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Relatório lançado na Assembleia da ONU avalia as ameaças aos ecossistemas e dos povos da Amazônia
Lançado o Sumário Executivo de Relatório de Referência sobre a Amazônia, com uma avaliação científica abrangente de referência da situação da Bacia Amazônica, feita com mais de 200 renomados cientistas da Amazônia e parceiros globais. O relatório incluiu diálogos com Povos Indígenas e comunidades locais oferece soluções e trajetórias em direção a um desenvolvimento sustentável para prevenir eventos catastróficos.
A situação na Amazônia é extremamente preocupante, já que a região está se aproximando de um potencial e perigoso ponto de inflexão (não retorno) devido ao desmatamento, degradação e mudanças climáticas. Essa situação crítica foi apontada como alerta no Sumário Executivo de Relatório de Referência sobre a Amazônia (Science Panel for the Amazon Amazon Assessment Report 2021 Executive Summary), lançado no último dia 20 de setembro pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA), durante a 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque (EUA).
O Relatório foi elaborado com a participação de mais de 200 renomados cientistas da Amazônia e parceiros globais, entre eles, o climatologista José Marengo, coordenador-geral de Operações e Modelagens do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Como uma avaliação científica única da situação da Bacia Amazônica, as recomendações do Relatório oferecem caminhos ao desenvolvimento sustentável para formuladores de políticas e governos e um apelo enfático por ações imediatas.
Apesar da situação crítica, é demonstrada a relevância de diversas providências de restauração dos ecossistemas terrestres e aquáticos, conservação da biodiversidade, monitoramento do desmatamento e sistemas de alerta de incêndio.
O Relatório indica que manter a resiliência da Amazônia requer uma ação global para interromper as emissões de gases de efeito estufa. Destaca, também, o potencial significativo de avanço nas trajetórias de desenvolvimento sustentável com base em uma combinação de pesquisa científica, conhecimento dos Povos Indígenas e Comunidades Locais e ênfase no poder de parcerias colaborativas regionais mais fortes.
O relatório do SPA e a Amazônia no contexto global
O Relatório do Painel Científico para a Amazônia (SPA) foi desenvolvido por mais de 200 cientistas, dos quais dois terços são de países amazônicos, incluindo cientistas Indígenas. Inspirado no Pacto de Letícia pela Amazônia, o Relatório é o mais aprofundado, abrangente e integrador sobre a Amazônia.
O SPA também visa ter relatórios sistemáticos e consistentes no futuro. A Bacia Amazônica engloba a maior floresta tropical do mundo e é uma região de imensa riqueza e diversidade natural e cultural, mas está enfrentando mudanças sem precedentes.
A Bacia Amazônica possui uma notável parcela da biodiversidade global, única e insubstituível. Essa extraordinária diversidade confere estabilidade e resiliência aos ecossistemas terrestres e aquáticos, que são produtos de uma dinâmica complexa que coevoluiu há milhões de anos.
O bioma Amazônia é um dos elementos cruciais do sistema climático terrestre, desempenhando um papel decisivo nos ciclos globais de água e regulação da variabilidade climática. Uma quantidade significativa de umidade flui para o sul através de “rios aéreos” e se constitui em uma importante fonte de água para os ecossistemas, além da Bacia Amazônica. A região também é responsável pela maior descarga fluvial do planeta, respondendo por cerca de 16 a 22% do total de rios que chegam aos oceanos no mundo.
A Amazônia é também um significativo sumidouro de carbono, armazenando aproximadamente 150 a 200 bilhões de toneladas de carbono em seus solos e vegetação.
A Amazônia abriga cerca de 47 milhões de pessoas, incluindo cerca de 2,2 milhões de Indígenas, distribuídos em mais de 400 grupos que falam mais de 300 línguas. Populações Indígenas e Comunidades Locais (PICLs) desempenham um papel fundamental na conservação e na gestão sustentável da diversidade agrícola e biológica da Amazônia, bem como dos ecossistemas. No entanto, os povos amazônicos, suas culturas e conhecimentos estão sob ameaça devido às múltiplas pressões e ao enfraquecimento da proteção de seus direitos.
O mosaico de ecossistemas amazônicos se estende desde os altos Andes até a planície amazônica e abriga a biodiversidade mais extraordinária da Terra, com mais de 10% das espécies vegetais e animais em todo o mundo”.
Amazônia à beira de um ponto de inflexão
Devido ao desmatamento, degradação e mudanças climáticas, a situação na Amazônia é extremamente preocupante, já que a região está se aproximando de um potencial e perigoso ponto de inflexão (não retorno).
Aproximadamente 17% das florestas amazônicas foram convertidas para outros usos da terra e pelo menos outros 17% foram degradados. Os especialistas estimam que 366.300 km² de florestas foram degradados entre 1995 e 2017. Todos os anos, milhares de hectares de floresta (a maioria degradadas) queimam em toda a Bacia Amazônica, à medida que os incêndios escapam de pastagens próximas ou áreas recentemente desmatadas.
O SPA alerta os tomadores de decisão a agirem agora e recomendam uma moratória imediata do desmatamento em áreas que já estão atingindo o ponto de inflexão, e zero desmatamento e degradação da floresta em toda a região amazônica até 2030.
Construindo resiliência
O SPA demonstra a relevância da restauração de ecossistemas terrestres e aquáticos, da conservação da biodiversidade em áreas naturais e manejadas, e da diversidade cultural, bem como do monitoramento do desmatamento, degradação e estabelecimento de sistemas de alerta precoce de incêndio.
Manter a resiliência da Amazônia também requer uma ação global para interromper as emissões de gases de efeito estufa. Embora a mudança no uso da terra seja a ameaça mais visível para os ecossistemas amazônicos, a mudança climática está emergindo como uma das ameaças mais insidiosas para o futuro da região.
Soluções e um caminho a seguir: uma Amazônia viva
Apesar da situação crítica da Bacia Amazônica, o SPA também destaca o potencial significativo de avanço nas trajetórias de desenvolvimento sustentável com base em uma combinação de pesquisa científica, conhecimento dos Povos Indígenas e Comunidades Locais e ênfase no poder de parcerias colaborativas regionais mais fortes.
Avançar nas vias de desenvolvimento sustentável e alcançar desmatamento e degradação zero na Amazônia até 2030 depende dos esforços combinados e colaborativos dos formuladores de políticas para a Amazônia em nível nacional e subnacional, dos setores financeiro e privado, da sociedade civil e da comunidade internacional. “Nossa mensagem aos líderes políticos é que não há tempo a perder”, disse Carlos Nobre, copresidente do SPA. “O atual modelo de desenvolvimento está alimentando o desmatamento e a perda da biodiversidade, levando a mudanças devastadoras e irreversíveis. Para que a Amazônia sobreviva, devemos mostrar como ela pode ser transformada para gerar benefícios econômicos e ambientais que seriam o resultado de colaborações entre cientistas, detentores do conhecimento Indígena e seus líderes e governos”.
O Sumário Executivo de Relatório de Referência sobre a Amazônia (Science Panel for the Amazon Amazon Assessment Report 2021 Executive Summary) está disponibilizado no link :
https://www.theamazonwewant.org/scientific-literature/
Fonte: Ascom/Cemaden com Ascom/ UNSDSN