A análise de algumas iniciativas de Educação em Redução de Riscos de Desastres (ERRD), ocorridas no Estado do Rio de Janeiro – um dos estados mais atingidos por desastres no Brasil- mostrando as necessidades de avaliação constante das atividades educativas e da criação de uma rede de educadores – foi apresentada no artigo científico liderado pelo pesquisador e sociólogo, Victor Marchezini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O artigo foi escrito em parceria com professores universitários e agente de Defesa Civil.
Com o título “Educação para Redução de Riscos e Desastres : Experiências Formais e Não Formais no Estado do Rio de Janeiro (Disaster Risk Reduction Education: Pilot Studies in Rio de Janeiro State, Brazil), o trabalho científico foi publicado no Anuário do Instituto de Geociências, Volume 42, mostrando algumas dimensões de planejamento e implementação de cinco experiências em ERRD e os diferentes sujeitos do processo de “ensinagem”. Essas experiências foram apresentadas em uma mesa-redonda sobre o tema, durante o II Congresso Brasileiro de Redução de Riscos e Desastres, ocorrido em outubro de 2017, na capital fluminense. A partir dessa mesa-redonda, surgiu a ideia de escrever um artigo científico para disseminar essas experiências.
Nas iniciativas em Niterói, coordenadas por Marcos Barreto de Mendonça, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “há uma diversidade de métodos para pensar a problemática dos deslizamentos e como envolver o setor educativo no tema. Esses métodos envolvem maquetes interativas, oficinas de teatro, histórias em quadrinhos, fotografias”, explica Marchezini. Em Angra dos Reis, as atividades foram coordenadas pelo professor Anderson Sato, da Universidade Federal Fluminense. O curso de formação é uma iniciativa da Rede de Educação para Redução de Desastres (RED), uma articulação interinstitucional que tem como principais parceiros o Cemaden Educação, os atores escolares (alunos, professores, gestores e funcionários) e outros agentes locais, como os agentes de Defesa Civil, profissionais da saúde e os moradores de áreas de risco. Já na capital fluminense, as atividades envolvem não só escolas, como também o Espaço Ciência Viva (ECV), um museu popular e interativo. Essa experiência é fruto de um projeto de extensão universitária coordenado pela UFRJ. Na cidade do Rio de Janeiro, ainda foram observadas iniciativas interessantes, conduzidas pela Defesa Civil Municipal, como compartilhadas por Marcelo Abelheira, agente da Defesa Civil. Participa ainda do estudo a professora Teresa Silva Rosa, da Universidade de Vila Velha (ES).
Avaliação para aprimorar as estratégias de Educação para Redução de Riscos de Desastres (ERRD)
Marchezini destaca a necessidade de reunir e disseminar as iniciativas para construção e fortalecimento de capacidades em lidar com a prevenção. Em seu ponto de vista, um modelo como o do Programa Cemaden Educação tem ajudado a organizar a rede de professores no Brasil. Para o pesquisador do Cemaden, entretanto , há desafios pela frente. Ele explica que as estratégias de Educação para Redução de Riscos de Desastres (ERRD) devem ser avaliadas a todo momento para o aperfeiçoamento do que foi planejado por todos os envolvidos no processo, quer seja aluno do ensino fundamental, médio ou superior, professor ou outro profissional..
“Torna-se, ainda, mais fundamental essa constante avaliação quando a comunidade escolar é chamada para fazer parte da iniciativa, desde o início de seu planejamento.”, destaca o pesquisador, lembrando que que o Marco de Ação de Hyogo, adotado em 2005 e o Marco de Sendai, de 2015, recomendam uma série de ações para a redução de riscos de desastres, incluindo a necessidade de criação, pelos países, de estratégias educativas no tema, voltadas a diferentes públicos. Marchezini enfatiza que as ações educativas e pedagógicas em vários espaços, envolvendo a comunidade de forma ativa e participativa – no compartilhamento dos conhecimentos nas atividades desenvolvidas para a RRD – permitem maior publicização das demandas mais cruciais, empoderamento da comunidade e uma transformação da realidade. “As experiências educativas mostraram que a escola tem um papel fundamental na comunidade e entorno para essa transformação da realidade”, afirma o pesquisador.
Com base na citação da publicação da UNICEF e UNESCO, em 2012, de que “uma pedagogia que traz conhecimento para a vida (…) uma pedagogia que ativa, interativa, vivencial e participativa”, o trabalho científico aponta a importância do fortalecimento da rede de educadores para ampliar o público além da escola. “Muitas vezes, a falta de estrutura da Defesa Civil e do poder público dificulta as ações junto à população para a conscientização dos riscos de desastres. A rede de educadores pode vir a superar essa dificuldade do trabalho, fortalecendo o trabalho de ERRD”, finaliza o pesquisador.
O trabalho científico “Educação para Redução de Riscos e Desastres: Experiências Formais e Não Formais no Estado do Rio de Janeiro (Disaster Risk Reduction Education: Pilot Studies in Rio de Janeiro State, Brazil), pode ser acessado gratuitamente no endereço:
http://www.anuario.igeo.ufrj.br/2019_4/2019_04_102_117.pdf
Fonte : Ascom/Cemaden