Notícias
Dia Mundial da Água
Cientistas buscam tecnologias para eliminar corantes de rio em Pernambuco
Alex Neris faz testes de fotocatálise em corante (Guto Moraes/Ascom/Cetene)
O Rio Ipojuca nasce em Arcoverde, a 256 km da capital pernambucana, Recife. Até chegar na cidade que leva seu nome, ele corta municípios como Tacaimbó e Caruaru. Neste último, sua existência tem se deparado com uma realidade que demanda atenção: a poluição por corantes utilizados pela indústria têxtil. A busca por tecnologias que eliminem a substância está entre as pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) e ganha projeção, nesta terça-feira (22), às 9h, durante um circuito de painéis transmitido no canal da Instituição , no YouTube.
Na data, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial da Água, que em 2022 provoca entidades de todo o globo a discutir a preservação do recurso natural a nível subterrâneo. O painel que tratará da presença de pigmentos no Rio Ipojuca apresenta as alternativas estudadas pelos cientistas que compõem a unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações sediada em Pernambuco. Dentre as alternativas observadas está a fotocatálise, que amplia a potência dos raios solares, capazes de transformar o poluente em gás carbônico e água.
Pesquisadora responsável pelo projeto, a química e diretora do Cetene, Giovanna Machado, teve seu primeiro contato com o problema em 2017. “Recebi uma aluna que tinha uma lavanderia de jeans, em Caruaru. Ela comentou da dificuldade no tratamento do efluente [resíduo proveniente de processos produtivos ou do consumo humano]. Durante uma visita à empresa, o proprietário me explicou que era feito o mínimo nesse tratamento. Anualmente, essa única empresa produzia 12 toneladas do resíduo, que era descartado em aterro sanitário”, relembra.
Especialista em fotodegradação, Giovanna teve então a ideia de utilizar a luz solar como alternativa para tratar o poluente. “Este é um dos recursos naturais mais ricos no Nordeste. Além da fotodegradação, a ideia é mineralizar o material. Um processo que consiste em quebrar as moléculas do poluente em fragmentos tão pequenos que ele se transforma em CO₂ [dióxido de carbono] e água”, explica. Sobre o progresso da pesquisa, a cientista indica que já existem protótipos em funcionamento. “A ideia é ampliar o projeto para que a tecnologia seja transferida e desenvolvida pelas próprias empresas.”
O depósito de lodo orgânico, como é chamado o resíduo, em aterros sanitários poderá, no futuro, afetar os lençóis freáticos, região abaixo do subsolo onde estão localizados aquíferos e rios subterrâneos. Já o composto que tem sido despejado no rio ameaça a fauna aquática da região e, consequentemente, impossibilita atividades como a pesca. A indústria têxtil em Pernambuco é a segunda maior do setor no Brasil. Estima-se que a região reúna cerca de 18 mil empresas. Segundo o levantamento mais recente, municípios do Agreste produzem aproximadamente 800 milhões de peças de vestuário por ano.
Possível solução para problemas antigosA alternativa que vem sendo aprimorada pelos oito cientistas envolvidos na pesquisa pode ser também uma solução para lidar com o plástico. Há sete anos, o químico Alex Neris, doutor em ciências com especialidade em química inorgânica, estuda a degradação de corantes, mas desde janeiro decidiu testar a possibilidade em microplásticos. “O plástico é um polímero e existe uma série deles, de alta e baixa densidade. Estou na etapa de identificar como ocorre essa degradação quando exposto à fotocatálise. A ideia também é mineralizar”, adianta. Atualmente, o tempo para decomposição do plástico é de 150 anos.
Panoramas e outros projetos
Ao todo, seis painéis compõem o evento que aborda o tema “A água invisível e visível no Norte e Nordeste do Brasil”. Parceiros do Cetene, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Instituto Nacional do Semiárido (Insa) integram a grade. O circuito de painéis conta com a participação de diversos pesquisadores e especialistas do País, dentre eles o geólogo Márcio Luiz da Silva, que abordará a realidade dos recursos hídricos no Norte do Brasil. Mas não ficam de projetos de recuperação da mata ciliar na Mata Atlântica e o tratamento de esgotos no Semiárido.
Programação
9h — Abertura
Giovanna Machado
Diretora do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene)
9h15 — Painel 1: Ocorrência e gestão das águas subterrâneas em Pernambuco
Ricardo Pessoa Braga
Biólogo, professor aposentado da UFPE e membro do conselho da Associação Águas do Nordeste (ANE) e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Pernambuco
9h40 — Painel 2: Recursos hídricos subterrâneos na região Norte do Brasil
Márcio Luiz Da Silva
Geólogo, pesquisador em Recursos Hídricos Subterrâneas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)
10h05 — Painel 3: Tecnologias de tratamento de esgoto para usos múltiplos no Semiárido Brasileiro
Wilza Lopes
Engenheira sanitária e ambiental, pesquisadora bolsista do Instituto Nacional do Semiárido (Insa)
10h30 — Painel 4: Biomas e suas relevâncias para os recursos históricos
Laureen Houllou
Bióloga, pesquisadora titular do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) e coordenadora do projeto Mata Atlântica
10h55 — Painel 5: Materiais magnéticos para mitigação de microplásticos em mangues
Audrey Nunes
Química, pesquisadora bolsista do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene)
11h20 — Painel 6: Desenvolvimento de fotocatalisadores para o tratamento de efluentes no Nordeste
Alex Neris
Químico, pesquisador bolsista do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene)
11h45 — Encerramento
Frederico Toscano
Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene)
Serviço
Live: “A água invisível e visível no Norte e Nordeste do Brasil”
Data: 22 de março de 2022, terça-feira
Horário: 9h
Transmissão no canal do Cetene no YouTube (
Clique aqui
)
Público geral