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BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Palestra sobre Pau-brasil e plantio da espécie selam programação do Bicentenário
Paubrasilia echinata está entre espécies cultivadas pelo Projeto Mata Atlântica, do Cetene
Três mudas de pau-brasil ( Paubrasilia echinata ) com cerca de 1,5 metro, cada, ocuparam o auditório do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), na última terça-feira (6). Os exemplares doados pelo Jardim Botânico do Recife marcaram a palestra de encerramento do Bicentenário da Independência do Brasil na unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Pesquisadora do Cetene, a bióloga Laureen Houllou conferiu a palestra “A árvore que deu nome a um país”. Em sua exposição, ela aprofundou a origem da árvore e, também, trouxe um panorama dos desafios para o reflorestamento da espécie e sua preservação.
Nativa do bioma Mata Atlântica, que se estende da costa brasileira à Argentina e ao Paraguai, a Paubrasilia echinata é um importante habitat para orquídeas, bromélias e outras epífitas. No entanto, a espécie arbórea está ameaçada de extinção. “É um grande desafio encontrar um exemplar mais velho. São pouquíssimas [árvores] que são encontradas. A gente vê muito pau-brasil onde? Nos centros urbanos. Eles são plantados porque se diz que são relevantes, mas daqui há alguns anos serão árvores enormes que poderão gerar ‘problemas’ e podem querer derrubar de novo. A gente precisa ter cuidado com nosso patrimônio”, observa a pesquisadora.
O pau-brasil foi o primeiro recurso natural explorado em grande escala pelos europeus. Um extrativismo que durou quase 400 anos, até 1875, e teve alto custo à madeira-símbolo. Para se ter ideia, a matriz mais antiga já registrada tem estimados 600 anos. Um exemplar raríssimo e um sobrevivente. Localizado no município de Itamaraju, no extremo-sul da Bahia, a 751 km de Salvador, ele mede 40 metros de altura e tem um tronco de 7,13 metros de diâmetro. Segundo Laureen Houllou, um exemplar leva pelo menos 30 anos para iniciar seu amadurecimento, atingindo a altura de até 15 metros. “Todas essas que vemos por aí são em sua maioria bebês”, explica.
Outro elemento que se perdeu no ciclo de exploração da espécie foi seu nome originário. Chamado dentre os indígenas de ibirapitanga (do tupi-guarani, “ ybirá ” que significa árvore e “ pitanga ” que representa o vermelho), a espécie passou a ser chamada de “bersil” pelos portugueses, em alusão à brasa. Antes de ser substituída pelos corantes sintéticos, a brasilina extraída da espécie era utilizada como pigmento para tingir tecidos utilizados pela nobreza e, principalmente, pela Igreja Católica. Depois sua madeira seria utilizada também para a fabricação de arcos de violino. Hoje há estudos do potencial farmacológico da espécie para a inibição de tumores.
No Cetene, a Paubrasilia echinata é uma das espécies cultivadas pelo Projeto Mata Atlântica, do Laboratório de Pesquisas Aplicadas aos Biomas (Lapab). Supervisionado pela própria Laureen Houllou, o projeto foi iniciado em 2012, sob demanda de produção de mudas para ações de reflorestamento, e desenvolve o cultivo de quase 70 espécies do bioma. Neste ano, espécies ameaçadas de extinção integram os protocolos desenvolvidos. Dentre seus parceiros, figuram universidades e ONGs. No último dia 2 de setembro, a unidade de pesquisa iniciou um diálogo com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro para a possibilidade de interação entre ambas instituições.
Ato simbólico
Encerrando a programação, a diretora do Cetene, Giovanna Machado, plantou uma unidade de pau-brasil no Campus Tecnológico do MCTI no Nordeste, onde está sediada a unidade de pesquisa. Outros dois exemplares também ganharão espaço no campus. “É muito especial que encerremos a nossa programação com esta ação. O Cetene integra as comemorações junto a outras vinculadas do MCTI, mas com este gesto simbólico reafirma também nosso comprometimento com a preservação da biodiversidade brasileira. Em cada ação promovida no cotidiano desta instituição, estamos contribuindo com a independência deste país”, declarou a gestora.