Notícias
MEIO AMBIENTE
Recuperação da Bromélia Cascavel: Um Projeto de Sucesso em Pernambuco
Salvando o Futuro Verde: A Restauração da Bromélia Cascavel em Pernambuco
A bromélia cascavel (Cryptanthus zonatus), uma espécie emblemática da Mata Atlântica, enfrenta sérios desafios para sua sobrevivência devido ao desmatamento, à coleta ilegal e às mudanças climáticas. No entanto, cientistas de Pernambuco estão desenvolvendo um trabalho promissor para garantir a preservação dessa planta ameaçada. Um dos centros de destaque nessa batalha é o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que, em colaboração com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Estação Ecológica do Tapacurá, tem alcançado avanços significativos na recuperação da bromélia cascavel.
A pesquisadora responsável pelo programa Mata Atlântica, Dra. Laureen Houllou, compartilhou detalhes sobre os esforços para preservar e reintroduzir essa espécie no seu habitat natural. Abaixo, apresentamos uma entrevista em formato ping-pong com a pesquisadora sobre os avanços do programa e os desafios enfrentados.
Como o CETENE está ajudando na recuperação da bromélia cascavel?
Dra. Laureen Houllou: O CETENE tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de técnicas de micropropagação in vitro para reproduzir a bromélia cascavel e outras espécies ameaçadas. Já conseguimos propagar 180 mudas de espécies em risco, sendo 50 delas de bromélia cascavel. A micropropagação é uma ferramenta poderosa, pois não apenas preserva as plantas, mas também facilita sua reintrodução no ambiente natural, assegurando a preservação genética e a continuidade da espécie.
Quais são os maiores desafios na recuperação dessa planta específica?
Dra. Laureen Houllou: O principal desafio é encontrar as matrizes, ou seja, as plantas originais para fazer a coleta do explante. Como a bromélia cascavel está ameaçada, é uma tarefa difícil localizar essas plantas em seu habitat natural. Para isso, contamos com o apoio de parceiros como a equipe do Jardim Botânico de Recife e taxonomista do CETENE, que nos ajudaram a localizar as matrizes para trazê-las para o laboratório.
E o que é feito depois de encontrar essas matrizes?
Dra. Laureen Houllou: Depois de encontrar as matrizes, usamos protocolos de cultivo in vitro para multiplicar as plantas. O nosso Laboratório de Pesquisas Aplicadas aos Biomas, o LAPAB, tem experiência com diferentes grupos de plantas, desde arbóreas e lenhosas até orquídeas e bromélias. O objetivo não é apenas multiplicar as plantas, mas também reintroduzi-las em áreas seguras, dentro do bioma Mata Atlântica, para garantir que a população aumente e se estabilize no longo prazo.
Como a colaboração com a UFRPE tem contribuído para o sucesso do projeto?
Dra. Laureen Houllou: A parceria com a UFRPE tem sido essencial. Juntos, criamos um modelo de recuperação que pode ser replicado em outras áreas da Mata Atlântica. A colaboração com a Estação Ecológica do Tapacurá, em São Lourenço da Mata, tem sido um sucesso, permitindo a reintrodução das mudas em áreas previamente degradadas, com resultados positivos na restauração da população da bromélia cascavel.
Qual é o objetivo do CETENE com esse trabalho a longo prazo?
Dra. Laureen Houllou:O nosso principal objetivo é recuperar e enriquecer o bioma Mata Atlântica. A ideia não é apenas criar mudas, mas também garantir que, daqui a 5 ou 10 anos, possamos retornar aos locais de reintrodução e encontrar novas plantas para dar continuidade ao ciclo de propagação. Estamos expandindo o trabalho para outras espécies ameaçadas dentro da Mata Atlântica, com o intuito de ajudar a restaurar a biodiversidade e fortalecer as populações de plantas que estão em risco.
E o que o futuro reserva para a bromélia cascavel?
Dra. Laureen Houllou: Com o avanço do nosso trabalho de recuperação e o apoio de outras iniciativas de preservação, estou otimista de que a bromélia cascavel terá um futuro mais seguro. A nossa meta é criar um modelo replicável que possa ser utilizado em outras regiões da Mata Atlântica e, assim, contribuir para a recuperação de várias outras espécies ameaçadas. Estamos trabalhando para devolver a riqueza da biodiversidade para o bioma, e a bromélia cascavel é um exemplo de como a ciência pode atuar de forma estratégica para proteger nossas plantas e ecossistemas.
O trabalho de recuperação da bromélia cascavel é apenas uma das muitas iniciativas desenvolvidas pelo CETENE para enfrentar os desafios da perda de biodiversidade na Mata Atlântica. Com o apoio de parcerias estratégicas e o uso de tecnologias inovadoras, como a micropropagação in vitro e in vivo, a expectativa é que outras espécies ameaçadas também possam ser salvas, garantindo a preservação do bioma para as futuras gerações.