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Pesquisadores brasileiros fazem recomendações, analisando as repentinas inundações e deslizamentos de terra em Recife (PE), após fortes chuvas ocorridas em maio de 2022
Com base no evento extremo ocorrido em maio de 2022, em Pernambuco e nordeste brasileiro, provocando a morte de 130 pessoas, foi realizado um trabalho científico analisando esse evento e apontando que, devido às mudanças climáticas, a probabilidade de eventos mais extremos não pode ser ignorada. Esses eventos climáticos extremos associados ao adensamento populacional urbano aumentaram a urgente necessidade de investimentos em serviços climáticos, no trabalho integrado entre população, instituições estaduais e federais e governo em todos os níveis.
Os estudos fazem recomendações para a efetiva conscientização, prevenção e gestão do risco de desastres no Brasil. Os pesquisadores destacam que o monitoramento eficiente da previsão de risco também é necessário. A gestão de riscos só será viável com a participação de todos, o que requer educação e mudança cultural.
Com o título “ Flash floods and landslides in the city of Recife, Northeast Brazil after heavy rain on May 25–28, 2022: Causes, impacts, and disaster preparedness” ( Inundações repentinas e deslizamentos de terra na cidade de Recife, Nordeste do Brasil, após fortes chuvas de 25 a 28 de maio de 2022: causas, impactos e preparação para desastres), o artigo científico analisando esse evento foi publicado em janeiro deste ano (2023), no jornal científico internacional da Elsevier - Weather and Climate Extremes (Clima e extremos climáticos),
Os deslizamentos catastróficos e inundações repentinas desencadeadas pelas chuvas excepcionalmente fortes, ocorridas no final de maio ao início de junho de 2022, nos estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba, provocaram a morte de 130 pessoas. Assim como ocorre no mundo, esses eventos demonstraram a vulnerabilidade da capital e demais distritos da Região Metropolitana de Recife (Pernambuco), frente aos extremos da variabilidade climática. Em 28 de maio de 2022, quase 17% de toda a área urbana do Recife foi atingida por enchentes. As fortes chuvas afetaram 130 mil pessoas, conforme dados da Defesa Civil de Pernambuco.
Os estudos foram coordenados pelo climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Programa de Graduação de Pós-graduação em Desastres da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Cemaden), com os seguintes pesquisadores co-autores: E.Alcântara (Programa Unesp/Cemaden); Ana Paula Cunha (Cemaden e Programa Unesp/Cemaden); Marcelo Seluchi (coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden); Carlos Antonio Nobre (Programa Unesp/Cemaden e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo –IEA-USP); Giovanni Dolif (Cemaden); Demerval Gonçalves (Cemaden); Mariane Assis Dias (Cemaden); Luz Adriana Cuartas (Cemaden e Programa Unesp/Cemaden); Fabiani Bender (Cemaden), Andrea Ramos (Instituto Nacional de Meteorologia–INMET); J.R.Mantovani(Programa Unesp/Cemaden); Regina Alvalá (coordenadora de Relações Institucionais do Cemaden e Programa Unesp/Cemaden) e Osvaldo Moraes (diretor do Cemaden e Programa Unesp/Cemaden).
Chuvas em Recife entre 25 e 30 de maio de 2022
A precipitação total na cidade do Recife nos dias 25 a 30 de maio foi de 551 mm, 140 mm acima da média do mês de maio. A chuva foi mais intensa nos dias 25 e 28 de maio, com 100–200 mm e 151–250 mm, respectivamente. Isso coincidiu com os distúrbios das ondas de leste.
O dia que mais choveu foi em 28 de maio, devido a uma frente fria significativa. Catorze municípios da região metropolitana do Recife declararam estado de emergência. Segundo a Defesa Civil de Pernambuco, a chuva afetou 130 mil pessoas no local. A maior parte da forte precipitação caiu sobre áreas com vulnerabilidade geológica média a muito alta a deslizamentos de terra e eventos hidrológicos extremos .
“ O aquecimento do planeta aumentou a intensidade das chuvas. Eventos de chuva tão raros como esses, se tivessem ocorrido em um clima 1,2º C mais frio, provavelmente teriam sido aproximadamente um quinto menos intensos”, explica o climatologista José Marengo, do Cemaden.
O estudo aponta que para reduzir os impactos adversos dos desastres relacionados ao clima, apoiar as decisões de gestão de recursos e melhorar os resultados são necessários serviços climáticos, sistemas completos de alerta e investimentos sustentáveis. “Os sistemas existentes ainda não são adequados.Portanto, mais investimentos – e investimentos direcionados com mais precisão em serviços climáticos - são necessários para fortalecer os sistemas de alerta e o apoio à decisão para adaptação em áreas sensíveis ao clima.”, destaca Marengo.
Áreas de risco de desastres climáticos no Brasil
O Brasil tem cerca de 3.000 km2 de áreas vulneráveis a risco de desastres climáticos predominantes. Essas áreas foram recentemente determinadas como de alto e muito alto risco de deslizamentos de terra, inundações e inundações repentinas.
Pelo menos 825 municípios são criticamente vulneráveis a desastres. Das 8.266.566 pessoas em maior risco, cerca de 75% estão em áreas suscetíveis a deslizamentos de terra ou deslizamentos combinados a inundações. Essa população enfrenta considerável vulnerabilidade, conforme Censo do IBGE de 2010.
Entre 1º de janeiro de 2013 e 5 de abril de 2022, os desastres naturais causaram US$ 67 bilhões em prejuízos em todo o Brasil.
O artigo completo “ “ Flash floods and landslides in the city of Recife, Northeast Brazil after heavy rain on May 25–28, 2022: Causes, impacts, and disaster preparedness” está disponibilizado no link abaixo:
Fonte: Ascom/Cemaden