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Pesquisadores apontam a inclusão de inovações sociais na elaboração de políticas de redução de riscos de desastres
Um estudo científico com as avaliações das metodologias inovadoras de atividades e pesquisas – desenvolvidas junto a estudantes, moradores de áreas de risco de desastres, defesas civis municipais, educadores e pesquisadores – comprovou que os métodos mistos de pesquisa podem contribuir para a elaboração de políticas públicas para a Redução de Risco de Desastres (RRD), bem como a participação e engajamento coletivo da população e de autoridades de todos os níveis governamentais.
O artigo científico publicado no International Journal for Disaster Risk Reduction, da Editora Elsevier, mostra como as inovações sociais podem ser consideradas nas políticas públicas para reduzir riscos de desastres (RRD). A publicação tem a participação de Victor Marchezini, sociólogo e pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
O artigo destaca um total de 10 inovações sociais que foram priorizadas como resultado das respostas dos questionários e da atividade com serious gaming . As medidas se enquadram dentro das etapas de prevenção e preparação. Cita-se, por exemplo, os planos de prevenção ou restauração e conservação de áreas naturais que podem ser consideradas como medidas de prevenção. Também foram mencionados os planos de evacuação e monitoramento comunitário, estratégias que precisam ser formuladas e implementadas, de modo participativo, antes da ocorrência de uma emergência.
Os pesquisadores demonstram que para implementar as medidas, é importante a participação de atores (governos municipal, estadual, federal, sociedade, ONGs, academia, moradores, entre outros), assim como a criação de mecanismos de incentivo, como reconhecimento social, treinamentos, apoio das instituições, continuidade das propostas e espaços abertos de troca de informações.
Publicado com o título “Incorporando inovações sociais na elaboração de políticas de mitigação de riscos de desastres” (Incorporating social innovations in the elaboration of disaster risk mitigation policies) , o estudo foi liderado por Miguel Angel Trejo-Rangel, doutor em Ciência do Sistema Terrestre pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (PGCST/INPE) e atualmente pós-doutorando na Universidade Limerick no projeto SMARTLAB; teve a participação do pesquisador Victor Marchezini, do Cemaden/MCTI; de Daniel Andres Rodriguez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Daniel Messias do Santos e Marina Gabos, da Escola Estadual Monsenhor Ignácio Gióia; Aloísio Lélis de Paula, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Desastres (ICT/UNESP-Cemaden); Eduardo Santos, professor da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC); e Fernando Sampaio do Amaral, discente da Universidade de São Paulo (USP).
Métodos de pesquisa
A pesquisa foi realizada em São Luiz do Paraitinga (SP), cidade que sofreu impactos socioambientais e econômicos devido à grande inundação ocorrida no ano de 2010. O estudo foi realizado entre junho 2019 e novembro 2021. A primeira fase da pesquisa adotou métodos qualitativos, que combinaram utilização de maquetes interativas , mapeamento participativo , realização de observação participante e entrevistas em profundidade.
A segunda fase da pesquisa combinou a aplicação de métodos quantitativos e qualitativos, junto a aplicação de questionário com 231 moradores da cidade, adicionando, também, uma atividade de serious gaming , que é um exercício para simular como as decisões são tomadas e como as políticas públicas podem criadas. “Facilitar métodos mistos de pesquisa permitiu coletar dados quantitativos e qualitativos e engajar diferentes atores locais que contribuíram na construção de políticas públicas para Redução de Risco de Desastres (RRD). Normalmente essas políticas públicas são elaboradas a partir de um enfoque top-down (de cima para baixo) e não consideram as vozes e contextos locais”, afirma Miguel Angel Trejo-Rangel, que concluiu o projeto de doutorado com essa pesquisa colaborativa.
Seminário local e colaboração da imprensa para compartilhar resultados
A pesquisa organizou ainda um seminário final, organizado em parceria com a Escola Estadual Monsenhor Ignácio Gioia e transmitido ao vivo pela página da escola . A abertura do evento promoveu uma mesa-redonda com a participação da Prefeita Ana Lúcia Bilard, do coordenador municipal de defesa civil, Sr. José Carlos Luzia Rodrigues, da arquiteta e urbanista luizense Natália Moradei, que debateram as ações de RRD no município. O debate contou com a mediação do Prof. Daniel Messias dos Santos, que elaborou as perguntas sobre ações de RRD que já estão sendo implementadas na cidade e o que ainda precisa ser feito.
Daniel dos Santos, professor na Escola Monsenhor Ignácio Gioia, parceira do Programa Cemaden Educação, destacou: “É importante dar aos adolescentes a oportunidade de ter contato direto com os agentes políticos que atuam na prevenção de desastres. Ao mesmo tempo, com pesquisas realizadas para analisar os impactos de um desastre, como o ocorrido em 2010 em São Luiz do Paraitinga, permite que se vejam inseridos no debate.” afirma o professor, afirmando que as ações de prevenção diferem das ações de emergência e, cabe a toda a sociedade, atuar na prevenção. Ele também comentou que “a comunidade luizense mostrou-se atuante e resiliente durante o evento de 2010. A partir disso, foram muitas as oportunidades em que a sociedade foi chamada a analisar e refletir sobre o papel de cada agente na necessária eficiência para prevenir desastres”.
Além do seminário, a equipe de pesquisa organizou a mesa-redonda “ Vozes locais na gestão de riscos de desastres de São Luiz do Paraitinga ”, transmitida na Série de Debates do Cemaden. Por fim, elaborou um sumário para formuladores de políticas públicas , com os principais resultados da pesquisa e sugestões para aperfeiçoamento das ações de RRD no município. Marchezini destaca que outro ponto importante foi o apoio da imprensa na disseminação dos resultados da pesquisa. “A Agência Fapesp elaborou reportagem sobre a pesquisa, que foi replicada por 570 veículos nacionais e internacionais de mídia, o que ajudou a difundir a importância das ações de prevenção”, explica Marchezini, que atualmente realiza pós-doutorado no Natural Hazards Center, na Universidade do Colorado-Boulder, com financiamento da Fapesp .
Conclusão e acesso ao artigo científico
O artigo conclui que as pessoas acreditam que seus vizinhos não estão prontos e não sabem como agir caso aconteça alguma inundação na cidade.
As inovações sociais que foram mais votadas são planos de prevenção, conservação e restauração de ecossistemas, engajamento de crianças e jovens, planos de evacuação, entre outros. Os principais aliados, para implementar essas inovações sociais, são a comunidade, o setor educativo, o governo municipal, estadual e federal.
O acesso ao artigo “Incorporando inovações sociais na elaboração de políticas de mitigação de riscos de desastres” (Incorporating social innovations in the elaboration of disaster risk mitigation policies) está disponibilizado no endereço:
https://authors.elsevier.com/a/1g8Wg7t2zZ9boY
Outras referências :
Para ler o sumário para formuladores de políticas de RRD: https://www.researchgate.net/publication/359061388_Sumario_para_formuladores_de_politicas_publicas
Para assistir o Seminário final realizado em São Luiz do Paraitinga-SP: https://www.facebook.com/slpmig/videos/944691046396978
Para assistir ao debate “Vozes locais na gestão de riscos de desastres de São Luiz do Paraitinga”: https://www.youtube.com/watch?v=C3mPSkS6uwM
Para assistir à apresentação da defesa da tese sobre Inovações Sociais para Redução de Risco de Desastres: https://www.youtube.com/watch?v=DXis7vWlk7g
Fonte: Ascom/Cemaden