora.
Referências:
AGUIAR, Vilenia Venancio Porto. Mulheres Rurais, Movimento Social e Participação: reflexões a partir da Marcha das Margaridas. Política & Sociedade. Vol. 15. Edição Especial. 2016. P. 261 – 295.
CREENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Estudos Feministas. Ano 10. Vol.1. 2002. P. 171 – 188.
HEREDIA, Beatriz Maria Alásia de; CINTRÃO, Rosângela Pezza. (2006). Gênero e acesso a políticas públicas no meio rural brasileiro. Revista Nera. Ano 9, N. 8. Janeiro/Junho. Pgs. 1 – 28.
HOFLING, Eloisa de Mattos. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001.
[1] Pós Doutora e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC) e Mestre em Administração (UFSC). Atua com estudos sobre agricultura familiar, políticas públicas e estudos de gênero. Trabalhou como apoio na Secretaria de Mulheres da CONTAG na construção da VI Marcha das Margaridas, em 2019. Tese intitulada Politicas públicas e mulheres trabalhadoras rurais brasileiras, defendida em 2018 pelo Programa Interdisciplinar de Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina: