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Pesquisadores do Cemaden avaliam abrangência dos impactos de inundações para gestão e redução de risco de desastres
Bacia hidrográfica do Madeira (lado direito) e das linhas de contorno do terreno, que correspondem a variações da extensão da inundação do evento ocorrido em 2014 (lado esquerdo).
Com base nas informações levantadas sobre a grande inundação de 2014, ocorrida na região do rio Madeira – a qual trouxe impactos socioeconômicos e ambientais nos estados de Rondônia e Acre – os estudos incluíram as análises desses impactos mediante dados de sensoriamento remoto, além de informações hidrológicas, demográficas, de saúde, da infraestrutura e serviços públicos.
Pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) realizaram uma pesquisa multidisciplinar e multidimensional sobre a inundação extrema na região do rio Madeira, ocorrida em 2014, apresentando métodos em sistemas de informação geográfica, os quais podem ser utilizados como importantes ferramentas de avaliação e quantificação dos impactos, estratégicos para a redução de risco de desastres (RRD).
Os estudos foram divulgados em publicação internacional, pela revista científica IEEE Geoscience and Remote Sensing Letters, Volume 14- nº 9, em Setembro de 2017, com o título “ Uma avaliação integral de impacto de inundações baseada no sistema RS-GIS – Um estudo de caso no rio Madeira, no oeste da Amazônia brasileira”. A revista selecionou uma das figuras do trabalho científico dos pesquisadores do Cemaden para a ilustração da capa dessa edição, divulgando a ciência brasileira e a Amazônia como uma importante área de estudos no tema de gestão de riscos e desastres. Trata-se da imagem da bacia hidrográfica do Madeira (lado direito) e das linhas de contorno do terreno, que correspondem a variações da extensão da inundação do evento ocorrido em 2014 (lado esquerdo), na ilustração acima.
Com abordagens e análises nas diversas áreas de conhecimento científico, os pesquisadores desenvolveram um sistema de avaliação do impacto da inundação, o qual integra informações sobre as causas físicas do desastre – como a extensão da inundação e sua relação com as alterações do nível do rio – juntamente com as informações de vulnerabilidade e de danos, obtidas a partir de dados demográficos, de saúde e de infraestrutura relacionada ao transporte, mobilidade urbana e serviços públicos afetados.
Os estudos identificaram as áreas e o número de famílias e pessoas afetadas pela inundação na bacia do rio Madeira, os impactos na saúde da população, nas propriedades, nas atividades econômicas, nos serviços públicos e também na mobilidade dentro das área impactadas. Foram estimados o número de afetados em áreas urbanas, por sexo e perfil etário, as estruturas impactadas (como escolas, hospitais, ruas e rodovias) e as doenças registradas durante e no pós-inundações.
As análises científicas dos impactos que atingiram a população e os serviços públicos da região do rio Madeira (em Porto Velho, capital do estado de Rondônia e em 22 municípios do estado do Acre) foram consideradas relevantes e são um alerta para os riscos futuros que podem ser amplificados na região. Essa relevância também é destacada, principalmente, em cenários de mudança climática e da intensificação do aumento das intervenções humanas sobre os ecossistemas, advertida pelos cientistas de diferentes áreas do conhecimento que participaram do estudo, como hidrologia, sensoriamento remoto, biologia, geografia, sociologia, ciência da computação e modelagem integrada.
Impactos da inundação de 2014 do rio Madeira em Rondônia e Acre
Antes de 2014, o estágio máximo de inundação determinado pela estação de medição em Porto Velho foi definida em 59 m. O pico no ano 2014 estabeleceu um novo recorde de inundações a 62,6 m. A pesquisa reforçou os aspectos multidimensionais para avaliar as perdas diretas e indiretas.
Em Porto Velho, os resultados mostram que, na extensão da inundação relacionada ao mais alto nível de rio, pelo menos 0,65 km2 de área urbana, 87 km de ruas, na parte urbana da cidade, quatro escolas públicas e duas unidades de saúde pública foram afetadas. Mais de 16.800 pessoas sofreram diretamente os impactos e, desse total, 29,7% eram crianças.
Ainda em 2014, o estado do Acre foi isolado por mais de 60 dias do resto do Brasil, devido à inundação da principal rodovia federal (BR-364), que é a única conexão terrestre com o estado de Rondônia. O fluxo de caminhão na região diminuiu em 92%, comprometendo o escoamento de alimentos e outros produtos.Somente no estado do Acre, 22 municípios foram diretamente afetados por esta interrupção do transporte.
A pesquisa conclui que os resultados com detalhamento espacial e informações multidisciplinares são essenciais para orientar as estratégias de redução do risco de desastres, dando bases científicas para o apoio na tomada de decisões na gestão de risco de desastre. O método de análise desenvolvido pode ser aplicado para outros casos de estudo, subsidiando o planejamento de ações de órgãos públicos no tema de prevenção de riscos, resposta a emergências e recuperação frente a desastres.
O trabalho científico foi realizado pelos pesquisadores Leonardo B. L. Santos, Tiago Carvalho (Instituto Federal de São Paulo), Liana O. Anderson, Conrado M. Rudorff, Victor Marchezini, Luciana R. Londe e Silvia M. Saito. Esse trabalho será apresentado na Série de Debates do Cemaden, no dia 20 de março, às 14 horas, com transmissão ao vivo pelo Canal no YouTube.
A publicação da pesquisa está disponibilizada na versão digital :
http://ieeexplore.ieee.org/document/7999247/
(Fonte: Assessoria de Comunicação do Cemaden)